GOMES, Ciro
*gov.
CE 1991-1994; min. Faz. 1994; cand. Pres. Rep. 1998 e 2002; min. Integr. Nac. 2003-2006; dep. fed. CE 2007-2011
Ciro Ferreira
Gomes nasceu em Pindamonhangaba (SP) no dia
15 de novembro de 1957, filho do cearense
José Euclides Ferreira Gomes Filho e da paulista
Maria José Ferreira Gomes.
Sua família
paterna militou na política
cearense desde
a proclamação da República, quando seu bisavô José Euclides Ferreira
Gomes se tornou prefeito de Sobral, cargo que mais tarde também seria ocupado por
seu avô
e seu pai. Seu
irmão Cid Gomes foi deputado
estadual (1991-1996), prefeito de Sobral
(1997-2005), governador do Ceará por dois mandatos (2007-2015) e em 2015 foi
Ministro da Educação no governo Dilma Rousseff. Ivo Gomes, outro de seus
irmãos, exerceu o cargo de deputado estadual cearense por diversos mandatos. Seus
tios paternos também exerceram cargos políticos: João Frederico Ferreira Gomes foi deputado
estadual no Ceará. Vicente Antenor Ferreira Gomes, conhecido como Nôzinho, foi
deputado estadual e prefeito do município cearense de Itapipoca. Entre os
primos, Pimentel Gomes foi deputado federal (1995-1999; 2001-2002; 2003) e Tin Gomes atuou
como vereador em Fortaleza e posteriormente como deputado estadual na
Assembleia Legislativa do Ceará.
Quando
Ciro tinha três anos de idade, a família
mudou-se para Sobral. Após concluir o curso secundário
em uma escola pública
da cidade, transferiu-se para Fortaleza
e ingressou em 1976 na Faculdade
de Direito da Universidade
Federal do Ceará (Ufce). Na faculdade, militou ativamente
em um
grupo denominado Habeas-Corpus, ligado à esquerda
católica, mantendo — segundo seu
depoimento, publicado no livro No país dos conflitos — “um
certo alheamento da luta
partidária”. Em
1979, ano da reabertura da União Nacional dos Estudantes
(UNE), candidatou-se à vice-presidência da entidade em uma chapa
social-democrata considerada pelos grupos mais radicais da entidade
como de direita.
Formou-se no fim desse ano.
Depois de
formado, voltou a Sobral para lecionar
na universidade local
e advogar. Na ocasião,
seu pai
havia sido eleito prefeito da cidade na legenda do Partido
Democrático Social
(PDS) em oposição
ao grupo de Virgílio Távora, um dos três principais coronéis da política
cearense. Em
1982, preocupado com
sua sucessão
e com a preservação
da herança política
da família, José Euclides conseguiu incluir o nome de
Ciro na lista de candidatos
do PDS à Assembleia Legislativa do
Ceará, mesmo tendo-se esgotado o prazo de filiação. Segundo seu próprio depoimento,
Ciro aceitou a candidatura sob a condição
de fazer uma campanha
completamente livre
para defender suas idéias, sem constrangimentos
por parte
do PDS. Com um discurso
voltado contra as elites
cearenses e defendendo o “voto camarão”,
forma de protesto da oposição que
induzia o eleitor a votar
apenas para
deputado federal e estadual, prefeito e vereador,
deixando em branco
os votos para
senador e governador, conseguiu
eleger-se. Foi o deputado mais votado em
Sobral, onde obteve 11.600 votos.
Assumindo
o mandato em
fevereiro de 1983, pronunciou-se contra o governador
eleito pelo seu
próprio partido,
Luís Gonzaga Mota (1983-1987), e chamou
a atenção da imprensa
local ao reintroduzir
no Legislativo cearense
o debate sobre
as questões nacionais,
democracia, liberdade,
reforma social e “até
assuntos internacionais”,
o que teria sido, segundo ele, uma antiga
tradição abandonada pela
política cearense
contemporânea. Foi nesse momento em que se deu sua aproximação com Tasso
Jereissati, que presidia o Centro Industrial
do Ceará (CIC) e despontava como uma moderna liderança
empresarial e política
no estado. Convidado
pelo comitê
de imprensa da Assembleia cearense para realizar uma palestra, Tasso impressionou-se com a atenção e
os questionamentos de Ciro e convidou-o a participar
de conversas particulares
e das conferências promovidas pelo CIC.
As
relações entre
Ciro e Tasso estreitaram-se ao longo de
1984, durante campanha pelas eleições diretas para a presidência da República
e, a seguir, durante a campanha da Aliança Democrática,
cujo candidato, Tancredo Neves, do Partido
do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), derrotou Paulo Maluf, do PDS, no Colégio Eleitoral
reunido em 15 de janeiro de 1985. Na ocasião, Ciro já
havia deixado o PDS e ingressado no PMDB, para onde também
havia se transferido o governador
Gonzaga Mota. Segundo
ele, o PMDB do Ceará “não valia nada”, havendo grande
insegurança quanto
ao posicionamento de seus filiados em
relação ao apoio
a Tancredo Neves.
Após as eleições, e com
a crise política
aberta pela
morte de Tancredo Neves
antes de ser
empossado, Ciro conta que
passou a ser perseguido por
Gonzaga Mota até
que este
decidiu apoiar o nome
de Tasso Jereissati para seu sucessor no governo estadual. Segundo
seu depoimento,
só após um bem-sucedido
teste de popularidade
em Sobral, onde
organizou a primeira reunião política
do candidato, foi que
Tasso se decidiu a entrar na disputa
pelo governo do estado
como candidato do PMDB.
Nas
eleições de novembro
de 1986, enquanto Tasso vencia a disputa
contra Adauto Bezerra,
candidato do Partido
da Frente Liberal
(PFL), Ciro conquistou seu segundo mandato
de deputado estadual. Convidado por
Tasso para exercer a liderança do governo
na Assembeia estadual, teve de enfrentar as reações dos parlamentares
à política de enxugamento da máquina administrativa
promovida pelo novo governador. Seu
esforço valeu-lhe o convite
de Tasso para disputar
a prefeitura de Fortaleza
nas eleições municipais de novembro de 1988, dando prosseguimento
à estratégia de isolamento
político dos coronéis e de extinção do clientelismo
no Ceará.
Eleito,
assumiu o governo da capital cearense
em janeiro
de 1989, recebendo, segundo o jornal O Estado
de S. Paulo, uma herança pesada da ex-prefeita Maria Luísa Fontenele, do Partido dos Trabalhadores
(PT-CE), que deixou os serviços públicos
paralisados e o lixo sobre as calçadas.
Em apenas
um ano,
segundo a mesma
reportagem, Ciro limpou as ruas, tapou buracos, reabriu postos
de saúde, recuperou escolas
e colocou em dia
os salários dos 22 mil
funcionários do município. No ano seguinte, obteve o melhor
índice de aprovação
entre os prefeitos
das capitais, com
77% da avaliação de seu desempenho como
ótimo/bom, segundo a Folha
de S. Paulo.
Contudo, após 15 meses à frente de uma bem-sucedida
administração municipal, deixou o cargo para, novamente
a convite de Jereissati, candidatar-se à sua sucessão no
pleito de outubro
de 1990, na legenda do recém-criado Partido
da Social Democracia
Brasileira (PSDB). Ao deixar
a prefeitura, foi substituído pelo vice-prefeito
Juraci Magalhães, do PMDB. Ainda no primeiro turno, obteve 56% dos votos.
Saiu vencedor em todas as urnas de Fortaleza,
sendo que em
três delas contabilizou 100% dos votos válidos.
Foi o único governador do PSDB eleito em
1990.
No governo do Ceará
Assumindo o governo em 15 de março
de 1991, Ciro incentivou a criação de micro e pequenas empresas pelo interior do estado,
deu continuidade ao enxugamento da máquina
administrativa iniciado
na gestão de Jereissati, combateu a sonegação para aumentar a arrecadação e investiu maciçamente
em saúde
e educação. Sua
gestão transformou-o em campeão de popularidade entre
os governadores, com
64% de aprovação, segundo
pesquisa realizada pelo
Instituto Datafolha em
julho de 1992. Reduzindo em 1/3 os índices
de mortalidade infantil
no estado, por
meio do programa
Viva Criança, propagandeado pelo humorista cearense
Renato Aragão, foi o primeiro governante
latino-americano a receber,
em 1993, o prêmio
Maurice Paté, concedido pelo Fundo
das Nações Unidas para
a Infância (Unicef). Para
realizar esse trabalho,
contou, além do engajamento da Igreja Católica
e dos meios de comunicação,
com um
verdadeiro exército
de agentes de saúde
que levou assistência
médica a 350 mil
famílias, atingindo quase
1/3 da população cearense.
Outra obra de impacto realizada em seu governo foi
a construção, com
a ajuda de pequenas
empreiteiras, de um
canal de 115 quilômetros
para levar as águas do rio Jaguaribe até a capital,
numa tentativa de enfrentar
os problemas ocasionados pela grande seca sofrida pelo estado em 1993.
No plano político, segundo
reportagem publicada pela Carta Capital,
Ciro indispôs-se com seu padrinho
político no princípio de 1992, ao permitir que fiscais da Secretaria da Fazenda
autuassem a empresa Grande
Moinho, do grupo
Jereissati, sob a acusação
de contrabando de trigo.
Segundo a revista,
a questão foi resolvida após
apresentação de documento
da Receita Federal
autorizando a operação, mas deixou profundas mágoas
em Carlos Francisco, irmão de Tasso e administrador
das empresas da família,
que não
se conformou com o fato
“do criador Tasso não
ter rompido com
sua criatura”.
Apesar de ter apoiado, num primeiro momento, a candidatura
de Fernando Collor de Melo, eleito presidente
da República em
1989, e elogiado seus primeiros atos
de governo, passou a defender
sua renúncia
após as denúncias
de corrupção em
sua administração,
tornando-se alvo de ataques
do governo federal,
dirigidos também a Tasso Jereissati, que articulava a sustentação
de uma eventual ascensão
do vice-presidente da República, Itamar Franco, à presidência. Com
Tasso, organizou manifestações de rua no Ceará a favor da abertura do processo de impeachment de Collor, cuja
admissibilidade acabou sendo aprovada pela Câmara dos Deputados em 29
de setembro de 1992. Após
a votação, Collor foi afastado da presidência e renunciou no dia 29 de dezembro,
pouco antes
da conclusão do processo
pelo Senado. Com sua renúncia, Itamar Franco,
presidente interino desde 2 de outubro, foi efetivado no cargo.
No dia seguinte, realizaram-se eleições
municipais em todo
o país. Nessa ocasião,
Ciro sofreu duas importantes derrotas políticas:
não conseguiu eleger
um correligionário
para a prefeitura
de Fortaleza — o escolhido pelo eleitorado da capital foi seu
secretário de Finanças, Antônio Cambraia, do PMDB, lançado por
Juraci Magalhães —, nem para a de Sobral, onde Aldenor Façanha
Júnior, do PDS, venceu Raimundo
Pimentel, do PSDB.
Parlamentarista, não poupou duras críticas ao PT por
ter optado pela
defesa do presidencialismo,
sistema de governo
que seria confirmado pelo
plebiscito realizado em 21 de abril
de 1993, dificultando uma eventual aliança daquele partido
com o PSDB nas eleições
presidenciais do ano seguinte.
No
início de 1994, rompeu violentamente com
o ex-governador de São Paulo e então presidente
do PMDB, Orestes Quércia, a quem ameaçou
processar por
ter chamado a ele
e a seu pai,
José Euclides, de ladrões, segundo noticiou a Folha
de S. Paulo. Também elogiou a
gestão de Fernando Henrique Cardoso à frente do Ministério
da Fazenda, declarando que sua eventual candidatura
à presidência da República
não afetaria o sucesso
do Plano Real.
Em setembro de 1994, foi surpreendido pelo
convite do presidente
Itamar Franco para
assumir o Ministério Fazenda no lugar
do embaixador Rubens Ricupero, que, por sua vez, já havia substituído Fernando Henrique após
a desincompatibilização deste para concorrer
à presidência da República
nas eleições daquele ano em uma coligação formada pelo
PSDB, o PFL e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Aceito o convite, foi substituído no governo cearense
pelo desembargador
Francisco Adalberto Barros de Oliveira Leal, presidente do Tribunal
de Justiça do estado,
uma vez que
seus substitutos
naturais, o vice-governador Lúcio
Alcântara e o presidente da Assembleia Legislativa, deputado
Francisco Aguiar, haviam-se afastado dos cargos
para concorrer
às eleições de outubro,
o primeiro ao Senado
e o segundo à reeleição.
Deixou o governo do
Ceará com o mais
alto índice
de aprovação – 74% – entre os governadores de 12 estados
pesquisados pelo Instituto
Datafolha naquele mês, tendo
proporcionado ao estado um crescimento
de 8% em seu
produto interno
bruto, assegurado 50% de sua arrecadação mensal
para investimentos
e zerado suas dívidas
interna e externa.
Considerado um “bom
comunicador” pelo presidente
da República, que
se identificava com seu
estilo direto,
contundente e impetuoso
de criticar os adversários,
Ciro passou a ser considerado um
tucano que não
ficava “em cima do muro”. Sua indicação para o Ministério da Fazenda reforçava a posição
do PSDB no governo federal
e garantia a continuidade do Plano Real.
No Ministério da Fazenda
Sua
gestão à frente
do Ministério da Fazenda, iniciada em 8
de setembro de 1994 foi marcada pela polêmica, característica de
seu estilo. As primeiras medidas que
adotou, reduzindo as alíquotas de importação de 445 produtos,
e sua interferência
nas negociações da greve dos petroleiros para evitar o repasse
de aumentos salariais para
os preços, comprometeram, segundo noticiou a Folha
de S. Paulo, os acordos fechados nas
câmaras setoriais
entre trabalhadores,
empresários e governo,
além de colocá-lo em
confronto com
a equipe econômica
que monitorava o Plano
Real. Não
hesitou em confrontar-se com os sindicalistas, cancelando o acordo fechado pela
Petrobras com os petroleiros,
que reivindicavam aumento
salarial bem acima
do Índice de Preços
ao Consumidor (IPC), jogando a categoria em
uma das mais longas e tumultuadas greves de sua história.
Para preservar
a continuidade do plano de estabilização econômica,
também se manifestou contra a proposta
de elevação do salário
mínimo para cem reais. Com o objetivo
de dar mais
competitividade à economia, extinguiu a cobrança do PIS/Pasep e do Cofins sobre
as exportações. Num esforço
para acabar com a indexação
na economia, criou a Taxa
de Juros de Longo
Prazo (TJLP), que
deveria substituir a Taxa
de Referência (TR) nos
financiamentos à produção. Para
implementar a TJLP, bateu de frente
com o secretário-executivo de seu ministério,
Clóvis Carvalho, que,
ainda segundo
seu depoimento,
havia engavetado o projeto. Também tiveram grande
repercussão suas declarações
chamando de “otários” os consumidores que
pagavam ágio na compra de carros populares
e de “ladrões” e “canalhas”
os empresários que
o cobravam, entrando em choque com a Federação das Indústrias
do Estado de São
Paulo (FIESP) ao classificar como
“terroristas” as reações
do empresariado paulista
às medidas tomadas
para conter o consumo.
Em novembro, viajou para Buenos Aires para discutir com o ministro da Economia
argentino, Domingo Cavallo, uma ampla pauta de assuntos
que incluía desde
padrões de embalagens
até a política
automotriz, e acertar
os termos finais
do acordo sobre
tarifas do Mercosul,
que seria assinado no mês seguinte na cidade de Ouro Preto (MG).
Ainda em dezembro, pouco antes
de deixar o cargo – em janeiro de 1995 Itamar Franco
passaria o governo a Fernando Henrique Cardoso, vitorioso na eleição de outubro
de 1994 –, criticou duramente a escolha do senador
José Serra (PSDB-SP) para
ministro do Planejamento
do novo governo, acusando-o de ter combatido a política cambial
que sustentava o Plano
Real.
Em 1º de janeiro de
1995, foi substituído no Ministério da Fazenda por
Pedro Malan. Em seguida,
viajou para os Estados
Unidos para um
período de estudos
na Universidade de Harvard sobre os aspectos
políticos da inflação
brasileira, produto,
segundo declarações
dadas ao jornal O Estado de S. Paulo, “dos oligocratas,
corporocratas e plutocratas” que
controlavam o país. Após deixar o
ministério, passou a escrever aos domingos uma coluna para o Jornal do Brasil.
Em
abril foi acusado pelo deputado Paulo
Bernardo (PT-PR) de ter transferido para o novo governo despesas
da ordem de 3,3 bilhões
de reais, assumidas por
Itamar Franco para
fechar com saldo positivo
o caixa do Tesouro
Nacional, atribuiu a Serra a origem da acusação. Atacou também a decisão do governo brasileiro de impor cotas para a importação
de automóveis e rever
pontos do acordo
do Mercosul que haviam sido decididos em sua gestão em conjunto
com a mesma
equipe econômica
que ascendera ao poder
com o presidente, criando assim um
impasse nas negociações com a Argentina. Mais uma vez criticou José Serra, acusando-o
de favorecer a indústria
paulista ao introduzir mudanças nas regras de importação.
As
críticas a Serra refletiam na verdade
uma queixa maior
em relação
à seção paulista
do PSDB. As divergências haviam começado
com a disputa pela
presidência do partido
em 1992, quando
Ciro trabalhou pela candidatura
vitoriosa de Tasso Jereissati,
derrotando o governador de São Paulo, Mário Covas,
que apoiava o nome
de Euclides Scalco (PSDB-PR). Seus atritos com
Mário Covas acirraram-se quando ocupava o Ministério
da Fazenda, com
a explosão da crise
do Banco do Estado
de São Paulo (Banespa), e culminaram quando Covas o
processou por ter
denunciado, segundo seu
próprio depoimento,
o tratamento privilegiado que o governo federal vinha
dando ao Banespa, em detrimento de outros
bancos estaduais que
acabaram sendo fechados, como os do
Piauí e do Rio Grande
do Norte.
Em novembro de
1995, em entrevista
a O Estado de S. Paulo, negou ter-se
encontrado com o líder
do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem
Terra (MST), José Rainha,
que fora acusado de duplo homicídio
no estado do Espírito
Santo em 1989, e havia apresentado como álibi sua presença no dia do crime em reunião
com Ciro, então
prefeito de Fortaleza.
Desgostoso menos com a política
e mais com
os políticos, conforme
declarou em entrevista
ao jornal O Estado
de S. Paulo, recusou convite do governador Tasso Jereissati para
concorrer novamente
à prefeitura de Fortaleza
nas eleições municipais de 1996, mesmo sendo seu
nome o mais
cotado do PSDB para ocupar
o cargo, de acordo
com pesquisa
realizada pelo Instituto
Datafolha. Como alternativa, apresentou
ao PSDB a candidatura de Maria do Socorro França, que
foi derrotada por Juraci Magalhães, do
PMDB. Ajudou a articular uma aliança
entre o PSDB e o PT para
apoiar a candidatura
de seu irmão,
o deputado estadual Cid Gomes (PSDB-CE),
à prefeitura de Sobral, mas este também foi
derrotado pelo candidato
do PMDB. Na mesma ocasião, sua esposa Patrícia Gomes, ex-militante do Partido
Comunista do Brasil (PCdoB), foi eleita
vereadora em Fortaleza na legenda do
PSDB.
Sem mandato, passou a atacar a
“política do Estado
mínimo” praticada, segundo
seu depoimento,
pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso, e a defender um Estado forte, planejador e dirigista, capaz
de fixar metas
para a sociedade e de definir políticas sociais e de desenvolvimento
para o país. Em artigo
publicado pelo Jornal
do Brasil, criticou o governo federal pela falta de “um projeto nacional
comovente que
mobilize a sociedade brasileira”
e por ter
errado “perigosamente no cronograma das
reformas”. Denunciando a “cultura política da conciliação
e da transação que
sempre marcou o pensamento
conservador brasileiro
e tem surpreendentemente encontrado em nosso governo uma prática absolutamente inquietante”, criticou o presidente por estabelecer um “modelo de interlocução
política desgastante por ser personalista, não institucional,
simplificador de complexidades sofisticadas, tudo
perdoado em começo
de governo, mas
de preço caríssimo se levado assim por muito tempo”.
Durante o período que passou nos Estados
Unidos, começou a articular com
o economista e professor
de Harvard Roberto Mangabeira Unger, um dos principais
ideólogos do Partido Democrático Trabalhista (PDT), a formação
de um grupo
voltado para a busca
de novas opções
políticas para
a esquerda latino-americana,
que incluía cientistas
políticos como
o mexicano Jorge Castañeda e políticos como
o ex-presidente Itamar Franco, o
ex-prefeito de Porto Alegre Tarso
Genro (PT-RS), e o senador
Pedro Simon (PMDB-RS).
Candidatura à presidência e ida para o PPS
Situando-se como um político de centro, em 1997 colocou-se como
um eventual
candidato da oposição
à sucessão de Fernando Henrique Cardoso,
que, com a aprovação da emenda da
reeleição pelo Congresso
naquele ano, poderia concorrer a um segundo mandato consecutivo nas eleições de
outubro de 1998. Conforme declarou em seu livro-depoimento, assim fez porque, “se você dissesse que há
20 brasileiros que
podem vir a ser presidente da República,
eu acho que
seria um dos 20”, desde
que contasse com
apoio popular.
Segundo
reportagem publicada pelo Jornal
do Brasil, em agosto de 1997
começou a articular com
Roberto Freire, senador por Pernambuco e presidente
do Partido Popular
Socialista (PPS) – criado em 1992 em decorrência de divergências internas no Partido Comunista Brasileiro (PCB) – um movimento
que pretendia reunir, em torno de um novo partido ou de
uma coligação, setores da oposição descontentes com
suas filiações
partidárias originais – como os governadores
do Paraná, Jaime Lerner, e do Espírito Santo,
Vítor Buaiz, que então abandonaram o PDT
e o PT para se filiar respectivamente ao Partido da Frente
Liberal (PFL) e ao Partido
Verde (PV). O objetivo
do movimento era
buscar alternativas de centro-esquerda para a coalizão de centro-direita
que, segundo
Ciro, passara a controlar a política
nacional após
a eleição de Fernando Henrique.
Percebendo
a inviabilidade da criação de uma nova legenda capaz de unir a oposição, no final
de setembro desligou-se do PSDB e
filiou-se ao PPS. No mês seguinte foi lançado pelo
PPS candidato à presidência
da República. Em junho
de 1998, sua candidatura
foi homologada, recebendo o apoio do Partido Liberal
(PL) e do Partido da Mobilização Nacional (PMN). Seus
principais adversários
eram o presidente Fernando Henrique e
Luís Inácio Lula da Silva, candidato da coligação
de esquerda comandada pelo
PT e integrada ainda pelo
PDT, pelo PCdoB, pelo Partido Socialista
Brasileiro (PSB) e pelo
PCB.
Durante a campanha, Ciro Gomes criticou a política
econômica de Fernando Henrique em relação à venda do patrimônio
público, à explosão
das dívidas interna
e externa, e à valorização artificial do real.
Seu programa
de governo previa a redução drástica dos juros
e a adoção de um
câmbio flutuante.
Em relação
ao candidato petista, suas críticas
se dirigiram ao fato de Lula não ter vivência administrativa, por
jamais ter
governado. No último mês
da campanha, diante
da perspectiva de Fernando Henrique vencer as eleições
no primeiro turno,
Ciro e Lula cessaram os ataques recíprocos
e buscaram aproximar-se na oposição ao
presidente. Fernando Henrique foi de fato eleito no primeiro turno, com 53% dos
votos, e Ciro Gomes ficou em terceiro lugar,
com cerca
de 10% dos votos.
O
início do segundo
mandato de Fernando Henrique, em janeiro
de 1999, foi marcado por uma forte desvalorização
do real em
consequência de uma grave crise financeira
iniciada na Rússia que
provocou um grande
movimento de fuga
de capitais dos chamados países emergentes.
Para evitar a saída desses recursos,
o governo decidiu elevar
mais uma vez
a taxa de juros,
que em
março chegaria a 45% ao ano. Como consequência, o Brasil experimentou o maior endividamento
público interno
de sua história.
Em encontro com
Fernando Henrique ainda em janeiro – o primeiro desde sua saída do
PSDB em 1997 –, Ciro sugeriu a
centralização do câmbio e o controle sobre
a fuga de capitais
como medidas
emergenciais para
a crise. Defendeu ainda
que o governo
procurasse os credores para
negociar um alongamento do perfil
da dívida. Segundo
ele, as dificuldades
enfrentadas pela economia
brasileira residiam na política econômica
“conservadora” adotada pelo governo, e apenas exigir mais sacrifícios da população
para cumprir as metas de ajuste fiscal não resolveria o problema.
Ao
mesmo tempo
que procurava se posicionar criticamente em relação ao governo, Ciro Gomes
buscou fortalecer sua
aproximação com
o PT e com outros
setores da oposição.
Durante encontro
com Lula
em abril
de 1999, propôs a formação de um movimento suprapartidário que
reunisse as diversas correntes oposicionistas em
torno de um
programa comum
para a disputa
das eleições presidenciais de 2002.
Desse movimento, sairia uma candidatura única
de centro-esquerda a ser escolhida em eleições
primárias por todos
os filiados.
A proposta seria,
entretanto, recusada pela direção
do PT sob o argumento de que Ciro Gomes não
representava uma alternativa real ao projeto
do PSDB. Segundo alguns
petistas, tal recusa se baseava na posição
assumida por Ciro, contra
as manifestações da oposição
– simbolizadas no slogan
“Fora FHC” – que
pediam a renúncia ou
o impeachment
de Fernando Henrique em razão do agravamento da crise
econômica e do surgimento
de denúncias de corrupção
envolvendo o governo. Ciro qualificou as
propostas como
“golpistas”, sustentando que a busca de
uma saída para
a crise não
comportava o desrespeito às instituições democráticas e ao resultado
das eleições. Em
mais de uma ocasião,
manifestou-se também contrariamente à criação de comissões parlamentares de inquérito (CPIs)
no Congresso Nacional
para investigar atos do Executivo.
Isso, entretanto,
não o impediria de acusar
o presidente de “omisso”
em relação
às denúncias. Em
julho de 2002, por
exemplo, afirmaria: “Fernando Henrique não rouba, mas deixa roubar”, declaração que teve grande
repercussão na imprensa e provocou acirrada troca
de acusações entre
Ciro e o palácio do Planalto.
Quando Ciro Gomes disputou a presidência
da República, em 1998, o PPS contava com 506 vereadores,
32 prefeitos, um
senador, três
deputados federais
e apenas 28 deputados
estaduais. Em sua opinião, a falta de estrutura do partido
em estados
importantes como
São Paulo teria sido uma das principais causas
de sua derrota.
A partir desse diagnóstico,
assumiu como sua
principal tarefa
nos anos
seguintes a construção
de uma base política
mais sólida
e orgânica.
Segundo afirmou ao jornal Folha de S. Paulo, sua
intenção era
tornar o PPS um
partido de massas
a partir de sua
organização nos
municípios e, com
isso, conquistar
a hegemonia no campo
da esquerda brasileira.
O partido adotou então
uma política agressiva
de filiações que
teve como resultado
um aumento expressivo do número
de filiados e de partidários com mandatos eletivos. As adesões
incluíram desde socialistas
e ex-tucanos até antigos
partidários de Orestes Quércia e de
Paulo Maluf. A estratégia deu certo: em junho de 2000, o PPS registrava cerca
de dois mil vereadores, duzentos prefeitos, três senadores,
13 deputados federais
e mais de 40 deputados
estaduais.
Um importante teste para o partido
foram as eleições municipais de outubro de 2000. Ciro esteve à frente
das principais articulações
feitas pela legenda
durante a campanha. Além
de apoiar as candidaturas do partido em vários municípios cearenses, assumiu pessoalmente a coordenação
da campanha de sua
ex-mulher Patrícia Gomes (PPS) para a prefeitura de Fortaleza – Ciro e Patrícia
haviam se separado em 1999 e, pouco tempo depois, o ex-governador assumiu relacionamento com a atriz Patrícia Pilar.
Além
de Fortaleza, o PPS lançou candidatos próprios
em mais
seis capitais.
No Rio de Janeiro,
integrou uma coligação em apoio à candidatura
de César Maia, do PTB. Em São Paulo, porém,
a sigla se dividiu entre
os partidários da pré-candidatura de Mangabeira Unger – apoiado por
Ciro – e os favoráveis a uma aliança com a candidata Luísa Erundina, do PSB. A tese da candidatura
própria sofreu forte
oposição da direção
estadual do partido, levando Unger a desistir da postulação.
Derrotado, o filósofo anunciou seu voto na candidata
do PT, Marta Suplicy; Ciro também se negou a apoiar
Erundina.
O
primeiro turno
das eleições, em 1º de outubro, revelou o crescimento
das oposições em todo o país, principalmente
do PT. O PPS também avançou: de 33 prefeitos eleitos em
1996, saltou para 164; de 490 vereadores, passou a
mais de 2.500. Proporcionalmente, foi a sigla
que mais
cresceu. Em Fortaleza, no entanto, o partido sofreu sua pior
derrota. Patrícia
Gomes, que também
teve o apoio do governador
Tasso Jereissati, liderou as pesquisas
de intenção de voto
durante boa parte
da campanha, mas
foi ultrapassada na reta final e acabou em
quarto lugar.
No segundo turno, em 29 de outubro, o prefeito Juraci Magalhães (PMDB), em disputa com
Inácio Arruda (PCdoB), foi reeleito. No Rio, César Maia, com o apoio de Ciro Gomes,
foi eleito após derrotar
no segundo turno
o candidato à reeleição,
Luís Paulo Conde (PFL). Em São Paulo, Marta Suplicy (PT) foi a mais
votada no segundo turno
em disputa
com Paulo Maluf (PPB).
Nova candidatura
à presidência
Passadas
as eleições municipais, o nome de Ciro Gomes já
estava consolidado como um dos pré-candidatos ao pleito
presidencial de 2002. Apesar disso, Ciro
ainda defendia a unidade
das oposições no primeiro
turno para enfrentar o candidato
governista, chegando mesmo a declarar que estava disposto
a retirar o seu
nome para formar uma ampla coalizão de centro-esquerda.
Com
esse objetivo,
aproximou-se do presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, que
vinha sugerindo a formação
de uma chapa com
Ciro e o governador de Minas Gerais,
Itamar Franco. Pela proposta
de Brizola, a definição do candidato da aliança
– que incluiria também
o PT – seria feita no curso
da campanha, cabendo àquele que
reunisse as melhores condições para a disputa. A tese
da candidatura única
esbarrou, no entanto, na oposição dos petistas, cujo
provável candidato,
Luís Inácio Lula da Silva, liderava com folga as pesquisas eleitorais.
Para Ciro, a candidatura
isolada de Lula representava uma "ruptura voluntarista à esquerda"
e estava fadada ao fracasso.
Não obstante
o crescimento verificado na eleição de 2000, o PPS era
ainda um
partido com
pouca representatividade no cenário nacional.
Diante das negativas
do PT e da indefinição de Itamar – que viria a apoiar Lula –, Ciro passou a buscar
apoio de outras forças a fim de criar uma base de sustentação
para seu projeto político.
Um primeiro
passo nesse sentido
foi dado, em
maio de 2001, com
a formalização do apoio
do PTB à sua candidatura.
Ainda nesse mês,
num gesto interpretado como o início
de uma possível aproximação
com o PFL, caracterizou como “linchamento”
as críticas endereçadas ao senador baiano Antônio
Carlos Magalhães – seu antigo desafeto político –, após este ter sido acusado de mandar violar o painel eletrônico
de votação do Senado
durante sessão
que aprovou a cassação
do mandato do senador
Luís Estevão (PMDB-DF), em 2000, época em que Magalhães ocupava a presidência
da Casa. Na ocasião,
Ciro afirmou que a falta
do senador não
fora “tão
grave” e que
havia um “clima
de histeria no país”
a serviço do governo
e “de setores da mídia”
interessados em “distrair
a opinião pública”
dos fatos que
realmente importavam à nação. Antigo aliado de Fernando Henrique Cardoso, Antônio Carlos
Magalhães havia-se rebelado contra o apoio do governo à candidatura de seu
adversário Jader Barbalho (PMDB-PA) na eleição para a presidência do Senado
em fevereiro
de 2001. Acusado de quebra de decoro parlamentar pela violação
do painel, renunciaria ainda em maio ao mandato
de senador.
Anunciada em fevereiro de 2002, a coligação entre
PPS, PDT e PTB, batizada de Frente Trabalhista, sedimentou a candidatura de Ciro. Na época,
os principais candidatos à sucessão de Fernando Henrique já
estavam praticamente definidos. Além do candidato
do PPS, lançaram-se na disputa: Lula, pelo PT; Anthony
Garotinho, pelo PSB; e José Serra,
pelo PSDB. A novidade
era a governadora do Maranhão Roseana
Sarney (1995-2002), cuja pré-candidatura
havia sido lançada pelo
PFL com a intenção
de disputar a indicação
no campo governista.
Até então, Roseana era a candidata da base
do governo com
maior chance
de vitória, chegando a rivalizar
com Lula
nas pesquisas. A partir
de março, entretanto,
o apoio à sua
candidatura cairia vertiginosamente.
Uma ação de busca
e apreensão realizada pela Polícia Federal numa empresa de sua propriedade
e de seu marido,
Jorge Murad, revelou uma suposta
participação do casal em irregularidades
na extinta Superintendência
do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
A divulgação do caso
sepultou as pretensões da candidata. Em abril, Roseana anunciou sua
desistência da corrida
presidencial, responsabilizando o governo
e o candidato José Serra
pelas ações em
sua empresa.
A operação provocou o rompimento do PFL com
Fernando Henrique e pôs fim à aliança do partido
com os tucanos.
Durante
o episódio, Ciro manifestou-se abertamente a favor de Roseana e afirmou que a operação
tivera um caráter
nitidamente político para
favorecer José Serra.
Suas declarações
abriram definitivamente o caminho para um acordo com o PFL. Uma coligação
formal não
chegaria a se concretizar, mas
Ciro recebeu o apoio de lideranças
pefelistas expressivas, como o
ex-senador Antônio Carlos Magalhães e o presidente
do partido, Jorge Bornhausen. Roseana
Sarney, no entanto, decidiu-se pelo voto em Lula, uma vez que seu principal adversário no Maranhão, Jackson Lago
(PDT), era apoiado pela
Frente Trabalhista. Ciro também conseguiu atrair o apoio do partido em vários estados, dividindo com
Serra a preferência
entre os pefelistas.
O apoio de setores do
PFL à candidatura de Ciro foi duramente combatido pelo presidente do PPS, Roberto Freire, e pelas correntes mais
à esquerda do partido
oriundas do PCB. Segundo Freire, a
participação dos liberais comprometia o caráter “progressista”
da Frente Trabalhista e impunha à candidatura de Ciro um
perfil “conservador”
incompatível com
os compromissos de um
candidato de centro-esquerda. Ciro
defendeu-se afirmando que, “em política”, acordos contraditórios
eram "humanos e normais" e que
precisava viabilizar seu nome
na corrida sucessória. Ainda em abril de
2002, o comando da Frente
Trabalhista esvaziou as declarações de
Freire e decidiu que somente
Ciro Gomes teria autorização para se pronunciar
sobre as negociações com o PFL.
Em junho, Ciro Gomes teve seu
nome oficialmente
confirmado como candidato
à presidência da República
pela Frente
Trabalhista. Como vice,
foi escolhido o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira
da Silva (PTB), conhecido como Paulinho da Força. O programa
de governo da Frente,
cuja elaboração
foi coordenada por
Mangabeira Unger, assumiu o compromisso com
a manutenção da estabilidade da moeda, com o
"realismo fiscal"
e com a abertura
"criteriosa" da economia. Como medida
fundamental para
a “retomada do crescimento
econômico”, previa a elevação da taxa de poupança interna
do país por
meio de uma reforma tributária
que desonerasse o setor
produtivo e da instituição de um
regime de capitalização na Previdência
Social. O sucesso dessas reformas permitiria, segundo Ciro, a elevação
do salário mínimo
para mil reais em
um período de
oito anos.
A parte mais
polêmica do plano
era a proposta
para a dívida
interna, que
tinha como base
a concessão de juros
mais elevados
para os credores
que concordassem com
o alongamento dos prazos
de pagamento.
No campo da reforma política, o programa
defendia a instituição de uma "cláusula de barreira"
para a representação
parlamentar dos partidos,
o financiamento público das campanhas eleitorais,
a fidelidade partidária
e, a longo prazo,
a adoção do parlamentarismo.
Outra sugestão
polêmica era
a utilização de "plebiscitos
e referendos" para
solucionar impasses
entre o Executivo
e o Legislativo. O programa também previa o fim do vestibular
e do serviço militar
obrigatório, a
estatização da indústria de armamentos e o aumento
das restrições ao comércio
de armas.
Ainda em
junho, os institutos
eleitorais passaram a indicar
um vigoroso
crescimento do candidato
da Frente Trabalhista. Em dois meses, Ciro
praticamente dobrou seus índices de intenção
de voto, passando de cerca de 15% em
fins daquele mês
para quase
30% no final de agosto,
isolando-se em segundo lugar na disputa
e ameaçando a liderança de Lula. Nesse período, os ataques à sua candidatura tornaram-se mais
frequentes. As críticas mais incisivas partiram principalmente
de José Serra, que
explorou o fato de sua
candidatura ser
sustentada por antigos
aliados de Fernando Collor de Melo. A associação de seu
nome a Collor foi reforçada pela decisão do
PPS alagoano de apoiar
– contra a vontade
de Ciro – a candidatura do ex-presidente
ao governo de Alagoas. Serra também
acusou Ciro de, como ministro da Fazenda,
ter defendido a sobrevalorização do câmbio e a abertura
indiscriminada da economia.
Em resposta,
Ciro acusou Serra de ter
“sabotado” o Plano Real
e de ser o candidato
do "grande
capital" e "das negociatas". Sobre Lula,
que em
grau mais
moderado também reverberava as críticas do tucano,
Ciro disse que lhe
faltava experiência e um projeto para dirigir o país. Além das críticas
de seus adversários
na corrida sucessória, Ciro Gomes teve
de enfrentar uma série
de denúncias veiculadas na imprensa no mês
de julho envolvendo alguns
de seus principais
aliados. A mais
importante foi dirigida ao
coordenador-geral de sua campanha, deputado
José Carlos Martinez (PTB-PR), acusado de manter relações financeiras
com a família
do ex-tesoureiro da campanha presidencial
de Collor, Paulo César Farias. A divulgação do caso
provocou a saída de Martinez da campanha no início
de agosto, passando a coordenação a ser exercida pelo próprio Ciro. As acusações também
atingiram Paulo Pereira da Silva,
denunciado por irregularidades
supostamente cometidas em sua gestão como presidente da Força
Sindical. Ao defender Paulinho, Ciro responsabilizou
o governo e a campanha
de José Serra pelas denúncias,
classificando como “fascistas”
os “métodos” de seus
opositores.
O crescimento da candidatura de Ciro coincidiu com
um período de
exacerbação da crise
econômica, provocada pela alta do
dólar, a queda da bolsa
de valores e a elevação
do “risco-país”, índice criado pelas agências
financeiras internacionais
para orientar, quanto ao nível de segurança, os investimentos estrangeiros.
O “nervosismo no mercado financeiro”
foi interpretado por alguns analistas
como sintoma de um
possível segundo
turno entre
Lula e o candidato
do PPS. O fato foi explorado
politicamente por José Serra, que
adotou a estratégia de vincular
a vitória da oposição
ao risco de agravamento da situação econômica.
Ciro reagiu às insinuações dizendo que Fernando Henrique Cardoso seria lembrado como “o homem que quebrou o Brasil”. Ao mesmo
tempo, acusou Lula
de ter “traído a confiança”
dos eleitores com
a Carta ao Povo
Brasileiro, manifesto
divulgado em junho
de 2002 no qual o candidato
petista, com o objetivo
de acalmar os investidores,
assumira o compromisso de respeitar
os “contratos e obrigações
do país” em
caso de vitória.
No início de agosto, Fernando Henrique reconheceu que a economia brasileira havia chegado
a um "ponto
crítico" e anunciou a negociação de
um novo acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) – o terceiro de sua
gestão. O acordo
como o FMI foi firmado no dia 7 daquele mês
e envolveu a concessão de um empréstimo
de 30 bilhões de dólares para que o país
pudesse saldar seus
compromissos com
a dívida pública
interna – que
àquela altura, pressionada pela elevação
do dólar, correspondia a mais da metade do Produto
Interno Bruto
(PIB) nacional. A negociação elevou a meta de ajuste fiscal de 3,5% do PIB, prevista
no acordo anterior
(de setembro de 2001), para
3,75%. Embora admitindo que o governo não tinha alternativa, Ciro qualificou o ajuste
como um
“desastre” e, ao contrário
dos outros candidatos,
recusou-se a assumir antecipadamente o cumprimento do acordo
caso fosse eleito.
Após o início do programa eleitoral
gratuito no rádio
e na TV, as pesquisas de opinião passaram a registrar
uma queda acentuada nas intenções
de voto em
Ciro Gomes e a subida de José Serra. No início
de setembro, a diferença
entre
os dois candidatos,
que nas últimas semanas
de agosto era
de 14 pontos percentuais
a favor de Ciro, reduziu-se a apenas
um ponto. Os levantamentos seguintes
confirmaram essa tendência. Nas últimas semanas de setembro
Ciro já era
ultrapassado por Garotinho e registrava apenas 12% dos votos
válidos, segundo
o Instituto Datafolha.
Para alguns de seus assessores,
a queda de Ciro nas pesquisas
devia-se, em parte,
ao temperamento do candidato
e ao tom agressivo
de suas declarações
contra o governo.
Ao longo da campanha,
Ciro protagonizou várias polêmicas com eleitores, banqueiros e jornalistas.
Numa ocasião, durante
um jantar com empresários
em São
Paulo, ao ser indagado sobre
o que poderia
fazer para “acalmar” os investidores,
respondeu que estava se “lixando para o mercado”. Declarações desse tipo
foram exaustivamente exploradas pela propaganda
de Serra, que
procurou vincular ao candidato
a imagem de "desequilibrado"
para o exercício
da presidência.
Com poucas chances de vitória, alguns aliados
passaram a defender que
Ciro renunciasse a sua candidatura em apoio a Lula, a fim de evitar a realização de um
segundo turno
entre o petista e o candidato
tucano. Ciro, no entanto,
resistiu às pressões. Realizado o primeiro turno no dia 6 de outubro,
a vitória coube a Lula,
que obteve 46,44% dos votos
válidos. Serra
ficou em segundo lugar, com 23,19%; Garotinho em
terceiro, com
17,86%; e Ciro em quarto,
com 11,97%. Nessa eleição,
o PPS elegeu Patrícia Gomes para o Senado e 15 deputados federais,
além de dois governadores: Blairo Maggi,
no Mato Grosso,
e Eduardo Braga, no Amazonas.
Confirmada
a realização de um
segundo entre
Lula e Serra,
Ciro anunciou apoio “irrestrito e entusiástico” à candidatura do
petista. A seguir, engajou-se na campanha de Lúcio Alcântara (PSDB) ao governo do Ceará. O PPS decidira não
lançar candidato
ao Executivo cearense
em virtude
da resolução aprovada
pelo Tribunal
Superior Eleitoral
(TSE) que proibiu os partidos coligados na eleição
para presidente
de formar alianças
nos estados
com legendas
adversárias no pleito nacional. Com a
“verticalização”, nome como ficou conhecida
a nova regra,
o PPS ficou impedido de formalizar
união com o
PSDB, seu tradicional aliado no estado.
A saída foi, então,
uma aliança informal
pela qual
os socialistas se comprometeram a não lançar candidato ao governo,
em troca
do apoio dos tucanos
à candidatura de Patrícia
Gomes ao Senado. Embora sua vitória
fosse esperada já no primeiro
turno, Lúcio Alcântara fora surpreendido na reta
final pelo crescimento do candidato
do PT, José Airton Cirilo. No segundo
turno, em 27 de outubro,
com o apoio
de Ciro e Jereissati, foi eleito governador
após uma disputa
bastante acirrada com
o petista.
No segundo turno do pleito
presidencial, Lula foi eleito com
quase 53 milhões
de votos, cerca
de 61% dos votos válidos.
Depois das eleições Ciro foi convidado por
Jereissati a voltar para
o PSDB, mas recusou. Cada vez mais próximo de Lula, seu caminho natural
seria a participação no novo governo.
Ministro da
Integração Nacional
Lula
assumiu a presidência da República no dia
1° de janeiro de 2003, e na mesma data Ciro Gomes foi empossado como ministro da Integração Nacional em substituição ao engenheiro
Luciano Barbosa.
Ainda no início
de sua gestão,
Ciro foi designado por Lula para coordenar
os projetos de revitalização da Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste (Sudene) e da Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia (Sudam). Idealizadas pelo economista Celso
Furtado em fins
da década 1950, as agências
haviam sido extintas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso após
terem sido alvo de denúncias
de fraude e corrupção
envolvendo projetos sob
sua responsabilidade.
Uma das promessas de campanha de Lula,
a recriação dos órgãos
foi utilizada pelo governo
como exemplo
de retomada do papel
estratégico do Estado.
Na proposta elaborada pelo
ministério, a Sudam e a Sudene passariam
a ser geridas por
conselhos deliberativos formados por representantes da sociedade
civil e dos governos
estaduais, por trabalhadores
e empresários, além
de ministros de Estado
e membros indicados pelas agências de crédito.
Segundo Ciro, essa foi a forma
encontrada para “blindar”
as instituições contra
a corrupção. Pelo novo modelo, a obtenção
dos incentivos fiscais
estaria condicionada à participação dos trabalhadores
nos lucros
das empresas e à sustentabilidade
ambiental dos projetos. Além disso, os riscos
dos empreendimentos passariam a ser assumidos pelos operadores financeiros privados,
que ficavam obrigados
a ressarcir o Estado
em caso
de fraudes.
Em meados
de 2003, ao anunciar a conclusão
do projeto de lei
que recriava as agências,
Ciro advertiu que o funcionamento
das duas instituições ainda dependia da aprovação
do Fundo Nacional
de Desenvolvimento Regional
(FNDR), que integrava a proposta de reforma tributária
enviada pelo governo ao Congresso.
Na versão original
do projeto, previa-se que o fundo,
constituído por recursos
oriundos do Imposto
de Renda e do Imposto
sobre Produtos
Industrializados, fosse administrado pelo governo federal
por meio
da Sudam e da Sudene, a quem caberia fazer o repasse aos
estados.
A criação do FNDR nos moldes
pretendidos pelo governo
provocou a reação dos governadores, que,
por meio
de suas bancadas
no Congresso, condicionaram a discussão da reforma à partilha da administração
do fundo com
os estados. A negociação do acordo garantiu ao governo
a aprovação de pontos
importantes da reforma tributária ainda
em 2003, entre
eles a prorrogação da Contribuição Provisória
sobre Movimentação
Financeira (CPMF). Ciro classificou o acordo
do Executivo com
os governadores como
um "equívoco
de projeções históricas". Para ele, os recursos do fundo
deveriam ser utilizados em
projetos estratégicos
na área de infraestrutura e mantidos sob coordenação
federal, evitando, com
isso, que
as verbas fossem direcionadas para outros fins de acordo com as conveniências locais.
Depois de quase
quatro anos
de tramitação, o projeto de recriação da Sudam e da Sudene seria finalmente aprovado
pelo Congresso
em janeiro
de 2007. Na mesma ocasião,
foram extintas a Agência de Desenvolvimento do Nordeste
e a Agência de Desenvolvimento
da Amazônia, que haviam sido criadas em 2001 em substituição às duas autarquias.
Além da revitalização da Sudam
e da Sudene, Ciro coordenou uma das iniciativas
mais polêmicas
da gestão Lula:
o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Com
custo estimado em
cerca 4,5 bilhões de reais (apenas em sua primeira etapa),
o empreendimento foi considerado a obra de maior impacto do novo governo. Em
linhas gerais,
o projeto previa a construção
de dois grandes
canais de concreto,
totalizando cerca de 700 quilômetros
de extensão, através
dos quais seria desviada parte das águas
do São Francisco para
irrigar regiões do
semiárido nordestino afetadas pela seca. A princípio
seriam captados cerca de 26m³ de água por segundo, considerando uma vazão
média de 2.800 m³/s, dividida em dois grandes eixos de transposição (norte
e leste). Segundo o governo,
a obra beneficiaria 12 milhões de pessoas
distribuídas em quatro
estados: Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte.
Desde o seu anúncio, o projeto causou grande
controvérsia e provocou acalorados debates
na imprensa, mobilizando os diversos setores
da sociedade envolvidos na questão.
A principal objeção à obra dizia respeito
à destinação do uso da água a ser desviada. Seus críticos
afirmavam que o governo
pretendia utilizar a água
não só
para consumo humano e animal,
mas também
em projetos
de irrigação que
beneficiariam prioritariamente a agroindústria
e os grandes proprietérios de terra. O empreendimento
foi também questionado
por seu
alto custo
econômico e pelo
fato de supostamente
atender apenas
a uma pequena parcela
da população afetada
pela seca.
Outra preocupação
era com
o impacto ambiental que
a obra poderia
causar ao ecossistema
da região e ao próprio
rio.
As críticas
partiram principalmente do Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), órgão composto por representantes do poder público, dos usuários dos
recursos hídricos e também por entidades da sociedade civil. Criado em junho de
2001, durante o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, o CBHSF assumiu
como parte de suas atribuições a participação na elaboração do plano de
utilização da bacia e na definição de obras prioritárias na região. Também
faziam oposição ao projeto os chamados “estados doadores”, de onde a água seria
desviada para abastecer os quatro estados acima mencionados.
Em defesa do governo,
Ciro alegou que o rio
não seria propriamente desviado, mas sim
integrado às bacias hidrográficas do Nordeste setentrional. Além disso, explicou que
seria utilizada apenas uma pequena parte
da água excedente
que era
despejada no mar. Em
relação aos “estados
doadores”, sustentou que as regiões
beneficiadas não possuíam rios perenes, o
que justificaria o transporte
de água até
esses locais. Sobre
a viabilidade econômica
do empreendimento, reconheceu que, num primeiro momento, seu
financicamento seria a fundo perdido, mas que depois o projeto
seria autossustentável.
Em outubro de 2004, o Comitê
da Bacia do São
Francisco aprovou uma resolução
proibindo a utilização das águas
do rio em atividades produtivas localizadas fora
dos limites geográficos
da bacia. Em resposta, o Ministério
da Integração Nacional
alegou que o comitê
havia extrapolado suas atribuições e que a decisão sobre o tema
cabia à Agência Nacional de Águas (ANA).
Posteriormente, a ANA
deliberou que a decisão
por ações
que transcendessem o âmbito da bacia
era de responsabilidade
do Conselho Nacional
de Recursos Hídricos (CNRH), órgão de competência
máxima do Sistema
Nacional de Gerenciamento
dos Recursos Hídricos brasileiros. A decisão
da ANA, favorável
ao governo, foi reforçada em janeiro de
2005 com a aprovação
do projeto pelo CNRH. As resoluções
da ANA e do CNRH, assim
como as ações
de entidades contrárias ao projeto, dariam origem
a uma longa disputa
judicial, obrigando o Executivo a alterar sucessivamente o cronograma
oficial das obras.
Em fins de setembro
de 2005, o governo foi surpreendido pelo anúncio de que o bispo de Barra (BA), dom Luís
Flávio Cappio, havia iniciado uma greve de fome em protesto contra as obras
no São Francisco. Segundo
Cappio, o projeto era
"uma obra endereçada às grandes empreiteiras,
ao agronegócio e às elites locais” e não
correspondia “às necessidades do povo do semiárido". O bispo defendia ainda que o dinheiro gasto com o empreendimento
fosse direcionado para pequenos
projetos de convivência
com a seca
na região. A greve
durou dez dias e só
foi encerrada após o governo
ter-se comprometido em reabrir
o diálogo sobre
o empreendimento. Durante
as negociações, Ciro chegou a se oferecer para intermediar um acordo, mas a iniciativa
foi rechaçada pelo clérigo.
Coube então ao ministro
das Relações Institucionais, Jaques Wagner,
levar a proposta
de Lula até
o bispo.
Em
novembro, Ciro debateu a transposição do
São Francisco na Conferência
Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB). Na ocasião, afirmou que a obra
havia sido amplamente discutida com a sociedade, mas que, apesar disso, permanecia uma “brutal
desinformação sobre
o projeto”. Segundo
ele, as críticas
do bispo careciam de fundamentação. Negando que
a obra serviria para
beneficiar empreiteiros,
garantiu que a água
utilizada na transposição seria destinada exclusivamente
para o consumo
humano – o que
indicava uma alteração no projeto original.
Objeto de intensos
debates até
o fim do primeiro
governo Lula, a transposição do São Francisco só seria efetivamente
iniciada no seu
segundo mandato, mais
precisamente em
junho de 2007, quando
Ciro Gomes já havia deixado o ministério.
Contrariando as expectativas
geradas quando de sua
nomeação para comandar o Ministério da Integração
Nacional, Ciro comportou-se de forma discreta à frente da pasta
e, segundo palavras
do próprio Lula,
foi um de seus
auxiliares mais
“leais”. Fora
o episódio envolvendo as discussões sobre
o Fundo Nacional
de Desenvolvimento Regional
– quando chegou a ameaçar
deixar o cargo –,
procurou evitar declarações
polêmicas em
público e guardou suas
objeções para
as discussões internas no governo. Além
disso, em várias ocasiões
defendeu as ações do Executivo das críticas
– vindas até
mesmo de alguns
aliados – ao caráter
conservador da política
econômica adotada pelo
ministro da Fazenda,
Antônio Paloci. Nesse sentido,
reconheceu o acerto das medidas de austeridade
fiscal adotadas no início
do governo para
enfrentar a crise
herdada da administração anterior.
Essa postura o colocou mais uma vez em rota de colisão com a direção do PPS, uma vez
que o partido,
embora fizesse parte
da coalizão governista,
vinha desde
o início da gestão
de Lula criticando a condução da política
econômica e a falta
de um projeto
estratégico para
o país. O distanciamento
entre Ciro e o PPS ficaria evidente durante
a campanha para a prefeitura
de São Paulo nas eleições de outubro de 2004, quando
o partido decidiu apoiar
a candidatura vitoriosa
de José Serra (PSDB), contrariando a intenção de Ciro de formalizar
uma coligação com
a candidata do PT, Marta
Suplicy.
Em Fortaleza, ao contrário, o pleito
foi marcado pelo fim
da aliança entre
os dois partidos,
quando, pela
primeira vez,
Tasso Jereissati e Ciro Gomes apoiaram candidatos
diferentes em
uma disputa
no Ceará. Ciro declarou voto em Inácio Arruda
(PCdoB), enquanto Jereissati manifestou apoio ao candidato do PSDB, Antônio Cambraia.
Realizada em dois
turnos, a eleição
foi, no entanto, vencida por Luiziane Lins (PT), em
confronto com
Moroni Torgan (PFL).
Aproximando-se cada vez mais da oposição, o PPS anunciou em
dezembro o rompimento
com o governo
Lula e determinou que
todos os seus
integrantes com
cargos no Executivo
deveriam deixar suas
funções. Por
não ter
acatado a decisão do diretório nacional do partido, Ciro foi desligado
oficialmente da agremiação
em fevereiro
de 2005. Em junho, anunciou sua filiação ao PSB.
Nesse mesmo mês, teve seu nome citado pelo deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ) numa entrevista ao jornal Folha
de S. Paulo, na qual o parlamentar
denunciou o pagamento de uma “mesada”
pelo governo
a integrantes da base
aliada no Congresso
em troca da aprovação
de matérias de interesse
do Executivo. Segundo
Jefferson, o caso havia sido relatado por ele a vários líderes governistas, incluindo Ciro Gomes. Indagado sobre a veracidade das afirmações de Jefferson, Ciro
admitiu o fato, mas
argumentou que não
tornou público o caso
porque o deputado
não lhe
havia apresentado provas.
O caso também atingiu um
dos auxiliares mais
próximos de Ciro, o então secretário-executivo do Ministério da Integração
Nacional, Márcio Lacerda, que teve seu nome incluído numa lista de
supostos beneficiários
do esquema montado
pelo publicitário
Marcos Valério, apontado por Jefferson como
o operador financeiro
do “mensalão”. Exonerado de suas funções após a revelação do escândalo,
Lacerda foi, no entanto, defendido por Ciro, que
afirmou acreditar em
sua inocência.
Ciro Gomes deixou o Ministério
da Integração Nacional
em março
de 2006, sendo substituído no cargo por Pedro Brito, que havia
assumido a Secretaria-Executiva da pasta
no lugar de Lacerda. A partir de então, seu nome passou a ser cogitado para integrar como vice a chapa que
lançaria a candidatura de Lula à reeleição
em outubro.
A iniciativa, entretanto,
sofreu resistências por
parte do PT e também
não agradou à direção
do PSB, que desejava ver
Ciro concorrendo à Câmara dos Deputados para ajudar o partido a aumentar sua representação
no Congresso.
No pleito de outubro
de 2006, Ciro candidatou-se a deputado federal na legenda
do PSB. Deputado proporcionalmente mais votado do país,
foi eleito com 667.830
votos. No Ceará, seu
irmão Cid Gomes, também
do PSB, foi eleito governador do estado ainda no
primeiro turno.
Nas eleições presidenciais, Lula foi reeleito
para mais um mandato após derrotar no segundo turno o
tucano Geraldo Alckmin.
Deputado
federal do PSB
Empossado como deputado em fevereiro de 2007, Ciro participou com destaque no
início da legislatura
das articulações para
a eleição do presidente
da Câmara. A escolha
gerou acirrada disputa entre os partidos
integrantes da frente
de coalizão formada para dar sustentação ao novo governo Lula. Ideologicamente heterogêneo
e integrado por 11 legendas,
o bloco não
conseguiu chegar a uma candidatura
de consenso, como
queria Lula. Ciro apoiou, então, a candidatura
do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O
PT, com o apoio
do PMDB, lançou o nome de Arlindo
Chinaglia (PT-SP). Um terceiro nome
na disputa seria o do tucano Gustavo Fruet (PSDB-PR), apoiado pela oposição.
O páreo foi vencido por
Chinaglia no segundo turno, após disputa com
Rebelo.
Para se contrapor
à hegemonia do PT na base governista,
Ciro Gomes defendeu a formação de um outro bloco composto por PSB, PDT e PCdoB. Conhecido
como “bloquinho”, o grupo
teve em Ciro e Aldo Rebelo dois de seus principais líderes.
Durante a campanha para as eleições
municipais de outubro de 2008, Ciro foi um dos articuladores, juntamente
com governador
de Minas Gerais,
Aécio Neves (PSDB), e com o prefeito de Belo
Horizonte, Fernando Pimentel (PT), da aliança entre o
PSB, o PT e o PSDB em apoio
à candidatura de Márcio Lacerda (PSB) à prefeitura da capital. Com o aval de Lula, o
acordo representou uma tentativa
de aproximação com
Aécio, já visando à disputa
presidencial de 2010. Considerado favorito,
Lacerda foi surpreendido na reta final do primeiro turno pelo crescimento da candidatura
de Leonardo Quintão (PMDB). A pequena diferença de votos
entre os dois
candidatos levou a disputa
para o segundo
turno, no qual
Lacerda saiu vitorioso com 59,12% dos votos
válidos.
Nas eleições para a prefeitura de Fortaleza,
Ciro apoiou, juntamente com Tasso Jereissati, a candidatura
da senadora Patrícia Sabóia (PDT). Patrícia, que
passara a adotar o nome
de solteira, obteve o terceiro lugar
no pleito, ficando atrás
de Moroni Torgan, do Partido Trabalhista
Cristão, e da prefeita
Luiziane Lins (PT), que foi reeleita já no primeiro turno com 50,16% dos votos.
Com uma
atuação parlamentar
bastante discreta,
Ciro Gomes foi um dos deputados mais ausentes da legislatura
e não chegou a apresentar
projetos de lei. Integrou, como membro titular, a Comissão
de Constituição e Justiça
e de Cidadania da Câmara e as comissões
especiais sobre crise econômico-financeira e sobre atividades de exploração e
produção do pré-sal, além de ter atuado como membro do Grupo de Trabalho de
Consolidação das Leis Brasileiras. Em seus pronunciamentos procurou defender
as propostas de interesse
do Executivo, tendo-se destacado na defesa
da prorrogação da CPMF, do Programa de Aceleração do Crescimento
e da transposição do rio São
Francisco.
Para as
eleições de 2010, chegou a ser cogitado como candidato ao Governo de São Paulo,
mas, à época, defendeu que seu partido lançasse candidatura própria à
Presidência da República, a qual pretendia pleitear. O PSB, então sob a
liderança de Eduardo Campos e Roberto Amaral, estipulou como meta o crescimento
da legenda nos estados, e a pré-candidatura de Gomes acabou preterida, tendo
optado o partido por apoiar o tento da então ministra-chefe da Casa Civil,
Dilma Rousseff, do PT, à sucessão presidencial. Apesar de ter respeitado a
decisão do partido, Gomes, no entanto, não participou da campanha de Dilma,
exceto pelo segundo turno e, tampouco disputou cargo eletivo naquele ano.
Na
ocasião, comentou que daria um tempo nas atividades políticas e, neste período
chegou inclusive a atuar como comentarista de futebol na rádio Verdes Mares AM,
de Fortaleza, conhecida entre os ouvintes como “Verdinha”. Retomou àquelas
atividades, no entanto, em Setembro de 2013, quando aceitou o convite de seu
irmão, Cid Gomes, então Governador do Ceará, e assumiu cargo de secretário de
saúde daquele estado.
Passou
a adotar posição crítica aos rumos do PSB e de seu líder nacional, o governador
pernambucano Eduardo Campos, em fase de rompimento com o governo federal e em
meio a especulações sobre lançamento de candidatura à Presidência da República
no ano seguinte. A respeito de Campos, declarou que ele “controla a burocracia
[do partido] como uma capitania hereditária que ele herdou do avô [Miguel
Arrais] (...) e vai afundar o PSB nisso”. Defendeu o apoio da legenda à
reeleição de Dilma Rousseff e, descontente com os rumos do partido,
desfiliou-se e passou a integrar o recém-fundado Partido Republicano da Ordem
Social (PROS), do qual tornou-se um dos líderes.
Na
transição do Governo do Estado do Ceará, deixou a secretaria em Janeiro de
2015, tendo declarado que o estado teria se aproximado de ter a melhor saúde
pública do país. Ingressou no quadro de diretores da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), responsável pela coordenação das obras de conclusão da ferrovia
Transnordestina, que, percorrendo 1725 quilômetros, ligaria os portos de Pecém,
no Ceará, e Suape, em Pernambuco, ao cerrado do Piauí. Em Agosto do mesmo ano, junto
de seu irmão Cid, migrou do PROS e ingressou no Partido Democrático
Trabalhista, pelo qual pleitearia candidatura ao Executivo Nacional no pleito
subsequente.
De seu casamento com Patrícia Sabóia teve três
filhos. Posteriormente foi casado, por 10 anos, com a atriz Patrícia Pillar, de
quem separou-se em 2011. Em maio de 2015 órgãos de imprensa noticiaram que a
designer Zara Castro, namorada de Ciro Gomes desde 2013, estaria grávida do
quarto filho do político.
Publicou o depoimento No
país dos conflitos (com a participação
de Miriam Leitão, Suely Caldas, Marcelo Pontes, Geneton Moraes Neto e Ancelmo Góis,
1994), O próximo
passo: uma alternativa
prática ao neoliberalismo
(com Roberto Mangabeira
Unger, 1996) e Um desafio
chamado Brasil (2002).
Luís
Octavio de Souza/Luciana Pinheiro
FONTES:
Carta Capital
(4/94); Estado de S. Paulo
(20/8, 14 e 16/12/92, 5 a 8/9, 21/10 e 14 e 19/11/94, 18, 19 e 28/9 e 9/11/95,
15/6, 30/7, 23/8 e 29/9/98); Folha de
S. Paulo (23/7, 2 e 20/8 e 14/12/93, 7/2, 5, 6, 7, 9 e 17/9, 22/10 e
4/12/94, 23/6 e 28/9/95, 30/7 e 2/8/96, 21 e 24/1, 14 e 19/4, 26 e 28/6, 1, 29
e 31/8, 21, 22 e 27/9, 17/10 e 1/11/99, 3/4, 16/5, 21, 23, 25 e 29/6, 11, 17,
26, 27 e 30/7, 20/9, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 30/10/00, 21/3, 2/4, 24 e 27/5, 17/6,
18/7, 9, 10, 21 e 29/8, 23 e 26/9, 1 e 23/11 e 19/12/01, 13/1, 22 e 28/2, 5, 13
e 20/3, 4, 6, 7, 10, 12, 14, 17 e 19/4, 4 e 10/5, 1, 6, 7, 19, 21, 26 e 29/6,
9, 10, 13, 14 e 16, 17, 20, 21, 23, 24, 25, 27, 28 e 29/7, 1, 2, 3, 9, 10, 15,
16, 18, 20, 28 e 29/8, 1, 9, 19, 22, 23, 27, 28 e 29/9, 1, 3, 6, 7, 8, 9, 10,
25 e 28/10/02, 3, 5 e 11/1, 4/3, 27/5, 28/6, 24 e 29/7, 21 e 22/8, 9 e 19/9/03,
21/4, 15 e 27/6, 2/7, 1/ e 2/9, 6 e 31/10 e 12/12/04, 2/2, 30/4, 5/5, 2, 7 e
29/6, 19/7, 2, 3, 4, e 27/8, 20/9, 4, 5, 6, 7, 8, 11, 14, 16 e 25/10/05, 31/3, 1/4,
14/5, 21 e 22/6, 2 e 3/10 e 2/12/06, 24/1, 2 e 3/2, 22/9 e 18/12/07, 15/2, 2 e
27/3, 27/4, 25/6, 5, 6 e 7/10/08, 21/6, 17, 18 e 19/8, 2, 7, 21 e 25/9, 2, 6 e
21/10/09); Globo (23/7/92,
5/3/93, 25/3, 5 e 6/9, 22/10, 3, 9 e 20/11 e 15/12/94, 12/8/97, 3, 4, 5, 6 e
7/10/00, 1, 3, 6 e 7/10/02, 6 e 31/10/04, 3/10 e 2/12/06, 5, 6 e 7/10/08); INF.
BIOG.; Jornal do Brasil
(22/8 e 6/10/92, 7 e 23/3 e 3/12/93, 19/2, 1/3, 16/4, 5, 6, 8 e 14/9, 19/11 e
12/12/94, 2 e 14/1, 23/2 e 13/6/96); Veja (3/10/90, 28/8/91, 12/2/92,
30/5 e 21/11/01, 10/7, 21 e 28/8, 18/9, 9 e 30/10/02).
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