MÃO SANTA
*gov.
PI 1995-2001; sen. PI 2003-2011.
Francisco de Assis de Morais Sousa,
o Mão Santa, nasceu em Parnaíba (PI) no dia 13 de outubro de 1942, filho de
Joaz Rabelo de Sousa e de Joana de Morais Sousa.
Transferindo-se
para Fortaleza, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do
Ceará, pela qual veio a se graduar em 1966. Durante esse período, foi auxiliar
da cadeira de fisiologia da faculdade de 1963 a 1965. Em 1967 passou a cursar
no Rio de Janeiro cirurgia geral no Hospital dos Servidores do Estado (HSE),
concluindo a especialização no ano seguinte. O apelido Mão Santa surgiu no
final da década de 1960 e foi dado por um presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Tutóia (MA), município próximo a Parnaíba, onde tinha
ido representar o prefeito da cidade. Na hora da apresentação dos convidados, o
sindicalista se esqueceu do nome do visitante e disse: “E aqui está esse doutor
de mãos santas, que me operou e hoje estou aqui.” Na verdade, era um
reconhecimento ao seu trabalho de cirurgião na região de Parnaíba e que se
consolidou como uma importante peça de marketing pessoal.
Descendente
de família abastada, Mão Santa conquistou fama e prestígio atendendo,
gratuitamente, a população carente no interior do estado. Em 1972 foi nomeado
secretário municipal de Saúde de Parnaíba, cargo que exerceu até 1975.
Filiando-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do
regime militar instaurado no país em março de 1964, em novembro de 1978
elegeu-se deputado estadual. No ano seguinte, tornou-se líder do governo na
Assembleia Legislativa, função que desempenharia até 1982. Com a extinção do
bipartidarismo em novembro de 1979 e a posterior reformulação partidária,
filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS), do qual chegou a ser presidente
regional. Permaneceu no Legislativo piauiense até o final de janeiro de 1983,
quando se encerraram o seu mandato e a legislatura.
Em
novembro de 1986, Mão Santa concorreu a uma cadeira na Assembleia Nacional
Constituinte e obteve a primeira suplência. Dois anos depois foi eleito
prefeito de Parnaíba. Com esse resultado e a eleição do deputado Heráclito
Fortes para a prefeitura de Teresina, Mão Santa renunciou ao direito de assumir
uma cadeira na Câmara dos Deputados para assumir a prefeitura em janeiro do ano
seguinte. Nessa condição, tornou-se presidente do Conselho da Associação de
Prefeitos do seu estado.
Enquanto
foi prefeito de Parnaíba, procurou pavimentar o seu caminho rumo ao governo do
estado com uma administração de sucesso e grande apoio popular. Entre suas
principais realizações, criou o programa que garantiu funeral completo e
gratuito a todos os pobres do município. Permaneceu à frente da prefeitura
parnaibana até janeiro de 1993, quando passou o cargo ao sucessor eleito em outubro
do ano anterior.
Transferiu-se
para o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Em 1994 tornou-se o
candidato ao governo estadual da coligação Resistência Popular, formada, além
do PMDB, pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que indicou o
candidato a vice-governador, o presidente da Federação Piauiense dos
Trabalhadores na Agricultura (Fetag), Osmar Araújo, ligado à Força Sindical e
ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Picos (PI), e pelos
partidos Democrático Trabalhista (PDT), Comunista do Brasil (PCdoB), Popular
Socialista (PPS) e da Mobilização Nacional (PMN). Partidário da ideia de
divisão do estado, fazendo do sul piauiense uma nova unidade da federação, e
contando com o apoio de apenas três dos 148 prefeitos do estado e do
ex-governador Alberto Silva, Mão Santa tornou-se líder em todas as pesquisas.
Mas,
no pleito de outubro, obteve 37,43% dos votos contra 44,865 de seu principal
adversário, Átila Lira, candidato da coligação comandada pelo Partido da Frente
Liberal (PFL). Vale destacar que em Parnaíba, o segundo maior colégio eleitoral
do Piauí, Mão Santa obteve 93,84% dos votos válidos. No segundo turno,
realizado em novembro, alcançou aproximadamente 60% dos votos válidos, contra
40% do seu oponente, que continuou sendo apoiado por um esquema comandado pelo
governador Guilherme Melo e toda a sua máquina administrativa, pelos demais
prefeitos do estado e por cerca de 90% da mídia local. A vitória de Mão Santa
representou a primeira ruptura, nos últimos 50 anos, da política de oligarquias
do Piauí, então comandada pelo senador Hugo Napoleão.
Assumindo
a chefia do Executivo piauiense em 1º de janeiro de 1995, encontrou o estado
com grandes problemas de caixa. Para tentar resolver a situação, demitiu 15% do
pessoal, eliminou da folha os “marajás” (funcionários com altos salários) e
servidores “fantasmas”, adotou um programa de demissões voluntárias e passou a
renegociar as dívidas em bases favoráveis. Em abril de 1996, participou de uma
reunião de governadores em Brasília na qual reivindicou ao governo federal a
renegociação da dívida do estado com base nas concessões feitas ao governo
paulista para resolver o caso do Banco do Estado de São Paulo (Banespa). Dentro
da proposta de renegociação de parte dessa dívida, o governador piauiense
queria transferir à União bens avaliado em 99,5 milhões de reais, que incluíam
um estádio de futebol, 453 mil hectares de terras, o Parque de Exposição Dirceu
Arcoverde e o Parque Zoobotânico. Quanto ao restante, Mão Santa propôs o
alongamento do perfil da dívida por 50 anos, em parcelas mensais, com os mesmos
juros de 6% ao ano, concedidos ao governo de São Paulo no caso Banespa.
Com
a renegociação da dívida em bases vantajosas, 90% da receita, obtida com a
arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), à
qual se somava o repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE), que
chegava aos 65 milhões de reais, passou a ser consumida pela folha de pagamento
e o serviço da dívida. Com isso, passaram a sobrar cerca de sete milhões de
reais mensais para custeio, investimentos, precatórios judiciais, dívidas
trabalhistas e outras despesas. Mesmo assim, continuou difícil honrar os
compromissos financeiros, o que levou o governador a enfrentar pedido de
intervenção federal no estado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Por
outro lado, em setembro de 1996, uma auditoria realizada pelo Tribunal de
Contas da União (TCU) constatou que o dinheiro do Programa de Apoio ao Pequeno
Produtor (PAPP), financiado pelo Banco Mundial, fora rateado entre entidades
controladas por parlamentares ligados ao governador, quando deveriam ser
destinadas a cooperativas e associações de pequenos produtores.
Com
o desencadeamento da discussão da emenda que permitia a reeleição do presidente
da República, Mão Santa, a exemplo de outros governadores do PMDB, passou a
barganhar com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Afirmou que só se
comprometeria a apoiar sua reeleição se ele reduzisse para 6% de suas receitas
os gastos com o pagamento das dívidas dos estados com a União (o governador
piauiense comprometia 15% de sua receita com o pagamento de dívidas). Obtendo
algumas vantagens, acabou apoiando o projeto da reeleição, que se estendeu aos
governadores e prefeitos.
A
onda de greves nas polícias militares estaduais que assolava o país atingiu o
Piauí em julho de 1997, agravando ainda mais os problemas financeiros do
estado, pois, para que o movimento acabasse o governo teria que arcar com
despesas que não estavam previstas no seu orçamento. Após cinco dias de
paralisação, os grevistas aceitaram a proposta feita pelo governador, que
ofereceu uma gratificação especial e propôs a criação de uma comissão que
deveria elaborar uma política salarial para a categoria, pondo, assim, fim ao
movimento.
Segundo
matéria publicada pela revista IstoÉ em junho de 1998, Mão Santa empregou 27
parentes diretos e afins em altos cargos na administração do estado, tais como
um filho na chefia do seu gabinete, um irmão na Secretaria Estadual de Fazenda,
um outro na Secretaria de Indústria e Comércio, a mulher como presidente e uma
irmã como vice do Serviço Social do Estado (Serse). Outra irmã ganhou a
vice-reitoria da Universidade Estadual do Piauí, uma cunhada a Diretoria
Financeira e operacional da Secretaria Estadual de Saúde e um concunhado, a
Secretaria de Obras e Serviço Público. Ainda de acordo, com a mesma matéria da
revista IstoÉ, num período em que a seca no Nordeste tomava contornos de drama
nacional, tendo o Piauí 81% de seus municípios na área crítica de atuação da
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), o governador
piauiense desviou recursos que seriam destinados a obras de combate à seca,
tais como construção de barragens, açudes, obras de perenização de rios e
outros programas sociais, para construção e reforma de aeroportos e, entre
outros, apoio às prefeituras, ou seja, distribuição de verbas aos prefeitos
aliados. Esses recursos beneficiariam municípios que o próprio governo estadual
reconhecia estarem em situação de calamidade pública.
Durante
sua campanha, todos os seus programas assistenciais faziam referência a “mão”
ou a “santa”, que se tornaram marcas do governo. Sua esposa Adalgisa, que se
tornara sua principal aliada à frente da Serse, foi batizada de “mãe dos
pobres”, como se fosse uma espécie de Evita Perón do Nordeste. Procurava fazer
caridade em busca do voto de eleitores pobres, fazendo sorteios em comícios e
distribuindo produtos contrabandeados, apreendidos e repassados irregularmente
pela Secretaria de Fazenda. Um dos programas criados pela primeira-dama foi
denominado “Luz Santa”, que consistia em beneficiar 168 mil famílias carentes
com o pagamento de suas contas de luz pela Serse. Outro programa criado por
esse órgão foi o “Sopa na mão”, que distribuía sopa a centenas de pessoas ao
lado do palácio do governo e nos municípios do interior do estado.
Mais
um programa criado pelo governador, que se tornou a sua “menina-dos-olhos”, foi
o “Spa santo”. Um balneário de servidores públicos no município de Luís Correia
foi transformado em centro de emagrecimento para atender, gratuitamente, cerca
de 20 mil pessoas por ano, com o governo do estado financiando passagens,
massagista, acompanhamento de endocrinologista, enfermeira, professor de
ginástica e nutricionista. Chegou a contratar um circo mambembe para dar
espetáculos gratuitos nos bairros pobres de Teresina, em que promovia concursos
comandados pelo palhaço e premiava a criança que cantasse mais alto o jingle da
sua campanha eleitoral. O seu açodamento o levou a ser multado quatro vezes
pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por infração à lei, uma das quais por
distribuir peças publicitárias com referência a programas de governo, como o
“Sopa na mão” e o “Luz santa”. Para se defender dessas multas e dos processos,
montou uma equipe de advogados, que ficava de plantão na sede do tribunal.
No
pleito de outubro de 1998 obteve 411.985 votos (40,58% dos votos válidos),
contra 444.037 (43,74%) de seu adversário Hugo Napoleão, da aliança comandada
pelo PFL. Com cerca de 30 mil votos a menos, qualificou-se para disputar o
segundo turno, em que contou com o apoio decisivo do PSDB, com o engajamento do
prefeito de Teresina, Firmino Silveira Filho, bem como do Partido dos
Trabalhadores (PT). Favorecido ainda pelos seus programas assistencialistas
comandados pela esposa, Mão Santa conquistou nova vitória na segunda eleição,
quando obteve 637.235 votos (50,96% dos votos válidos), contra 613.339 (49,04%)
de seu oponente. Com essa diferença superior a 23 mil votos (1,92%), voltou a
derrotar a oligarquia comandada pelo seu adversário e a fortalecer a sua,
emergente. Assim sendo, iniciou novo período à frente do Executivo piauiense em
1º de janeiro do ano seguinte.
Em
novembro de 2001, a chapa de Mão Santa foi cassada pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) por abuso de poder econômico e uso da máquina pública para
promoção pessoal. Em seu lugar assumiu Hugo Napoleão (PFL), segundo colocado na
eleição e autor das denúncias.
Em
2002, foi eleito senador pelo Piauí na legenda do PMDB. Assumiu o mandato em
fevereiro de 2003
No
pleito de 2004, lançou a candidatura do filho Mão Santinha, a prefeitura de
Parnaíba (PI), a de um sobrinho, a prefeitura de Luiz Correa (PI) e a da
esposa, Adalgisa, a prefeitura de Teresina. Sua esposa acabou derrotada: ficou
com 41,52% dos votos válidos, contra 58,48% do tucano Sílvio Mendes.
Em
abril de 2008, no plenário do Senado, chamou o presidente Luís Inácio Lula da
Silva (2003-) de “galinha cacarejadora”, citando o livro Mein Kampf (“Minha
luta”, em português), escrito pelo líder nazista Adolf Hitler. Em junho,
declarou-se contrário a tese de terceiro mandato para Lula.
Em
fevereiro de 2009 foi eleito para a terceira-secretaria do Senado. Em setembro,
anunciou em plenário sua saída do PMDB. “Apresento o meu desligamento do PMDB,
que não é aquele dos meus sonhos. Não é mais aquele PMDB que, em 1974, sem
nenhuma condição, lançou Ulysses Guimarães, o anticandidato. Ulysses lançou-se
por aquele partido em 1974, mais para dar um sinal. Ele dizia: ‘Navegar é
preciso. Viver não é preciso’. Mas estão morrendo afogados”, disse o senador..
Sua desfiliação do PMDB deveu-se também a não ter garantias do partido de que
seria candidato ao Senado nas eleições de 2010, conforme afirmou: “Estou
mudando de sigla partidária para ter o direito de ser candidato e continuar
sendo a voz do Piauí no Senado”. Em seguida, filiou-se ao Partido Social
Cristão (PSC).
Pela
nova legenda, teve cogitada a sua indicação para vice-presidente na chapa que
tinha o tucano José Serra como candidato à presidência da República. Em Junho,
porém, o partido passou a apoiar a candidata petista para a sucessão
presidencial, Dilma Rousseff. Com isso, foi mantido pelo PSC como um dos candidatos
ao Senado nas eleições de Outubro de 2010, em coligação com PPS, DEM e PSDB, que
lançaram também Heráclito Fortes, em outra chapa. Mão Santa recebeu cerca de
430 mil votos, pouco mais do que Fortes, porém, estes foram insuficientes para
obter êxito no tento. As vagas de senador pelo estado ficaram com Wellington
Dias, do PT, e Ciro Nogueira, do PP.
Com
a derrota no pleito, despediu-se do Senado em Janeiro de 2011.
No
ano seguinte, foi candidato no pleito municipal realizado em Outubro. Na
ocasião, disputou a prefeitura de sua cidade natal, Parnaíba, mas recebeu
apenas 33% dos votos válidos e foi derrotado por Florentino Veras, do PT.
Foi
ainda diretor-proprietário da Rádio Iguaraçu, diretor da Divisão do Serviço
Social da Indústria (Sesi) e presidente do Rotary Club, todos de Parnaíba.
Casou-se
com Adalgisa Carvalho de Morais Sousa, com quem teve quatro filhos.
Alan
Carneiro(2001)/Bruno Marques (2009)
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