RISCHBIETER,
Karlos
*pres. Bco. Bras. 1977-1979; min. Faz. 1979-1980; pres.
IBC 1985.
Karlos
Heinz Rischbieter, nasceu em Blumenau (SC) no dia 24 de outubro de 1927, filho
de Luís Rischbieter e de Helga Ebert Rischbieter. Descendente de imigrantes alemães,
seu avô foi o fundador de uma das primeiras fábricas
de cerveja em Blumenau, e seu pai foi proprietário de uma confecção de chapéus
na mesma cidade.
Realizou
os primeiros estudos na Escola Alemã (Deutsche Schule) em Blumenau,
transferindo-se em 1938 para o Colégio Santo Antônio após a nacionalização do
ensino empreendida pelo ministro da Educação Gustavo Capanema, onde concluiu o
científico em 1946. Formou-se em engenharia civil pela Universidade Federal do
Paraná (Ufpr) em 1952, na chamada “turma do Ney Braga”, referência a seus
companheiros de curso que viriam a ocupar postos importantes no governo de Ney
Braga no início dos anos 1960, tais como Afonso Camargo e Saul Raiz, entre
outros. Depois de formar-se, exerceu a profissão de engenheiro na região norte
do estado numa firma de construção civil e, após realizar curso de especialização
em concreto protendido em Paris-França em 1959, tornou-se diretor financeiro da
mesma empresa até 1961. Em fevereiro de 1962, entrou por concurso público na
recém-fundada Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar), então presidida
por Afonso Camargo, tendo sido chefe do Setor de Análise de Projetos, diretor
técnico de investimentos (substituindo Maurício Schulman) e diretor-presidente
da empresa (1965), criada pelo governador Ney Braga com o fito de promover o
desenvolvimento econômico e industrial do Paraná. A partir de seu trabalho na
Codepar, Rischbieter estreitou seus laços políticos com Ney Braga, já então uma
das principais lideranças políticas paranaenses.
Em
outubro de 1965, com a candidatura e posterior vitória de Paulo Pimentel nas eleições
para o governo do Paraná, Rischbieter afastou-se da presidência da Codepar. No
mesmo ano, foi nomeado representante do estado do Paraná no Conselho Consultivo
de Planejamento (Consplan), a convite do ministro do Planejamento do governo
Castelo Branco, Roberto Campos, tornando-se ainda assessor econômico do estado
do Paraná e assessor do Instituto Brasileiro do Café (IBC). Em seguida,
trabalhou no IBC no Rio de Janeiro, e em julho de 1966 foi para Hamburgo,
Alemanha, onde chefiou o escritório do IBC neste país. Nesse período participou
de várias negociações internacionais sobre os problemas do café e do comércio
internacional, em Londres e em outras cidades européias, adquirindo uma
experiência que lhe seria útil posteriormente em sua atividade pública.
Após
o término do governo Castelo Branco, em 1967, Rischbieter pediu demissão dos
cargos públicos que ocupava e retornou à iniciativa privada, tornando-se
diretor da Pafisa Crédito Financiamento e Investimento, e diretor-gerente da
Paraná Comércio Administração S.A., holding de propriedade de Leônidas
Bório, ex-presidente do IBC. Exerceu a profissão de administrador financeiro
nessa empresa até fevereiro de 1972, quando foi convidado pelo secretário da
Fazenda do governador paranaense Parigot de Sousa, Maurício Schulman, para
assumir a presidência do Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep). Durante
sua gestão no Badep, Rischbieter foi um constante articulador empresarial na
Europa e no Japão, e um dos principais responsáveis pela atração de investimentos
externos para o estado, dentre eles as empresas Boschi, Volvo, Philip Morris e
Siemens, tendo o Badep assumido então papel decisivo no estímulo ao
desenvolvimento econômico do Paraná, mormente na implantação da cidade
industrial em Curitiba durante a primeira gestão do prefeito Jaime Lerner.
Em
20 de março de 1974, por indicação do ministro da Educação, Ney Braga,
Rischbieter assumiu a presidência da Caixa Econômica Federal, posto que exerceu
até fevereiro de 1977. Durante sua gestão, a Caixa apresentou uma expansão
acelerada, com um crescimento dos depósitos reais de aproximadamente 120%,
tendo sido ainda aprovado o Fundo de Assistência Social (FAS), que abriria
fontes de financiamento para várias iniciativas de cunho social. Após a crise
ministerial causada pelo pedido de demissão do ministro da Indústria e
Comércio, Severo Gomes, Carlos Rischbieter foi convidado para assumir, por
indicação do ministro da Fazenda do governo Geisel, Mário Henrique Simonsen, o
cargo de presidente do Banco do Brasil em substituição a Ângelo Calmon de Sá,
que havia sido transferido para o Ministério da Indústria e Comércio. Exerceu o
cargo de presidente do Banco do Brasil de fevereiro de 1977 a março de 1979, quando foi nomeado ministro da Fazenda pelo presidente João Batista Figueiredo.
Durante sua gestão no Banco do Brasil, defendeu a criação de um Ministério da
Economia com o objetivo de coordenar as várias atividades econômicas estatais e
racionalizar o “caos administrativo” então vigente nas empresas públicas. Já
nesse período, passou a ser conhecido na imprensa por sua postura liberal,
tendo sido um dos primeiros altos funcionários do governo a analisar
publicamente os resultados das eleições de novembro de 1978, favoráveis ao MDB
no centros urbanos.
No Ministério da Fazenda (1979-1980)
Em
15 de março de 1979 tomou posse na presidência da República o general João
Batista Figueiredo. Carlos Rischbieter tornou-se então ministro da Fazenda,
sucedendo a Mário Henrique Simonsen que havia sido nomeado ministro do
Planejamento do governo Figueiredo. Assumindo o Ministério da Fazenda num
contexto de aceleração inflacionária, aumento das taxas de juros
internacionais, e de ascensão do movimento grevista na região do ABC paulista,
seus dez meses de gestão foram marcados por divergências com setores
financeiros, e com membros da equipe econômica, sobre as medidas a serem
tomadas para a adaptação da economia ao novo contexto interno e externo. Em
agosto de 1979, o ministro do Planejamento Mário Henrique Simonsen, defensor de
medidas de contenção do gasto público para o ajuste da economia, foi
substituído no cargo pelo ministro da Agricultura, Delfim Neto, defensor de
políticas expansionistas. Essa mudança na equipe econômica colocou Rischbieter,
mais próximo a Simonsen, em rota de colisão com o novo ministro do
Planejamento, Delfim Neto. Em janeiro de 1980, Carlos Rischbieter entregou ao
presidente Figueiredo um relatório confidencial de cerca de 20 laudas
analisando a situação econômica do país, onde expôs seus pontos de vista sobre
as perspectivas da economia e as medidas econômicas a serem implementadas. Em
seu relatório, Rischbieter criticou o excessivo endividamento externo do Estado
brasileiro, e defendeu uma política de estímulos às exportações e controle das
importações, prevendo um quadro “sombrio” caso não fossem adotadas medidas
urgentes de ajuste fiscal, das contas externas, e de contenção dos gastos
governamentais. O relatório traçava ainda um quadro pessimista para 1980 e
afirmava, entre outras coisas, que o país precisaria naquele ano de receitas
de 41,1 bilhões de dólares para pagamento de dívidas, quando suas exportações
deveriam atingir apenas 16,9 bilhões de dólares, o que por sua vez ocasionaria
graves problemas futuros de balanço de pagamentos. Contrariando a estratégia do
ministro Delfim Neto, o ministro da Fazenda apontava para um quadro pessimista
no cenário internacional, que deveria continuar até pelo menos 1984. O
vazamento desse relatório para a imprensa causou grande repercussão nos meios
empresariais e políticos, tornando públicas as divergências existentes na
equipe governamental sobre os rumos a serem traçados pela política econômica.
Considerando-se sem espaço no interior do governo, Rischbieter pediu demissão
do cargo de ministro da Fazenda no dia 15 de janeiro de 1980, sendo substituído
no posto dois dias depois pelo presidente do Banco Central, Ernâni Galveias.
Após
seu afastamento do Ministério da Fazenda, retornou à iniciativa privada,
exercendo atividades de consultoria para diversas empresas. Embora afastado de
cargos públicos, continuou intervindo no cenário político nacional através de
palestras e entrevistas à imprensa. Nessas intervenções, alertou contra os
riscos da excessiva dependência da política econômica em relação aos recursos
externos, contra a pouca atenção dada pelo governo à área social e preconizou a
necessidade de uma melhor distribuição de renda para a adoção de um modelo de
desenvolvimento auto-sustentado pelo país. Nesse período, prestou assessoria
econômica ao Partido da Frente Liberal (PFL), tendo ainda apoiado a candidatura
de Tancredo Neves à presidência da República no Colégio Eleitoral em janeiro de
1985 e participado, juntamente com o economista Celso Furtado, da elaboração do
programa econômico da Aliança Democrática.
Em 26 de março de 1985, retornou à vida pública, assumindo a
presidência do Instituto Brasileiro do Café a convite do presidente José
Sarney. Durante sua gestão no IBC, Rischbieter enfrentou protestos de
cafeicultores, tendo permanecido no cargo por apenas cinco meses, até agosto de
1985, quando pediu demissão. Segundo a imprensa, o principal motivo foi a forma
como o ministro da Indústria e Comércio, Roberto Gusmão, divulgou os resultados
da auditoria feita no IBC, sem ressalvar que a atual administração não estava
envolvida nas irregularidades apuradas.
Após
sair do IBC, retornou definitivamente às atividades empresariais, embora
continuasse se manifestando sobre temas econômicos e prestando consultoria para
instituições públicas e privadas. Foi presidente da Associação Latino-Americana
de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), de 1977 a 1979, e presidente do Conselho Administrativo da Volvo do Brasil S.A. de 1980 a 1994, e da MPM Propaganda S.A. Foi também membro do Conselho Administrativo de diversas
empresas nacionais e estrangeiras, como Ericsson, Philip Morris, Artex S.A.
(Blumenau,SC), Refripar (Curitiba), Climax (São Carlos,SP), Sicom (São
Carlos,SP), Lacta (São Paulo), Fiat Lux (Curitiba), e membro do conselho
consultivo da Brasilinvest e do banco Bamerindus (Curitiba).
Em
abril de 1996, foi eleito representante dos acionistas minoritários no Conselho
de Administração do Banco do Brasil. Nesse período, afastou-se das atividades
que exercia em outras empresas e tornou-se membro do Conselho Administrativo da
Sadia, da cooperativa Batavo e sócio-proprietário da empresa Franca. Exerceu
também a presidência do Instituto Paraná de Desenvolvimento (IPD) e da Aliança
Francesa de Curitiba.
Nos
anos seguintes continuou a prestar consultoria para diversas empresas e, com
menos freqüência, a proferir conferências e entrevistas sobre temas econômicos
e políticos para órgãos da imprensa e associações civis. Em março de 2008, após
a passagem de seus 80 anos, lançou um livro autobiográfico intitulado Fragmentos
de Memória (Travessa dos Editores, 2008), com prefácio do jornalista Mino
Carta. Na ocasião, concedeu entrevistas elogiando as linhas gerais política
econômica do governo Lula, mas fazendo reparos à excessiva valorização cambial
e ao excesso de oferta de crédito de longo prazo para a compra de bens de
consumos duráveis, que poderia levar o Brasil a uma bolha de crédito semelhante
à ocorrida na economia norte-americana pouco tempo antes.
Foi casado com a engenheira Francisca Maria Garfunkel
Rischbieter, com que teve dois filhos. Sua esposa, falecida em 1989, era
engenheira da prefeitura de Curitiba e foi uma das responsáveis pela
implantação do plano de reurbanização da cidade em 1971. Em março de 1994
Carlos Rischbieter casou-se em segundas núpcias com Rosa Maria Beltrão.
Publicou
Paul Garfunkel — um francês no Brasil (edição bilíngüe
francês-português, 1992), biografia ilustrada sobre a trajetória artística de seu
sogro, e foi tradutor de obras do poeta alemão Rainer Maria Rilke.
Sérgio Soares
Braga
FONTES:
Estado de S. Paulo (20/1/79, 8/5/81, 10/5, 5/7, 10/8/85); Folha de S.
Paulo (20/1/79, 18/1/80, 26/5/81, 2/12/82, 19/6/83,15/1/84, 17/8/85); Globo
(6/1/79, 16/1/80, 15/1, 15/3/81, 26/3, 25/8/85); IstoÉ (21/02/79); INF.
BIOG. Jornal do Brasil (14/6, 11/12/77, 27/5, 24/11, 17/12/78, 12, 16,
17, 18 e 20/1/80, 13/5/81, 26/3, 8, 16 e 18/8/85, 25/1/87, 19/10/94, 24/4/96); Manchete
(2/6 e 17/11/79); Veja (1/3/78); Gazeta
do Povo (27/03/2008); RISCHIBIETER, Karlos.
(2008). Fragmentos de memória. Curitiba: Travessa dos Editores.