GÓIS,
Coriolano de
*ch. pol. DF 1926-1930; min.
STM 1930; rev. 1932; dir.-ger. DFSP 1944-1945.
Coriolano de Araújo Góis Filho nasceu em Salvador no dia 29 de janeiro de 1896, filho do
engenheiro Coriolano de Araújo Góis e de Alzira de Araújo Góis. Seu irmão,
Hildebrando de Araújo Góis, foi prefeito do Distrito Federal no biênio
1946-1947 e deputado federal pela Bahia entre 1955 e 1963.
Depois
de passar parte da infância em Guaratinguetá (SP), Coriolano de Góis, sempre
acompanhando sua família, foi morar no Rio de Janeiro, então Distrito Federal,
onde cursou o secundário no Colégio São Bento e bacharelou-se pela Faculdade
Nacional de Direito em 1916.
Nos dez anos seguintes, exerceu as funções de delegado de
polícia nas cidades paulistas de Iguape, Casa Branca, Santa Rita de Passa
Quatro, Ituverava, Penápolis, São Roque, Jacareí, Santa Cruz do Rio Pardo,
Jabuticabal e Bauru, além de ocupar o cargo de delegado regional de Santos.
Retornou
ao Rio de Janeiro em abril de 1926, quando foi nomeado pelo presidente Artur
Bernardes terceiro delegado-auxiliar do Distrito Federal. Depois da posse de
Washington Luís na presidência da República (15/11/1926), Coriolano de Góis
assumiu a chefia da polícia da capital, posição que lhe permitiu manter
estreita ligação com o presidente durante os anos seguintes. A partir de 1929,
exerceu severa vigilância sobre as atividades da Aliança Liberal, coligação
oposicionista que lançou a chapa Getúlio Vargas-João Pessoa para as eleições
presidenciais de março de 1930. Dessa forma, Coriolano de Góis acompanhou de
perto a evolução das articulações oposicionistas, especialmente as
desenvolvidas pelos seus setores mais radicais, que pregavam a via armada
para a tomada do poder. Sua vigilância sobre os movimentos dessas correntes
levou à apreensão de grande quantidade de armas importadas da Tchecoslováquia e
à descoberta, em fevereiro de 1930, de um plano de fuga dos oficiais detidos na
fortaleza de Santa Cruz, no Rio, acusados de participação nos levantes
tenentistas ocorridos na década de 1920. Apesar de ter levado esse plano ao
conhecimento do presidente e do ministro da Guerra, general Nestor Sezefredo
dos Passos, os prisioneiros conseguiram fugir na noite de 28 de fevereiro,
encontrando-se entre eles o então capitão Juarez Távora, futuro chefe da
Revolução de 1930 no Nordeste.
Com
a vitória do candidato conservador Júlio Prestes nas eleições presidenciais de
março e o assassinato de João Pessoa em julho, a conspiração revolucionária
ganhou novos adeptos. Na ocasião em que o corpo do líder aliancista chegou ao
Rio, Coriolano de Góis dobrou a guarda do palácio do Catete, sede do governo,
e, pouco depois, escreveu um relatório propondo ao presidente a adoção de
importantes medidas voltadas para reprimir as articulações oposicionistas,
entre as quais a decretação do estado de sítio, do qual elegeria o executor no
Distrito Federal; a intervenção federal no Rio Grande do Sul, Minas e Paraíba,
estados-chave na conspiração revolucionária em curso; a remessa de artilharia
pesada para o 12º Regimento de Infantaria, sediado em Belo Horizonte, e o envio
de dois torpedeiros para o Rio Grande Sul, do encouraçado Minas Gerais para Recife
e do São Paulo para Salvador.
Washington
Luís não concordou com a maioria dessas sugestões, aceitando apenas aumentar a
concentração das forças federais em Porto Alegre, ordenar o deslocamento de
dois navios de guerra para o Sul e enviar três grupos de artilharia pesada para
Belo Horizonte. Diante da aparente desarticulação que tais medidas provocaram
entre os aliancistas, Coriolano de Góis sugeriu ao presidente que tomasse a
iniciativa de promover a pacificação geral do país e o esfriamento dos ânimos.
Discordando novamente da opinião de seu auxiliar, Washington Luís afirmou que
ele era um ótimo chefe de polícia, mas um mau político.
Coriolano de Góis permaneceu na chefia da polícia do Distrito
Federal até 14 de agosto de 1930, quando foi nomeado ministro do Supremo — hoje
Superior — Tribunal Militar (STM). Em 3 de outubro, eclodiu no Rio Grande do
Sul, Minas Gerais e Paraíba o levante patrocinado pela Aliança Liberal,
vitorioso depois de 21 dias de luta, quando altos chefes militares depuseram
Washington Luís e formaram uma junta governativa que, pouco depois, anulou o
decreto de nomeação de Coriolano de Góis para o STM.
Depois de permanecer exilado em Paris até meados de 1931,
Coriolano radicou-se em São Paulo, onde ingressou no Partido Republicano Paulista
(PRP), que, depois da Revolução de 1930, perdera sua posição hegemônica na
política estadual e nacional. Nessa condição, foi um dos signatários do
manifesto perrepista datado de 19 de janeiro de 1932, que fazia uma análise
crítica da atuação do Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas, acusado
de ditatorial, e pedia, entre outras medidas, a volta a um regime
constitucional, republicano e federativo que garantisse a vigência de amplas
liberdades individuais.
Com
a deflagração da Revolução Constitucionalista de São Paulo em julho de 1932,
Coriolano integrou-se ao estado-maior do destacamento comandado pelo coronel
Euclides de Figueiredo, que atuou no vale do Paraíba. A luta durou até 2 de
outubro, quando foi assinado o armistício que selou a derrota das forças
paulistas frente às tropas do governo federal. Nos anos seguintes, Coriolano
passou a trabalhar em uma firma de exportação de café, propriedade de seu amigo
André (Andrea) Matarazzo.
O apoio do PRP ao golpe de Estado que em 10 de novembro de 1937
implantou o Estado Novo propiciou o retorno de Coriolano a importantes cargos
públicos, dos quais estava afastado desde 1930. Nomeado escrivão do 1º Ofício
da 6ª Pretoria Civil do Distrito Federal em 1938, tornou-se no ano seguinte
diretor-geral do Departamento das Municipalidades e, depois, secretário da
Fazenda do governo paulista chefiado pelo interventor Ademar de Barros. Entre 9
e 22 de novembro de 1939, durante o curto governo de José de Moura Resende,
assumiu interinamente a chefia da Secretaria de Justiça e Negócios do Interior
de São Paulo.
Em 1940, deixou a Secretaria da Fazenda, retornando a esse
posto em julho do ano seguinte, quando Fernando Costa assumiu a interventoria
paulista. Em 1943, foi deslocado para a chefia da Secretaria de Segurança
Pública, de onde pediu exoneração em novembro do mesmo ano.
Em
1º de janeiro de 1943 foi criada a Sociedade Amigos da América, agrupando
pessoas de diversas tendências políticas — inclusive comunistas — com o
objetivo de pleitear a participação de forças brasileiras ao lado dos Aliados
na Segunda Guerra Mundial e o retorno do país ao regime democrático. A
vigilância policial exercida sobre a entidade, presidida pelo general Manuel
Rabelo, gerou um clima de tensão responsável pela renúncia, em setembro
de 1943, do chefe de polícia do Distrito Federal, coronel Alcides Etchegoyen,
substituído pelo tenente-coronel Nélson de Melo. O novo titular também pediu
demissão em julho de 1944, ocasião em que Vargas nomeou Coriolano de Góis para
esse cargo, recém-transformado em Departamento Federal de Segurança Pública
(DFSP). Essa decisão foi duramente criticada por seus correligionários em
virtude do passado contra-revolucionário do antigo chefe de polícia do governo
de Washington Luís.
Um
grave incidente envolvendo a Sociedade Amigos da América e a polícia marcou o
início da atuação de Coriolano no novo posto. No dia 10 de agosto, véspera da
posse de Osvaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores, na vice-presidência
da entidade, sua sede foi fechada pela polícia que, no dia seguinte, invadiu
também o prédio do Automóvel Clube no momento em que o ministro ali almoçava em
companhia de outros membros da organização. Indignado com as violências
praticadas e sentindo-se desprestigiado, Osvaldo Aranha pediu demissão do ministério
em caráter irrevogável e rompeu relações com Vargas. O episódio, cuja
divulgação foi censurada na imprensa brasileira, teve grande repercussão no
exterior.
Em 8 de março de 1945, Coriolano foi substituído por João
Alberto Lins de Barros na chefia da polícia do Distrito Federal, sendo nomeado
diretor da Carteira de Exportação e Importação do Banco do Brasil (Cexim), onde
permaneceu até a derrubada do Estado Novo, em 29 de outubro de 1945.
Por
decreto de 18 de julho de 1950, foi considerado em disponibilidade remunerada
do STM, contando o tempo de serviço desde novembro de 1930 até abril de 1951,
quando se aposentou. No ano seguinte foi convidado pelo presidente Getúlio
Vargas — que, eleito por voto direto, voltara ao poder em 31 de janeiro de 1951
— para presidir o Conselho Federal do Comércio Exterior e a Cexim, onde
permaneceu até meados de 1953, quando assumiu a direção da Carteira de Crédito
Geral do Banco do Brasil. Nessa ocasião, divulgou um longo comunicado
respondendo às acusações do deputado Herbert Levy, segundo o qual sua atuação à
frente da Cexim havia desequilibrado a balança comercial do país. A crise
resultante dessas denúncias levou, no fim do ano, ao fechamento da Cexim, cujas
atribuições passaram posteriormente a um novo órgão, a Carteira de Comércio
Exterior (Cacex).
Com o suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954,
Coriolano de Góis recolheu-se à vida privada. Faleceu em São Paulo no dia 30 de
novembro de 1967.
Casou-se com Maria Aparecida Rodrigues Alves, sobrinha do
ex-presidente da República Rodrigues Alves.
Foi autor de diversos relatórios de administração policial e
discursos.
Amélia Coutinho
FONTES: ARAÚJO, A.
Chefes; CORRESP. SUP. TRIB. MILITAR; FIGUEIREDO, E. Contribuição; GUERRA FILHO,
R. Ministério; Jornal do Brasil (4/10/53 e 31/12/67); Personalidades; SILVA, H.
1930; SILVA, H. 1933; SILVA, H. 1935; SOC. BRAS. EXPANSÃO COMERCIAL. Quem.