BUENO,
Cunha
*dep. fed. SP
1975-1979, 1982-; const. 1987-1988.
Antônio Henrique Bittencourt da Cunha Bueno nasceu
em São Paulo no dia 17 de junho de 1949, filho de Antônio Sílvio Cunha Bueno e
de Edei Bittencourt Cunha Bueno. Seu pai foi deputado estadual em São Paulo de 1947 a 1950, secretário estadual de Negócios do Interior em 1955 e deputado
federal de 1951 a 1965 e de 1966 a 1969, quando foi cassado pelo Ato Institucional
nº 5 (13/12/1968) em 16 de janeiro de 1969.
Cunha Bueno estudou em São Paulo, no Ginásio Perdizes, no Colégio Rio Branco, na Fundação Getulio Vargas e na Universidade Mackenzie, pela
qual se formou em economia.
Corretor de seguros, ingressou na política em novembro de
1970, quando foi eleito para a Assembléia Legislativa paulista na legenda da
Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao regime militar
instaurado no país em abril de 1964. Herdou do pai não apenas as práticas
clientelistas como também um dos mais ricos espólios eleitorais de São Paulo,
que o tornou detentor da maior mala direta do estado e lhe garantiu forte
votação no interior, especialmente nas cidades de Novo Horizonte, Jales e Capão
Bonito, além de um expressivo número de votos na capital.
Assumindo o mandato em fevereiro de 1971, foi, segundo dados
oficiais, o parlamentar que apresentou o maior número de sugestões ao governo
do estado durante essa legislatura. Foi ainda vice-presidente da Comissão de
Economia e Planejamento, tendo emitido parecer contrário ao Projeto de Lei nº
205/74, que propunha que se autorizasse o Executivo a transformar os institutos
de pesquisas em empresas de caráter comercial e industrial.
Em novembro de 1974 foi eleito deputado federal por São
Paulo, na legenda da Arena. Deixando a Assembléia em janeiro de 1975, no mês
seguinte assumiu seu mandato na Câmara. No mesmo ano passou a exercer a
coordenação da bancada arenista de São Paulo, na qual permaneceria por três
anos. Em junho de 1976, teve aprovado um projeto de sua autoria proibindo a
fabricação de detergentes não-biodegradáveis e estabelecendo o prazo
improrrogável de três anos para a adaptação das indústrias às novas exigências
legais. Nessa legislatura foi membro da Comissão de Economia, Indústria e
Comércio e suplente da Comissão de Relações Exteriores.
Reeleito
em novembro de 1978, no início do ano seguinte licenciou-se da Câmara para
assumir o cargo de secretário de Cultura de São Paulo durante o governo de Paulo
Maluf (1979-1983). Nessa função, visitou Portugal, Angola e Moçambique em
missão oficial (1981) e promoveu o tombamento do maciço da Juréia; expandiu o
alcance da TV e Rádio Cultura; criou orquestras, corais, teatros; estruturou
bibliotecas e oficializou festivais. Nesse mesmo período, assumiu a presidência
do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta — Centro Paulista de Rádio e
Televisão Educativa de São Paulo, cargo que ocuparia até 1982.
Com a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979, filiou-se
ao Partido Democrático Social (PDS), agremiação sucessora da Arena. Em maio de
1982 desincompatibilizou-se para concorrer às eleições de novembro, sendo
substituído na secretaria por João Carlos Martins. Reassumindo sua cadeira na
Câmara tornou-se, por indicação da bancada do PDS, presidente da Comissão de
Relações Exteriores e vice-presidente da de Economia, Indústria e Comércio.
Nas eleições de novembro de 1982, reelegeu-se, sendo
empossado em fevereiro. Ainda em 1983, tornou-se presidente do PDS paulista com
o apoio de Paulo Maluf, em meio à grave crise interna causada pelo fracasso
eleitoral do ano anterior, quando o partido perdeu o governo estadual e elegeu
pequeno número de deputados federais e estaduais.
Em
25 de abril de 1984, Cunha Bueno não compareceu à votação da emenda Dante de
Oliveira, que, apresentada na Câmara dos Deputados, propunha o restabelecimento
das eleições diretas para presidente da República em novembro daquele ano. Como
a emenda não obteve o número de votos indispensáveis à sua aprovação — faltaram
22 para que o projeto pudesse ser encaminhado à apreciação pelo Senado —, ele
votou, no Colégio Eleitoral, reunido em 15 de janeiro de 1985, em Paulo Maluf, que foi derrotado pelo oposicionista Tancredo Neves. Eleito presidente da
República pela Aliança Democrática, uma união do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB) com a dissidência do PDS abrigada na Frente
Liberal, Tancredo, contudo, não chegou a ser empossado. Doente, morreu em 21 de
abril de 1985. Seu substituto foi o vice José Sarney, que já vinha exercendo
interinamente o cargo desde 15 de março.
Ainda
naquele ano Cunha Bueno assumiu a presidência da Comissão de Economia,
Indústria e Comércio e a suplência da Comissão de Relações Exteriores e da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Sistema Bancário.
Deputado
federal constituinte em novembro de 1986 na legenda do PDS — foi o segundo mais
votado do partido em São Paulo —, iniciou seu mandato em fevereiro do ano
seguinte, quando começaram os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte.
Monarquista, ganhou notoriedade ao apresentar proposta de realização de um
plebiscito para determinar a forma e o sistema de governo, argumentando que
durante o regime monárquico o Brasil vivera seu período de maior estabilidade.
Dizia ainda que no sistema monárquico seria mais difícil a ocorrência de
corrupção, pois o chefe de Estado não tinha compromissos com grupos econômicos que
financiavam sua campanha.
Durante
os trabalhos constituintes, apresentou muitos projetos de lei, alguns de
interesse do trabalhador, destacando-se o que incluía horas extras na contagem
do tempo de serviço para efeito de aposentadoria e o que reabria o prazo para
revisão de processos de servidores públicos punidos por atos revolucionários.
Foi membro titular da Subcomissão da Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente, da
Comissão da Ordem Social; e suplente da Subcomissão do Poder Legislativo, da
Comissão da Organização dos Poderes e Sistema de Governo. Ainda em 1987, por
indicação de seu partido, assumiu o cargo de quarto-secretário da Câmara,
função que desempenharia pelos dois anos seguintes.
Aprovada a emenda pela realização do plebiscito em junho de
1988, defendeu uma monarquia moderna, em que o rei exerceria papel fiscalizador
e moderador. De acordo com a proposta idealizada por ele e pelo professor
Gastão Reis, inspirada nas monarquias espanhola e brasileira e no modelo
parlamentarista alemão, o povo elegeria seus representantes municipais e
estaduais, que, por sua vez, elegeriam prefeitos e governadores.
Nas votações da Constituinte, opôs-se ao rompimento de
relações diplomáticas com países que praticassem política de discriminação
racial, à limitação do direito de propriedade produtiva, à legalização do
aborto, à estabilidade no emprego, ao turno ininterrupto de seis horas, ao
presidencialismo, à proibição do comércio de sangue, ao mandato de cinco anos
para o presidente José Sarney e à desapropriação da propriedade produtiva.
Votou a favor da pena de morte, da pluralidade sindical, da soberania popular e
da nacionalização do subsolo.
Com a promulgação da Constituição em 5 de outubro de 1988,
Cunha Bueno retornou aos trabalhos legislativos ordinários na Câmara dos
Deputados. Titular da Comissão de Economia, Indústria e Comércio, ainda nessa
legislatura foi suplente das Comissões de Defesa do Consumidor e do Meio
Ambiente, de Relações Exteriores e da CPI que examinou a concessão do controle
acionário da NEC do Brasil e o envolvimento do Ministério das Comunicações e da
Telebrás.
Em outubro de 1990 foi reeleito deputado federal, tomando
posse em fevereiro de 1991. Foi terceiro-secretário da Câmara por dois anos. Em
agosto de 1991 montou em seu gabinete um estúdio de rádio para transmitir
programas para todo o país sobre a monarquia. Foi um dos fundadores, em maio de
1992, no Rio de Janeiro, do Movimento Parlamentarista Monárquico (MPM), do qual
foi presidente-executivo. O movimento teve o apoio do ramo de Petrópolis,
chefiado por dom Pedro Gastão de Orleans e Bragança. Enfatizando a perseverança
dos simpatizantes monarquistas, declarou: “Em termos de militância, no Brasil,
só nós e os petistas.”
Na sessão da Câmara dos Deputados de 29 de setembro de 1992,
Cunha Bueno votou a favor da abertura do processo de impeachment do
presidente Fernando Collor de Melo, acusado de crime de responsabilidade por
ligações com um esquema de corrupção liderado pelo ex-tesoureiro de sua campanha
presidencial, Paulo César Farias. Afastado da presidência logo após a votação
na Câmara, Collor renunciou ao mandato em 29 de dezembro de 1992, pouco antes
da conclusão do processo pelo Senado. O vice Itamar Franco, que já vinha
exercendo o cargo interinamente desde 2 de outubro, foi efetivado na
presidência da República.
Em
novembro de 1992, Cunha Bueno desligou-se do PDS, por considerar-se traído pelo
líder do partido, José Maia, que o colocara como suplente da comissão especial
incumbida de formular propostas para o plebiscito, permanecendo sem partido. O
plebiscito, realizado em 21 de abril de 1993, revelou o desinteresse e a
desinformação dos eleitores, evidenciado pelo grande número de votos nulos e
pelo alto nível de abstenção. Dias após o plebiscito, cujo resultado foi
favorável à manutenção do sistema republicano e do presidencialismo, defendeu o
voto nulo no pleito de outubro de 1994, como forma de protesto e demonstração
de força do movimento monárquico. A idéia era, com isso, provocar a convocação
de um novo plebiscito sobre forma de governo.
Em novembro do mesmo ano, o MPM, sob a liderança de dom João
Henrique de Orleans e Bragança e Cunha Bueno, lançou a campanha “Vamos
fiscalizar o poder”, cujo objetivo era colher assinaturas para apresentar no
Congresso um projeto de emenda com dispositivos defendidos pelos monarquistas,
como a adoção do voto distrital misto, a abolição do voto obrigatório, uma
fórmula para a cassação popular dos mandatos de congressistas, o fim da
imunidade parlamentar para crimes comuns, a fidelidade partidária, a autonomia
do Banco Central e a redução do número de deputados federais e senadores.
Em fins de 1993, filiou-se ao Partido Progressista Reformador
(PPR), resultado da fusão do PDS com o Partido Democrata Cristão (PDC), pelo qual
integrou, ainda naquele ano, a Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente
e Minorias. Parlamentar atuante, Cunha Bueno foi autor da lei que dividia a
administração do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) entre governo,
empresários e trabalhadores. Nessa legislatura, foi também presidente da
Comissão de Relações Exteriores — de 1993 a 1994 — e, em 1994, suplente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
Reeleito
em outubro de 1994 na legenda do PPR — com a maioria dos votos proveniente da
capital —, iniciou seu mandato em fevereiro de 1995, assumindo logo a
presidência da Comissão de Relações Exteriores. Tornou-se também membro titular
da Comissão de Defesa Nacional. No mesmo pleito, o MPM lançou 12 candidatos à
Câmara dos Deputados.
Em agosto de 1995, ingressou no Partido Progressista
Brasileiro (PPB), agremiação surgida a partir da fusão do PPR com o Partido
Progressista (PP). Nesse mesmo mês, apresentou na Câmara proposta de projeto de
lei acabando com a obrigatoriedade de as emissoras de rádio retransmitirem o
programa Voz do Brasil, argumentando que ele tinha sido útil na época em
que fora criado, porque as comunicações no país eram muito difíceis, o que não
ocorria mais. O projeto sugeria ainda que a duração do programa, de uma hora,
fosse reduzida à metade.
Nas
votações das emendas constitucionais propostas pelo governo Fernando Henrique
Cardoso, foi a favor da quebra do monopólio dos estados na distribuição de gás
canalizado, da abertura da navegação de cabotagem, da mudança no conceito de
empresa nacional que eliminaria seus privilégios, colocando-a em igualdade de
condições com as empresas estrangeiras, da quebra do monopólio estatal das
telecomunicações e da quebra do monopólio da Petrobras na exploração de
petróleo. E votou contra a prorrogação do Fundo Social de Emergência (FSE),
rebatizado de Fundo de Estabilização Fiscal (FEF), que permitia que o governo
gastasse 20% da arrecadação de impostos, sem que estas verbas ficassem
obrigatoriamente vinculadas aos setores de saúde e educação.
Em maio de 1996 apresentou um destaque de votação em separado
na reforma da previdência, sugerindo a quebra do monopólio estatal no seguro de
acidentes de trabalho — fim do monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil
(IRB) —, proposta aprovada pelo plenário da Câmara. No mês seguinte apresentou
um projeto de lei determinando que títulos de capitalização mantivessem sua
validade por, no mínimo, cinco anos e que o dinheiro não resgatado pelos
consumidores nesse prazo fosse destinado a instituições de caridade, não
permanecendo com as próprias empresas de capitalização.
Em janeiro/fevereiro de 1997 ausentou-se na votação da emenda
da reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos. Integrante
da comissão especial sobre planos e seguros de saúde, ainda em fevereiro
integrou uma delegação de 22 parlamentares que viajou para a Europa a fim de
analisar o mercado de seguros daquele continente. Todas as despesas da viagem
foram pagas pela Federação Nacional dos Corretores de Seguros e de
Capitalização (Fenacor) e pela Federação Nacional das Empresas de Seguros
Privados e de Capitalização (Fenaseg), interessadas em interferir na
regulamentação do Sistema Financeiro Nacional, que trataria do setor de
seguros. Em novembro seguinte Cunha Bueno pronunciou-se favoravelmente à quebra
da estabilidade do servidor público, item da reforma administrativa.
No pleito de outubro de 1998, foi reeleito na legenda do PPB.
Em novembro ausentou-se na votação do teto de 1.200 reais para aposentadorias
no setor público e do estabelecimento de idade mínima e tempo de contribuição
para o setor privado, itens que definiram a reforma da previdência. Assumiu
novo mandato em fevereiro de 1999.
No transcurso de sua vida pública, Cunha Bueno foi ainda
membro do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho.
Casou-se com Maria Carolina Coelho Cunha Bueno, com quem teve
três filhos. Seu sogro, Nilo Coelho, além de empresário de sucesso, teve longa
carreira política. Foi deputado federal por Pernambuco de 1951 a 1952 e de 1954 a 1967, governador do estado de 1967 a 1971 e senador de 1979 a 1983.
Publicou
Morte no exílio e A solução é o rei.
Eurídice
Roberti/Marcelo Costa
FONTES: CÂM. DEP. Deputados;
CÂM. DEP. Deputados brasileiros. Repertórios (1975-1979, 1979-1983,
1983-1987, 1995-1999); COELHO, J. & OLIVEIRA, A. Nova; DEP. PESQ.
ESTADO DE SÃO PAULO; Estado de S. Paulo (1/2/79, 6/1 e 24/6/83,
12/2/87, 21/11/92, 23/10/94, 4/8/95, 30/5/96, 11/2/97); Folha de S. Paulo
(19/1/81, 22/4 e 16/11/93, 17/9/94, 31/1/95, 14/1/96, 30/1 e 8/2/97, 6/11/98); Globo
(18/8/91, 30/9/92, 31/5 e 19/8/96, 8 e 19/2/97, 10/10/98); Jornal do Brasil (24/6/76,
1/2/79, 22 e 24/6/83, 3/12/86, 24/1 e 27/2/93, 6/6/96); NÉRI, S. 16; Perfil
parlamentar/IstoÉ (1991); Tribuna da Imprensa (23/5/92); TRIB. SUP.
ELEIT. Dados (1998); TRIB. SUP. ELEIT. Dados (9).