AMADO,
Jorge
*jornalista; const.
1946; dep. fed. SP 1946-1948.
Jorge Leal Amado de Faria nasceu
na fazenda Auricídia, em Ferradas, no município de Itabuna (BA) — embora conste
no registro civil como nascido em Ilhéus (BA) —, no dia 10 de agosto de 1912,
filho de João Amado de Faria, um dos desbravadores da região cacaueira, e de
Eulália Leal Amado. Sua família produziu uma série de escritores, entre os
quais seu irmão, James Amado, e seus primos Genolino, Gildásio e Gílson Amado.
Era também seu primo Gilberto Amado, jornalista, deputado federal por Sergipe
de 1915 a 1917 e de 1921 a 1926, senador de 1927 a 1930 e embaixador do Brasil no Chile, de 1936 a 1937, e na Itália, de 1939 a 1942.
Com apenas um ano de idade Jorge Amado seguiu com a família
para Ilhéus, onde passou a infância em meio a um ambiente de lutas pela posse
da terra, que mais tarde viria a influenciá-lo na produção de algumas obras
literárias. Recebendo em casa a instrução primária, aos dez anos passou a escrever
no jornalzinho da cidade, A Luneta. Em 1923 ingressou como
interno no Colégio Antônio Vieira, em Salvador, de padres jesuítas, mas em 1926
fugiu e foi para a casa do avô, em Itaporanga (SE). Alguns meses depois
retornou a Salvador para continuar os estudos, agora no Ginásio Ipiranga, onde
foi contemporâneo de Adonias Filho e de Rômulo de Almeida.
Participou
em seguida da Academia dos Rebeldes, movimento liderado por João Amaro Pinheiro
Viegas em defesa de uma literatura brasileira com sentido universal e contrário
à Semana de Arte Moderna, cujo espírito renovador, entretanto, aceitava. Em
1927 dirigiu a revista A Pátria, do Ginásio Ipiranga, e fundou com os
irmãos Imbassay o jornal A Folha, de oposição à diretoria do grêmio
literário da escola. Nesse mesmo ano fez sua estréia literária na revista A
Luva, publicando um pequeno poema modernista, e iniciou sua carreira
profissional como repórter no Diário da Bahia.
Ligado ao movimento modernista baiano, passou a colaborar em
1928 nas revistas Samba, Meridiano e A Semana. No ano seguinte
foi colaborador em O Momento e no suplemento literário de O
Jornal — órgão vinculado à campanha da Aliança Liberal —, no qual
lançou em co-autoria com Édison Carneiro e Osvaldo Dias Costa a novela em fascículos Lenita. Nesse período, colaborou ainda com o Diário de Notícias,
A Gazeta de Notícias e o Correio do Povo.
Em 1930 mudou-se para o Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, e no ano seguinte matriculou-se na Faculdade de Direito da
Universidade do Rio de Janeiro, onde travou conhecimento com Otávio de Faria e
Almir de Andrade. Também em 1931, contando apenas 19 anos, publicou seu
primeiro romance, O país do Carnaval. Em 1932 escreveu seu
segundo romance, Rui Barbosa número dois, que desistiu de publicar, e
integrou-se à Juventude Comunista, setor do Partido Comunista Brasileiro —
então Partido Comunista do Brasil (PCB) — voltado para o meio estudantil,
tornando-se então amigo de Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Ainda em 1932
retornou a Ilhéus, entrando de novo em contato com a realidade humana e social
da região cacaueira. Dessa sua experiência, aliada à leitura de autores
estrangeiros expoentes da tendência literária conhecida como realismo socialista,
resultou o polêmico romance Cacau, que foi publicado em 1933 mas teve a
edição apreendida.
De volta ao Rio, tornou-se, também em 1933, redator-chefe da
revista Rio Magazine. No ano seguinte foi eleito membro do comitê
dirigente da Juventude Comunista e começou a trabalhar na Editora José Olímpio.
Em 1935 concluiu o curso universitário, mas jamais chegaria a exercer a
advocacia.
Filiado à Aliança Nacional Libertadora (ANL), foi redator de A
Manhã, um dos principais órgãos de divulgação do programa e das atividades
daquela organização. Fundada oficialmente em 12 de março de 1935, a ANL constituiu uma frente ampla de composição variada contra o fascismo, o latifúndio, o
imperialismo e a miséria, congregando elementos dos mais diferentes escalões
sociais, desde operários até militares.
Participou também do corpo editorial da revista Movimento,
editada pelo Centro de Cultura Moderna, que, juntamente com a Liga de
Defesa da Cultura Popular e a União Feminina do Brasil, teve sua criação
inspirada na ANL. De modo geral, as publicações de interesse cultural ligadas
àquela organização reproduziam artigos publicados pela imprensa antifascista
européia. A ANL foi posta na ilegalidade em julho de 1935, mas continuou
funcionando principalmente pela ação dos comunistas liderados por Luís Carlos
Prestes. Após a tentativa de insurreição, em novembro de 1935, prontamente
derrotada pelas forças governistas, Jorge Amado foi acusado de subversão na
onda repressiva que se seguiu.
Durante quase todo o ano de 1937 viajou pelo México — onde
proferiu conferências sobre literatura brasileira e política — e pelos Estados
Unidos. Regressou ao Brasil em 2 de novembro e logo em seguida recebeu a
comunicação de que seu romance Capitães de areia, que acabara de ser
lançado, fora apreendido em todo o país e queimado. No dia 6 de novembro foi
preso em Manaus e enviado para o Rio de Janeiro, onde, após ter sido submetido
a interrogatórios, foi posto em liberdade.
A partir de 10 de novembro de 1937, quando foi instaurado o
Estado Novo, e até 1943, seus livros já editados seriam retirados de
circulação. De 1938 a 1939 foi redator-chefe de Dom Casmurro e neste
último ano passou a trabalhar na revista Diretrizes, que em 1940 começou
a publicar em capítulos a biografia de sua autoria ABC de Castro
Alves. A publicação foi suspensa por ordem da polícia no terceiro número.
Após seguidas prisões, viajou novamente para o exterior e
viveu de 1941 a 1942 no Uruguai e na Argentina, onde escreveu a biografia de
Luís Carlos Prestes, O cavaleiro da esperança, publicada neste
último ano. Posteriormente morou na França e em seguida na União Soviética. Ao
voltar ao Brasil foi detido e, em outubro de 1943, após três meses de prisão,
obteve liberdade, condicionada, todavia, pela obrigatoriedade de permanecer na
Bahia. Ainda em 1943 tornou-se cronista do “Diário da Guerra” em O Imparcial .
Mesmo durante o Estado Novo, visitou comunistas presos na
ilha Grande e entrevistou-se com Prestes na prisão no primeiro dia do
rompimento de sua incomunicabilidade. Em 1945 foi delegado da Bahia e um dos
vice-presidentes do I Congresso Brasileiro de Escritores, promovido pela
Associação Brasileira de Escritores. Esse congresso, realizado em São Paulo de 22 a 27 de janeiro, reuniu expressivo número de intelectuais de diversas
tendências políticas e emitiu declaração em favor da democracia e das
liberdades públicas, numa contundente tomada de posição contra o Estado Novo.
Nessa ocasião Jorge Amado transferiu-se para São Paulo, onde passou a dirigir o
diário Hoje, ao lado de Clóvis Graciano e Caio Prado Júnior.
Com a desagregação do Estado Novo e a legalização do PCB, foi
eleito nessa legenda, no pleito de dezembro de 1945, deputado por São Paulo à
Assembléia Nacional Constituinte. Assumiu o mandato em fevereiro de 1946 e
assinou, juntamente com Prestes e os demais parlamentares comunistas, os 15
pontos apresentados pelo PCB à Constituinte dentro de seu Programa Mínimo de
União Nacional. Esse programa defendia, entre outros pontos, a proteção aos
pequenos fazendeiros e industriais, a autonomia dos municípios e do Distrito
Federal, a unificação da Justiça e a ampliação do direito de voto aos
analfabetos, soldados e marinheiros, e se opunha ao trabalho do menor e ao
estabelecimento do estado de sítio preventivo, aceitando-o apenas “em caso de
agressão estrangeira”. Nesse período foi ainda membro da Comissão de
Indicações. Com a promulgação da nova Carta em 18 de setembro de 1946, passou a
exercer o mandato ordinário, participando como membro efetivo da Comissão de
Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.
Em maio de 1947 o PCB foi colocado na ilegalidade. Em
decorrência dessa medida, assim como os demais parlamentares comunistas, Jorge
Amado teve seu mandato cassado em janeiro de 1948. Nesse mesmo ano exilou-se
mais uma vez, fixando residência em Paris e depois em Praga, na
Tchecoslováquia. Em 1952 retornou ao Brasil.
Em
1954 foi eleito vice-presidente da União Brasileira, e em 1955 escreveu o
argumento do filme O solar dos azulejos, a ser realizado em Berlim, na
Alemanha Ocidental, pelo cineasta Alberto Cavalcanti. Em 1956 fundou o jornal
de arte e literatura Para Todos, que dirigiria até 1958, quando deixou
de ser publicado. Ainda em 1956, após a divulgação pública do relatório de
Nikita Kruschev ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS),
em que o líder comunista denunciou os crimes cometidos por Josef Stalin, Jorge
Amado apoiou os militantes do PCB que acusaram a direção do partido de omissão
diante das revelações soviéticas.
Em
julho de 1960, juntamente com o escritor e médico Peregrino Júnior, organizou o
I Festival do Escritor Brasileiro. Na ocasião conseguiu que o governo federal
decretasse o dia 25 de julho, data da realização do evento, como o Dia do
Escritor. Em 1961 tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras.
Após a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República
(25/8/1961), engajou-se no movimento pela posse do vice-presidente João
Goulart, vetada pelos ministros militares, e assinou, juntamente com centenas
de outros intelectuais, um manifesto de apoio aos parlamentares que resistiam
no Legislativo às pressões golpistas. Goulart acabou assumindo a presidência em
7 de setembro de 1961, já sob o regime parlamentarista.
Na década de 1980 Jorge Amado passou a morar definitivamente
em Paris, quando foi convidado a assumir as funções de embaixador da cultura brasileira
junto ao governo francês. Ao participar da inauguração da exposição
comemorativa do 50º aniversário de sua carreira literária, em julho de 1982,
defendeu o socialismo com liberdade e firmou posição em favor da convocação de
uma assembléia nacional constituinte. Em 1986 tomou posse na Academia Baiana de
Letras. Mantendo-se sempre atento à política brasileira, nunca deixou de emitir
sua opinião nos principais momentos de mudança ou nas crises nacionais. Em
1993, por ocasião do plebiscito em que se decidiu a manutenção do
presidencialismo como forma de governo, declarou seu voto a favor do
parlamentarismo, manifestando preocupação com a fragilidade partidária
brasileira e com as políticas governamentais que perpetuam a pobreza no país.
Jorge
Amado tornou-se um dos escritores brasileiros mais famosos, com obras
publicadas em mais de 60 países e traduzidas em 46 idiomas. Seus romances e
novelas foram adaptados com freqüência para cinema, teatro, televisão e rádio.
Recebeu inúmeros prêmios e condecorações, entre os quais se destacam o Prêmio
Internacional Stalin (Rússia, 1951), o Prêmio Internacional Dimitrov (Bulgária,
1986) e a comenda da Legião de Honra (França, 1985). Ao longo da vida tornou-se
membro de diversas academias nacionais e internacionais, associações e
conselhos, e participou de grande número de congressos de escritores e
intelectuais.
Faleceu em Salvador no dia 5 de agosto de 2001.
Teve uma filha do primeiro casamento. Contraiu segundas
núpcias com Zélia Gattai Amado, também escritora, com quem teve dois filhos.
Além das obras já citadas, publicou Suor (romance,
1934), Jubiabá (romance, 1935), Mar morto (1936), A estrada do
mar (poesia, 1938), Philadelpho (comédia teatral, 1940), Terras
do sem fim (romance, 1943), São Jorge dos Ilhéus (romance, 1944),
Bahia de Todos os Santos (guia turístico e literário, 1945), Seara
Vermelha (romance, 1946), O amor de Castro Alves (teatro, 1947),
O mundo da paz (relato de viagens, 1951), Os subterrâneos da liberdade (romance,
1954), Gabriela cravo e canela (romance, 1958), De como o mulato
Porciúncula descarregou seu defunto (novela, 1959), A morte e a morte de
Quincas Berro d’Água (novela, 1961), Os velhos marinheiros (novela,
1961), Brandão entre o mar e o amor (em co-autoria, 1961), Os
pastores da noite (romance, 1964), Dona Flor e seus dois maridos (romance,
1966), Tenda dos milagres (romance, 1966), Teresa Batista cansada de guerra (romance, 1972), Gato Malhado e andorinha Sinhá
(novela infantil, 1976), Tieta do Agreste (romance, 1977), Farda,
fardão, camisola de dormir (1979), O menino grapiúna (1980),
Tocaia grande (romance, 1984), O sumiço da santa (romance, 1988),
Navegação de cabotagem — apontamentos de uma autobiografia que jamais
escreverei (1992), A descoberta da América pelos turcos (romance,
1994).
A seu respeito foram publicados os livros Jorge Amado,
vida e obra (1960), de Miécio Táti, Jorge Amado, 30 anos de literatura (1961),
Jorge Amado (1964), de Alexandre Pinheiro Torres, Jorge Amado:
política e literatura (1979), de Alfredo Wagner Berno de Almeida, e Jorge
Amado, 80 anos de vida e obra (1992), de Rosane Rubim e Maried Carneiro.
FONTES:
ACAD.
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