ALEIXO,
Pedro
*const. 1934; dep. fed. MG
1935-1937, 1959-1966; min. Educ.1966; dep. fed. MG 1966-1967;
vice-pres. Rep. 1967-1969.
Pedro Aleixo nasceu em São Caetano, distrito do município de Mariana (MG), no dia 1º de agosto de 1901, filho do
comerciante José Caetano Aleixo e de Úrsula Martins Aleixo.
Fez seus primeiros estudos nos colégios Caetano Azevedo e
Malheiros, em Mariana, transferindo-se, em 1917, para Ouro Preto (MG), onde
seguiu o curso anexo de matemática da Escola de Minas. Ainda em 1917, estudou em Belo Horizonte, no Ginásio Mineiro. Aos 17 anos ingressou na Faculdade de Direito da
Universidade de Minas Gerais (UMG). Durante o curso, dirigiu o Centro Acadêmico
e a Revista Acadêmica. Apoiou nessa época a candidatura de Nilo
Peçanha à presidência da República, apresentada pela Reação Republicana, contra
o candidato oficial, o mineiro Artur Bernardes, afinal eleito em março de 1922.
Formou-se em fins desse ano e logo passou a integrar o escritório de Abílio
Machado, que atuava na área de direito criminal.
Eleito com a maior votação conselheiro municipal — cargo
correspondente ao do atual vereador — em Belo Horizonte, assumiu o mandato em 1927. Nesse ano, juntamente com Juscelino Barbosa e
Álvaro Mendes Pimentel, fundou o jornal O Estado de Minas. Em 1928, foi
aprovado em concurso para livre-docente de direito penal na Faculdade de
Direito de Belo Horizonte. Entre 1928 e 1929, dirigiu O Estado de Minas,
desenvolvendo intensa campanha em prol da Aliança Liberal, movimento organizado
para promover as candidaturas de Getúlio Vargas e de João Pessoa
respectivamente à presidência e vice-presidência da República. Ainda em 1929,
candidato à reeleição ao Conselho Municipal, defendeu a adoção do voto secreto.
Em 1930, encerrado o primeiro mandato, durante o qual foi secretário e
presidente do Conselho, disputou uma cadeira de deputado federal avulsa. A
despeito do razoável número de votos obtidos, não teve seu mandato reconhecido
pelas comissões revisoras.
Da Revolução de 1930 à Constituinte
Em março de 1930, o candidato oficial Júlio Prestes foi
eleito presidente da República, derrotando Getúlio Vargas. Inconformados com os
resultados do pleito, setores aliancistas iniciaram articulações para impedir a
posse dos eleitos, as quais culminariam com a revolução de outubro daquele ano.
Pedro Aleixo foi considerado um dos mentores intelectuais do movimento em Minas
por sua atuação através da imprensa e de comícios. Uma vez vitorioso, o
movimento garantiu a Vargas a ascensão à chefia do governo e determinou a
nomeação de interventores federais nos estados, com exceção de Minas, cujo
governador, Olegário Maciel, apoiara a revolução e foi mantido no cargo.
Logo após a vitória da revolução, foi criada a Legião de
Outubro, organização política idealizada pelos “tenentes”, com o objetivo de
“dar conteúdo, organização e unidade aos princípios da Revolução de Outubro”.
Ao lado de Francisco Campos, Gustavo Capanema e Amaro Lanari, Pedro Aleixo foi
um dos articuladores da organização em Minas Gerais. Contando com o apoio de Olegário Maciel, a legião visava primordialmente
combater o Partido Republicano Mineiro (PRM), que dominara a política estadual
durante toda a Primeira República. Em 1931, a organização passou a ser denominada localmente de Legião Liberal Mineira.
O confronto entre as forças da Legião Liberal Mineira e do
PRM suscitou, no entanto, a necessidade de uma conciliação política no estado.
O “Acordo Mineiro”, negociado entre a Legião Liberal, ou seja, o governo
chefiado por Olegário Maciel, e o PRM, ou melhor, a numerosa facção do antigo
partido que obedecia à orientação de Artur Bernardes, foi assinado em fins de
fevereiro de 1932. Esse acordo, pelo qual as duas organizações se obrigavam a
colaborar na obra de “reerguimento e reconstrução do estado e da República”,
foi a origem do Partido Social Nacionalista (PSN), que durou apenas três meses
devido às divergências entre seus dirigentes.
Nos anos de 1932 e 1933, Pedro Aleixo foi secretário e
presidente do Conselho Consultivo de Minas Gerais, órgão também criado após a
Revolução de 1930. Com a aproximação das eleições para a Assembléia Nacional
Constituinte, marcadas para maio de 1933, o governo federal passou a participar
diretamente da reorganização partidária nos estados, favorecendo a formação de
partidos situacionistas através do estímulo e apoio aos interventores. Assim,
em janeiro de 1933, Pedro Aleixo foi um dos fundadores do Partido Progressista
(PP) de Minas Gerais, deixando o Conselho Consultivo do estado.
Em fevereiro, durante a primeira convenção do PP, foi eleita
uma comissão executiva chefiada pelo ex-presidente do estado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e integrada por políticos de prestígio, como Gustavo Capanema,
Virgílio de Melo Franco, José Francisco Bias Fortes e o próprio Pedro Aleixo. O
novo partido contava também em seus quadros com antigos membros do PRM, que
procuravam combater o domínio político de Artur Bernardes.
Na Constituinte de 1934 e na Câmara dos Deputados
Nas eleições para a Constituinte, o PP obteve ampla vitória
sobre o PRM, elegendo 31 representantes contra seis. Pedro Aleixo foi um dos
componentes da bancada progressista.
Em setembro de 1933, morreu Olegário Maciel. Por indicação de
Vargas, ele foi substituído em dezembro por Benedito Valadares. O PP
solidarizou-se com a nomeação, e o novo interventor organizou seus gabinetes
civil e militar com elementos progressistas.
Nesse ínterim, juntamente com Bias Fortes e Virgílio de Melo
Franco, Pedro Aleixo opunha-se à eleição de Antônio Carlos para a presidência
da Assembléia. No dia 13 de novembro, a Constituinte foi, no entanto, instalada
sob a presidência do ex-presidente de Minas, que, além de estar ligado à Revolução
de 1930 desde a campanha da Aliança Liberal, era apoiado pelo interventor
gaúcho e chefe do Partido Republicano Liberal (PRL), José Antônio Flores da
Cunha.
Ainda em 1933, Pedro Aleixo tornou-se presidente da Comissão
de Revisão Administrativa do Estado. Participou também dos trabalhos de
elaboração da nova Carta Constitucional, finalmente promulgada a 16 de julho de
1934, e, como os demais constituintes, teve o mandato prorrogado até maio de
1935, passando a atuar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos
Deputados. Em outubro de 1934, foi eleito deputado federal por Minas na legenda
do PP, que conseguiu fazer 26 representantes na Câmara Federal contra 11 do
PRM.
Tendo iniciado o novo mandato em 3 de maio de 1935, Pedro
Aleixo tornou-se em seguida líder da maioria na Câmara. Sua indicação para o
cargo fazia parte da estratégia de Benedito Valadares no sentido de fortalecer
sua política no estado.
Como
líder da maioria Pedro Aleixo procurou articular apoio parlamentar ao poder
central em momentos cruciais dos anos de 1935 e 1936, sobretudo durante a
repressão desencadeada após a revolta comunista de fins de novembro de 1935. Em
março de 1936, acusados de envolvimento com a Aliança Nacional Libertadora,
movimento oposicionista de esquerda, foram presos os deputados Abguar Bastos,
Domingos Velasco, João Mangabeira e Otávio da Silveira, além do senador Abel
Chermont, todos membros da minoria parlamentar, ou Oposições Coligadas, bloco
formado no Congresso em janeiro de 1935 reunindo as bancadas dos vários
partidos estaduais contrários ao governo Vargas. As Oposições Coligadas
imediatamente protestaram contra a prisão de seus membros, denunciada como
quebra das imunidades parlamentares. O assunto foi bastante debatido na Câmara,
e a atitude do governo foi defendida por Pedro Aleixo e Adalberto Correia, que
lideraram o ataque à minoria parlamentar. No dia 7 de julho de 1936 foi
aprovada na Câmara a suspensão das imunidades daqueles parlamentares por 190
votos contra 59, tendo assim início o processo contra os quatro deputados e o
senador, que continuavam presos.
Em maio de 1936, Pedro Aleixo foi reeleito líder da maioria.
Em 3 de maio de 1937, na qualidade de candidato oficial, foi eleito presidente
da Câmara Federal com 152 votos contra 131 dados a Antônio Carlos,
representante das oposições. Concorreram para elegê-lo o empenho do ministro da
Justiça, Agamenon Magalhães, o voto dos representantes classistas e dos
republicanos paulistas e ainda o beneplácito de Valadares. A derrota de Antônio
Carlos foi considerada por alguns como um ato preparatório para a instalação do
Estado Novo e, por outros, como uma traição de um colega de bancada, embora o
próprio Antônio Carlos tivesse elogiado mais tarde a escolha. A liderança da
maioria foi então assumida pelo deputado Carlos Luz.
Transcorreria em 1937 a campanha para a sucessão presidencial. Pedro Aleixo chegou a ser cogitado como tertius entre os candidatos
Armando de Sales Oliveira — apoiado por Antônio Carlos e, em geral, pela oposição
— e José Américo de Almeida, apoiado por Vargas. A instauração do Estado Novo
em 10 de novembro levou, entretanto, ao fechamento do Congresso, à suspensão
das eleições e à dissolução dos partidos políticos. O golpe recebeu enérgicos
protestos de Pedro Aleixo, que assim demonstrou ter estado alheio às
conspirações. Ele enviou telegrama a Vargas exprimindo sua indignação pelo fato
de o edifício da Câmara dos Deputados ter sido ocupado por tropas da polícia. A
maioria dos parlamentares, no entanto, aceitou a instalação do novo regime como
um fato consumado, e cerca de 80 deputados foram felicitar Vargas pelo início
do novo regime.
Pedro
Aleixo recolheu-se então a Belo Horizonte, tornando-se ainda em 1937 um dos
diretores do Banco Hipotecário Agrícola do Estado de Minas Gerais, mais tarde
transformado em Banco do Estado de Minas Gerais. Em janeiro de 1938 foi eleito
presidente do Instituto da Ordem dos Advogados de Minas Gerais. Ao mesmo tempo,
mantinha-se ativo no exercício da advocacia, dividindo escritório com Mílton
Campos. No início de 1940, foi convidado por Benedito Valadares para ocupar a
prefeitura de Belo Horizonte em substituição a Otacílio Negrão de Lima, que
pedira exoneração. Declinou do convite declarando que só voltaria a ocupar um
cargo público com o restabelecimento do regime democrático. Foi então nomeado
Juscelino Kubitschek.
O Manifesto dos mineiros
Durante o ano de 1943, Pedro Aleixo reunia-se freqüentemente
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, com um grupo de políticos
oposicionistas mineiros integrado por Virgílio de Melo Franco, Afonso Arinos de
Melo Franco, Odilon Braga e José de Magalhães Pinto, visando promover uma
manifestação de personalidades que contestavam o Estado Novo. Em agosto desse
ano, realizou-se no Rio o Congresso Jurídico Nacional, promovido pelo Instituto
dos Advogados. As representações de Minas e do Distrito Federal — a primeira
composta por Pedro Aleixo, José Monteiro de Castro e Caio Mário da Silva Pereira, a segunda integrada, entre outros, por Adauto Lúcio Cardoso — retiraram-se do
encontro devido à negativa ao pedido de uma sessão para discutir temas como a
redemocratização do país. Tendo sido impedido de expor suas teses sobre
liberdades públicas, Pedro Aleixo foi homenageado com um banquete que se
transformou numa das primeiras manifestações coletivas contra o regime
instaurado em 1937.
No dia 24 de outubro de 1943 divulgou-se o chamado Manifesto
dos mineiros, primeiro pronunciamento público de setores liberais contra o
Estado Novo. Elaborado por Odilon Braga, Dario de Almeida Magalhães e Virgílio
de Melo Franco e com algumas modificações feitas por Pedro Aleixo e Afonso
Arinos, o documento contou com 92 assinaturas de personalidades tradicionais da
vida política, intelectual, econômica e social mineira, sobretudo de vários
advogados, em geral consultores jurídicos ou diretores de bancos, que na época
constituíam o setor mais dinâmico da economia de Minas Gerais. O documento
afirmava que “a extinção de todas as atividades políticas” era uma violência
contra a “irresistível vocação para a vida pública” que sempre caracterizou a
comunidade mineira, identificada, historicamente, com os “ideais que se
realizam pela autonomia estadual e pela democracia”.
Vários signatários sofreram sanções em sua vida profissional,
atendendo a sugestões feitas pelo ministro da Fazenda, Artur de Sousa Costa, e
pelo interventor Benedito Valadares. Com base no artigo 177 da Constituição de
1937, foram demitidos ou aposentados os signatários do manifesto que
trabalhavam em empresas públicas e, nos casos de empresas particulares, o
governo pressionou os proprietários desses estabelecimentos no mesmo sentido,
em geral com êxito. Entre os punidos figurava Pedro Aleixo, que foi afastado do
cargo de diretor do Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais.
Na UDN: de 1945 a 1964
A reação contra o Estado Novo tomou maior impulso no início
de 1945, levando ao progressivo enfraquecimento do regime. Ao perceber a situação,
Vargas adotou algumas reformas políticas que visavam responder às pressões
internas e externas pela redemocratização, ao mesmo tempo em que procurava
manter sob o controle do governo a transição na conjuntura nacional. Uma das
medidas foi a reorganização dos partidos, iniciada oficialmente com a edição do
Ato Adicional em fevereiro de 1945. Os vários setores que vinham-se opondo ao
Estado Novo e que convergiam no apoio à candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes
à presidência da República reuniram-se em torno da União Democrática Nacional
(UDN), partido fundado a 7 de abril desse ano em convenção realizada no
Distrito Federal presidida por Pedro Aleixo, que em seguida presidiria também a
seção mineira do partido.
Aleixo fora um dos que propuseram o nome de Eduardo Gomes
para as eleições presidenciais de 2 de dezembro de 1945. Em oposição ao
brigadeiro foi lançada, pelo recém-criado Partido Social Democrático (PSD), a
candidatura do general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra de Vargas, tendo
como defensores Benedito Valadares e vários outros políticos ligados ao Estado
Novo. Em junho de 1945, Pedro Aleixo compareceu ao comício realizado no estádio
do Pacaembu, em São Paulo, em favor da candidatura de Eduardo Gomes. Quatro
meses depois, presidiu a convenção partidária que lançou oficialmente a
candidatura do brigadeiro à presidência da República.
Apesar do desgaste do Estado Novo, a oposição temia que
Vargas empreendesse manobras continuístas e via com preocupação o crescimento
do chamado movimento queremista (“Queremos Getúlio”), que reivindicava a
convocação de uma assembléia constituinte com Vargas no poder e com o apoio do
recém-criado Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e do Partido Comunista
Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB). Nesse contexto, a decisão
de antecipar as eleições de prefeitos e governadores para fazê-las coincidir
com o pleito presidencial em 2 de dezembro foi interpretada como uma tentativa
de falsear o processo sucessório. A oposição apelou então para que as forças
armadas depusessem Vargas, o que veio efetivamente a ocorrer em 29 de outubro
de 1945 com o golpe militar chefiado pelo ministro da Guerra, general Pedro
Aurélio de Góis Monteiro, que substituíra Dutra no cargo. Realizado o pleito na
data marcada, foi eleito para a presidência da República o candidato do PSD,
general Eurico Gaspar Dutra, que contava com o apoio do PTB.
Nas eleições de janeiro de 1947, Pedro Aleixo foi o candidato
da UDN a deputado estadual mais votado em Minas. Logo após, assumiu o mandato, chegando a participar dos trabalhos da Assembléia
Constituinte mineira. Entretanto, ainda em 1947, foi nomeado secretário do
Interior e Justiça por Mílton Campos — eleito governador de Minas também em
janeiro e empossado em março — o que provocou seu afastamento da Assembléia. No
exercício do novo cargo, cabia-lhe coordenar os assuntos políticos. O destaque
que assumiu nessa função ficou expresso no apelido “Pedro I”, pois se dizia que
a qualquer consulta política Mílton Campos retrucava: “Fale com o Pedro
primeiro”.
Em 1949 Pedro Aleixo assumiu a cátedra de direito penal da
Universidade Católica de Minas Gerais. Como secretário do Interior, participou
entre 1949 e 1950 das conversações mantidas entre políticos mineiros de
diferentes partidos sobre a proposta de lançar um candidato único à presidência
da República nas eleições de outubro de 1950. O chamado “acordo mineiro”,
entretanto, não vingou e os partidos lançaram candidatos próprios. Em abril de 1950 a UDN lançou oficialmente mais uma vez a candidatura de Eduardo Gomes. Pedro Aleixo permaneceu
na Secretaria do Interior até junho desse ano, quando reassumiu sua cadeira na
Assembléia Legislativa do estado.
A convenção da UDN mineira realizada em julho de 1950
escolheu Gabriel Passos candidato do partido ao governo estadual, tendo Pedro
Aleixo como companheiro de chapa. A candidatura de Aleixo bloqueou o apoio que
Vargas prometera a Gabriel Passos, impossibilitando assim uma aliança entre o
PTB e a UDN em Minas Gerais. A chapa udenista foi então derrotada nas eleições
de outubro pelos candidatos da coligação PSD-PTB-PR, Juscelino Kubitschek e
Clóvis Salgado. Ainda nas eleições de outubro, os candidatos à presidência da
República Cristiano Machado, do PSD, e Eduardo Gomes, da UDN, foram derrotados
por Getúlio Vargas, que concorreu na legenda do PTB.
Deixando
a Assembléia mineira em janeiro de 1951, Aleixo passou a dedicar-se exclusivamente
ao magistério e à advocacia. Entre 1952 e 1953 exerceu interinamente a cátedra
de direito internacional público da Faculdade de Direito da UMG, tornando-se, a
partir de 1956, catedrático de direito penal. De volta à política, em outubro
de 1958 foi eleito deputado federal por Minas Gerais na legenda da UDN,
assumindo o mandato em fevereiro de 1959. Em agosto de 1960 tornou-se líder da
UDN na Câmara, desenvolvendo intensa oposição ao governo do presidente
Juscelino Kubitschek. Em abril de 1961, alguns meses após a posse do novo
presidente da República, Jânio Quadros, passou a exercer na Câmara a liderança
da minoria, agora apoiando o governo.
Na manhã de 25 de agosto, diante da denúncia feita na noite
anterior pelo governador da Guanabara, Carlos Lacerda, através da televisão, de
que um golpe vinha sendo preparado por Jânio Quadros e pelo ministro da
Justiça, Oscar Pedroso Horta, realizou-se uma reunião na Câmara dos Deputados
com os líderes partidários, entre os quais Pedro Aleixo. Na ocasião, foi aprovado
o requerimento de José Maria Alkmin, líder da maioria, solicitando a convocação
do ministro da Justiça à Câmara a fim de prestar declarações a respeito das
denúncias de Lacerda. Pedroso Horta, por sua vez, distribuiu uma nota refutando
as declarações do governador carioca. Nesse mesmo dia, porém, Jânio apresentou
aos ministros militares sua carta de renúncia à presidência da República, na
qual declarava que “forças terríveis” haviam se levantado contra ele.
A renúncia do presidente provocou uma grave crise política,
pois os três ministros militares vetaram a posse do vice-presidente João
Goulart, comprometido com o programa de “reformas de base” (agrária, urbana,
constitucional e bancária) defendido por partidos de esquerda e pelo movimento
sindical. Para contornar a crise, foi promulgada no dia 2 de setembro de 1961 a Emenda Constitucional nº 4, que instaurou o sistema parlamentarista de governo, reduzindo os
poderes presidenciais. Além de ter sido contrário à posse de Goulart, que seria
efetivada no dia 7 de setembro, Pedro Aleixo votou contra a emenda
parlamentarista.
Apesar de a emenda prever para o início de 1965 um plebiscito
nacional que decidiria sobre a continuidade ou não do parlamentarismo, a forte
pressão exercida durante o ano de 1962 pelo governo e por amplos setores da
sociedade no sentido da realização imediata do referendo fez com que o
Congresso aprovasse, no dia 15 de setembro de 1962, a Lei Complementar nº 2, que marcava a consulta popular para 6 de janeiro do ano seguinte.
Pedro Aleixo opunha-se à antecipação do plebiscito, tendo inclusive tentado
fixar algumas normas que visavam levar a uma larga margem de abstenção do
eleitorado.
Em outubro de 1962, Aleixo foi reeleito deputado federal. No
ano seguinte, com o retorno ao sistema presidencialista decidido pelo
plebiscito em 6 de janeiro, a reação dos setores de oposição ao governo Goulart
intensificou-se. No caso específico da UDN, os críticos mais radicais do
governo assumiriam um espaço cada vez maior dentro do partido sob a liderança
de Carlos Lacerda.
A queda de Goulart e o governo Castelo Branco
Em
meados de 1963 as articulações políticas entre civis e militares que visavam à
derrubada de Goulart já estavam bem desenvolvidas, contando principalmente com
a participação dos generais Humberto de Alencar Castelo Branco, Olímpio Mourão
Filho e Osvaldo Cordeiro de Farias e dos líderes udenistas Pedro Aleixo — que
nesse ano se tornara líder da oposição na Câmara —, Adauto Lúcio Cardoso, Olavo
Bilac Pinto, José de Magalhães Pinto, Daniel Krieger e Paulo Sarasate. Nos
primeiros meses de 1964, a radicalização política, tanto dos setores
oposicionistas quanto dos que defendiam o governo, cresceu vertiginosamente.
Participando da conspiração, Pedro Aleixo admitiu a um
jornalista em meados de fevereiro que o general Castelo Branco era sua fonte de
informações sobre o pensamento antijanguista no Exército. Sob a alegação de que
era necessário garantir a ordem constitucional supostamente ameaçada pelas
propostas socializantes do governo, foi deflagrado no dia 31 de março de 1964
um golpe que derrubou o presidente Goulart. Na noite de 1º de abril, em
Brasília, foi empossado na presidência da República o deputado federal Ranieri
Mazzilli, presidente da Câmara e substituto legal do chefe do governo.
Poucos dias depois, os deputados Pedro Aleixo e Bilac Pinto
apresentaram a Castelo Branco o texto de um ato institucional redigido pelos
juristas Carlos Medeiros e Francisco Campos que, além de fixar fórmulas
jurídicas permitindo a eleição indireta do presidente da República, tornava
possível a efetuação de medidas punitivas contra os elementos considerados
“subversivos” por seu desempenho no governo Goulart. Em conseqüência, no dia 9
de abril, o comando militar do movimento promulgou o Ato Institucional nº 1
(AI-1), que permitiu a cassação de mandatos parlamentares e a suspensão dos
direitos políticos de várias personalidades pelo prazo de dez anos, além de
determinar que dentro de dois dias seriam realizadas eleições indiretas para
presidente e vice-presidente da República. No dia 11 de abril, Castelo Branco
foi escolhido pelo Congresso como novo presidente da República, sendo empossado
quatro dias depois. Ainda no dia 11, Pedro Aleixo tornava-se líder da UDN na
Câmara.
Divididas as forças governistas quanto à oportunidade da
prorrogação do mandato presidencial até 15 de março de 1967, Pedro Aleixo
alinhou-se entre os que se opunham à medida, afinal aprovada pelo Congresso em
julho de 1964. Em novembro desse ano, quando da intervenção federal em Goiás
para afastar do cargo de governador o pessedista Mauro Borges, importante papel
foi desempenhado por Aleixo no apaziguamento dos parlamentares que se opunham à
medida.
No início de 1965, Castelo Branco promoveu a formação de um
bloco parlamentar que tinha por núcleo a UDN, além de contar com alguns
integrantes do PSD e do PTB. Seu objetivo era fazer aprovar no Congresso
reformas políticas fundamentais cuja elaboração encomendara ao ministro da
Justiça, Mílton Campos. Adauto Lúcio Cardoso tornou-se presidente desse bloco
parlamentar, ficando Pedro Aleixo como líder da maioria na Câmara. Nessa época,
o assunto político dominante eram as eleições nos 11 estados cujos governadores
concluiriam mandato em 1965. Havia ainda os que terminariam suas gestões em
1966 e várias hipóteses foram aventadas para permitir a coincidência de
mandatos, com o objetivo de transferir o pleito para 1966. O governador de
Minas, Magalhães Pinto, obteve em março, da Assembléia Legislativa do estado, a
prorrogação de seu mandato até 1966. Pedro Aleixo e Mílton Campos declararam,
todavia, que a medida era inconstitucional. Em fins de março, Castelo Branco
decidiu que o governo manteria as eleições diretas em outubro daquele ano para
os governos dos 11 estados, conforme previa a Constituição.
Por outro lado, os setores mais radicais do Exército e a UDN
protestavam contra algumas candidaturas, como a de Sebastião Pais de Almeida em
Minas e a de Hélio de Almeida na Guanabara, argumentando que esses políticos
haviam participado dos governos de Kubitschek e Goulart, respectivamente, e se
apresentavam agora pela coligação PSD-PTB. O governo decidiu então criar uma
lei de inelegibilidade, incumbindo Mílton Campos e Pedro Aleixo de redigi-la.
No dia 15 de julho foi promulgada a Lei nº 4.738 declarando inelegíveis até 31
de dezembro de 1965 todos os ministros de estado do governo Goulart, com
exceção dos ministros militares e dos parlamentares com mandato ainda em vigor. Como a medida só impedia a candidatura de Hélio de Almeida, os líderes udenistas Pedro
Aleixo, Adauto Lúcio Cardoso e José Bonifácio de Andrada formularam um pedido
de impedimento da candidatura de Pais de Almeida sob a alegação de que cometera
abuso do poder econômico para se eleger deputado em 1958. O memorial que
assinaram nesse sentido denominava-se “O assalto do trem pagador”, referências
ao candidato oposicionista, a quem chamavam pejorativamente de “Tião Medonho”,
nome do autor de um famoso assalto a uma composição ferroviária.
No início de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
acatou a solicitação, negando o registro para o candidato mineiro.
O pleito de outubro de 1965 deu a vitória aos candidatos
oposicionistas que substituíram os que haviam sido vetados nos estados da
Guanabara e Minas Gerais — respectivamente, Francisco Negrão de Lima e Israel
Pinheiro. O resultado agitou os udenistas e os círculos militares. Os setores
mais radicais do Exército passaram a pressionar por um maior endurecimento do
regime. Por outro lado, agravavam-se as tensões entre o governo e o Congresso,
o que impedia a aprovação das emendas constitucionais propostas pelo
presidente. Em face da crise política, Castelo decidiu editar o Ato
Institucional nº 2 (AI-2) no dia 27 de outubro, que, entre outros aspectos,
decretava a dissolução dos partidos, a realização de eleições indiretas para a
presidência da República e para os governos estaduais e reabria o processo de cassação
de mandatos e suspensão de direitos políticos.
Em novembro foi assinado o Ato Complementar nº 4
estabelecendo a formação dos novos partidos. Pedro Aleixo, Juraci Magalhães,
Paulo Sarasate, Rui Santos e Antônio Carlos Magalhães foram os redatores do
texto do projeto, que previa a organização de duas agremiações. Os dois novos
partidos formaram-se posteriormente com as denominações de Aliança Renovadora
Nacional (Arena), governista, e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de
oposição. Filiando-se à Arena como um dos seus fundadores ainda em 1965, Pedro
Aleixo permaneceu líder da bancada do governo na Câmara.
Por essa época o governo iniciou uma reorganização de parte
de seu ministério. Com o objetivo de contornar a crescente insatisfação
estudantil contra o regime, em 10 de janeiro de 1966 Castelo Branco nomeou
Pedro Aleixo ministro da Educação, em substituição a Flávio Suplicy de Lacerda,
que se desgastara com as medidas coercitivas que impusera ao movimento
estudantil. Foi lançada oficialmente, no mesmo período, a candidatura do
ministro da Guerra, general Artur da Costa e Silva, à presidência da República.
A 26 de maio, a comissão executiva da Arena indicou Pedro Aleixo como candidato
à vice-presidência, escolha precedida por entendimento entre Castelo e Costa e
Silva. Vinte dias depois, a convenção nacional do partido homologou por 329
votos, num total de 361, as duas candidaturas. Assim, a 1º de julho de 1966
Pedro Aleixo, que tivera uma discreta gestão como ministro, passou o cargo para
o professor Raimundo Muniz de Aragão, desincompatibilizando-se para o pleito
indireto de 3 de outubro, que daria a vitória à chapa única, com a abstenção do
MDB.
Antes de deixar a presidência, Castelo pretendia regulamentar
as reformas políticas idealizadas pelo movimento de 1964 e, com essa
finalidade, decidiu elaborar uma nova constituição. O projeto da carta foi
divulgado no dia 6 de dezembro. Entre os pontos fundamentais constavam a
instituição da eleição presidencial indireta, a manutenção da escolha direta de
governadores e a instituição de foro militar para julgamento de civis acusados
de “crimes contra a Segurança Nacional”. No dia 7 do mesmo mês foi editado o
Ato Institucional nº 4 (AI-4) convocando o Congresso — o antigo e não o
recém-eleito — em sessão extraordinária para discutir, votar e promulgar o
projeto da nova Carta sob regime de trabalho acelerado, de 12 de dezembro a 24
de janeiro.
No dia 13 de dezembro instalou-se a comissão mista incumbida
do estudo do projeto constitucional. Seus membros foram indicados pelas
lideranças partidárias dentro do critério da proporcionalidade e Pedro Aleixo
foi eleito seu presidente. Divergindo de Auro de Moura Andrade, presidente do
Senado, Aleixo mostrou-se favorável ao projeto e a Constituição foi afinal
promulgada, com algumas emendas, em 24 de janeiro de 1967.
Em sua atividade parlamentar, Pedro Aleixo desaprovou a
concessão do direito de voto aos analfabetos, admitiu o monopólio estatal sobre
a exploração do petróleo, dos minérios atômicos, da eletricidade e das telecomunicações
e considerou inconveniente o reatamento de relações diplomáticas com a União
Soviética.
Vice-presidente da República
No dia 15 de março de 1967, Costa e Silva e Pedro Aleixo
tomaram posse nos cargos de presidente e vice-presidente da República. Como a
vice-presidência não conferia a seu ocupante qualquer atribuição de relevo,
Aleixo manteve-se em segundo plano durante todo o novo governo. Por quatro
dias, no entanto, em abril de 1968, ocupou a presidência por motivo de viagem
de Costa e Silva ao Uruguai.
O ano de 1968 foi marcado por várias greves operárias e
manifestações estudantis de repúdio ao regime. Paralelamente, intensificou-se a
radicalização dos setores militares mais reacionários — conhecidos como a
“linha dura”. A crescente mobilização de operários e estudantes, que contavam
com o apoio de setores da Igreja e da classe média, e o agravamento das tensões
entre o governo e o MDB acabaram levando à edição, no dia 13 de dezembro, do
Ato Institucional nº 5 (AI-5), que autorizava o presidente da República a
decretar o recesso do Congresso Nacional e de outros órgãos legislativos, a
intervir nos estados e municípios sem as limitações previstas na Constituição
promulgada pelo próprio regime, a cassar mandatos eletivos e a suspender por dez
anos os direitos políticos de qualquer cidadão, além de liquidar a garantia do habeas-corpus
para os acusados de infringir a Lei de Segurança Nacional. No mesmo dia, o Ato
Constitucional nº 38 decretou o recesso do Congresso por tempo indeterminado.
Pedro Aleixo foi contrário ao AI-5, afirmando que ele institucionalizaria a
ditadura, configurando um perigo permanente para a ordem constitucional. Nos
meses seguintes, reivindicou a reabertura do Congresso.
Em maio de 1969, designado por Costa e Silva para coordenar
uma comissão de juristas com o objetivo de reformular a Constituição de 1967,
Aleixo procurou introduzir certas medidas que visavam desfazer o regime de
arbítrio que se implantara com a edição dos atos institucionais, pretendendo,
sobretudo, reabrir o Congresso. No dia 26 de agosto, entregou ao presidente o
texto da reforma constitucional. O texto deveria ser submetido à aprovação do
Congresso, que para isso seria reaberto no mês seguinte. Segundo o jornalista
Carlos Chagas, assessor de imprensa da presidência da República, Costa e Silva
e Pedro Aleixo tentaram em vão incluir na reforma o retorno às eleições diretas
para os governos estaduais e a escolha do novo presidente pelo Congresso.
A nova Constituição deveria ser promulgada no dia 2 de
setembro, para entrar em vigor cinco dias depois como uma emenda
constitucional. No mesmo dia 2, no entanto, Costa e Silva recebeu os ministros
militares que lhe transmitiram as apreensões detectadas em suas áreas diante da
hipótese de reabertura do Congresso. Segundo Carlos Chagas, o presidente
encaminhou aos gabinetes Civil e Militar o texto apresentado por Aleixo. O
coronel encarregado da coordenação das sugestões do Conselho de Segurança
Nacional teria comunicado ao chefe do Gabinete Militar, general Jaime Portela,
que o texto continha 37 omissões e que por isso devia ser revisto.
Antes que se chegasse a um acordo sobre o texto
constitucional, Costa e Silva começou a apresentar sinais de grave enfermidade.
No dia 29 de agosto, segundo Carlos Chagas, notícias sobre o estado de saúde do
presidente foram levadas aos ministros militares — general Aurélio de Lira
Tavares (Exército), almirante Augusto Rademaker (Marinha) e brigadeiro Márcio
de Sousa e Melo (Aeronáutica) —, mas não ao vice-presidente. Ao ser diagnosticada
a doença de Costa e Silva como trombose, os ministros militares entraram em
contato, no dia 31 de agosto, com Pedro Aleixo, que para isso fora chamado ao
Rio de Janeiro. Informaram-no do estado de saúde do presidente, que estaria
impedido de exercer o cargo, e o almirante Rademaker lhe fez ver que as medidas
liberalizantes que o presidente procurava tomar só poderiam ser implementadas
pelo próprio Costa e Silva — capaz de sustentar a oposição dos setores
militares —, pois do contrário “o país entraria em caos”. Afirmaram ainda os
ministros que, por ter sido contrário à edição do AI-5, Aleixo não teria força
para vencer a resistência militar ao programa traçado por Costa e Silva, que
incluía a reabertura do Congresso e a reforma constitucional.
Por fim, Rademaker comunicou a Pedro Aleixo que, em reunião
realizada na véspera no Rio com o alto comando das forças armadas, presentes os
três ministros militares, o chefe do Estado-Maior do Exército, general Antônio
Carlos Murici, o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Adalberto de Barros
Nunes, o chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Alberto Huet
de Oliveira Sampaio, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general
Orlando Geisel, e o general Jaime Portela, fora tomada a decisão de formar uma
junta militar de caráter temporário, composta pelos três ministros militares,
em substituição ao presidente enfermo. Pedro Aleixo ficaria assim alijado de
todo o processo sucessório e, sobretudo, sem condições de assumir o cargo
presidencial, que lhe era constitucionalmente destinado.
Ainda no dia 31 de agosto, através de uma cadeia nacional de
rádio e televisão, o país tomou conhecimento das modificações ocorridas na
cúpula do poder. Pelo Ato Institucional nº 12 (AI-12), as funções do presidente
foram assumidas interinamente pelos ministros militares, sob a alegação de que
era necessário dar continuidade à administração de Costa e Silva durante o seu
impedimento. Após a leitura do AI-12, foi divulgada uma proclamação que, além
de explicar as causas do afastamento de Costa e Silva, declarava que, em
virtude da grave situação interna do país, a presidência da República não
poderia ser ocupada pelo vice-presidente Pedro Aleixo, conforme determinava a
Constituição de 1967.
Impedido pelos militares de retornar imediatamente a
Brasília, Aleixo só conseguiu fazê-lo em 3 de setembro de 1969, desligando-se
então da vida pública. No dia 8 de outubro, a Junta Militar anunciou a escolha
do comandante do III Exército, general Emílio Garrastazu Médici, para a presidência
da República. Pelo Ato Institucional nº 16 (AI-16), editado seis dias depois, a
junta declarou vagos os cargos de presidente e vice-presidente da República,
alegando que Costa e Silva poderia ter o seu estado de saúde agravado caso
retornasse às funções presidenciais e afirmando ainda que era desejo do
presidente ser substituído. A eleição presidencial foi então marcada para o dia
25 de outubro.
No dia 17 desse mês foi promulgada a Emenda Constitucional nº
1. Dentre as proposições de Pedro Aleixo não aproveitadas na reforma,
destacavam-se a que estabelecia eleições diretas para os governos estaduais, a
que atribuía ao Congresso eleito em 1970 a escolha do novo presidente e a que capacitava o chefe da nação a abolir, sem consulta ao Conselho de Segurança
Nacional (CSN), o AI-5. A emenda não só manteve os atos institucionais em vigor
como estabeleceu a necessidade de que fosse ouvido o CSN para qualquer
alteração nos mesmos.
Realizado o pleito presidencial indireto em 25 de outubro de
1969, o general Médici e o almirante Rademaker foram eleitos, respectivamente,
para os cargos de presidente e vice-presidente da República, tendo a chapa
única recebido 293 votos contra 76 abstenções, estas do MDB. Os eleitos foram
empossados no dia 30 de outubro.
Tentativa de criação do PDR
Pedro
Aleixo desligou-se da Arena em janeiro de 1970, retornando então ao magistério.
Ainda nesse ano, tornou-se o principal articulador da criação do Partido
Democrático Republicano (PDR), com que visava romper o bipartidarismo vigente
desde 1965 e recompor a ordem constitucional. Na campanha pela criação de um
terceiro partido — obstaculizada pelas exigências da legislação —, emitiu uma
série de pronunciamentos em favor do aperfeiçoamento da democracia, contra a
pena de morte e pela liberdade de manifestação de pensamento.
Em março de 1971 foram lançados o manifesto, o programa e o
estatuto do PDR, que contaram com 105 assinaturas, sobretudo de profissionais
liberais. A proposta do partido expressa no programa consistia na manutenção,
defesa e aperfeiçoamento do regime democrático definido na Constituição, além
do compromisso de procurar “assegurar e preservar os direitos fundamentais da
pessoa humana”. Por sua vez, Pedro Aleixo declarava-se pessoalmente empenhado
na concretização do que considerava os ideais do movimento de março de 1964, ou
seja, a plenitude democrática, além de apontar as limitações da Arena e do MDB.
Aleixo não conseguiu, entretanto, registrar seu partido.
Mesmo assim, no início de 1975 entregou um documento ao advogado Mozart Smith
Camargos contendo o seu testamento político, com a recomendação de que fosse
guardado para “posterior divulgação, ou quando for conveniente”. Nele, teria
feito não apenas sugestões finais sobre o PDR, como também reafirmado a
necessidade da luta pela normalização institucional.
Como advogado, Pedro Aleixo participou de rumorosos
julgamentos, entre eles o das irmãs Poni (31/3/1964), que conseguiu inocentar
da acusação de assassinato, e o de Roberto Lobato (abril de 1973), igualmente
absolvido da mesma imputação, nesse caso contra o posicionamento de Pedro
Aleixo, que atuou como advogado de acusação.
Foi membro da Academia de Letras de Minas Gerais.
Hospitalizado em 30 de janeiro de 1975, na capital mineira,
Aleixo foi posteriormente transferido para sua residência, onde faleceu no dia
3 de março do mesmo ano.
Era casado com Maria Stuart Brandi Aleixo, com quem teve
quatro filhos, um dos quais, Maurício Brandi Aleixo, após a morte do pai,
empenhou-se em dar prosseguimento à organização do PDR. O partido, entretanto,
não chegou a se formar, embora tenha conseguido registro provisório em 1981.
Entre as obras de autoria de Pedro Aleixo destacam-se O
peculato no direito penal brasileiro (1956), Imunidades parlamentares
(1961) e Em defesa do Congresso Nacional (1963), além de artigos,
pareceres e discursos parlamentares.
Sobre sua vida e atuação foi publicado por José Carlos Brandi
Aleixo e Carlos Chagas o livro Pedro Aleixo, testemunhos e lições
(1976).
Mônica Kornis
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