LOPES,
Isidoro Dias
*militar; rev. 1924; rev. 1932.
Isidoro Dias Lopes nasceu
no município de Dom Pedrito (RS) em 30 de junho de 1865. Segundo Válter
Spalding, era filho do padre José Tavares Bastos Rios, vigário local, e foi
criado pela família Dias Lopes.
Entrou
para o Exército como voluntário em março de 1883, sentando praça no 13º
Batalhão de Infantaria, sediado em Porto Alegre. Cursou depois a Escola Militar
dessa cidade, passando à condição de alferes-aluno em janeiro de 1889. Em 15 de
novembro desse ano, apoiou a instauração da República, de cujos ideais era
ardente propagandista. Foi promovido a alferes em outubro de 1890 e a tenente
em abril de 1891, passando então a servir no 50º Regimento de Cavalaria,
sediado em Bajé (RS).
Com a deflagração da Revolução Federalista em fevereiro de
1893, Isidoro abandonou o Exército e se juntou às forças rebeldes que combatiam
o governo estadual de Júlio de Castilhos e o governo federal de Floriano
Peixoto, passando a atuar como chefe do estado-maior das tropas lideradas pelo
caudilho Gumercindo Saraiva. A guerra civil envolveu numerosos contingentes
militares locais e se estendeu ao Paraná e a Santa Catarina, terminando em
agosto de 1895 com a assinatura da chamada Paz de Pelotas, que selou a derrota
dos rebeldes. Isidoro partiu então para o exílio em Paris, de onde retornou,
anistiado, em 1896. No ano seguinte, foi reincorporado ao serviço ativo do
Exército e prosseguiu seus estudos na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio
de Janeiro, então Distrito Federal.
Promovido
a capitão em janeiro de 1900, a major em junho de 1910, a tenente-coronel em
dezembro de 1917, Isidoro cumpriu nesses anos funções burocráticas em escolas
militares e quartéis, e exerceu comando de tropa em Corumbá (MS), no Rio de
Janeiro e nas cidades gaúchas de Bajé, Uruguaiana e Cruz Alta. Desenvolveu
também intensa atividade jornalística, publicando artigos na Revista da Escola
Militar do Rio de Janeiro e em diversos jornais, particularmente na Gazeta
Pedritense, editada em sua cidade natal até 1918.
A Revolta de 1924 e a formação da Coluna Prestes
A
década de 1920 foi marcada por uma série de rebeliões empreendidas por setores
militares, principalmente por jovens oficiais chamados genericamente de
“tenentes” que criticavam o desvirtuamento do modelo político republicano pelas
oligarquias dominantes. O primeiro desses movimentos armados eclodiu em
guarnições militares do Rio e de Mato Grosso no dia 5 de julho de 1922, em protesto
contra o fechamento do Clube Militar e a prisão do marechal Hermes da Fonseca,
decretados pelo governo de Epitácio Pessoa, e contra a eleição de Artur
Bernardes para a presidência da República, sendo rapidamente sufocado.
Empossado em 15 de novembro de 1922, Artur Bernardes governou
sob estado de sítio, agravando a tensão existente com os setores civis e
militares de oposição que, no início do ano seguinte, começaram a organizar um
movimento armado para depor o presidente. Residindo na cidade de São Paulo, já
general reformado, Isidoro tornou-se um dos principais articuladores da
revolta, formulando junto com o ex-presidente Nilo Peçanha um plano de
trabalho. Em outubro, viajou para o Rio Grande do Sul a fim de avaliar a
receptividade do movimento junto aos oficiais que ali serviam. Nessa época,
ainda estava em curso a guerra civil gaúcha entre republicanos e federalistas
deflagrada em janeiro de 1923 e encerrada em novembro seguinte com a assinatura
do Pacto de Pedras Altas.
A
conspiração ganhou novo fôlego em dezembro de 1923, quando os oficiais
envolvidos no levante de 1922 foram enquadrados no artigo 107 do Código Penal,
que previa como punição a perda de patente e a expulsão do Exército. Depois
dessa decisão, vários desses oficiais desertaram e se incorporaram à preparação
do movimento, entre eles os irmãos Joaquim e Juarez Távora, capitães do
Exército. Já em 1924, os militares envolvidos na conspiração discutiram a
escolha de um chefe para o movimento, lembrando os nomes de Isidoro Dias Lopes,
Augusto Ximeno de Villeroy e do marechal Odílio Bacelar Randolfo de Melo, todos
reformados, além dos militares da ativa Bertoldo Klinger e Miguel Costa. A
escolha final recaiu sobre Isidoro que, segundo as opiniões recolhidas, reunia
todas as qualidades necessárias para chefiar o movimento, reveladas durante os
combates da Revolução Federalista e as manobras regulares do Exército.
Ao
assumir o comando, Isidoro viajou por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul a
fim de verificar pessoalmente a disposição dos militares que participavam da
conspiração. Enquanto isso, os irmãos Távora completavam o levantamento das
forças aliadas, percorrendo Santa Catarina, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Depois dessas viagens, os líderes revolucionários voltaram a se reunir na capital
paulista e analisaram a situação das guarnições visitadas, buscando
classificá-las como aliadas, auxiliares ou inimigas. A maioria das unidades
estacionadas em São Paulo, Minas e Paraná foi considerada favorável ao
movimento.
Em 24 de fevereiro, em nova reunião realizada em Jundiaí
(SP), ficou definido que o tenente-coronel Olinto de Mesquita Vasconcelos e o
major Bertoldo Klinger passariam a integrar o estado-maior revolucionário.
Depois de efetuarem novo balanço da relação de forças, os organizadores do movimento
divergiram contudo quanto à data da sua deflagração. Um grupo de oficiais
liderado por Joaquim Távora pregava a passagem imediata à ação militar,
enquanto Klinger e outros participantes da reunião consideravam essa opção
prematura. Como conseqüência da vitória da primeira posição, o início do
movimento foi marcado para o dia 28 de março. Entretanto, essa data foi
posteriormente modificada em virtude do afastamento de Klinger e das dúvidas
sobre a adoção do 4º Regimento de Infantaria, sediado em Quitaúna, nos
arredores da capital paulista.
Joaquim
Távora tornou-se no período seguinte o principal colaborador de Isidoro. Os
dois elaboraram juntos o plano de ocupação da capital paulista, apresentado
pelo primeiro em uma reunião realizada no dia 13 de maio. Era prevista uma ação
militar de curta duração na cidade, iniciada pelo Regimento de Cavalaria da
Força Pública sob o comando do major Miguel Costa, e pelo 4º Batalhão de
Caçadores (4º BC) sediado no bairro de Santana, que cercariam as demais unidades
da Força Pública para intimá-las a aderir à revolução, sob ameaça de
bombardeio. Nesse momento, os destacamentos rebelados já contariam com o apoio
do 2º Grupo Independente de Artilharia Pesada (2º GIAP), vindo de Quitaúna, e
de elementos do 4º Regimento de Infantaria (4º RI). Garantida a supremacia
militar na cidade, os revolucionários ocupariam o palácio do governo, o
telégrafo e as estações ferroviárias, deslocando em seguida para fora da
capital dois contingentes. O primeiro tentaria ocupar o porto de Santos (SP)
ou, pelo menos, bloquear os pontos de passagem da serra do Mar. O outro
procuraria consolidar posições no vale do rio Paraíba, fazendo a junção com o
5º e o 6º RI, sediados em Lorena (SP) e, Caçapava (SP), cuja adesão ao
movimento era esperada. Os revolucionários consideravam que, se essas operações
fossem realizadas com êxito, estaria assegurado o apoio das guarnições sediadas
no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e na região sul de Minas Gerais,
criando-se então as condições para a ofensiva em direção do Distrito Federal.
Contavam também com a adesão das forças que seriam enviadas para combater o
movimento.
Depois
de apresentado o plano, os participantes da reunião fixaram para o dia 28 de
maio o início do levante, mas, mais uma vez, a data teve que ser modificada.
Finalmente, no início de junho, Isidoro e Joaquim Távora definiram a madrugada
de 5 de julho para desencadear as ações, como forma de homenagem ao movimento
de 1922. Dessa vez não houve necessidade de adiamento. No dia 4 de julho, as
primeiras peças de artilharia do 2º GIAP começaram a ser conduzidas para o
centro da capital paulista sob o comando do tenente de Oliveira. Na madrugada
seguinte, um grupo de oficiais comandados por Joaquim Távora ocupou o quartel
do 4º BC, armou 80 praças e se dirigiu para o quartel-general da Força Pública.
Enquanto isso, a unidade comandada por Miguel Costa tomou o 2º e o 4º batalhões
dessa corporação, prendendo o coronel Domingos Quirino Ferreira e o general
Abílio Noronha, respectivamente comandantes da Força Pública e da 2ª Região
Militar (2ª RM). Isidoro participou pessoalmente da prisão do general Noronha,
que já havia comunicado a eclosão do levante ao ministro da Guerra, general
Fernando Setembrino de Carvalho.
Conquistado o quartel-general da Força Pública, Isidoro aí
instalou o comando revolucionário. Ao anoitecer do dia 5, as forças rebeldes já
haviam ocupado as estações da Luz, da Sorocabana, do Brás e da Cantareira, além
do hotel Teminus No segundo dia de luta, uma companhia do 5º RI e todo o 6º RI,
comandado pelo major Raul Cabral Velho, aderiram à revolta, mas ao anoitecer,
os primeiros reforços legalistas começaram a penetrar na cidade. Ao amanhecer
do dia 7, tropas da Marinha e do forte de Itaipus (SP), chegadas de Santos
iniciaram o bombardeio contra as posições rebeldes nos quartéis do bairro da
Luz. Dessa forma, falhou um elemento decisivo do plano original, que previa uma
ocupação fulminante da capital, liberando tropas para a realização de ações
ofensivas e enlaces com contingentes aliados de outras regiões. Diante da nova
situação criada pela presença de fortes bastiões legalistas no perímetro urbano
da capital, o general Isidoro optou pela retirada das tropas rebeldes em
direção a Jundiaí (SP), sede do 2º Grupo de Artilharia de Montanha. Essa
decisão provocou um atrito entra os chefes revolucionários, pois Miguel Costa
defendia a posição oposta, acreditando num desfecho favorável da luta pelo
controle da cidade. A divergência chegou a ameaçar a unidade do comando e levou
Isidoro a cogitar da renúncia à chefia do movimento.
As tropas rebeldes só conseguiram ocupar o palácio do governo
no dia 7, forçando Carlos de Campos presidente do estado, a se refugiar no
prédio da Secretaria de Justiça e, pouco depois, abandonar a cidade junto com
seus auxiliares diretos. Os membros do governo estadual dirigiram-se então para
Moji das Cruzes (SP), onde se encontrava o general Eduardo Sócrates, comandante
da 1ª Região Militar, normalmente sediada no Rio. Na madrugada do dia 9, depois
de quatro dias de intensa luta, as forças legalistas se retiraram da capital
paulista e os rebeldes consumaram o controle da cidade.
Entretanto, essa ocupação tardia comprometeu de forma
decisiva toda a campanha revolucionária, pois impediu o deslocamento de tropas
para Santos e o vale do Paraíba, conforme previa o plano original. O
destacamento embarcado no encouraçado Minas Gerais já controlava o principal
porto paulista, enquanto a concentração de tropas legalistas comandadas pelo
general Sócrates no vale do Paraíba impediu a adesão das forças mineiras
consideradas simpáticas à revolução. O cerco da capital paulista foi completado
a leste com a ocupação do ramal da São Paulo Railway e ao sul com o reforço das
posições governistas do ramal de Itararé (SP). Dessa forma, os insurretos
ficaram sitiados, passando a travar uma guerra defensiva.
Nesse contexto, autoridades municipais e empresários da
indústria e do comércio da capital iniciaram entendimentos com os chefes
revolucionários para tentar minimizar os prejuízos econômicos que o
prolongamento da luta provocava. No dia 9 de julho, em reunião com o prefeito
Firmiano Pinto e com o presidente da Associação Comercial, José Carlos de
Macedo Soares, Isidoro se comprometeu a facilitar o trabalho da administração
municipal, reiterando essa disposição em novo encontro realizado no dia
seguinte. Nessa ocasião, apoiou a iniciativa de formação de um serviço de
policiamento da cidade para reprimir os saques, cada vez mais freqüentes,
contra armazéns, lojas e depósitos de mercadorias. A seu pedido, Firmiano Pinto
procurou em seguida Fernando Prestes, vice-presidente do estado, para lhe
oferecer a chefia do governo, vacante com a fuga de Carlos de Campos. Com a
negativa de Prestes, que era partidário de Bernardes, Isidoro propôs que o
marechal Odílio Bacelar, o tenente-coronel Olímpio Mesquita de Vasconcelos e
Macedo Soares — que se tornara figura central nas negociações com os chefes
revolucionários — formassem uma junta de governo. Essa idéia também não foi
implementada, pois o presidente da Associação Comercial preferiu não romper
seus vínculos com Carlos de Campos.
A cidade de São Paulo, pelas forças legalistas estava
submetida a intenso bombardeio, que atingia duramente a população civil. As
autoridades municipais e as entidades representativas do comércio e da
indústria formaram então uma comissão que passou a articular a abertura de
negociações entre os contendores dirigindo um apelo ao presidente da República
pela suspensão dos bombardeios. Em troca, os rebeldes também cessariam o fogo
da sua artilharia. Macedo Soares obteve permissão de Isidoro para transmitir
essa mensagem pela Companhia Telefônica em 12 de julho, mas, no mesmo dia, o
general Setembrino de Carvalho, em nome do governo, respondeu negativamente à
proposta.
Com o agravamento da situação, Macedo Soares solicitou no dia
16 a mediação do general Abílio de Noronha, que se encontrava preso pelos
rebeldes, a fim de sustar a destruição da cidade. No dia seguinte Isidoro
começou a negociar com o comandante da 2ª RM, apresentando suas condições
iniciais para a assinatura de um armistício, que incluíam o afastamento de
Artur Bernardes e a formação de um governo provisório composto de “nomes
nacionais de reconhecida probidade e da confiança dos revolucionários”. Para a
chefia desse novo governo, sugeria o nome de Venceslau Brás. Discordando das
condições transmitidas por Isidoro, o general Noronha desistiu do papel de
mediador junto ao governo federal. Instado por Macedo Soares a apresentar uma
solução constitucional para a crise, Isidoro propôs então que Bernardes
renunciasse ao cargo e fosse substituído pelo presidente da Câmara dos
Deputados.
Junto com as negociações, a luta prosseguia. No dia 19,
Joaquim Távora morreu em conseqüência de ferimentos recebidos em combate. Em 26
de julho, aviões legalistas lançaram boletins sobre a cidade pedindo que a
população se retirasse do perímetro urbano a fim de que as tropas legalistas
pudessem agir livremente contra os rebeldes. Diante dessa ameaça, as
negociações de paz foram intensificadas. Macedo Soares solicitou, ao general
Sócrates, um cessar-fogo de 48 horas, enquanto Abílio de Noronha foi
encarregado de levar às forças legalistas a nova proposta de Isidoro: negociar
o armistício em troca de uma anistia ampla aos implicados nas revoltas de 1922
e 1924. O governo, entretanto, recusou-se a negociar. Isidoro decidiu então
ordenar a retirada das tropas rebeldes na noite de 27 de julho, pois o
prosseguimento da resistência na cidade, apesar de viável por mais dez ou 15
dias, “seria a ruína da vida econômica do Brasil e... a maior das ingratidões
para com um povo que soube compreender a nobreza dos nossos fins”. Redigiu um
manifesto à população, comunicando a resolução de “transferir a sede do governo
provisório e do comando geral das forças libertadoras para o interior”.
As tropas retirantes foram transportadas por ferrovia até
Bauru (SP), onde se concentraram no dia 29 de julho contando com três mil
homens, entre soldados do Exército e da Força Pública, além de voluntários
civis. Isidoro permaneceu no comando desse contingente, que recebeu o nome de
Divisão São Paulo, e prosseguiu a retirada na direção sudoeste até Porto
Tibiriçá (SP), localizado nas margens do rio Paraná. O estado-maior
revolucionário planejava continuar a viagem por via fluvial até o oeste
paranaense, de onde tentaria entrar em contato com militares gaúchos
simpatizantes do movimento. Em 25 de agosto, o destacamento de vanguarda da
Divisão São Paulo iniciou a descida do rio Paraná, chegando a cidade de Guaíra
(PR) em 14 de setembro e a Porto São Francisco no dia seguinte. Dessa
localidade, partiu um esquadrão de cavalaria para Catanduvas (PR) e um batalhão
para a vila de Foz do Iguaçu (PR), ocupadas em fins de setembro. Os
contingentes de vanguarda passaram então a aguardar nessas posições a chegada
do restante das tropas comandadas pelo general Isidoro, que haviam sido
interceptadas por forças legalistas antes de chegarem a Guaíra. Com a superação
desse obstáculo, o destacamento de vanguarda reiniciou em fins de outubro o
avanço rumo ao leste, com o objetivo de ocupar Guarapuava (PR) e
prosseguir até Ponta Grossa (PR).
Também em outubro, oficiais da Divisão São Paulo participaram
da articulação de um levante de tropas gaúchas, deflagrado no dia 29 desse mês
em guarnições sediadas em Uruguaiana, São Borja, São Luís, Santo Ângelo e
Alegrete, sob o comando do capitão Luís Carlos Prestes. Essas unidades
iniciaram então uma guerra de movimento no noroeste do Rio Grande do Sul e
buscaram contato com as forças paulistas sublevadas.
Em
fevereiro de 1925, Isidoro realizou conversações de paz com emissários do
governo na cidade argentina de Posadas, na presença também dos deputados
gaúchos João Simplício e João Batista Luzardo. Nessa ocasião, recebeu uma carta
de Prestes que propunha a junção das suas forças com o contingente paulista
estacionado no oeste paranaense, a fim de prosseguir a campanha militar
adotando uma estratégia de deslocamento permanente. Pedia a remessa de armas e
munições para transpor o rio Iguaçu na região ao norte do Chopim (PR) e, em
seguida, ocupar Mallet (PR), situada na retaguarda das forças governistas que
operavam em Catanduvas, forçando sua retirada e permitindo o deslocamento das
forças revolucionárias na direção leste. Isidoro respondeu que não dispunha de
material bélico excedente e sugeriu que as forças rebeldes gaúchas
transpusessem o Iguaçu acima da foz do rio Santo Antônio e fizessem a junção
com os paulistas, na região de Benjamim (PR).
Em
27 de março, as tropas legalistas, iniciaram um ataque maciço contra
Catanduvas, onde se encontrava uma parte importante da Divisão São Paulo.
Depois de dois dias de luta os revolucionários foram derrotados e forçados a se
retirar. Isidoro chegou a Iguaçu no dia 30, vindo da Argentina, e em 2 de abril
os destacamentos comandados por Prestes se juntaram aos paulistas no
entroncamento de Benjamim. No dia 12 seguinte, Isidoro promoveu uma reunião do
alto comando revolucionário, com a presença de Prestes, para discutir os rumos
do movimento. Decidiram então prosseguir a campanha militar segundo o
planejamento elaborado por Miguel Costa, que foi investido no comando de
divisão revolucionária, passando Juarez Távora a chefiar as forças paulistas e
permanecendo Prestes à frente dos gaúchos. Formou-se assim a Coluna Miguel
Costa-Prestes, que nos anos seguintes percorreria grandes extensões do
território brasileiro.
No
fim do mês, a coluna penetrou em território paraguaio. Isidoro, que não
participou da tomada dessa decisão, insistiu em acompanhar a coluna no retorno
ao Brasil, mas foi convencido por seus companheiros a se fixar na Argentina,
onde permaneceria colaborando com os revolucionários, por se achar muito idoso
para participar do tipo de luta que se desenvolveria. No dia 30 de abril, a
coluna regressou ao Brasil através da fronteira do então estado de Mato Grosso,
hoje Mato Grosso do Sul, retornando, segundo Juarez Távora, “a grande marcha
com que Prestes iniciara, no Rio Grande do Sul, a guerra de movimento, e que
deveria prosseguir através de todo o Brasil”.
O período final da Coluna
Em julho de 1925, Isidoro recebeu, através do coronel
Filogônio de Carvalho, uma carta do comando da coluna, que se encontrava em
Goiás relatando o andamento da luta e pedindo a remessa de armas e munições.
Isidoro escreveu então a um correligionário que se encontrava no Rio de
Janeiro, remetendo instruções para que esse material fosse enviado, mas seu
pedido não foi atendido. Em fins de outubro do ano seguinte, quando a coluna
voltava a atravessar a planície goiana depois de percorrer diversos estados do
Nordeste, Prestes e Miguel Costa decidiram enviar Djalma Dutra e Lourenço
Moreira Lima à Argentina para consultar Isidoro sobre o prosseguimento da luta,
pois os combatentes estavam muito desgastados. Os chefes da coluna desejavam também
obter informações a respeito de um levante que Isidoro estaria articulando no
Rio Grande do Sul.
Chegando
a Paso de los Libres, na Argentina, em novembro de 1926, os dois emissários
encontraram imediatamente Isidoro, o major Álvaro Dutra, o capitão Fernando
Távora e os tenentes Ellen Salvaterra, Edgar Dutra e Alfredo Lemos. Nessa
ocasião, Isidoro confirmou que estava preparando um movimento revolucionário em
território gaúcho e pediu que a coluna, cuja combatividade excedera suas
expectativas, continuasse a luta até a deflagração desse levante, pois, na sua
opinião, a posse de Washington Luís, na presidência da República em 15 de
novembro, não levaria a nenhuma mudança na política oficial. Caso não houvesse
condições, de prosseguir o combate, aconselhava a coluna a emigrar e dirigir-se
posteriormente para o Sul, a fim de se aparelhar para retomar posteriormente as
atividades militares.
A deflagração da revolta no Sul foi antecipada, sem o
conhecimento de Isidoro, para o dia 14 de novembro. Iniciada em Santa Maria e
seguida de levantes parciais em outras regiões do estado, todos, rapidamente
sufocados, ela ficou conhecida como a “coluna relâmpago”. Isidoro criticou
severamente essa “precipitação”, considerando-a insensata. No dia 23 seguinte,
despachou, através de Lourenço Moreira Lima, uma carta dirigida a Miguel Costa
e Prestes, pedindo que a coluna se mantivesse em armas por mais dois meses,
aguardando a evolução da situação no Sul. Caso a posição dos revolucionários
não melhorasse nesse período, poderiam emigrar e se dirigir para o Rio Grande
do Sul a fim de continuar a luta ou preparar novas campanhas.
Em 3 de fevereiro de 1927, depois de dois anos e meio de
marchas e combates e tendo percorrido cerca de 25 mil quilômetros, a coluna se
internou na Bolívia. Seus principais líderes viajaram em seguida para Paso de
los Libres onde instalaram, junto com Isidoro, o quartel-general
revolucionário, que passou a planejar novas ofensivas contra o governo
brasileiro. Na qualidade de chefe supremo do movimento iniciado em 5 de julho
de 1924, Isidoro recebeu dos seus companheiros o título de “marechal da
revolução”.
Na Revolução de 1930
Em agosto de 1929 formou-se a Aliança Liberal, coligação
oposicionista de âmbito nacional apoiada pelas oligarquias dominantes do Rio
Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, e por uma parcela significativa da jovem
oficialidade do Exército. Esse movimento lançou o nome de Getúlio Vargas,
presidente do Rio Grande do Sul, para concorrer com o situacionista Júlio
Prestes nas eleições presidenciais marcadas para março do ano seguinte. Ao
mesmo tempo em que se preparavam para a disputa eleitoral, setores integrantes
da Aliança Liberal começaram a sondar as possibilidades de deflagração de um
movimento armado contra o governo federal em caso de fraude no resultado do
pleito. Políticos oposicionistas como o paulista Paulo Nogueira Filho, os
pernambucanos Carlos e Caio de Lima Cavalcanti e o gaúcho Osvaldo Aranha
iniciaram contatos sistemáticos com os militares exilados, sobre os quais Luís
Carlos Prestes exercia grande influência. O antigo líder da coluna viajou para
Porto Alegre em novembro de 1929, tendo recusado nessa ocasião a oferta de
Vargas para que assumisse a chefia militar do movimento. Diante disso, os
conspiradores aventaram outros nomes para essa função, inclusive o de Isidoro
que, com 64 anos de idade, foi considerado muito idoso. A escolha final recaiu
então sobre o tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro.
A vitória de Júlio Prestes nas eleições de março de 1930
provocou a intensificação das articulações para o levante. No exílio, Isidoro
apoiava esse projeto, ao contrário de Luís Carlos Prestes que, em reunião
realizada no início de maio, declarou-se adepto do comunismo e criticou seus
companheiros por se aliarem a antigos inimigos. Prestes ressaltava também o
caráter elitista da conspiração em curso, a seu ver incapaz de criar as
condições para a realização das reformas de base de que o Brasil necessitava.
Isidoro respondeu a essas ponderações afirmando sua descrença na capacidade das
“massas” governarem o país.
O
movimento armado foi deflagrado em 3 de outubro nos três estados em que a
Aliança Liberal era mais forte, obtendo pleno êxito nas suas metas iniciais e
se expandindo rapidamente. O estado-maior revolucionário do Sul entrou em
contato com os exilados no Uruguai e na Argentina e, pouco depois, Isidoro
chegou a Porto Alegre em companhia de João Batista Luzardo. Na capital gaúcha,
recebeu a visita de Joaquim Francisco de Assis Brasil, emissário de Vargas,
que, antes de partir para a linha de frente, queria conhecer sua opinião sobre
o movimento em curso. No dia 12, Vargas assumiu o comando das tropas que
marchavam em direção ao Rio de Janeiro, instalando o quartel-general
revolucionário em Ponta Grossa (PR).
A situação militar evoluiu de forma claramente favorável aos
rebeldes em diversas regiões do país. Nesse contexto, oficiais de alta patente
lotados no Distrito Federal passaram a articular um golpe militar contra o
governo, finalmente deflagrado no dia 24 de outubro. Com a deposição de
Washington Luís, foi constituída uma junta governativa provisória, a princípio
não alinhada com os revolucionários, que determinou a passagem dos governos
estaduais para as mais altas autoridades militares de cada região. Assim, a
queda de Washington Luís não resolveu imediatamente o conflito de poder, pois a
junta não estava claramente comprometida com a posse de Vargas na presidência,
reivindicada pelos revolucionários, A chefia do governo de São Paulo coube
inicialmente ao general Hastínfilo de Moura, comandante da 2ª Região Militar
(2ª RM), que nomeou em 25 de outubro um secretariado composto predominantemente
por políticos filiados ao Partido Democrático (PD), integrante da Aliança
Liberal. No dia seguinte, Isidoro chegou à capital paulista a fim de assumir,
em nome dos revolucionários, o comando da 2ª RM em substituição ao general
Hastínfilo que, excessivamente identificado com o governo deposto, teve que
partir para o Rio de Janeiro, deixando a administração pública de São Paulo
entregue ao seu secretariado.
Vargas
chegou a São Paulo no dia 28 de outubro e deu prosseguimento às difíceis
negociações sobre a chefia do novo governo local. Setores ligados ao movimento
tenentista e à cúpula revolucionária propunham o nome de João Alberto Lins de
Barros, contrariando assim as pretensões do PD, que esperava a indicação do seu
presidente, Francisco Clorato, para o cargo. O acordo obtido pelo líder da
revolução estabeleceu que o Executivo paulista permaneceria provisoriamente sem
chefe, cabendo ao secretariado a responsabilidade pelos negócios do governo,
enquanto João Alberto ficava como delegado militar da revolução no estado.
Vargas partiu em seguida para o Rio, onde, depois de superadas as resistências
iniciais da junta militar, tomou posse em 3 de novembro à frente do Governo
Provisório.
O acirramento das tensões em São Paulo
Pouco depois de empossado, Vargas ofereceu o marechalato a
Isidoro, mas este recusou alegando já ser “marechal” da Revolução de 1924.
Aceitou, no entanto, retornar ao serviço ativo do Exército no posto de
general-de-brigada, através de um decreto especial do novo governo assinado em
9 de novembro. No dia 17 de novembro, quando ainda permitia o impasse sobre o
governo paulista, Isidoro e Assis Brasil desfilaram em carro aberto pelas ruas
da capital, ao mesmo tempo em que Francisco Morato e outros líderes do PD
faziam comícios em vários pontos da cidade. Os membros do secretariado
reivindicaram junto a Vargas a nomeação de Isidoro para a interventoria,
alegando que ele detinha a confiança dos líderes paulistas. Entretanto, no dia
25 de novembro, o chefe do Governo Provisório nomeou João Alberto para esse
cargo, o que provocou um pedido coletivo de demissão do secretariado. Depois de
algumas negociações essa decisão foi provisoriamente suspensa, mas nos dias
seguintes as divergências se aprofundaram. Em 2 de dezembro, Vicente Rao,
membro do PD, foi demitido da chefia de polícia pelo novo interventor,
provocando um novo pedido de demissão — dessa vez concretizado — de todos os secretários
de governo.
Apreensivo com a evolução dos acontecimentos em São Paulo,
Isidoro escreveu uma carta a Vargas em 29 de janeiro de 1931, criticando a
política aplicada por João Alberto e Miguel Costa, que assumira o comando da
Força Pública estadual. O velho general discordava dos princípios, do programa
e das atividades da Legião Revolucionária, fundada por esses dois líderes
tenentistas com o objetivo de promover o aprofundamento da revolução e defender
um projeto antiliberalizante, adversário dos partidos tradicionais. Essa
orientação oficial provocava o acirramento dos atritos entre o governo e as
forças políticas paulistas e, nesse contexto, Isidoro não via sentido em
permanecer à frente da 2ª RM. Seu pedido de demissão não foi considerado por
Vargas, que o promoveu, em 19 de fevereiro de 1931, ao posto de
general-de-divisão.
Nessa época, intensificou-se em São Paulo o movimento pela
reconstitucionalização do país com a fundação, em 24 de fevereiro, da Liga
Pró-Constituinte, que reunia membros do PD e do Partido Republicano Paulista
(PRP). Em 6 de abril, o PD lançou um manifesto rompendo com João Alberto e
propondo a formação de uma frente única pela Constituinte. Pouco depois,
Isidoro compareceu a um banquete em homenagem a Macedo Soares, que contou com a
presença dos mais destacados políticos paulistas. Nessa ocasião, o homenageado
proferiu violento discurso contra João Alberto e afirmou que Vargas o havia
autorizado a revelar a próxima investidura de Isidoro na interventoria do estado.
Segundo Renato Jardim, essa declaração foi rapidamente desmentida por Vargas.
Ainda
em abril, Isidoro foi procurado por oficiais da Força Pública que, junto com
membros do PD, estavam organizando um levante para depor João Alberto e Miguel
Costa. Comprometeu-se com eles em garantir a neutralidade das tropas
subordinadas à 2ª RM, o que, segundo os conspiradores, seria o suficiente para
deixar o governo federal diante do fato consumado da deposição do interventor.
O movimento, deflagrado no dia 28 de abril, foi rapidamente sufocado, com a
prisão de mais de duzentos revoltosos e a posterior transferência de vários
oficiais do Exército para outras regiões do país. A substituição de Isidoro no
comando da 2ª RM por Góis Monteiro, recém-promovido a general, provocou uma
forte reação entre os políticos constitucionalistas, que organizaram comícios e
distribuíram panfletos por toda a cidade, conclamando a população a se unir à
luta contra o governo federal.
Afastado da 2ª RM, Isidoro, partiu para o Distrito Federal,
onde foi convidado por Vargas para assumir a interventoria no estado do Rio de
Janeiro. Entretanto, condicionou a aceitação desse cargo à resolução da crise
paulista, propondo ao chefe do governo que João Alberto e Miguel Costa fossem
enviados para a Europa. Nos meses seguintes o movimento de oposição ao governo
paulista aumentou, levando João Alberto a pedir demissão do seu cargo em 13 de
junho de 1931. Laudo Ferreira de Camargo, ministro do Tribunal de Justiça, foi
nomeado interventor com o apoio dos líderes do PD, iniciando um governo que
durou cinco meses. Sua substituição em novembro pelo coronel Manuel Rabelo,
comandante interino da 2ª RM, provocou o recrudescimento da campanha
oposicionista, que reivindicava um interventor civil e paulista. Nessa época,
ganhou força a idéia de deflagração de um levante armado contra o Governo
Provisório. No Rio, Isidoro passou a discutir regularmente esse projeto com o
coronel Euclides Figueiredo, formando, junto com os paulistas Francisco Morato,
Paulo de Morais Barros, Júlio de Mesquita Filho e Aureliano Leite, o núcleo
inicial da conspiração. Pouco depois da união do PD com o PRP na Frente Única
Paulista (FUP), em 16 de fevereiro de 1932, Isidoro e Euclides começaram a elaborar
o plano militar da revolta e iniciaram os contatos necessários à sua
implementação, procurando, entre outros, o general Bertoldo Klinger, comandante
da Circunscrição Militar de Mato Grosso e adepto da causa constitucionalista.
Em 2 de março, Vargas nomeou Pedro de Toledo para a
interventoria paulista, cedendo parcialmente às pressões da FUP. A oposição se
fortaleceu no fim desse mês quando a Frente Única Gaúcha (FUG) também rompeu
com o Governo Provisório e se comprometeu a lutar ao lado dos paulistas em caso
de confronto. Cedendo à pressão das forças constitucionalistas, Vargas assinou
em 14 de maio o decreto de criação de uma comissão encarregada de elaborar o
anteprojeto de constituição, marcando eleições para a Assembléia Constituinte
para maio de 1933. Mesmo assim, a situação em São Paulo se radicalizou com a
realização de grandes manifestações populares em 22 e 23 de maio contra a
presença do ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha, no estado. Em seguida, Pedro
de Toledo reorganizou seu secretariado, que passou a ser composto integralmente
por elementos escolhidos pela FUP, e o “tenente” Miguel Costa foi substituído
por Júlio Marcondes Salgado no comando da Força Pública. Com essa mudança o
movimento constitucionalista passou a contar com o apoio do novo governo e da
quase totalidade da força estadual.
Na condição de chefe geral da revolução, Isidoro se reuniu no
Rio de Janeiro em 19 de junho de 1932 com oficiais favoráveis ao movimento,
propondo que o general João Gomes fosse substituído na chefia da articulação
local pelo general Pantaleão Ferreira, o que não foi aceito. Sugeriu também
que, depois da conquista de São Paulo pelos revolucionários, o comando da 2ª RM
fosse entregue a um militar capacitado a dirigir as tropas constitucionalistas,
o que também foi recusado, pois, segundo os participantes da reunião, deveria
caber ao próprio Isidoro a direção do levante, previsto para o dia 20 de julho.
Os acontecimentos se precipitaram com a carta enviada pelo
general Klinger ao novo ministro da Guerra, general Augusto Inácio do Espírito
Santo Cardoso, acusando-o de inapto para o exercício do cargo. A carta chegou
ao destinatário no dia 6 de julho, provocando a imediata reforma administrativa
de Klinger. Convencido da necessidade de contar com o apoio das tropas
estacionadas em Mato Grosso, Isidoro convocou uma reunião com os líderes do
movimento, onde ficou definida a deflagração do levante na madrugada do dia 10.
Pouco depois ocorreu nova antecipação de um dia na data prevista.
Em
9 de julho os chefes da revolta se reuniram para acertar os últimos detalhes do
plano militar, que previa uma ocupação rápida da capital paulista, a adesão das
guarnições federais, estacionadas no estado, e a mobilização subseqüente das
forças de outras regiões do país — notadamente Rio Grande do Sul e Minas Gerais
— em apoio à causa constitucionalista. A partir dessas operações iniciais, os
rebeldes começaram a marcha em direção à capital federal. Euclides Figueiredo,
recém-chegado a São Paulo, foi designado por Isidoro para comandar o levante e
assumir interinamente o comando da 2ª RM até a chegada de Klinger.
Na Revolução de 1932
As
ações militares foram iniciadas ainda no dia 9 de julho com a ocupação da
Companhia Telefônica, do prédio dos Correios e Telégrafos e das rádios Record e
Educadora. Durante a noite, a sede da 2ª RM foi cercada e, horas depois,
ocupada, ao mesmo tempo que a mobilização civil crescia de forma notável,
coordenada principalmente pelo MMDC, organização secreta criada em maio de 1932
para apoiar o movimento constitucionalista. No dia seguinte todas as forças
militares de São Paulo estavam sob comando rebelde. Nessa ocasião, os chefes da
revolução afastaram a idéia de organizar uma junta governativa chefiada por
Isidoro, temendo romper a unidade interpartidária alcançada, e decidiram manter
Pedro de Toledo à frente do governo revolucionário paulista. No dia 12, durante
a solenidade de passagem do comando da 2ª RM para o general Klinger,
recém-chegado a São Paulo, Isidoro afirmou que os revolucionários estavam lutando
em defesa da dignidade, da honra e da disciplina do Exército, e pela libertação
do povo.
O sucesso da revolta em São Paulo foi contrabalançado pelo
fracasso da política de aliança com as forças de outros estados. O interventor
gaúcho José Antônio Flores da Cunha permaneceu fiel ao Governo Provisório e
manteve sob controle as tentativas de mobilização em favor dos rebeldes. O
mesmo ocorreu em Minas Gerais, onde Olegário Maciel ofereceu a Vargas sua
cooperação na repressão aos paulistas e as unidades favoráveis ao movimento
foram neutralizadas. Dessa forma, ao invés de contar com aliados no sul de
Minas, os constitucionalistas tiveram que enfrentar nova frente de combates
nessa região, arcando sozinhos com todo o peso da guerra civil. Incapazes de
avançar para além das fronteiras de seu estado, assumiram uma posição
fundamentalmente defensiva durante o conflito, combatendo um inimigo que em
todas as frentes se mostrava muito mais numeroso e melhor provido tecnicamente.
No início de agosto, a resistência paulista começou a ceder, perdendo o
controle de várias cidades no setor sul para as forças legalistas. Em setembro,
tropas mineiras ocuparam Itapira, Mojimirim e Amparo e, pouco depois, Campinas
e Jundiaí sofreram bombardeio aéreo. No setor norte, os paulistas também
recuavam.
Nesse contexto, Bertoldo Klinger e o coronel Herculano de
Carvalho e Silva, comandante da Força Pública, começaram a negociar
separadamente com Vargas a suspensão das hostilidades, levando à assinatura do
armistício que, em 2 de outubro, selou a derrota da Revolução
Constitucionalista. Em 1º de novembro, Isidoro foi deportado para Portugal
junto com 77 líderes do movimento a bordo do navio Siqueira Campos, que atracou
em Lisboa 17 dias depois.
De volta ao Brasil
Isidoro
retornou ao Brasil depois do decreto de anistia assinado em 29 de maio de 1934
por Vargas e aprovado em 5 de junho pela Assembléia Nacional Constituinte. A
nova Constituição foi promulgada em 16 de julho e, no dia seguinte, Vargas foi
eleito presidente da República. Isidoro permaneceu na oposição do governo e,
segundo relatório apresentado em dezembro de 1934 pela chefia de polícia do
Distrito Federal, participou da articulação do novo movimento revolucionário
junto com Klinger, Euclides Figueiredo e outros líderes da Revolução de 1932. A
conspiração teria sido intensificada nesse mês, mas não resultou na deflagração
de nenhum levante.
A
partir de janeiro de 1935, elementos ligados ao Partido Comunista Brasileiro,
então Partido Comunista do Brasil (PCB), se integraram à conspiração, o que
provocou o afastamento de alguns dos seus participantes. Em março foi criada a
Aliança Nacional Libertadora (ANL) que, sob crescente influência dos
comunistas, liderou a oposição de esquerda ao governo Vargas (até seu
fechamento, decretado em julho). O PCB passou então a preparar um levante
armado cuja chefia foi oferecida a Isidoro, que declinou do convite,
declarando-se contrário ao comunismo e a qualquer regime de força. A Revolta
Comunista deflagrada em novembro de 1935 em Natal, Recife e no Rio foi
rapidamente sufocada, sendo seguida por uma onda repressiva sem precedentes. O
país viveu sob estado de guerra quase ininterrupto até novembro de 1937, quando
Vargas implantou o Estado Novo. Nessa ocasião, apesar de completamente afastado
da vida pública, Isidoro condenou o golpe e declarou ser um democrata
partidário de um “governo do povo”.
Isidoro
Dias Lopes faleceu no Rio de Janeiro em 27 de maio de 1949. Era casado com
Jacinta Barros Lopes, com quem teve um filho.
Sobre o biografado, José Antônio Lopes escreveu Isidoro — a
um século do seu nascimento (1965).
Vilma Keller
FONTES: CARNEIRO,
G. História; CORREIA, A. Rebelião; DULLES, J. Anarquistas; Eleitos; Encic.
Mirador; FIGUEIREDO, E. Contribuição; FLYNN, P. Legião; FONTOURA, J. Memórias;
Jornal (6/3/31); LIMA, L. Coluna; LOVE, J. Regionalismo; NOGUEIRA FILHO, P.
Ideais; SILVA, H. 1922; SILVA, H. 1926; SILVA, H. 1930; SILVA, H. 1931; SILVA,
H. 1932; SILVA, H. 1935; SPALDING, V. Construtores; TÁVORA, J. Vida.