AMARAL,
Azevedo do
*pensador político
Antônio José Azevedo do Amaral nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, em 1881,
filho do engenheiro ferroviário Ângelo Tomás do Amaral e de Maria Francisca
Álvares de Azevedo Amaral. Seu irmão, Inácio Manuel Azevedo do Amaral, foi
reitor da Universidade do Brasil de 1945 a 1948.
Formou-se
em medicina em 1903, profissão a qual cedo abandonou para dedicar-se à sua
verdadeira paixão, o jornalismo político. Foi como jornalista que viveu dez
anos na Inglaterra, entre 1906 e 1916, como correspondente dos jornais Correio
da Manhã, A Notícia, Gazeta de Notícias e Jornal do Comércio. Foi redator-chefe
de O País. Estes dados da sua biografia possibilitam um melhor entendimento de
suas posições.
Azevedo Amaral considerava o liberalismo uma criação típica
dos povos anglo-saxões, inadaptável portanto às características do povo
brasileiro. Afirmou que o sufrágio universal e o voto direto eram incompatíveis
com o povo brasileiro e que o transplante das instituições liberais para o
Brasil resultou em mero simulacro de liberalismo e promiscuidade eleitoral.
Considerava mesmo que a grande crise provocada pela Primeira Guerra Mundial
resultara inevitavelmente no declínio do liberalismo.
Adepto do intervencionismo estatal na economia, posição que
defendera já em seu primeiro livro, Ensaios brasileiros, publicado às vésperas
da Revolução de 1930, Azevedo Amaral propugnava por um Estado autoritário, de
cunho corporativista, em substituição ao Estado liberal. Entretanto, opunha-se
ao Estado fascista e a todas as formas de totalitarismo, por considerá-las
atentatórias à dignidade essencial do ser humano. Para ele tanto o fascismo
quanto o comunismo invadiram o espaço que deveria permanecer inviolável à
consciência individual. Pregava, assim, a implantação de um Estado autoritário,
intermediário entre o Estado liberal e o Estado totalitário, aos quais
condenava com veemência.
Crítico contundente da Constituição de 1934, para ele uma
mistura incoerente de princípios doutrinários díspares, foi um apologista do
Estado Novo, regime instaurado no Brasil em novembro de 1937, o qual
correspondia à sua visão do mundo. Exaltou a personalidade de Getúlio Vargas, o
qual, por seu carisma pessoal, exerceria um papel catalisador na política
nacional.
Ao contrário da maioria dos pensadores conservadores de seu
tempo, que tinham uma visão nostálgica do Império e de sua economia agrária,
Azevedo Amaral foi um crítico contundente das instituições parlamentares
monárquicas e de sua economia agroexportadora. Na sua avaliação, o ponto alto
do passado colonial brasileiro foi o surto de mineração no século XVIII em Minas Gerais, que propiciou um incipiente surto de industrialização, abortado, a seu ver,
pelas medidas restritivas da Coroa portuguesa e, posteriormente, pela
transmigração da família real, responsável pela consolidação de uma economia
agrário-exportadora que sufocou, por mais de um século, a industrialização do
Brasil.
Azevedo
Amaral defendia a industrialização com o argumento de que um povo não pode
depender do estrangeiro para o suprimento dos bens essenciais ao seu
desenvolvimento. Defensor intransigente da industrialização acelerada e dos
investimentos de capitais estrangeiros que pudessem auxiliar essa
industrialização, opôs-se, nesse aspecto particular, ao nacionalismo econômico
do Estado Novo.
Em
relação às instituições parlamentares alegadamente artificiais do Império,
Azevedo Amaral afirmou que as oligarquias da Primeira República foram um mal
necessário, as quais evitaram que o país mergulhasse na anarquia à qual seria
levado, se as instituições liberais da República fossem aplicadas estritamente
como previsto na Constituição de 1891. Entretanto, este paliativo de um regime
oligárquico de fato, teria sido substituído, com eficácia, pelo Estado Novo, o
qual estaria baseado em princípios da moderna ciência política.
Como outros dos pensadores de seu tempo, Azevedo Amaral foi
muito influenciado pelo darwinismo social e pelo evolucionismo. Assim,
acreditava na existência de uma escala evolutiva entre as raças humanas e,
conseqüentemente, na inferioridade da raça negra e na superioridade da branca.
Associava o seu conceito de classes sociais e elites ao critério racial e
afirmava que as verdadeiras revoluções eram necessariamente feitas pelas elites
brancas. O povo, em grande parte composto por mestiços, só seria capaz de
promover motins e arruaças. Era assim um adepto das revoluções conservadoras.
Era desta forma que interpretava e defendia a revolução de 1930.
Seu último livro, Getúlio Vargas, estadista, publicado em
1941, pouco antes de seu falecimento, no ano seguinte, constitui a súmula de
seu pensamento e faz a apologia do regime em vigor e do chefe de Estado.
O
falecimento, até certo ponto prematuro, de Azevedo Amaral fez com que sua obra
caísse em esquecimento, em relação à de outros pensadores políticos da época,
que a ele sobreviveram, como Francisco Campos, Oliveira Viana e Alceu de
Amoroso Lima.
Publicou, além das obras já citadas, Patogenia do edema
(1902); O Brasil na crise atual (1934); A aventura política no Brasil (1935);
Renovação nacional (1936); O Estado autoritário e a realidade nacional (1938);
A verdade sobre a Espanha (1938); além de artigos em revistas.
Sobre
o biografado Aspásia Brasileiro de Alcântara publicou “A teoria política de
Azevedo Amaral”, em Dados nº 2/3, Jarbas Azevedo Amaral Medeiros, Ideologia
autoritária no Brasil (1978) e Lúcia Lippi de Oliveira, “O pensamento de
Azevedo Amaral”, capítulo do livro Estado Novo — ideologia e poder (1982).
Luís Guilherme Bacellar Chaves
colaboração especial