GOLDEMBERG,
José
*sec. Ciência e Tecnologia 1990-1991; min.
Educ. 1991-1992; min. Saúde 1992; min. Meio Ambiente 1992.
José Goldemberg nasceu em Santo Ângelo (RS) no dia 27 de maio de 1928, filho de Jacob Goldemberg e de Bertha
Goldemberg.
Fez o curso secundário no Colégio Estadual Júlio de
Castilhos, em Porto Alegre, conhecido centro de discussão das idéias
positivistas.
Em
1946, mudou-se para São Paulo e ingressou no curso de química da antiga
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP).
Transferiu-se em seguida para o curso de física da mesma faculdade.
Doutor
em 1954, entre 1958 e 1966 lecionou em universidades do Canadá, França e
Estados Unidos. Em 1967, assumiu a cátedra de física geral na Escola
Politécnica da USP. Tornou-se professor titular de física em 1969. De 1970 a 1978 dirigiu o Instituto de Física daquela instituição. Ao longo desse período, em 1976, no
governo do general Ernesto Geisel foi firmado o acordo nuclear Brasil-Alemanha
para o fornecimento de tecnologia para a construção de usinas nucleares em
Angra dos Reis (RJ). Goldemberg mostrou-se contrário ao acordo por aumentar,
segundo a sua avaliação, a dependência tecnológica do Brasil, não permitindo o
efetivo domínio daquela tecnologia. Como presidente da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), entre 1979 e 1981, Goldemberg destacou-se
por sua posição crítica em relação à energia nuclear defendendo a sua
utilização para fins pacíficos.
Presidente
da Companhia Energética de São Paulo (CESP) entre 1983 e 1985, no governo de
Franco Montoro (1983-1987), em dezembro desse último ano foi indicado pelo
governador Franco Montoro como reitor da USP, substituindo a Antônio Idélio
Guerra Vieira. Assumiu o cargo em janeiro de 1986, tendo pela frente a tarefa
de administrar uma instituição composta por 33 unidades, algumas no interior do
estado; 11 mil funcionários; 4.800 professores; 40 mil estudantes e que era
responsável por 2/3 da produção científica brasileira. Em julho de 1986, com o
objetivo de aperfeiçoar a integração da universidade com a sociedade, criou o
Instituto de Estudos Avançados, tendo como meta o debate científico dentro de
uma linha de interdisciplinaridade. Propunha uma nova forma de gestão dos
recursos da universidade para a pesquisa, através da avaliação do desempenho
dos docentes em cada departamento. Em termos do patrimônio físico da USP
iniciou a reativação do Conjunto Residencial da USP (CRUSP) que havia sido
desativado pela ditadura militar e a venda de imóveis, que pensava reverter na
ampliação dos campi do interior do estado.
Atento às questões que envolviam sua área, pronunciou-se de
forma enérgica quando do acidente com o césio 137 em Goiânia que vitimou
dezenas de pessoas. Goldemberg acusou a Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN) e a política do governo no setor de negligentes, qualificando o
incidente como “homicídio culposo”.
Em fevereiro de 1988, Goldemberg enfrentou a primeira grande
crise de sua administração com a publicação pelo jornal Folha de S. Paulo
de uma lista com nomes de docentes que não tinham produzido trabalhos
acadêmicos entre 1985 e 1986. A chamada “lista dos improdutivos” provocou
fortes reações, não só pelos erros cometidos — alguns nomes, como o do próprio
Goldemberg, que faziam parte da lista, estavam em viagem ao exterior no período
— como também pela sua divulgação pública sem que houvesse a oportunidade de
defesa dos envolvidos. Goldemberg, que continuava defendendo a avaliação da
produção científica dos docentes, atribuiu os erros às unidades, responsáveis
iniciais pela elaboração das listas. Em março de 1988, o Conselho Universitário
tentou pôr um ponto final no episódio, porém a Associação de Docentes da USP
(ADUSP) insistiu na instauração de sindicância para avaliação do fato.
Em
junho de 1988, os professores-titulares da Escola Politécnica e da Escola de
Medicina insurgiram-se contra o estatuto da universidade por diminuir a sua
influência na estrutura de poder das unidades. Goldemberg defendeu a linha do
estatuto acusando os professores de quererem manter “um mandarinato no
exercício da função”.
Ciente
da necessidade de aumentar os salários de professores e funcionários que
segundo ele tinham “os salários mais baixos de toda história da USP”, Goldemberg
fez duras críticas ao governador Orestes Quércia por se negar a discutir, em
outubro de 1988, a questão com os professores e funcionários em greve a 25
dias.
Em dezembro de 1988, na condição de membro do Conselho Superior
de Política Nuclear, Goldemberg alertou o governo federal por sua
intransigência em não retirar a usina nuclear de Angra III do programa da
Eletrobrás. A atitude do governo Sarney levou o Banco Mundial a romper
negociações para o empréstimo de quinhentos milhões de dólares que seria
aplicado no sistema de distribuição de energia de Itaipu para empresas de São
Paulo e beneficiaria, entre outros setores, companhias energéticas estaduais.
Contrário
às eleições diretas para reitores por achar que a universidade era uma
instituição especializada e que não podia ser controlada por quem não teria a
necessária qualificação, Goldemberg preparou-se, em outubro de 1989, para
deixar a reitoria da USP. Ao fazer um balanço dos três anos que passou à frente
da instituição, ressaltou o empréstimo concedido pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) no valor de 165 milhões de dólares, tendo como
contrapartida cem milhões de dólares do governo do estado, para programas de
pesquisa, compra de equipamentos e construção de prédios; a informatização da
universidade, e o incremento do orçamento da USP que passou de 173 milhões de
dólares em 1981 para 397 milhões de dólares em 1989. Destacou também o início
do processo de avaliação dos professores e pesquisadores facilitado pela
criação de um banco de dados onde se tinha acesso à produção docente.
Em
janeiro de 1990, Goldemberg aceitou convite de Quércia para ocupar a Secretaria
de Educação de São Paulo, mas ficou pouco tempo na nova função, pois em abril o
presidente Fernando Collor, empossado no mês anterior, convidou-o para assumir
a Secretaria de Ciência e Tecnologia do governo federal. Uma das primeiras
intervenções do novo secretário foi a participação, juntamente com o secretário
nacional de Meio Ambiente, José Leutzemberg, na reunião interparlamentar
realizada em Washington, Estados Unidos, sobre as mudanças climáticas ocorridas
no planeta. De volta ao Brasil, destacou que com seus argumentos e os de
Leutzemberg, conseguiu transformar o país de réu na preservação ambiental em
acusador, ao mostrar que o Brasil era responsável pela emissão de 5% dos gases
jogados na atmosfera, enquanto que os Estados Unidos emitiam 24%. Defendeu a
posição de que os financiamentos para a área não deveriam ficar a reboque da
análise dos investimentos de cada país na política ambiental. Propôs ainda a
criação de um imposto internacional sobre a queima de combustíveis fósseis.
Para cada quilo de carbono lançado na atmosfera seria paga uma taxa, a ser
gerenciada pelo Banco Mundial ou outro organismo criado com essa finalidade.
Partidário da preservação da floresta amazônica, preconizou a mudança da
concepção geopolítica de ocupação da região, mediante a transformação do
Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa) num centro não só de pesquisas ligadas
à natureza, mas também na área da antropologia e ciências sociais como forma de
racionalizar a ocupação da região sem a destruição do meio ambiente.
Em
janeiro de 1991, o governo lançou o II Plano Nacional de Informática (II
Planin) que previa o investimento de 848 milhões de dólares nos setores de
pesquisa e equipamentos e o fim da lei de reserva de mercado na área de
informática, prevista para ser votada pelo Congresso Nacional em março daquele
ano. Paralelamente, aproveitando mudanças promovidas, no ano anterior, pelo
governo Collor na política de informática, Goldemberg anunciou a formação da
primeira joint-venture de informática entre a IBM e a SID, empresa do
Grupo Machline que mantinha 70% do capital.
No Ministério da Educação
Em
21 de agosto de 1991, Goldemberg assumiu a pasta da Educação, substituindo
Carlos Chiarelli que transferiu-se para o Ministério Extraordinário para
Assuntos da Integração Latino-Americana. A indicação de Goldemberg para a
educação causou reações no meio político, pois tratava-se de uma indicação
técnica para um cargo que geralmente tinha seu titular escolhido por critérios
políticos e que tradicionalmente vinha sendo ocupado por um membro indicado
pelo Partido da Frente Liberal (PFL) ou por membro desta agremiação. Ao assumir
a pasta, Goldemberg solicitou que todos os funcionários do primeiro e do
segundo escalões entregassem suas cartas de demissão, inclusive nomes ligados
ao estado de Alagoas, do Presidente da República, e do Rio Grande do Sul, do
ex-ministro Chiarelli, para nomear pessoas de sua confiança pessoal. Pouco
depois, Goldemberg tentou fundir este Ministério com a Secretaria de Ciência e
Tecnologia mas, encontrando obstáculos para tal, conseguiu apenas indicar seu
sucessor, Edson Machado de Sousa, que era seu secretário-adjunto.
Recém-empossado,
Goldemberg declarou publicamente ser contra a proposta do governo, contida no
Projeto de Reconstrução Nacional enviado ao Congresso, de acabar com o ensino
gratuito nas universidades públicas. Declarou também que essa proposta
significava “olhar as conseqüências adiante e não combater a causa, que é um
ensino básico deficiente que impossibilita o estudante mais pobre, freqüentador
da escola pública, de ter acesso à universidade também pública”. Em contrapartida,
defendeu a obrigatoriedade da União aplicar 18% de seu orçamento em educação e
anunciou a intenção de dar um conteúdo pedagógico aos Ciacs, centros
educacionais em tempo integral para alunos de primeiro e segundo graus e cuja
construção representava o principal programa do governo de Collor de Melo na
área de Educação. Neste sentido, conseguiu obter a transferência do controle do
projeto dos Ciacs do Ministério da Saúde para a sua pasta e fez uma série de
reformulações no mesmo.
Pouco
depois que Goldemberg assumiu, o jornal O Globo denunciou, em fins de
agosto, a existência de irregularidades na compra de 26 mil toneladas de
merenda escolar, homologada pelo presidente da Fundação de Assistência ao
Estudante (FAE), Adolfo Schuller Neto, no último dia de Chiarelli à frente do
MEC. O novo ministro demitiu Schuller e mandou apurar as irregularidades, além
de propor a Collor a criação de uma comissão interministerial, com
representantes das pastas da Saúde, Ação Social e Educação, para rever o
sistema de compra de alimentos, propondo a descentralização para estados e
municípios. Respondendo a outra denúncia, Goldemberg determinou uma devassa nas
licitações feitas naquele ano pela TV Educativa (TVE), subordinada à Fundação
Roquete Pinto, substituindo o presidente desta Fundação, Frederico Lamachia, e
o diretor da TVE, Leleco Barbosa, que era amigo pessoal do presidente Collor.
Quando
Goldembeg chegou ao MEC, desenrolava-se uma greve de professores das
universidades federais por melhorias salariais que já se prolongava por dois
meses. Chiarelli se recusara a conversar com os professores enquanto eles não
interrompessem a greve. O novo ministro, no entanto, retomou as discussões com
a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES) e criou uma comissão
mista com representantes das secretarias de Administração Federal, da Economia
e da Educação para tentar dar solução ao problema. Ao mesmo tempo, produziu um
projeto de lei que dava um reajuste de 30% em média aos professores. Estes, em
seguida, passaram a fazer novas reivindicações e não interromperam a greve.
Goldemberg então determinou o corte do ponto dos professores e a suspensão do
pagamento. Este conjunto de atitudes terminou levando os professores a voltar
ao trabalho.
José
Goldemberg desempenhou importante papel durante o governo de Collor de Melo,
podendo-se afirmar que serviu mesmo como um coringa, assumindo interinamente,
em 1992, dois ministérios, o da Saúde, entre maio e junho, quando da saída de
Alceni Guerra, e o do Meio Ambiente, a partir de março, no lugar antes ocupado
por José Lutzemberger. Por esse motivo ficou na época conhecido como
“biministro”.
Goldemberg ocupava interinamente a pasta do Meio Ambiente,
quando realizou-se no Rio de Janeiro, em junho, a Conferência das Nações Unidas
para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, conhecida como Eco-92. Ele foi o
único ministro a afirmar que, na prática, o evento tinha apresentado pouco
resultado, afirmação que desagradou ao presidente Collor, que vinha fazendo da
Eco-92 sua principal peça de sustentação da crise que começava a se instalar em
seu governo. Nesse mesmo mês, Goldemberg enfrentou problemas na pasta da
Educação.
A
gerência do projeto dos Ciacs foi transferida para a Secretaria de
Administração, ao mesmo tempo em que se tornavam cada vez mais freqüentes as
tentativas de utilização dos escassos recursos do seu ministério com fins
políticos. Essa situação espefícica era agravada pelo aprofundamento da crise
política do governo Collor, num momento em que se avolumavam as denúncias de
envolvimento do presidente e do ex-tesoureiro de sua campanha, Paulo César
Farias, em caso de enriquecimento ilícito.
Nesse
contexto, Goldemberg mostrou-se cauteloso, afirmando estar perplexo com as
revelações dos jornais. Em julho de 1992, por ocasião da 44ª Reunião da SBPC,
manifestou-se contrário ao pedido de renúncia do presidente feito pela direção
da entidade. Entretanto, com o agravamento das revelações da Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada para apurar o caso, aumentaram as
pressões para a utilização política das verbas do Ministério da Educação por
parte de ministros e parlamentares do PFL. Descontente com essa situação, em
princípios de agosto de 1992, Goldemberg enviou ao presidente sua carta de
demissão na qual alegava motivos pessoais para deixar o governo. Porém, quando
deixou o ministério — no qual foi sucedido pelo deputado federal baiano Eraldo
Tinoco, secretário-geral do PFL —, afirmou que o principal motivo de sua saída
era o fato do governo “estar mais preocupado com sua sobrevivência do que com o
povo brasileiro”.
Ao deixar o governo, retornou ao Instituto de Física da USP,
transferindo-se depois para o Instituto de Eletrotécnica e Energia.
Recebeu os seguintes prêmios: Prêmio pela Contribuição
Excepcional para o Desenvolvimento da Economia Energética e sua Literatura,
pela Associação Internacional da Economia Energética, em 1989; Prêmio Mitchell
para o Desenvolvimento Sustentável, do Center of Growth Studies dos USA, em
1991. Em 1994, a Universidade de Tel Aviv, em Israel, criou, em sua homenagem,
a cadeira José Goldemberg de física atmosférica. Em 1998, tornou-se presidente
da World Energy Assessment.
Em 2000, recebeu o prêmio Volvo de Meio Ambiente, oferecido
pela Asahi Glass Foundation, considerado uma das maiores instituições de
pesquisa ligadas à área de meio ambiente.
No ano de 2002, durante a gestão de Geraldo Alckmin, foi nomeado
secretário de Meio Ambiente do estado de São Paulo. Permaneceu no cargo até 1°
de janeiro de 2007, que chegou ao fim o mandato de Alckmin.
Entre os anos de 2005 e 2007, tornou-se membro do projeto Basic,
da Universidade de Sussex, Inglaterra. Este projeto era uma iniciativa não
governamental, apoiada pela União Européia, que visava aumentar a capacidade de
negociação dos países e elaborar soluções para problemas relacionados às
mudanças no clima. Em 2006, participou como co-presidente do projeto
internacional Global Energy Assessment, do International Institute for
Applied Systems Analysis, na Áustria.
Em 2008, tornou presidente do Conselho de Estudos Ambientais
da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). Novamente
recebeu um prêmio oferecido pela Asahi Glass Foundation. Desta vez foi a
condecoração Planeta Azul, destinada ao nome que se destacou em
pesquisas ligadas à soluções ambientais. Esta condecoração é considerada o
Prêmio Nobel de Meio Ambiente.
No ano seguinte participou da Conferência Internacional Ethos
2009. Na plenária, Oportunidades Geradas pela Busca por uma Matriz
Energética Mais Sustentável, criticou as medidas no governo brasileiro de
continuar investindo em energia nuclear.
Publicou diversos trabalhos em revistas científicas, como
autor e co-autor. Dentre as suas principais publicações estão os livros: World
Energy Assessment (2000) e Energy for Sustainable Development
(2002).
Casou-se
com Penina Tessler. Com o falecimento desta, contraiu segundas núpcias com
Teresinha Maria Goldemberg. Teve quatro filhos.
Maria
Carmina Monteiro/Elizabeth Dezouzart Cardoso
FONTES: CURRIC.
BIOG.; CURRIC. Lattes CNPq; Época (27/6/08); Estado de S.
Paulo (21/8, 27/8, 4/9 e 6/91, 10/3, 5/5, 2/6, 13/7, 15/7, 4, 5 e 18/8/92,
16/2/09); Folha de S. Paulo (23 e 28/8/91, 30/6, 5 e 9/8/92); Globo
(23, 24 e 30/8, 6 e 20/9/91, 4 e 5/8/92); INF. BIOG.; Jornal do Brasil
(22/8 e 15/9/91, 27 e 31/3, 31/5, 14, 15 e 30/6, 15/7, 4 e 6/8/92).