DANTAS,
Luís Martins de Sousa
*diplomata; emb. Bras. Itália
1919-1922; emb. Bras. França 1922-1943.
Luís
Martins de Sousa Dantas nasceu no Rio de Janeiro, então
capital do Império, em 17 de fevereiro de 1876, filho de Manuel Pinto de Sousa
Dantas Filho e de Maria Luísa Martins de Sousa Dantas. Seu avô paterno, Manuel
Pinto de Sousa Dantas, exerceu importantes cargos políticos no Império, tendo
sido deputado de 1857 a 1868, conselheiro de Estado a partir de 1879 e
presidente do Conselho de Ministros no biênio 1884-1885. Chefe parlamentar do
abolicionismo, foi também autor do projeto que serviu de base à Lei
Saraiva-Cotegipe, que, promulgada em 1885, determinou a emancipação dos
escravos sexagenários. Seu pai ocupou, entre outros, os cargos de presidente
das províncias do Paraná, de 1879 a 1880, e do Pará, de 1881 a 1882, tornando-se diretor-geral do Tesouro Nacional de 1882 a 1890. Após a proclamação da República, ingressou na carreira diplomática, exercendo as funções de cônsul do
Brasil em Genebra, Lisboa e Antuérpia. Seu tio, Rodolfo Epifânio de Sousa
Dantas, foi deputado a partir de 1878 e ministro do Império em 1882 no gabinete
de Martinho de Campos. Em 1891, já na República, fundou, junto com Joaquim
Nabuco, o Jornal do Brasil. Seu primo, Marcos de Sousa Dantas, foi
presidente do Conselho Nacional do Café em 1932, presidente do Banco do Brasil
no biênio 1953-1954 e diretor da Superintendência da Moeda e do Crédito de 1958 a 1960.
Luís
Martins de Sousa Dantas bacharelou-se em ciências e letras no Colégio Pedro II,
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, formando-se em direito pela
Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, em 1896.
Em
janeiro de 1897 começou sua carreira diplomática como adido à legação
brasileira em Berna, na Suíça. Promovido a segundo-secretário, foi enviado, em
março de 1900, a São Petersburgo, na Rússia, sendo transferido dois anos mais
tarde para Roma, onde permaneceu até julho de 1908. Nesse ano, foi promovido a
primeiro-secretário e transferido em outubro para Buenos Aires, onde exerceu a
função de encarregado de negócios. Em junho de 1912 foi elevado a
ministro-residente, por merecimento. Regressou ao Rio de Janeiro em maio de
1916 para exercer o cargo de subsecretário de Estado, assumindo, no mês
seguinte, a chefia interina do Ministério das Relações Exteriores em virtude da
visita do titular da pasta, Lauro Müller, aos Estados Unidos.
Em setembro de 1917, às vésperas da declaração de guerra do
Brasil contra a Alemanha, Sousa Dantas foi enviado novamente para Roma, onde
fez amizade com vários escritores e artistas, entre os quais o poeta Gabriele
D’Annunzio. Transferido em junho de 1919 para Bruxelas, foi promovido a
embaixador, retornando a Roma no final do ano. Nesse posto, instalou a sede da
missão brasileira no histórico palácio Doria-Pamphili e inaugurou a Câmara de
Comércio Ítalo-Brasileira.
Em dezembro de 1922, assumiu a chefia da embaixada brasileira
em Paris, e em outubro do ano seguinte viajou a Genebra para representar o
Brasil na Conferência de Imigração e no Conselho Executivo da Liga das Nações,
missão que lhe foi novamente confiada em 1924 e 1926. Durante sua longa
permanência como embaixador na França, presidiu diversas manifestações
culturais e artísticas, particularmente após 1931, quando se tornou decano do
corpo diplomático.
Após
a invasão da França pelas tropas alemãs em junho de 1940, Sousa Dantas
transferiu-se para Vichy, capital do governo colaboracionista chefiado pelo
marechal Pétain na chamada “zona livre” do país. A partir de então, ajudou
muitos franceses, principalmente judeus, a escaparem das perseguições
desencadeadas pelos nazistas, obtendo-lhes passaportes brasileiros. Em 1941,
por ter atingido o limite de idade -– 65 anos — foi aposentado do serviço
diplomático por decreto presidencial, aguardando no posto a escolha do seu
substituto.
Em agosto de 1942 o Brasil declarou guerra às potências do
Eixo. Em novembro seguinte, com a França já ocupada, Sousa Dantas tentou
resistir à invasão do prédio da embaixada brasileira pelos alemães, sendo preso
em janeiro do ano seguinte e internado junto com outros diplomatas brasileiros em Bad Godesberg, na Alemanha.
Sua
libertação e a de outros diplomatas brasileiros em 1944 foi negociada pelos
norte-americanos através do governo suíço, sendo acordado que eles seriam
trocados por súditos alemães que se encontravam detidos no Brasil. Desde meados
do ano anterior, o então primeiro-ministro de Portugal, Antônio de Oliveira
Salazar vinha realizando gestões para a soltura dos brasileiros, mas sem
conseguir êxito. O que de fato Salazar conseguiu foi antecipar a saída dos
prisioneiros de Bad Godesberg e abrigá-los em Lisboa, onde eles aguardaram a
chegada dos alemães provenientes do Brasil. De volta ao Rio de Janeiro, Sousa
Dantas foi recebido com grandes homenagens.
Regressou a Paris ainda em 1944, logo após a libertação da
cidade. Desde então, Sousa Dantas fixou residência na capital francesa, onde
faleceu em 16 de abril de 1954.
Era
casado com Elisa Meyer de Sousa Dantas.
Publicou
em Paris um pequeno trabalho sobre as relações culturais entre a França e os
países latino-americanos, intitulado Les nations américaines et M. Gabriel
Hanotaux.
Paulo
Brandi
FONTES: CONSULT.
MAGALHÃES, B.; Diário de Notícias, Rio (18/4/54); GUIMARÃES, A. Dic.;
KOIFFMAN, F. Luta Democrática (18/4/54); MIN. REL. EXT. Almanaque (1941);
MIN. REL. EXT. Anuário; Tribuna da Imprensa (14/5/54).