ALMEIDA,
Gil de
*militar; comte. 3ª RM 1927-1930.
Gil Antônio Dias de Almeida
nasceu em Sergipe no dia 3 de maio de 1874.
Em abril de 1889, sentou praça como voluntário no 26º
Batalhão de Infantaria, sediado em Sergipe, onde chegou ao posto de sargento.
Transferido para o Rio Grande do Sul em abril de 1893, participou de diversas operações
militares durante o combate à Revolta da Armada, que eclodira contra o governo
de Floriano Peixoto. Em 1894, foi transferido para o 25º Batalhão de
Infantaria, sendo promovido a alferes. No início do ano seguinte, integrou as
forças que ocuparam a “zona colonial” (região onde predominavam as colônias de
imigrantes) do Rio Grande do Sul. Ainda em 1895, casou-se com Isolina Lucena,
com quem viria a ter uma filha.
Em
janeiro de 1896, obteve licença para matricular-se na Escola Militar de Porto
Alegre (RS). Dois anos mais tarde, ingressou na Escola Preparatória de Tática
de Rio Pardo (RS), cujo curso concluiu em 1901. Em seguida, matriculou-se na
Escola Militar do Brasil, da qual desligou-se em 1904 ao concluir sua instrução
militar. Colocado à disposição do Estado-Maior do Exército, poucos meses depois
foi promovido a tenente. Entre 1904 e 1905, tomou parte na Concentração do Vale
do Amazonas, série de operações militares e manobras realizadas na bacia
Amazônica.
Foi
sucessivamente promovido a capitão (1908), major (1913) e tenente-coronel
(1917). Durante esse período, serviu em várias regiões militares, em especial
no Rio Grande do Sul. Em 1917 foi designado comandante de um dos regimentos da
Brigada Policial do estado do Rio de Janeiro, atingindo o posto de coronel em
1919. Em 1920, fez o curso de revisão.
Em novembro de 1923 assumiu o comando da Escola Militar do
Realengo, no Rio de Janeiro (então Distrito Federal). Promovido a
general-de-brigada no ano seguinte, em 1927 foi nomeado comandante da 3ª Região
Militar, sediada em Porto Alegre (RS), tomando posse no dia 31 de maio.
Em setembro de 1929, em face do agravamento da situação
política com o lançamento dos candidatos da Aliança Liberal, Gil de Almeida
viajou para a capital federal para avistar-se com o presidente da República,
Washington Luís. Neste encontro, procurou tomar conhecimento da posição do
governo e discutir a situação do Exército no Rio Grande do Sul. Afinal, ficou
acertado que o governo federal não tomaria medidas contra seus comandados sem
que ele fosse previamente consultado. Retornando a Porto Alegre em outubro, o
general Gil de Almeida transmitiu ao presidente do estado, Getúlio Vargas, as
decisões do governo federal.
Nos últimos meses de 1929, passou a manter sob vigilância os
adeptos da Aliança Liberal, que desfrutavam de grande liberdade de movimentos
no estado. Ao mesmo tempo, procurou evitar que a tropa se envolvesse em
questões políticas. Para tanto, passou a transmitir a seus comandados, em boletins
particulares, notícias sobre a situação política do país. Em janeiro de 1930,
inclusive, afirmava já ter conhecimento de boatos sobre a proximidade de uma
conflagração.
Às vésperas do pleito de 1º de março de 1930, Getúlio Vargas
transmitiu interinamente seu cargo a Osvaldo Aranha, então secretário do
Interior. Considerando esta medida inconstitucional, Gil de Almeida decidiu
ausentar-se de Porto Alegre por ocasião da posse, a pretexto de inspecionar
guarnições das fronteiras. No mês seguinte, ante a intensificação dos rumores
sobre articulações revolucionárias, tornou a procurar Vargas, já reinstalado no
governo gaúcho, o qual afirmou-lhe que estas articulações não existiam.
Em agosto de 1930, a situação política do Rio Grande do Sul
não permitia mais o alheamento do Exército. O comandante da 3ª RM intensificou
sua campanha de alerta e planejou a concentração das forças sob seu comando na
região entre Santa Bárbara do Sul e Passo Fundo, no norte do estado, mantendo
nas cidades de Porto Alegre e Rio Grande núcleos apoiados pela Esquadra. Seus
planos, porém, não encontraram receptividade por parte do ministro da Guerra,
general Nestor Sezefredo dos Passos, para quem a aparente calma que reinava nos
demais estados indicava a impossibilidade de vir a surgir um movimento
generalizado.
No
início de setembro, intensificaram-se os rumores sobre a iminência de uma
revolução. Ante as repetidas negativas do governo do estado, que se recusava a
tomar as medidas necessárias à manutenção da ordem, Gil de Almeida decidiu
promover a mobilização imediata das tropas de Santa Maria, São Leopoldo e
Caxias do Sul, no interior gaúcho. Esta providência provocou uma violenta
reação, sobretudo na imprensa. Em seu livro de memórias, Gil de Almeida afirma
que, mais tarde, seria informado de que o aumento do efetivo militar em Porto Alegre havia sido responsável por mais um adiamento da revolução, então marcada para
setembro. Entretanto, no final desse mês, ordenou o retorno da tropa às suas
guarnições de origem, seguro de que a revolução não contava com o apoio de
Vargas e de Antônio Augusto Borges de Medeiros, presidente do Partido
Republicano Rio-Grandense, e que, portanto, seria facilmente dominada.
Com a eclosão do movimento em 3 de outubro de 1930, o
quartel-general da 3ª Região Militar, em Porto Alegre, foi atacado por tropas rebeldes comandadas por Osvaldo Aranha. Após cerrado
tiroteio, cessou a resistência da guarnição legalista, que foi toda
aprisionada, com a exceção do general Gil de Almeida, que não quis entregar-se.
Ainda no mesmo dia, recebeu de Vargas uma carta em que este afirmava
“ser inútil sacrifício oferecer qualquer resistência”. Gil de Almeida, porém,
impunha como condição para render-se que Vargas lhe entregasse um documento
afirmando ser o chefe supremo da revolução.
Após
algumas horas de resistência, o comandante da 3ª RM foi aprisionado em seus
aposentos, juntamente com o chefe de seu estado-maior, o coronel Firmo Freire.
No dia seguinte, foi recolhido ao navio Comandante Ripper, onde
já se encontravam os demais oficiais presos, aguardando a partida para o
exílio.
O general Gil de Almeida foi reformado administrativamente no
dia 3 de fevereiro de 1931, tendo sido transferido para a reserva em 1942, no
posto de general-de-divisão. Após retirar-se da ativa, escreveu um livro sobre
sua participação nos acontecimentos que conduziam à Revolução de 1930: Homens
e fatos de uma revolução.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 27 de agosto de 1955.
Regina da Luz Moreira
FONTES: ALMEIDA, G.
Homens; ARQ. MIN. EXÉRC.; BITTENCOURT, L. Homens I;
CARNEIRO, G. História; COELHO, J. Coisas; COUTINHO, L. General;
FERREIRA FILHO, A. História; FONTOURA, J. Memórias; Jornal do
Comércio, Rio (28/8/55); LAGO, L. Estado-Maior; LAGO, L. Generais;
LAGO L. Relação; MIN. GUERRA. Almanaque (1929); SILVA, H. 1926;
SILVA, H. 1930; SILVA, H. 1931; SILVA, H. 1937.