GALDINO,
Amauri
*dir. ger. Dep. Pol. Fed.
1992-1993.
Amauri Aparecido Galdino nasceu em Anápolis (GO) no dia 26 de fevereiro de 1948,
filho de Francisco Galdino Teixeira e de Sebastiana Marinho Leite.
Completou
os estudos de primeiro e segundo graus em sua cidade natal, onde se bacharelou
em 1975 em ciências jurídicas pela Faculdade de Direito de Anápolis.
Especializou-se em direito de família na Universidade Federal de Goiás. Em
1976, fez o curso de formação de delegado na Academia da Polícia Federal, em
Brasília. Recém-formado, foi nomeado em 1977 chefe da Delegacia da Ordem
Política e Social da Superintendência do Departamento de Polícia Federal (DPF),
em Pernambuco. Ainda em Pernambuco, foi chefe do Serviço de Inteligência da
Superintendência Estadual.
Retornou a Brasília em 1980 para assumir a função de
assistente do coordenador central judiciário do DPF, passando a ser assistente
do diretor da Divisão de Ordem Política e Social (DOPS). Na década de 1980, fez
o curso superior de polícia e foi membro do conselho de ensino da Academia Nacional de Polícia. Nesse período, desenvolveu estudos sobre o papel da Polícia Federal
na nova Constituição federal, que estava sendo elaborada, e sobre a violência
urbana. Atuou como conferencista em diversos eventos nacionais e representou o
Brasil na X Sessão do Instituto Internacional de Polícia, realizada em Paris, em 1986. Fez viagens de intercâmbio aos Estados Unidos, em
1987, e a Taiwan, em 1988.
Em 1990, participou do comando da Operação Selva Livre, em
conjunto com as forças armadas, destinada a expulsar invasores da reserva indígena
dos índios ianomâmis, em Roraima e no Amazonas. Finda a operação, foi nomeado
diretor da Divisão de Ordem Política e Social do DPF. Após uma curta passagem
pelo Ministério da Justiça, foi designado em 1991 para estruturar o
Departamento de Inteligência do DPF, permanecendo nessa função até assumir a direção geral do órgão.
No Departamento de Polícia
Federal
No dia 29 de abril de 1992, o ministro da Justiça, Célio
Borja, nomeou Amauri Galdino diretor-geral do DPF. Substituiu o delegado Romeu
Tuma, que, contudo, continuou no DPF na qualidade de secretário nacional,
responsabilizando-se pela definição das políticas gerais de atuação.
Em
sua primeira entrevista como diretor-geral, Galdino anunciou: “Vou trabalhar
mais e falar menos. Delegado fala através de inquérito policial.” Determinou
como tarefa imediata a conclusão dos inquéritos em que eram acusados de
corrupção dois ex-ministros do governo então presidido por Fernando Collor de
Melo — Antônio Rogério Magri, do Trabalho e Previdência Social, e Alceni
Guerra, da Saúde.
No início de maio, o país foi abalado pelas denúncias de
envolvimento do presidente da República em um amplo esquema de corrupção
comandado pelo ex-tesoureiro de sua campanha presidencial, Paulo César Farias.
Num primeiro momento, o ministro Célio Borja declarou que a Polícia Federal não
havia encontrado indícios de conduta criminosa nas atividades do ex-tesoureiro,
conhecido como P. C. Farias. O Congresso Nacional criou uma comissão
parlamentar de inquérito (CPI) para apurar as denúncias. O procurador-geral da
República, Aristides Junqueira, determinou ao DPF a abertura de inquérito
policial sobre o assunto. Galdino indicou o delegado Paulo Lacerda para dirigir
as investigações.
Nos
meses seguintes, a imprensa divulgou diariamente o desenrolar da CPI e as
provas que a Polícia Federal ia acumulando contra o esquema de corrupção
envolvendo o presidente. Com o afastamento de Collor, por decisão tomada por
ampla maioria da Câmara dos Deputados,
em 29 de setembro, para responder ao processo de impeachment,
o vice-presidente Itamar Franco assumiu interinamente o governo em 2 de
outubro, nomeando novo ministério. O novo ministro da Justiça, Maurício
Correia, manteve Galdino na direção-geral
do DPF e o indicou para exercer, cumulativamente, a secretaria nacional do
órgão, substituindo o delegado Romeu Tuma. Galdino iniciou estudos visando à
extinção do cargo de secretário nacional.
Ainda
em outubro, os inquéritos sobre corrupção no Ministério do Trabalho e da Previdência
Social e no da Saúde foram concluídos. O ex-ministro Magri foi indiciado
criminalmente por corrupção passiva, enquanto Alceni Guerra acabou inocentado.
No mês seguinte, a imprensa divulgou a acusação do ex-preso
político Aluísio Valério da Silva de que Galdino teria participado de atos de
tortura em instalações clandestinas do Departamento de Operações Internas do
Centro de Operações para a Defesa Interna (DOI-CODI) de Recife, em 1971. A acusação aparecera, anteriormente, em publicação do grupo Tortura
Nunca Mais e em livro escrito pela jornalista Lusimar Nogueira. Galdino negou a
denúncia e seus argumentos foram aceitos pelo ministro Maurício Correia, que o
manteve à frente do DPF. Em seguida, Galdino entrou na Justiça com ação
indenizatória contra o Jornal do Brasil e o grupo Central Brasileira de Notícias (CBN), que, entre
outros meios de comunicação, veicularam a denúncia. Anos depois, Galdino
obteria ganho de causa, sendo que a ação relativa ao grupo CBN viria a ser
executada em 1999.
No primeiro semestre de 1993, Galdino era frequentemente convidado a participar de diferentes CPIs para prestar
esclarecimentos que exigiam o conhecimento técnico da Polícia Federal.
Representou o país na XIII Conferência Regional Americana da Interpol e
prosseguiu com as atividades de conferencista.
Ao mesmo tempo, a Polícia Federal mergulhava em graves
problemas. Enquanto as atenções da imprensa estavam voltadas para o caso P. C. Farias, subsedes do DPF estavam ameaçadas de despejo por
falta de pagamento de aluguéis. O fornecimento de água, luz e combustíveis e as
linhas telefônicas eram também ameaçados de corte por falta de pagamento. A
Academia Nacional de Polícia estava fechada por falta de recursos. Os funcionários
administrativos e os delegados rebelavam-se contra a perda de valor dos seus
salários. O presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, Vicente
Chelotti, e o presidente da entidade que representava os interesses dos agentes
policiais, Francisco Garisto, passaram a exigir publicamente providências
administrativas de Galdino. O delegado João Batista Campelo, que em maio
assumira o cargo de secretário nacional, pediu demissão e fez críticas pela
imprensa ao diretor-geral.
A
situação de Amauri Galdino tornou-se insustentável. O golpe final aconteceu no
início de julho,
com a fuga de P. C.
Farias no instante em que a sua
prisão preventiva estava sendo decretada. Acusado de omissão, Galdino foi
exonerado no dia 5 de julho. Para ocupar seu lugar, tomou posse o coronel
Wilson Romão. Galdino atribuiu sua exoneração a atitudes injustas “dos
sindicalistas, do secretário da Polícia Federal e da imprensa”, eximindo o
ministro Maurício Correia de responsabilidade quanto à fuga de P. C.
Farias. Retornou ao Ministério da Justiça como assessor do
secretário-executivo.
Permaneceu nos quadros da Polícia Federal até sua
aposentadoria proporcional, em abril de 1996, quando passou a se dedicar à
advocacia.
Casou-se com Maria Auxiliadora da Costa Galdino, com quem teve
três filhos.
Sinclair
Cechine
FONTES:
Almanaque Abril
(1993); CURRIC. BIOG.; Folha
de S. Paulo (27/4/92;
6 e 13/7/93); Globo
(1/12/92); INF. BIOG.; Jornal
do Brasil (14/6/92;
22/10/92 e 28/11/92).