HERNANDES, Clodovil
* dep. fed. SP 2007-2009.
Clodovil Hernandes nasceu em Elisário (SP) no dia 17 de junho de 1937. Foi adotado por Domingos Hernandes e de Izabel
Sanches Hernandes, casal de imigrantes espanhóis, sem nunca ter conhecido seus
pais verdadeiros.
Na infância, foi educado por padres católicos em um colégio
interno. Iniciou sua carreira de estilista aos 16 anos, desenhando vestidos
comprados pela gerente de uma loja no centro de São Paulo. Mudou para a capital
paulista aos 20 anos e aí construiu uma sólida carreira de estilista na década
de 1960. Conquistou como clientes personalidades como a cantora Elis Regina, a atriz Cacilda Becker e as famílias Diniz e Matarazzo. Juntamente com seu colega Dener
Pamplona de Abreu, foi um dos pioneiros da “alta-costura” ou da “moda de
ateliê” no Brasil, num período em que a alta sociedade importava a moda
parisiense. Os dois estilistas alimentavam na mídia uma aberta rivalidade,
interpretada por alguns profissionais da moda como uma jogada de marketing
para autopromoção. Além da alta-costura, Clodovil lançou coleções prêt-à-porter,
usando tecidos menos nobres e conquistando o mercado popular. Nos inúmeros programas
de televisão de que participou, seja como entrevistado, seja como apresentador,
defendeu a idéia de que a consciência estética não depende da condição social
ou econômica.
Destacou-se em 1976, ao ganhar o prêmio máximo no programa de
perguntas 8 ou 800?, da Rede Globo, respondendo questões sobre Dona Beja.
Participou, em 1979, da novela Marron-Glacé, exibida pela mesma emissora.
No ano seguinte, estreou um quadro no programa TV Mulher, também da Rede
Globo, no qual desenhava modelos exclusivos, atendendo aos pedidos das
telespectadoras. O programa era comandado por Marília Gabriela e contava com
participações como a do psicanalista Eduardo Mascarenhas e da então sexóloga
Marta Suplicy. Em 1983 iniciou o Programa Clodovil, na TV Bandeirantes.
Também trabalhou como ator, tendo estreado em 1981 no espetáculo teatral Seda
pura e alfinetadas e montado, em 1987, a peça Sabe quem dançou?.
No início da década de 1990 passou a dedicar-se
preferencialmente à televisão, deixando em suspenso a carreira de estilista. Em
1992 foi contratado pela Rede Manchete para apresentar o programa Clodovil
abre o jogo. Em 1998 passou a apresentar Clodovil Soft, na TV
Bandeirantes. Em maio de 2001 integrou a equipe apresentadora da emissão Mulheres,
na TV Gazeta, ao lado de Cristina Rocha. Dois anos depois, foi contratado pela
Rede TV para comandar o programa A casa é sua. Polemista, conhecido por suas declarações controversas, foi alvo de diversos processos judiciais. Em
março de 2004, ao entrevistar o cantor Agnaldo Timóteo, que se queixava de ser
impedido pelos fiscais municipais de vender seus CDs no centro de São Paulo,
afirmou: “Tem que vender disco na rua (...) Ele vai fazer o quê? Ele vai fazer
o que todo crioulo faz no Brasil? Vai virar ladrão, bandido ou o quê?”. Diante
dessa intervenção, a vereadora Claudete Alves da Silva Sousa, do Partido dos
Trabalhadores (PT), entrou com uma representação contra o apresentador no
Ministério Público, por racismo. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo,
indagado a respeito do caso, Clodovil disparou: “Aposto que essa vereadora é
uma macaca de tailleur metida a besta”. Pela declaração, foi condenado a pagar indenização por danos morais. Em janeiro de 2005, foi demitido da Rede
TV após desentendimento com os humoristas do programa Pânico na TV.
Nesse ano realizou uma cirurgia para a remoção de um tumor na próstata.
Em 2006 elegeu-se deputado federal por São Paulo na legenda
do Partido Trabalhista Cristão (PTC), tendo sido o terceiro mais votado no estado,
com 493.951 votos. Diante da eleição de um homossexual assumido para a Câmara
dos Deputados, Luiz Mott, antropólogo e dirigente do Grupo Gay da Bahia,
divulgou uma carta aberta a Clodovil Hernandes, convidando-o a ser um
representante na Câmara do movimento gay. Para prestigiar sua posse, em
fevereiro de 2007, uma caravana com 50 ônibus com representantes do movimento
gay dirigiu-se a Brasília. O apresentador, entretanto, não atendeu aos apelos
que lhe foram dirigidos, abstendo-se de atuar como defensor das reivindicações
do movimento Gay, Lésbicas, Bissexuais e Travestis (GLBT).
Ainda em 2007, migrou para o Partido da República (PR). Em
maio, protagonizou outra polêmica, ao afirmar no plenário da Câmara que as
mulheres haviam se tornado muito “ordinárias, vulgares, cheias de silicone”, e
na atualidade “trabalham deitadas e descansam em pé”. Diante do pedido de explicações da deputada Cida Diogo, do PT, que se sentiu afrontada
pela declaração, respondeu que ela não deveria ofender-se por ser uma “mulher
feia”, que não tinha condições de se prostituir. Dias depois, divulgou uma nota desculpando-se e reconhecendo ter expressado “pensamentos polêmicos” a
respeito das mulheres, embora não tivesse a intenção de ofendê-las.
A despeito de sua atuação controversa como deputado federal,
Clodovil foi objeto de declarações elogiosas por parte de colegas de plenário.
O então líder do Senado, Artur Virgílio, do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), afirmou a seu respeito: “Ele é uma pessoa muito sincera,
verdadeira, de boa fé. É uma figura ímpar.” Michel Temer, do Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), então presidente da Câmara dos
Deputados, declarou: “Foi uma passagem de muita presença porque ele é uma
figura de muita personalidade e às vezes também gera muitas contestações. Mas,
ao mesmo tempo em que foi uma atuação de muita personalidade, também teve uma
atuação muito suave no que diz respeito às relações e à amizade, inclusive
comigo.”
Na Câmara dos Deputados, participou das comissões de Direitos
Humanos e Minorias, de Educação e Cultura e de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional. Foi suplente da Comissão de Seguridade Social e Família.
Faleceu no dia 17 de março de 2009, aos 71 anos, em Brasília,
em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), seguido de parada
cardíaca. Seu corpo foi velado no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo e sepultado no Cemitério do Morumbi, na capital paulista.
Mariana
Joffily
FONTES:
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Câmara dos Deputados, <www.camara.gov.br>, acesso em jul. 2009.
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semana: Clodovil e seu gabinete”, 26/04/2007,
<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EDG77029-6001,00.html>, acesso em jul. 2009.
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<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u535756.shtml>, acesso em jul. 2009.
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<http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3640479-EI6578,00-Clodovil+foi+um+gay+alienado+diz+Luiz+Mott.html>, acesso em jul. 2009.