GUEDES,
Carlos Luís
*militar; rev. 1964; comte. II Ex. 1966.
Carlos Luís Guedes nasceu
em São João del Rei (MG) no dia 21 de julho de 1905, filho do comerciante
Carlos Luís Guedes e de Alice Guadalupe Guedes.
Depois de fazer o curso secundário no Colégio Militar de
Barbacena, sentou praça em fevereiro de 1923 na Escola Militar do Realengo, no
Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Tendo optado pela arma de infantaria,
foi declarado aspirante em dezembro de 1925 e no mês seguinte recebeu a patente
de segundo-tenente. Primeiro-tenente em janeiro de 1928, encontrava-se no 8º
Regimento de Infantaria (8º RI), sediado em Cruz Alta (RS), quando eclodiu o
movimento revolucionário de 1930 que depôs o presidente Washington Luís
(24/10/1930) e entregou a chefia do Governo Provisório ao líder civil do
movimento, Getúlio Vargas (3/11/1930). Carlos Luís Guedes aliou-se, no
episódio, às forças insurgentes.
Em
fevereiro de 1933 recebeu a patente de capitão e, com o início da Segunda
Guerra Mundial, em 1939, assumiu o comando de uma unidade de vigilância do
litoral. Promovido a major em outubro de 1942 e a tenente-coronel em julho de
1947, no ano seguinte foi designado para a chefia de seção do Serviço Militar
da 4ª Região Militar (4ª RM), sediada em Juiz de Fora (MG). Coronel em abril de
1952, passou a comandar o 12º RI, também sediado em Juiz de Fora.
Posteriormente comandou o 20º Batalhão de Caçadores (20º BC), em Maceió e,
depois de promovido a general-de-brigada em março de 1960, passou a comandar a
guarnição da nova capital federal, Brasília, inaugurada em abril seguinte.
Em
1961 voltou a Minas Gerais para comandar a Infantaria Divisionária da 4ª RM
(ID-4), em Belo Horizonte. Encontrava-se no comando da ID-4 quando o presidente
Jânio Quadros apresentou sua renúncia, no dia 25 de agosto de 1961. A renúncia
de Quadros suscitou nos meios civis e militares uma grave dissensão relativa à
posse do vice-presidente João Goulart, que chegou a ser vetada pelos três
ministros militares de Jânio. Carlos Luís Guedes apresentou-se como um dos
principais opositores da entrega do governo a Goulart, que acabou por se
consumar em 7 de setembro, graças à aprovação, no dia 2, da Emenda
Constitucional nº 4, que transformou em parlamentarista o regime de República,
reduzindo os poderes do Executivo e ampliando os do Congresso.
Após a realização do plebiscito que aprovou a volta ao regime
presidencialista, em janeiro de 1963, e em vista do compromisso assumido pelo
presidente com a execução das chamadas reformas de base e da crescente
mobilização de diferentes setores de trabalhadores, aumentou a preocupação dos
setores conservadores, civis e militares, com os rumos tomados pelo governo. O
estado de Minas Gerais, graças ao apoio do governador José de Magalhães Pinto,
tornou-se o principal reduto conspiratório do país. Carlos Luís Guedes,
juntamente com o general Olímpio Mourão Filho, que ocupava desde 1963 o comando
da 4ª RM, foi um dos principais expoentes da conspiração para a derrubada do
governo. De acordo com seu próprio depoimento, em janeiro de 1964, quando
respondia pelo comando da 4ª RM em virtude das férias do general Mourão,
reuniu-se com uma comissão composta pelos principais representantes do
empresariado mineiro, que reclamavam uma intervenção militar que assegurasse a
legalidade, ameaçada, segundo eles, pelo próprio presidente da República. No
mês seguinte recebeu outra comissão, dessa vez composta por médicos, que lhe
entregaram um manifesto também conclamando as forças armadas a tomarem alguma
atitude que pusesse fim aos “desmandos da situação”.
Na época, Carlos Luís Guedes, ainda de acordo com seus
depoimentos, já se encontrava em permanentes contatos com o governador
Magalhães Pinto, o comandante da Polícia Militar mineira, coronel José Geraldo
de Oliveira, e com o general Mourão Filho, além de manter contato com oficiais
norte-americanos. Por isso, começaram a ter curso pressões para sua
substituição pelo general Nairo Vilanova Madeira, oficial pró-Goulart, no
comando da ID-4, o mesmo acontecendo com o comandante da Polícia Militar. Não
obstante, tais substituições nunca chegaram a se efetuar, dado o apoio que os
dois comandantes recebiam de seus subordinados.
O
comício realizado por João Goulart no dia 13 de março, na estação da Central do
Brasil, no Rio, e a Revolta dos Marinheiros no final daquele mês, colocaram
para os líderes da conspiração a urgência do levante. Assim, no dia 28 de
março, Carlos Luís Guedes reuniu-se em Juiz de Fora com o marechal Odílio
Denis, o general Mourão Filho, o coronel José Geraldo de Oliveira e o
governador Magalhães Pinto. Conforme registram suas memórias, dessa reunião
resultou a decisão de marcar a data da sedição para o dia 30 seguinte, à
revelia do general Humberto Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército,
e contra a opinião do general Mourão Filho, que acreditava que naquele momento
havia grandes possibilidades de derrota. Porém, sem apoio do comandante da 4ª
RM, o levante tornava-se inviável, e foi só na madrugada do dia 31, depois de
ter sido procurado pelo deputado federal José Maria Alkimin, que Mourão Filho
decidiu iniciar o movimento. Às seis horas da madrugada do dia 31, Mourão Filho
telefonou para Carlos Luís Guedes autorizando a mobilização das tropas da ID-4
e da Polícia Militar do estado.
Minas Gerais levantou-se com 20 mil soldados da sua Polícia
Militar e mais as tropas do Exército, chefiadas pelos dois generais que,
seguindo para o Rio de Janeiro, acabaram por receber a adesão dos governadores
da Guanabara, Carlos Lacerda, de São Paulo, Ademar de Barros, do Paraná, Nei
Braga, e do Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti. Depois de chegar ao Rio, onde
conseguiu controlar a situação com rapidez, Carlos Luís Guedes seguiu com suas
tropas para Brasília.
Vitorioso o movimento, a chefia do governo foi entregue ao
presidente da Câmara dos Deputados, Pascoal Ranieri Mazzilli, embora o poder de
fato tenha ficado nas mãos do autonomeado Comando Supremo da Revolução,
composto pelo general Artur da Costa e Silva, o brigadeiro Francisco Correia de
Melo e o almirante Augusto Rademaker. Alguns dias depois, o comando, através da
decretação do Ato Institucional nº 1 (AI-1), determinou que se realizasse
dentro de dois dias eleição indireta para a presidência da República que, desse
modo, foi entregue ao marechal Castelo Branco no dia 15 de abril.
Carlos
Luís Guedes foi promovido a general-de-divisão em julho de 1964 e, em seguida,
passou ao comando da 2ª RM, em São Paulo. Em agosto de 1966, em decorrência da
exoneração do comandante do II Exército, também sediado em São Paulo, general
Amauri Kruel — que acusava o governo de violar os princípios democráticos da
revolução —, foi indicado para substituí-lo interinamente, tendo assumido o
comando do II Exército no dia 10 de agosto. Em dezembro, passou o cargo para o
novo titular, general Jurandir de Bizarria Mamede.
Em 1967, já durante o governo do marechal Artur da Costa e
Silva, passou a diretor de Artilharia da Costa e Artilharia Antiaérea. Em
agosto de 1969 foi transferido para a reserva como general-de-exército. A
partir de então dedicou-se às atividades empresariais, como vice-presidente da
Valeriza, companhia de exploração de minérios.
Ainda em agosto, em decorrência de grave enfermidade que
acometeu o presidente Costa e Silva, foi constituída, através da divulgação do
AI-12, uma junta militar — integrada pelos ministros Aurélio Lira Tavares, do
Exército, Augusto Rademaker, da Marinha, e Márcio de Sousa e Melo, da
Aeronáutica que assumiu a chefia da nação. A decisão da constituição da junta
configurou o predomínio da corrente militar que advogava um maior fechamento do
regime como solução para a crise político-institucional que se havia instalado
no país, preterindo, deste modo, o vice-presidente Pedro Aleixo, impedido de assumir
a presidência, conforme previa a Constituição. A partir do episódio, Pedro
Aleixo retirou seu apoio ao governo, passando a se empenhar na organização do
Partido Democrático Republicano (PDR), com o objetivo de romper o
bipartidarismo então vigente. Em 1971, Carlos Luís Guedes reuniu-se ao
ex-vice-presidente na tentativa de organizar o PDR, do qual tornou-se
presidente de honra, ainda que o partido nunca tenha chegado a se constituir
legalmente, uma vez que não conseguiu atender às severas exigências para obter
o registro. Sua filiação ao PDR jamais foi admitida por ele como expressão de
seu descontentamento para com os rumos tomados pelo movimento de 1964, ainda
que, segundo seus próprios depoimentos, tal descontentamento tenha ocorrido
logo após a deposição de Goulart.
Faleceu em Londres, no dia 25 de junho de 1976, vítima de um
acidente de trânsito.
Foi casado com Odete de Oliveira Guedes, com quem teve sete
filhos.
Escreveu Tinha que ser Minas (1979), narrativa daquilo que
afirmou ser a verdadeira história do movimento político-militar de 1964 e que,
embora concluído em 1971, foi publicado postumamente.
FONTES: BANDEIRA,
L. Governo; CACHAPUZ, P. Cronologia; CARNEIRO, G. História; CONSULT. MAGALHÃES,
B.; Correio da Manhã (30/3/66); Folha de S. Paulo (11/1/77); Globo (26/6/76 e
31/10/79); Jornal de Brasília (23/9/77); Jornal do Brasil (26/6/76); MIN.
GUERRA. Almanaque (1958); SILVA, H. 1964; SOC. BRAS. EXPANSÃO COMERCIAL. Quem
(1964); Veja (30/6/76); VIANA FILHO, L. Governo; VÍTOR, M. Cinco.