GONÇALVES,
Leônidas Pires
*militar;
comte. Comdo. Mil. Amazônia 1980-1981; comte. III Ex. 1983-1985; min. Ex.
1985-1990.
Leônidas Pires Gonçalves nasceu em Cruz Alta (RS) no dia 19 de maio de 1921, filho de
Antônio José Pires Gonçalves e de Rute Dumoncel Gonçalves.
Conclui o 1º grau no Ginásio Anchieta (RS). Sentou praça na
Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em abril
de 1939, de onde saiu aspirante da arma de artilharia em setembro de 1942.
Promovido a segundo-tenente em abril de 1943 e a primeiro-tenente em junho de
1944, chegou a capitão em novembro de 1947.
Entre fevereiro de 1949 e dezembro de 1951, fez o curso da Escola de Estado-Maior (EEM). Major em
dezembro de 1952, em abril do ano seguinte tornou-se instrutor do curso de
artilharia da EEM e em março de 1955 do curso de tática geral daquela escola.
Dois anos depois, assumiu o comando do I Grupo do 6º Regimento de Artilharia
75 Autorrebocada, em Cruz Alta, sendo nomeado, mais tarde, instrutor
da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). De fevereiro a
setembro de 1961, foi adjunto do Gabinete Militar. Nesse mesmo mês, passou a tenente-coronel. Em julho de 1962, foi designado para servir na 3ª Seção da EME. Após frequentar, entre agosto e novembro, o curso e o estágio de guerra e
anticomunismo, em dezembro tornou-se membro da comissão encarregada de rever a
legislação sobre promoções de oficiais. No início de 1964, servia no
Estado-Maior do Exército, sob as ordens do general Humberto de Alencar Castelo
Branco, um dos líderes do movimento político-militar que derrubou o presidente
João Goulart (1961-1964) em 31 de março daquele ano, e que depois se tornou presidente da República (1964-1967).
Em
abril de 1964, Leônidas Pires Gonçalves foi transferido para a 1ª Divisão de
Infantaria do Quartel General da Vila Militar, no Rio de Janeiro, como chefe da
3ª Seção. Ainda em abril,
foi desligado desse
quartel para acompanhar o general Orlando Geisel, antigo comandante da
guarnição, como integrante que era do seu Estado-Maior. Em seguida, foi servir
no Gabinete Militar da Presidência da República. Adido militar junto à
embaixada do Brasil na Colômbia,
de julho de 1964 a novembro de 1966, dois meses antes foi promovido a coronel.
Em janeiro de 1967,
iniciou curso de atualização da ECEME. Em abril,
assumiu as funções de instrutor dessa
escola e a chefia da Divisão dos Futuros e Ex-Alunos. Em fevereiro do ano
seguinte,
assumiu a chefia do grupo
de planejamento
e coordenação
de ensino.
Em
fevereiro de 1969,
assumiu o comando do Regimento Deodoro, em Itu (SP), exercendo-o até março de
1971. Nomeado em abril de 1972 para chefiar o Quartel Regional 9 em Campo Grande (MT), permaneceu nesse
comando até julho de 1973, quando se
tornou subcomandante e
subdiretor de ensino da ECEME. Em março de 1974,
foi promovido a general de brigada
e nomeado chefe do Estado-Maior do I Exército. Permaneceu nessa
chefia até janeiro de 1978. No mês seguinte,
foi nomeado comandante da 4ª Brigada de Infantaria. Em abril de 1979,
recebeu a patente de general de divisão,
assumindo a diretoria
de obras
e cooperação.
Comandante militar da Amazônia e da 12ª Região Militar em abril de 1980, aí
permaneceu até dezembro de 1981, quando foi nomeado vice-chefe do Estado-Maior
do Exército.
Em agosto de 1982, foi promovido a general de divisão. Por ocasião de sua promoção, chegou a ser citado
como um dos prováveis candidatos à sucessão do general João Batista Figueiredo
na presidência da República. Ainda em agosto, ao assumir o cargo de secretário
de Economia e Finanças do Ministério do Exército, declarou que a democracia “é
uma tarefa sem fim e um objetivo da Revolução de março de 1964”, e que tinha um compromisso com a abertura política. Contestando afirmações de que houvera um desvio na revolução e de que os militares decidiram apoiar a abertura porque foram
pressionados, declarou que “a revolução nunca perdeu sua direção geral, e a abertura é um compromisso nosso”. Em agosto de 1983,
tornou-se comandante do III Exército, com sede em Porto Alegre, substituindo o general Henrique Beckmann Filho. Em seu discurso de posse, o
general Leônidas Pires Gonçalves apontou a preservação da soberania e a guarda
das instituições nacionais como “missões especiais” da arma, e que, para desempenhá-las, seria preciso profissionalizar-se
cada vez mais.
No Ministério do Exército
Em
março de 1985, o general Leônidas Pires Gonçalves tomou posse do cargo de
ministro do Exército, no governo de José Sarney (1985-1990), o primeiro
presidente civil após 21 anos de regime militar, substituindo o general Válter
Pires Gonçalves. Em maio, advertiu os militares de que
eles só deveriam fazer comentários sobre assuntos técnicos e administrativos de
seus respectivos setores, evitando falar sobre política. Essa declaração foi um
nítido recado ao ex-ministro do Serviço Nacional de Informações (SNI), então
comandante Militar da Amazônia, general Otávio Aguiar de Medeiros, que ao ser
indagado a respeito de sua opinião sobre a maneira como o governo vinha
conduzindo as negociações entre grevistas e patrões, respondera que “cacete não
é santo,
mas faz milagres”. O ministro expressou ainda suas preocupações com as greves
existentes no país, principalmente devido
aos seus
reflexos na
economia.
Em
julho de 1985, compareceu ao Congresso Nacional para expor a política de
segurança executada pelo seu ministério e, como qualquer funcionário do
governo, submeter-se à prestação de contas sobre a aplicação do dinheiro do
contribuinte. A presença, no plenário da Câmara, do comandante da maior e mais
poderosa das três forças armadas, foi um marco dos novos tempos nas relações
entre os poderes da República. Em agosto, Leônidas Pires Gonçalves
solidarizou-se com o adido militar no Uruguai, coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra, acusado pela ex-militante de esquerda e então deputada federal,
Bete Mendes (sem partido — São Paulo), de ter sido seu torturador nas
dependências de órgão de segurança em São Paulo. O apoio do ministro do Exército teve uma boa receptividade nos meios militares, insatisfeitos com as denúncias
veiculadas pela imprensa envolvendo militares com relação a casos de tortura e
corrupção.
No
mês seguinte, fez algumas restrições ao projeto do senador Itamar Franco, do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Minas Gerais, que
garantia aos militares da reserva o direito de se manifestarem sobre assuntos
políticos. De acordo com o ministro, seria melhor que tivessem esse
direito apenas os militares da reserva engajados em campanhas ou filiados a
partidos políticos. No fim
do ano de 1985,
declarou-se contrário à realização de eleições diretas no ano seguinte. Em
julho de 1986, o ministro do Exército foi denunciado à Consultoria-Geral
da República e ao Conselho dos Diretos da Pessoa Humana por não conceder
anistia irrestrita aos sargentos afastados em decorrência do movimento
político-militar de 1964, como determinava a emenda constitucional que convocou
a Assembleia Nacional
Constituinte. Em setembro de 1986, foi transferido para a reserva, continuando,
no entanto, no exercício das funções de ministro do Exército.
Num
momento de grande efervescência política no país, e principalmente após a
invasão da
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), em novembro de 1988, por
tropas e carros blindados do Exército para
acabar com um movimento grevista,
que resultou na morte de três metalúrgicos, Leônidas Pires Gonçalves declarou
que as forças armadas não conduziriam qualquer processo de ruptura da ordem
democrática, porém não permitiriam também que outros o fizessem.
Em 15 de março de 1990, no fim do governo de José Sarney, Leônidas Pires Gonçalves deixou a
pasta do Exército, sendo substituído pelo general de exército Carlos Tinoco Ribeiro Gomes, indicado pelo novo
presidente da República, Fernando Collor de Melo.
Afastado
desde então da vida pública, abriu, em outubro de 1991, no Rio de Janeiro, um
escritório no qual passou a desenvolver atividades econômico-financeiras do seu
interesse pessoal.
Em
2000, o site de um grupo civil-militar de
extrema direita começou a publicar, sem indicações de fonte, trechos do que
seria um
“livro” escrito entre 1986 e 1987 pelo Centro de Informações do Exército (CIE), a
pedido do então ministro Leônidas Pires Gonçalves. A obra, conhecida por Orvil,
foi organizada a partir do arquivo do CIE e continha informações sobre as
atividades dos “subversivos” brasileiros,
desde a década de 1920, e
as operações da luta armada durante o regime militar. Cópias do material
circularam pelo Alto-Comando
do Exército, porém o ministro decidiu não torná-lo público naquele momento. Em
entrevistas realizadas por ocasião da divulgação do Orvil
pelo jornalista Lucas Figueiredo,
em 2007, declarou que a obra seria apenas um “registro histórico” das
atividades do órgão, a ser utilizado caso houvesse necessidade de dar uma
resposta ao que chamou de “revanchismo sem propósito” contra as forças armadas.
O general desmentiu também as afirmações de que os arquivos do CIE foram
destruídos, conforme alegava o Exército. No
entanto, disse que não tinha a obrigação de mostrar o livro a ninguém, pois
“isso é passado”. O livro foi disponibilizado na internet por um site civil-militar
de
extrema direita no endereço www.militar.com.br/modules.php?name=News&file=print&sid=318.
Tornou-se também membro correspondente do centro de estudos estratégicos da Escola Superior de Guerra, membro da
Associação Promotora de Estudos Econômicos e conselheiro do Conselho de
Estratégia da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Casou-se com Dóris Coelho Neto Pires Gonçalves, com quem teve
um casal de filhos.
Depoimento prestado pelo biografado ao Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas, em janeiro-março de 1992, veio a integrar a trilogia
composta pelos livros Visões do golpe — a memória militar sobre 1964, Os anos de chumbo — a memória militar sobre a repressão e A volta aos quartéis — a memória militar sobre a abertura, organizada pelos pesquisadores Maria Celina D’Araújo,
Gláucio Ari Dillon Soares e Celso Castro e lançada em 1994-1995.
Mirian
Aragão
FONTES:
Alm. Ex.
1976; CURRIC.
BIOG.; Diário Popular (17/12/88);
Estado de S. Paulo (6/4/80,
8 e 9/1/81, 31/3, 12 e 16/5/81, 25/8/85);
Folha de S. Paulo (13/3,
13/9/85); Globo (30/3,
7 e 13/5, 25/8 e 26/11/80, 9 e 30/1/81);
Jornal do Brasil (3/1
e 25/2/78, 18 e 19/12/80, 31/3 e 16/5/81, 18/12/85, 16/7/86); Portal
Militar (18/4/07); Terra
Magazine
(20/5/08); Portal Militar. Livro secreto do Exército é revelado. 18 abr. 2007.
Extraído do Correio de Minas (<www.militar.com.br/modules.php?name=News&file=print&sid=318>. Acesso em: 8 de out. de 09); Terra Magazine. General Leônidas: Revanchismo tem que acabar. 20 maio. 2008 (<http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2896568-EI6578,00.html>. Acesso em: 8 de out. de 09).