ÂNCORA,
Armando de Morais
*militar; dir.-ger. DFSP 1952-1954; interv.
AL 1957; comte. I Ex. 1963-1964; min. Exérc. 1964.
Armando de Morais Âncora
nasceu em Pelotas (RS) no dia 5 de agosto de 1901, filho do coronel Aires de
Morais Âncora e de Leonídia Ribas de Morais.
Fez
os primeiros estudos na Escola Pública Riachuelo e no Colégio Militar do Rio de
Janeiro, ambos no então Distrito Federal, sentando praça em janeiro de 1918 ao
ingressar na Escola Militar do Realengo, também na capital federal. Declarado
aspirante-a-oficial da arma de cavalaria em janeiro de 1921, foi promovido a
segundo-tenente em maio do mesmo ano e a primeiro-tenente em setembro de 1922.
Realizou em seguida o curso do Centro de Instrução para a
Formação de Instrutores de Equitação, passando a exercer a função de instrutor
de equitação militar na Escola de Cavalaria do Rio de Janeiro. Promovido a
capitão em agosto de 1931, tornou-se instrutor-chefe de equitação dessa mesma
escola, atuando depois como subcomandante e comandante do Regimento de
Cavalaria — do qual foi fiscal administrativo —, comandante do Esquadrão de
Cadetes e instrutor-chefe de cavalaria da Escola Militar do Realengo.
Promovido a major em dezembro de 1938, foi fiscal
administrativo da Escola de Estado-Maior (EEM), sendo promovido a
tenente-coronel em agosto de 1942. No ano seguinte assumiu os comandos do 6º
Regimento de Cavalaria Independente (6º RCI), sediado em Alegrete (RS), e da
guarnição dessa cidade.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a formação
da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que combateu na Itália os exércitos
nazi-fascistas, foi designado em 1944 comandante do quartel-general e da tropa
especial da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE). Promovido a
coronel em março do ano seguinte, permaneceu no comando dessas tropas até o fim
do conflito.
Após
a guerra, exerceu as chefias dos estados-maiores da 1ª Divisão de Infantaria
(1ª DI) e da 1ª Região Militar (1ª RM), com sede no Rio de Janeiro, sendo
promovido a general-de-brigada em setembro de 1952. Nomeado comandante da 1ª
Divisão de Cavalaria, sediada em Santiago do Boqueirão (RS), não assumiu a
função por haver sido designado pelo presidente da República, Getúlio Vargas
(1951-1954), em dezembro do mesmo ano, diretor-geral do Departamento Federal de
Segurança Pública (DFSP), no Rio de Janeiro, em substituição ao general Ciro
Riopardense de Resende.
No dia 5 de agosto de 1954 ocorreu o atentado da rua
Toneleros, na capital federal, visando o líder oposicionista Carlos Lacerda,
que saiu ferido, enquanto perdia a vida o major-aviador Rubens Vaz. Na
madrugada do dia 8 desse mês, o ministro da Justiça, Tancredo Neves
(1953-1954), informou ao general Aguinaldo Caiado de Castro, chefe do Gabinete
Militar da Presidência da República, que o depoimento do motorista de táxi implicado
no episódio incriminara elementos da guarda pessoal de Vargas. Foi então
convocada uma reunião no gabinete de Caiado de Castro, da qual participaram,
além deste e de Tancredo Neves, o ministro da Aeronáutica, Nero Moura, o chefe
de polícia, Morais Âncora, e o chefe da guarda pessoal do presidente da
República, Gregório Fortunato, além de membros da comissão de inquérito sobre o
atentado.
Nessa
reunião, Gregório Fortunato informou apenas que um dos envolvidos, o guarda
Climério Euribes de Almeida, não havia sido encontrado em casa. Após a reunião, Gregório avistou-se com Benjamim Vargas, irmão do presidente, a quem
confessou ter sido o mandante do crime. Dois dias depois, Morais Âncora foi
destituído de suas funções e substituído pelo coronel Paulo Francisco Flores. A
crise político-militar resultante do atentado teve como desfecho o suicídio de
Vargas em 24 de agosto.
Em setembro de 1957 foi nomeado pelo presidente Juscelino
Kubitschek (1956-1961) interventor federal em Alagoas, em virtude do clima de
violência reinante no estado, convulsionado por lutas sangrentas entre os
correligionários do governador eleito Sebastião Marinho Muniz Falcão (1956-1957
e 1958-1961) e seus opositores. Poucos dias depois, a Assembléia Legislativa
alagoana decretou o impeachment de Muniz Falcão, que foi afastado do
governo e substituído pelo vice-governador, Sizenando Nabuco. Mais tarde,
entretanto, seria ele reintegrado no cargo por decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF).
Promovido
a general-de-divisão em dezembro de 1958, em agosto de 1963 assumiu o comando
do I Exército, sediado no Rio de Janeiro, em substituição ao general Osvino
Ferreira Alves. No mês seguinte a polícia do I Exército apreendeu diversas
armas estrangeiras na sede da Ação dos Vigilantes do Brasil, organização
dirigida por elementos ligados ao governador carioca Carlos Lacerda
(1960-1965), descobrindo idêntico material em outros locais de propriedade
dessa entidade. O inquérito aberto pelo ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro
(1963-1964), foi depois abafado por envolver vários militares de alta patente
da reserva.
Promovido a general-de-exército em novembro de 1963, Morais
Âncora continuou à frente do I Exército. Em março do ano seguinte, o ministro
Dantas Ribeiro se hospitalizou, apesar dos apelos do presidente João Goulart
(1961-1964) para que adiasse a cirurgia devido ao clima de radicalização
existente nas forças armadas. Nesse momento, o general Humberto Castelo Branco,
chefe do Estado-Maior do Exército (EME), lançou uma circular reservada com data
de 20 de março, incitando os militares contra o governo de Goulart e os
sindicatos, em particular o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). Embora
ciente do teor do documento, Goulart não tomou medidas imediatas. Dias depois,
entretanto, ordenou ao comandante do I Exército que prendesse Castelo Branco,
tendo Morais Âncora se esquivado sob a alegação de que o chefe do EME já
ameaçara suicidar-se caso fosse detido.
Ainda em março de 1964, para comemorar o aniversário da Associação
de Marinheiros e Fuzileiros Navais, foi organizada uma solenidade a ser
realizada no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, à qual, além dos
membros dessa entidade, compareceriam operários da Petrobras. Em protesto
contra a medida determinada pelo ministro da Marinha, Sílvio Borges de Sousa
Mota (1963-1964), decretando a prisão preventiva de 40 marinheiros e cabos que
haviam organizado a solenidade, estourou a rebelião dos marinheiros.
Liderados
pelo “cabo” — na verdade, marinheiro — José Anselmo dos Santos, marinheiros e
fuzileiros navais se recolheram ao Sindicato dos Metalúrgicos. Enviados para
prendê-los, os fuzileiros navais se recusaram a cumprir essa ordem, aderindo ao
movimento. O ministro da Marinha solicitou então a intervenção do Exército
para sufocar a revolta. Com o ministro Dantas Ribeiro ainda hospitalizado, os
entendimentos se fizeram com o comandante do I Exército, que se recusou a
intervir por se tratar de problema disciplinar da Marinha. A revolta terminou
com a intervenção direta do presidente da República, que determinou a
libertação dos rebeldes, acarretando com isso o pedido de demissão do ministro
da Marinha.
O comportamento das autoridades governamentais, contornando
de forma tolerante a rebelião, representou um golpe de morte para o governo de
Goulart. No dia 30 de março, em meio à crescente reação contra o governo,
Morais Âncora manteve entendimentos com os generais diretamente subordinados à
sua região, entre os quais Oromar Osório, comandante da Vila Militar, Ladário Teles,
comandante da 1ª RM, Idálio Sardenberg e Luís Tavares da Cunha Melo. No dia
seguinte, o ministro Dantas Ribeiro, que se encontrava convalescente, foi de
novo hospitalizado, tendo Goulart nomeado Morais Ancora para substituí-lo
interinamente.
Nesse mesmo dia eclodiu o movimento político-militar contra o
governo de Goulart. O comandante da 4ª RM, com sede em Juiz de Fora (MG),
general Olímpio Mourão Filho, deslocou suas tropas para a Guanabara. Na manhã
de 1º de abril, Morais Âncora foi ao palácio das Laranjeiras sugerir a Goulart
que deixasse o Rio de Janeiro por falta de segurança, o que acabou sendo feito.
O ministro da Guerra seguiu então para Resende (RJ), onde se encontrava o
comandante do II Exército, general Amauri Kruel, à frente de tropas rebeladas,
prontas para entrar em ação contra as forças do I Exército.
Morais
Âncora, que já havia conversado com o comandante da Infantaria Divisionária da
2ª Divisão de Infantaria (2ª DI), general Euriale de Jesus Zerbini,
declarando-lhe que o governo federal estava acéfalo e que Goulart não era mais
o presidente da República, conferenciou com Kruel na Academia Militar de
Agulhas Negras (AMAN), em Resende, daí resultando um acordo que impediu um
choque armado. Nesse mesmo dia deixou o Ministério da Guerra, sendo substituído
no cargo pelo general Artur da Costa e Silva. Promovido a marechal, Morais
Âncora foi transferido para a reserva de primeira classe em setembro de 1964.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 26 de setembro de 1964.
Era casado com Isaltina Abreu Morais Âncora, com quem teve
três filhos, um dos quais, Armando de Morais Âncora Filho, atingiu também a
patente de general.
Publicou diversos artigos sobre assuntos militares e
esportivos em revistas especializadas.
FONTES: BANDEIRA,
L. Governo; BENEVIDES, M. Governo Kubitschek; CORTÉS, C. Homens;
COSTA, M. Cronologia; Diário Oficial (24/9/64); Grande encic.
Delta; Jornal do Brasil (19/12/76); MACEDO, E. Efemérides;
MIN. GUERRA. Almanaque (1964); SILVA, H. 1964; SOC. BRAS.
EXPANSÃO COMERCIAL. Quem; VÍTOR, M. Cinco.