LOPES, Machado
*militar; interv. CE 1946-1947; comte. III
Ex. 1961; ch. Depto. Prov. Ger. Ex. 1961-1962; ch. EME 1962-1963.
José Machado Lopes nasceu
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 13 de maio de 1900, filho de
José Lopes e de Elisa Machado Lopes.
Cursou o primário em escola pública na sua cidade e o
secundário no Colégio Militar de Barbacena, em Minas Gerais. Em dezembro de 1918 sentou praça, ingressando na Escola Militar do Realengo, no
Rio de Janeiro, e em março de 1921 matriculou-se no curso de engenharia dessa
escola. Saindo aspirante-a-oficial em janeiro do ano seguinte, em abril de 1922
foi promovido a segundo-tenente, sendo designado para a 1ª Companhia
Ferroviária, sempre no Rio.
No dia 5 de julho de 1922, eclodiu a revolta militar que
marcou o início do chamado movimento tenentista, que iria perdurar por toda a
década de 1920. Jovens oficiais — na sua maioria tenentes — tomaram armas no
Rio de Janeiro e em Mato Grosso, em protesto contra a eleição de Artur
Bernardes à presidência da República e as punições impostas pelo governo
Epitácio Pessoa aos militares com o fechamento do Clube Militar e a prisão do
marechal Hermes da Fonseca. A revolta foi debelada no mesmo dia, tendo
envolvido, no Rio, o forte de Copacabana, a Escola Militar e efetivos da Vila
Militar e, em Mato Grosso, o contingente do Exército local. Machado Lopes
combateu os revoltosos, defendendo a legalidade, postura que manteve ao longo
de toda sua carreira militar — e, em conseqüência, recebeu elogios do Congresso
e dos generais Manuel Lopes Carneiro da Fontoura e Alfredo Ribeiro da Costa. Em
agosto de 1922, foi designado diretor da Escola Regimental do 5º Batalhão de
Engenharia, situado em Curitiba, e em junho do ano seguinte foi promovido a
primeiro-tenente.
Foi transferido para o 1º Batalhão Ferroviário em Santo Ângelo (RS) em fevereiro de 1924 e ainda servia nessa guarnição quando irrompeu, no mês
de outubro, uma revolta de jovens oficiais, encabeçada pelo capitão Luís Carlos
Prestes. Machado Lopes colocou-se contra o levante, sendo feito prisioneiro
pelos revoltosos. Mais tarde foi libertado e, em novembro de 1924,
apresentou-se ao comando da 3ª Brigada, em Cruz Alta (RS), já que sua unidade havia aderido ao movimento. O agrupamento rebelde do Rio Grande do Sul uniu-se em
abril de 1925 a outro de São Paulo, que se havia sublevado em julho de 1924,
dando origem à chamada Coluna Prestes.
A partir de março de 1926, Machado Lopes integrou a Comissão
da Carta Geral do Brasil, na guarnição de Porto Alegre. Em fevereiro de 1928
entrou para a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e em janeiro do ano
seguinte tornou-se professor da Escola Militar do Realengo, operando como
comandante da Companhia de Engenharia Militar daquela unidade de ensino.
Promovido a capitão em fevereiro de 1929, em maio de 1932 foi designado
instrutor da Escola de Aviação Militar. Mais tarde, em fevereiro de 1935,
ingressou na Escola de Estado-Maior do Exército, no Rio de Janeiro. Em novembro
deste último ano, quando eclodiu no Rio o Levante Comunista, combateu de armas
nas mãos os revoltosos que haviam tomado o 3º Regimento de Infantaria, situado
na praia Vermelha. Foi promovido a major em setembro de 1936 e em dezembro do
ano seguinte, havendo completado o curso de estado-maior, foi designado
estagiário no Estado-Maior do Exército (EME). Seis meses depois, foi nomeado
chefe da 3ª Seção do estado-maior da 1ª Região Militar (1ª RM), no Rio de
Janeiro.
Transferido para a 5ª RM, sediada em Curitiba, em janeiro de
1939, três meses depois viajou aos Estados Unidos, à disposição do chefe do
EME, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro. Em agosto de 1939 assumiu a
subchefia da Escola Militar do Realengo e, cinco meses mais tarde, foi nomeado
instrutor-chefe da cadeira de engenharia da escola. Promovido a tenente-coronel
em agosto de 1940, em janeiro do ano seguinte foi transferido para a 8ª RM, em
Belém, onde ocupou a chefia do estado-maior. Em março de 1942 foi nomeado
comandante do 1º Batalhão de Pontoneiros, sediado em Itajubá (MG). Transferido
para o EME em abril de 1943, serviu na 3ª Seção até abril de 1944, quando
assumiu o comando do 9º Batalhão de Engenharia, que se integrou à Força
Expedicionária Brasileira (FEB), organizada para participar da Segunda Guerra
Mundial, combatendo na Itália ao lado das nações aliadas. Promovido a coronel
no mês de junho, a partir de outubro de 1944, já na Itália, foi chefe do
serviço de engenharia da FEB, exercendo o cargo cumulativamente com o comando
do 9º Batalhão de Engenharia. Participou do ataque a Monte Castelo, em
fevereiro de 1945, uma das mais importantes batalhas travadas pelas forças
brasileiras na campanha da Itália. Na ocasião designou duas das companhias de
seu batalhão para a conservação e restabelecimento das condições de uso das
estradas próximas, particularmente a de Gaggio-Le Roncole-Abetaia, enquanto
outra, acompanhando o ataque do Regimento Sampaio, levantou as minas que
impediam o livre acesso dos tanques norte-americanos. Ao fim da guerra, em maio
de 1945, retornou ao Brasil no navio Pedro II como comandante do escalão
da FEB a bordo.
No ano seguinte, entre maio e outubro, esteve à disposição da
Diretoria de Engenharia do Exército, como interventor da Leopoldina Railway Co.
Ltd. Em outubro de 1946 foi nomeado pelo presidente da República Eurico Gaspar
Dutra interventor federal no Ceará, substituindo Pedro Firmeza. Esteve no cargo
apenas até janeiro de 1947, quando o transmitiu ao governador eleito Faustino
de Albuquerque e Sousa. Entre setembro de 1947 e setembro de 1950, exerceu as
funções de diretor da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. A partir de
setembro de 1951 esteve à disposição do EME e em maio de 1952 foi promovido a
general-de-brigada. Nessa época, durante o impedimento do ministro Tristão de
Alencar Araripe, foi seu substituto como ministro do Superior Tribunal Militar
(STM).
Nomeado comandante da 3ª Divisão de Cavalaria, em Bajé (RS),
em setembro de 1952, em maio do ano seguinte foi transferido para o Rio de
Janeiro e designado diretor de Engenharia do Exército. Menos de um ano depois,
em fevereiro de 1954, foi nomeado adido militar junto à embaixada brasileira em
Washington, tornando-se membro da Comissão Interamericana de Defesa (CID). Em
dezembro do mesmo ano foi designado delegado do Brasil na Comissão Mista de
Defesa Brasil-Estados Unidos. De volta ao Brasil, foi promovido a
general-de-divisão em agosto de 1956 e nomeado comandante da 7ª Divisão de
Infantaria da 7ª PM, em Pernambuco. Em fevereiro de 1959 passou a servir no
Departamento de Produção e Obras e, mais tarde, no Departamento de Material
Bélico do Exército.
O comando do III Exército e a renúncia de Jânio Quadros
Em abril de 1961, Machado Lopes foi designado comandante do
III Exército, sediado em Porto Alegre, em substituição ao general Osvino
Ferreira Alves. Três meses depois foi promovido a general-de-exército.
No momento da renúncia do presidente Jânio Quadros, a 25 de
agosto de 1961, o vice-presidente João Goulart encontrava-se em missão oficial
na República Popular da China. Aproveitando-se deste fato, os ministros
militares — Odílio Denis, da Guerra, Sílvio Heck, da Marinha, e Gabriel Grün
Moss, da Aeronáutica — assumiram o poder de fato e tentaram impor um veto à
posse de Goulart, a quem consideravam de esquerda. No mesmo dia da renúncia de
Quadros, em função da ausência do país do vice-presidente, foi empossado
interinamente o presidente da Câmara dos Deputados, Pascoal Ranieri Mazzilli,
ao mesmo tempo em que começava a se desenvolver em várias regiões do país um
movimento de resistência aos planos dos ministros militares, visando garantir a
posse de Goulart. O movimento era mais forte no Rio Grande do Sul, sob a
liderança do governador do estado, Leonel Brizola, cunhado de Goulart.
Dois
dias depois da renúncia, a 27 de agosto, Machado Lopes informou ao marechal
Denis que Brizola resistiria a qualquer tentativa de impedir a posse de João
Goulart e que, no III Exército, havia um grande número de oficiais favoráveis a
que fossem respeitados os princípios constitucionais. No dia 28 recebeu ordens
de Denis no sentido de pôr fim ao movimento de resistência encabeçado por
Brizola, agindo com toda energia e, se preciso, deslocando tropas do interior
em direção a Porto Alegre para tomar de assalto o palácio Piratini, sede do
governo estadual.Caso fosse necessário, deveria, inclusive, empregar a
Aeronáutica para bombardeios ao palácio. Segundo denúncia formulada no
Congresso naquele momento pelo deputado Rui Ramos, do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) do Rio Grande do Sul, as instruções do ministro da Guerra
incluíam o assassinato de Leonel Brizola.
Machado Lopes negou-se a cumprir o determinado por Denis,
afirmando que só aceitaria ordens compatíveis com a Constituição. Em
seguida, dirigiu-se ao palácio Piratini para parlamentar com Brizola. Do
encontro dos dois ficou acertado que, apesar das divergências político-ideológicas,
o comandante do III Exército apoiaria o governador na defesa da legalidade. No
dia 29 de agosto, o general-de-brigada Antônio Carlos Murici, chefe do
estado-maior do III Exército, que era favorável aos ministros militares e havia
ido ao Rio como intermediário das conversações entre Denis e Machado Lopes,
voltou a Porto Alegre trazendo a reafirmação das ordens do ministro da Guerra e
uma convocação para que o comandante do III Exército fosse a Brasília para
discutir pessoalmente o impasse criado. Machado Lopes declarou que não
atenderia ao chamado de Denis, pois seria fatalmente preso, dispensando, a
partir daquele momento, os serviços de Murici no seu estado-maior. Disse,
ainda, que não mais aceitaria quaisquer ordens do ministro, mas tão-somente do
chefe das forças armadas, o presidente João Goulart, comunicando tal decisão
aos comandantes dos outros três exércitos, bem como às unidades do III
Exército. No dia seguinte recebeu de Denis a comunicação de que estava demitido
do comando do III Exército e que o novo comandante era o general-de-exército
Osvaldo Cordeiro de Farias. Respondeu dizendo que se Cordeiro de Farias fosse
ao Rio Grande do Sul seria preso.
As mobilizações populares e as divisões nas forças armadas
levaram a um impasse que só veio a ser superado através de negociações. Os
ministros militares aceitaram ceder em relação à posse de Goulart e, por outro
lado, decidiu-se adotar o sistema parlamentarista de governo, como forma de
diminuir os poderes presidenciais. Assim, foi aprovada pelo Congresso no dia 2
de setembro a Emenda Constitucional nº 4, que instituiu o parlamentarismo.
Depois disso, Goulart desembarcou em Brasília, onde tomou posse na presidência
no dia 7 de setembro. No dia seguinte, as tropas do III Exército voltaram aos
quartéis. O país permaneceria sob o regime parlamentarista até janeiro de 1963,
quando um plebiscito nacional decidiu, por ampla maioria, o retorno ao
presidencialismo.
Nos últimos dias de setembro de 1961, o deputado João
Vasconcelos Torres, do Partido Social Democrático (PSD) do Rio de Janeiro,
apresentou um projeto de lei ao Congresso promovendo Machado Lopes ao posto de
marechal, “por haver defendido a democracia e a Constituição”. Mas, em
virtude de uma solicitação do próprio Machado Lopes, o deputado retirou seu
projeto. Em outubro de 1961, o general Machado Lopes deixou o comando do III
Exército, sendo substituído pelo general Nestor Penha Brasil. No mês seguinte,
foi designado chefe do Departamento de Provisão Geral do Exército, onde
permaneceu até agosto de 1962.
Em 26 de junho de 1962, por ocasião da queda do primeiro
gabinete parlamentarista, encabeçado por Tancredo Neves, o general João Segadas
Viana foi exonerado do Ministério da Guerra. No dia seguinte, Machado Lopes foi
designado em caráter interino para a pasta, que em 14 de julho passou ao
general Nélson de Melo. Em setembro do mesmo ano foi nomeado chefe do EME,
substituindo o general Emílio Rodrigues Ribas Júnior. Em janeiro de 1963
participou da Conferência de Desarmamento em Genebra, na Suíça, como membro da
delegação brasileira. Deixou a chefia do EME pouco antes da deposição de
Goulart pelo movimento político-militar de 31 de março de 1964, sendo
substituído pelo general Humberto Castelo Branco. Em julho do mesmo ano foi o
representante do Brasil na Conferência dos Exércitos Americanos, realizada na
Zona do Canal, no Panamá. Em setembro de 1964 foi transferido para a reserva no
posto de marechal, sendo reformado em julho de 1969.
Faleceu em Petrópolis no dia 18 de março de 1990.
Era casado com Armandina Machado Lopes.
Publicou O III Exército na crise da renúncia de
Jânio Quadros (1980) e O porquê da FEB, livro sobre a
participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, além de outras obras e
conferências relativas a questões militares.
FONTES: ARQ.
GETÚLIO VARGAS; ARQ. MIN. EXÉRC.; CONSULT. MAGALHÃES, B.; CORRESP. SECRET. GER.
EXÉRC.; Encic. Mirador; FED. ESC. ISOLADAS DO EST. RJ. Ministros;
FICHÁRIO PESQ. M. AMORIM; Globo (20/3/90); Grande encic.
Delta; Jornal do Brasil (20/3/90); MIN. GUERRA. Almanaque (1958);
MORAIS, J. FEB; REIS JÚNIOR, P. Presidentes; SILVA, H. 1964;
Veja (28/3/90); VÍTOR, M. Cinco.