ANDRADE,
Almir
*jornalista.
Almir Bonfim de Andrade
nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 5 de novembro de 1911,
filho do capitão-de-mar-e-guerra Francisco Bonfim de Andrade e de Maria Amália
Campos da Paz Bonfim de Andrade.
Fez o curso primário na Escola Deodoro, da qual sua mãe era
diretora, no Colégio Aldridge e na Escola Nossa Senhora da Conceição. Cursou o
primeiro ano do ginásio no Colégio Resende, do Rio de Janeiro, e os demais no
Colégio São Vicente de Paula e no Ginásio Pinto Ferreira, ambos em Petrópolis
(RJ), onde sua família fixou residência em 1923. Nesse período, fez os
primeiros ensaios literários, colaborando em O Colegial, revista dos estudantes do Colégio São Vicente de Paula, durante o ano de 1925.
Em 1927 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do
Rio de Janeiro. Em 1928, ainda estudante, começou a colaborar com artigos
assinados no Jornal do Brasil, então dirigido por Aníbal Freire (essa
colaboração duraria, embora com muitas interrupções, até fins de 1937). Ainda
durante o curso universitário colaborou em duas revistas acadêmicas, A Época e
a Revista de Estudos Jurídicos. Fez parte do Centro Acadêmico Cândido de
Oliveira e, logo em seguida, foi um dos fundadores do Centro Acadêmico
Jurídico-Universitário (CAJU), grupo literário que alcançou grande popularidade
entre os estudantes e do qual participaram, na mesma época, outros nomes que
mais tarde se projetaram na literatura, no magistério e na política, como
Otávio de Faria, Francisco de San Tiago Dantas, Hélio Viana, Américo Lacombe, Aroldo Azevedo, Vinícius de Morais, Antônio Gallotti, Gílson Amado, Thiers
Martins Moreira, Vicente Chermont de Miranda, Plínio Doyle, Henrique de La
Rocque e outros. Formou-se em ciências jurídicas e sociais em setembro de 1931
e, por essa época, tornou-se colaborador do jornal A Razão de São Paulo,
dirigido por Plínio Salgado, futuro chefe da Ação Integralista Brasileira
(AIB), fundada em 1932.
Depois de formado dedicou-se à advocacia civil e comercial,
onde militou apenas quatro anos, de 1931 a 1935. Interessado desde os tempos acadêmicos por estudos de psicologia e filosofia, aprofundou-se também no
estudo da psicanálise, por influência de Júlio Pires Portocarrero, que foi seu
professor de medicina legal na Faculdade de Direito. Em agosto de 1933, lançou
o seu primeiro livro de psicologia, A verdade contra Freud, que causou impacto
na imprensa e provocou reação nos meios psicanalíticos. A partir do mesmo ano
de 1933, começou a colaborar intensamente em várias revistas literárias, como
Literatura, Dom Casmurro, Boletim de Ariel, Lanterna Verde e Revista do Brasil.
Na primeira e na última, além da colaboração normal, exerceu a função de
crítico literário.
Em 1937, foi professor de psicologia e lógica no curso
complementar da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Em 1938 foi contratado
para reger a mesma cadeira no Colégio Universitário da Universidade do Brasil,
fundada em 1937. Instalada em meados de 1939 a Faculdade Nacional de Filosofia, foi indicado para reger, no currículo de filosofia, a primeira cadeira de
psicologia de nível universitário criada no Brasil. Nos primeiros meses regeu-a
sozinho. Mas, tendo chegado ao país, em fins de 1939, os professores franceses
contratados pelo Ministério da Educação para orientar os professores
brasileiros das novas disciplinas universitárias recém-criadas, veio para a
cadeira de psicologia, no Rio de Janeiro, o professor André Ombredane, da
Sorbonne. A partir de então, foram divididas as tarefas, ficando a cargo do
professor brasileiro as aulas teóricas, sob a orientação do professor francês,
e cabendo a este ministrar as aulas práticas, com exemplos vivos de casos
psicopatológicos colhidos no Hospício Nacional, no Instituto de Surdos-Mudos,
na Santa Casa de Misericórdia etc.
Em março de 1941 assumiu a cátedra de direito constitucional
na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, onde lecionaria
durante três anos. Considerado um dos principais ideólogos do Estado Novo
(1937-1945), ao lado de Francisco Campos, intelectual e político que ocupou a
pasta da Justiça de 1937 a 1942, e de Antônio José Azevedo do Amaral, também em
março de 1941, a convite de Lourival Fontes, diretor do Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), fundou Cultura Política: Revista Mensal de Estudos
Brasileiros, da qual foi diretor até outubro de 1945. Revista oficial do
regime, publicada pelo DIP, Cultura Política teve como propósito definir e
esclarecer os rumos das transformações ocorridas no Brasil durante o governo
ditatorial de Getúlio Vargas e congregou em seu quadro de colaboradores a elite
intelectual do país, inclusive figuras não-comprometidas com o regime, como
Graciliano Ramos, Gilberto Freire e Nélson Werneck Sodré. Através de artigos
assinados e editoriais, Almir de Andrade buscou interpretar o Estado Novo, com
base em um projeto ideológico eminentemente cultural.
No segundo semestre de 1943, sem prejuízo das suas atividades
à frente daquela revista, assumiu também o cargo de diretor da Agência
Nacional, órgão do DIP encarregado, não da censura (para a qual havia ali outra
seção especializada), mas de organizar e dirigir a publicidade oficial do
governo através da imprensa de todo o país. No começo de 1944 deixou o
magistério universitário por ter sido nomeado para o cargo vitalício de
secretário-titular da Justiça do Distrito Federal. Com a destituição de Getúlio
Vargas em outubro de 1945, deixou a direção da Agência Nacional, interrompendo
por algum tempo a sua participação na vida pública.
Em meados de 1950, tendo sido lançada a candidatura de
Getúlio Vargas à sucessão presidencial, retornou à vida política e, no Comitê
Eleitoral Pró-Getúlio Vargas, sob a presidência de Luís Simões Lopes, assumiu a
direção da publicidade radiofônica e jornalística da campanha eleitoral em todo
o país. Empossado Vargas no governo a 31 de janeiro de 1951, foi imediatamente
nomeado subchefe do Gabinete Civil da Presidência da República, cargo em que
permaneceu durante todo o novo período governamental, até o suicídio de Vargas
em 24 de agosto de 1954.
Em
outubro de 1959, durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), foi
nomeado presidente do Instituto de Pensões e Aposentadoria dos Servidores do
Estado (IPASE), onde permaneceu até junho de 1960, tendo colaborado ativamente
com Kubitschek na fase final da construção da nova capital do país, Brasília,
inaugurada em abril de 1960.
Morando sempre no Rio de Janeiro, continuou escrevendo e
publicando ensaios, voltando a exercer o cargo de serventuário da Justiça como
oficial do 11º Ofício de Registro de Distribuição da Justiça do Estado da
Guanabara. Sociólogo e jornalista, foi durante vários anos colaborador de O
Jornal, O Cruzeiro e A Manhã do Rio de Janeiro, e de O Estado da Bahia e A
Época, da Bahia, além dos órgãos de imprensa já mencionados.
Em
junho de 1989 foi membro fundador da Academia Brasileira de Filosofia, passando
a ocupar a cadeira de número 2. Em março do ano seguinte, foi eleito membro
efetivo do Pen Clube do Brasil, filial brasileira da Associação Mundial dos
Escritores, sediada em Londres.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 23 de agosto de
1991.
Era casado com Noemi Alcântara Bonfim de Andrade, com quem
teve quatro filhos, entre os quais o ator Roberto Bonfim.
Publicou,
além do livro citado, as seguintes obras: Da interpretação na psicologia:
crítica aos fundamentos da psicologia contemporânea (1936); O direito de
propriedade: sua evolução histórica e seu estado atual (1936); Aspectos da cultura
brasileira (1939); Força, cultura e liberdade: origens históricas e tendências
atuais da evolução política do Brasil (1940); Os primeiros estudos sociais no
Brasil: séculos XVI, XVII e XVIII (Formação da sociologia brasileira, I),
(1941); O conceito brasileiro de município (tese apresentada ao Congresso
Interamericano de Municípios, Santiago do Chile, 1941); Diretrizes da nova
política do Brasil (1943); Duas irmãs (romance, 1944); Contribuição à história
administrativa do Brasil na República, até o ano de 1945 (2v., 1950);
Suplemento brasileiro à pequena enciclopédia de conhecimentos gerais (v. 4,
1950); O capital através das doutrinas econômicas (1953, 2ª ed. 1959);
Alexandre Rodrigues Ferreira e a introdução do método científico nos estudos
sociais do Brasil (1958); As duas faces do tempo: ensaio crítico sobre os
fundamentos da filosofia dialética (1971); O capital nos sistemas econômicos
(1972) e Lições de direito constitucional (1973). Além disso, traduziu para o
português obras de H. G. Wells, Emil Ludwig, Leon Tolstói, George Sand, Miguel
de Cervantes, entre outros autores.
FONTES: ARQ.
GETÚLIO VARGAS; COUTINHO, A. Brasil; Encic. Mirador; ENTREV.
BIOG.; Grande encic. Delta; HIRSCHOWICZ, E. Contemporâneos; INF.
FAM.; INF. Sindicato dos Jornalistas Profissionais
do Município do Rio de Janeiro; LEITE, C. Assessoramento; LIMA,
H. Travessia; MENESES, R. Dic.; OLIVEIRA, L. Estado;
RIBEIRO FILHO, J. Dic.; SADEK, M. Machiavel; SOC. BRAS. EXPANSÃO
COMERCIAL. Quem; VELHO SOBRINHO, J. Dic.