SALES,
Dagoberto
*rev. 1932; dep. fed. SP 1955-1959 e 1960-1962.
Dagoberto Sales Filho nasceu em Rio Claro (SP) no dia 31 de dezembro de 1914, filho de Dagoberto Sales e de Judite Penido
Monteiro Sales. Seu pai foi deputado federal por São Paulo em 1937 e seu
tio-avô, Manuel Ferraz de Campos Sales, foi deputado provincial em São Paulo em 1867 e em 1881, ministro da Justiça de 1889 a 1891, senador por São Paulo de 1891 a 1896, governador paulista de 1896 a 1897 e presidente da República de 1898 a 1902. Seu bisavô materno, João Nogueira Penido, foi deputado federal por Minas Gerais de 1894 a 1896.
Dagoberto
Sales realizou os estudos primários no Ginásio do Carmo, na capital paulista, e
os secundários no Ginásio Diocesano de São Carlos (SP) e no Ginásio
Catarinense, em Florianópolis.
Ingressando em 1932 na Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (USP), engajou-se como voluntário nas forças constitucionalistas que
deflagraram um movimento revolucionário em julho daquele ano, tendo integrado o
Batalhão 14 de Julho e combatido as forças legais no sul do estado. Capturado
em combate, foi preso e enviado ao presídio da ilha das Flores, no Rio de
Janeiro, então Distrito Federal, sendo posto em liberdade após a derrota do
movimento rebelde, em outubro de 1932.
Diplomado
engenheiro eletricista em 1936, iniciou sua vida profissional trabalhando em
várias firmas especializadas em refrigeração, eletricidade, iluminação e
mineração. Em 1938 ingressou no corpo docente da Escola Politécnica da USP como
professor assistente de eletrônica. Engenheiro consultor e projetista, foi o
fundador das firmas Lumina Ltda. e Amsall Ltda.
Em
1952 foi convidado pelo governador paulista Lucas Nogueira Garcez (1951-1955)
para superintender e dirigir as obras da usina Governador Garcez, no rio
Paranapanema, em Salto Grande (SP). Posteriormente, fundou e presidiu as Usinas
Elétricas do Paranapanema (Uselpa), sociedade de economia mista que visava
desenvolver um plano de aproveitamento da energia elétrica do médio
Paranapanema através da construção de cinco usinas.
No pleito de outubro de 1954 elegeu-se deputado federal por
São Paulo, na legenda da coligação formada pelo Partido Social Democrático
(PSD) e o Partido Republicano (PR), assumindo o mandato em fevereiro do ano
seguinte. Foi um dos fundadores da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN),
formada em 1956 por deputados do Partido Socialista Brasileiro (PSB), do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do PSD e da União Democrática Nacional
(UDN). Atuante na Câmara, a FPN dispunha-se a viabilizar uma plataforma
nacionalista, voltada para a condenação à intervenção do capital estrangeiro na
economia nacional, especialmente no setor energético, e à remessa de lucros
para o exterior.
Partidário do monopólio estatal dos minérios atômicos e da
nacionalização dos depósitos bancários e da distribuição dos derivados do
petróleo, Dagoberto Sales foi o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) criada em 1956, referente aos problemas dos minérios em geral e à questão
dos minérios estratégicos em particular, e presidente da Comissão Nacional de
Defesa dos Minérios (CNDM), criada no mesmo ano. Em agosto de 1956 a CNDM promoveu no Rio de Janeiro o Congresso Nacional dos Minérios, que concluiu pela proibição
da exportação dos minérios raros, pela intensificação da exportação do minério
de ferro e pela necessidade de criação de um órgão federal especificamente
responsável pela política de energia nuclear. Desse congresso resultou a
criação pelo governo da Comissão Nacional de Energia Nuclear e o
estabelecimento do monopólio estatal da exportação dos minérios nucleares. Em
1958 Dagoberto Sales tornou-se relator das CPIs encarregadas de investigar os
negócios da American Can Company — empresa norte-americana de enlatados — e do
grupo Shell-Esso no Brasil. Ainda nessa legislatura integrou as comissões de
Serviço Público e de Economia da Câmara e criou o projeto que tornava
obrigatória a dublagem em português de todos os filmes a serem exibidos no
país.
Adversário
do governador paulista Jânio Quadros (1955-1959), participou em 1958 do
conselho diretor do semanário nacionalista O Nacional, fundado em agosto
de 1957 por Agildo Barata e antigos redatores dos jornais A Voz Operária e
Imprensa Popular, recém-desligados do Partido Comunista Brasileiro, então
Partido Comunista do Brasil (PCB). O semanário seria extinto em 1959.
No
pleito de outubro de 1958 elegeu-se segundo suplente de deputado federal por
São Paulo, na legenda da coligação formada pelo Partido Social Progressista
(PSP), o Partido Social Trabalhista (PST) e o PSD. Concluindo o primeiro
mandato em janeiro de 1959, voltou a ocupar uma cadeira na Câmara de julho a
setembro desse ano, de março de 1960 a janeiro de 1961, e de junho de 1961 a setembro de 1962. Nesse período defendeu a criação da Eletrobrás, efetivada em 1961, e foi
relator da Comissão de Reforma Agrária. Segundo o Correio Brasiliense,
edição de agosto de 1962, foi partidário da reforma agrária não
coletivista, da assistência creditícia, sanitária e técnica do Estado aos
lavradores sem capacitação econômica e de uma reforma constitucional para que a
desapropriação por interesse social pudesse ser paga em títulos da dívida
pública. Defensor da reforma eleitoral e da cédula única em todos os pleitos,
opôs-se à instituição dos distritos eleitorais nos estados, por temor de que
estes se transformassem em instrumentos das oligarquias locais. Considerou
inadiável uma reforma da organização partidária, de forma a que os partidos não
fossem simples siglas eleitorais, e seus membros participassem ativamente de
sua vida interna, como sócios de uma sociedade civil ou propriamente cívica.
Nos debates sobre a reforma bancária, defendeu a necessidade de nacionalização
dos depósitos e propôs que os bancos privados fossem instrumentos de
investimento e de amparo creditício à produção. Sustentou, porém, que os bancos
oficiais deveriam continuar agindo como estabelecimentos de crédito mercantil
até que a iniciativa privada se capacitasse a desempenhar eficientemente seu
papel.
No
plano internacional, ainda segundo o mesmo jornal, defendeu a política seguida
pelos chanceleres Afonso Arinos de Melo Franco (1961) e Francisco de San Tiago Dantas (1961-1962), de respeito irrestrito à autodeterminação dos povos, de
não-intervenção nos negócios internos das demais nações e de não-alinhamento na
disputa de hegemonia dos blocos oriental e ocidental, opondo-se a todo tipo de
sanções, comerciais, diplomáticas ou militares, contra qualquer país. Foi
partidário da socialização da educação e defendeu que o Estado inicialmente
complementasse a iniciativa privada, para que logo viesse a garantir a
gratuidade completa da alfabetização intensiva e a rápida expansão do ensino
técnico.
Estreitando
ligações com Ademar de Barros, candidatou-se em outubro de 1962 a deputado federal por São Paulo, na legenda da coligação formada pelo PSD e o PSP, obtendo
apenas uma suplência. Durante o governo de Ademar de Barros (1963-1966) foi
nomeado secretário de Transportes do estado de São Paulo. Segundo o Jornal
da Tarde, Dagoberto Sales teria, no exercício desse cargo, desviado
verbas da secretaria para construir o porto de São Sebastião e a hidrovia
Ariri-Bertioga, obras para as quais não existia ao menos um projeto executivo.
Com a vitória do movimento político-militar de 31 de março de
1964, que depôs o presidente João Goulart (1961-1964), demitiu-se em agosto
seguinte da Secretaria de Transportes, sendo substituído no cargo por Wilson
Barros. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965)
e a posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se ao Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar. Em novembro de 1966
candidatou-se ao Senado por São Paulo, como representante das forças do MDB
lideradas pelo governador Ademar de Barros, colocando-se em último lugar no
pleito disputado também por Araripe Serpa, da ala emedebista liderada por Jânio
Quadros, Mário Calasans, da ala udenista do MDB, e vencido por Carlos Alberto
Carvalho Pinto, da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao
regime militar. Em novembro de 1970 elegeu-se suplente de deputado federal por
São Paulo na legenda do MDB. Não foi contudo convocado a assumir o mandato. No
pleito de novembro de 1978 tentou novamente uma cadeira na Câmara, pelo MDB,
não obtendo êxito.
Foi conselheiro e vice-presidente do Instituto de Engenharia
e membro do conselho diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.
Faleceu em São Paulo no dia 12 de maio de 1982.
Era casado com Magda Guyer Sales, com quem teve três filhos.
Publicou Energia atômica: um inquérito que abalou o
Brasil (1957), As razões do nacionalismo (1959), Estudos técnicos
de engenharia e Relatórios parlamentares.
FONTES: CÂM. DEP. Anais
(1961-1); CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Deputados
brasileiros. Repertório (1946-1967); CÂM. DEP. Deputados federais.
Inventário; CÂM. DEP. Relação dos dep.; CÂM. DEP. Súmulas;
CAMPOS, Q. Fichário; CONSULT. RAMOS, P.; Eleitos;
Estado de S. Paulo (5/9/62, 11/8/64); Folha de S. Paulo (30/9/79);
Grande encic. Delta; INF. FAM.; Jornal da Tarde (13/9/62);
Jornal do Brasil (16/10/66, 15/12/75); SALES, D. Razões;
SENADO. Relação; TRIB. SUP. ELEIT. Dados (3, 4, 6, 8 e 9).