MENEGHETTI,
Mário
*min. Agric. 1956-1960.
Mário Davi Meneghetti nasceu
em Porto Alegre no dia 17 de julho de 1905, filho de João Meneghetti e de Ana
Rosso Meneghetti. Descendia de imigrantes italianos. Seu irmão, Ildo
Meneghetti, ingressou também na vida política, tendo governado o Rio Grande do
Sul de 1955 a 1959 e de 1963 a 1967.
Fez seus estudos em Porto Alegre, nos colégios Sevigneut e
Júlio de Castilhos, no Ginásio Anchieta e na Faculdade de Medicina.
Formado,
trabalhou inicialmente na Viação Férrea Rio-Grandense, sendo em seguida nomeado
para o Departamento Estadual de Saúde, em Pelotas, e transferindo-se para esta
cidade. Ali, além de dirigir o posto de saúde, exerceu diversos cargos ligados
à sua profissão: presidiu a Sociedade de Medicina, dirigiu os laboratórios
regionais, foi professor catedrático de bacteriologia da Faculdade de Farmácia
e Odontologia, dirigiu o Instituto de Higiene por 27 anos e chefiou a campanha
contra a hidatidose, moléstia que estudou a fundo, tendo participado de
congressos internacionais sobre a matéria e publicado Tratamento biológico da
hidatidose e A hidatidose humana.
Ingressando na vida política, filiou-se ao Partido Social
Democrático (PSD), pelo qual se elegeu inicialmente vereador à Câmara Municipal
de Pelotas e, mais tarde, prefeito da cidade, cargo que assumiu em 1952. Ao
final do mandato, em 1955, transferiu-se para o Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, e seguiu ainda no mesmo ano para o Paraguai como adido comercial à
embaixada brasileira, posto em que permaneceu até 1956.
Ministro da Agricultura
Em 2 de outubro de 1956, foi nomeado para a pasta da
Agricultura pelo presidente Juscelino Kubitschek, substituindo o general
Ernesto Dornelles, que se havia exonerado para integrar o conselho da Novacap,
empresa constituída para desincumbir-se da construção da nova capital federal,
Brasília. A nomeação de Meneghetti foi, aliás, o primeiro ato presidencial
assinado no local onde viria a ser instalada a futura capital.
Nos
termos do compromisso político assumido por Juscelino durante a campanha
eleitoral, caberia ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) indicar o titular da
pasta da Agricultura. Entretanto, o presidente preferiu privilegiar o
governador do Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti, nomeando seu irmão. O gesto
se deveu ao apoio que o governador gaúcho vinha dando a Juscelino, embora
tivesse combatido sua candidatura, desenvolvendo uma campanha de pacificação
política que muito contribuíra para a implementação das diretrizes
governamentais.
Em
1956, já na gestão de Mário Meneghetti, a Carteira de Crédito Agrícola do Banco
do Brasil revelou que concedera, durante o ano, quase duas vezes mais
financiamentos ao setor do que em 1955, último ano do governo anterior.
Em 1957, Meneghetti promoveu estudos e a implantação de
serviços relativos à produção agropecuária na área do futuro Distrito Federal.
Presidiu também a Comissão Nacional de Política Agrária e participou do
Conselho Coordenador do Abastecimento.
Ainda em 1957, enfrentou sérias pressões dos cafeicultores
contra o confisco cambial, que fazia com que os exportadores de café
convertessem suas receitas em dólares a uma taxa inferior à vigente para a
importação. Pressionados pela queda dos preços do produto no mercado
internacional, os produtores passaram a exigir que o governo aumentasse as
vendas de café e extinguisse o confisco. Manifestaram-se principalmente os
cafeicultores do Paraná, sob a liderança do futuro senador Nélson Maculan, e os
de São Paulo, apoiados pelo governador do estado, Jânio Quadros.
Em
maio, associados aos proprietários agrícolas de Minas Gerais, os produtores de
café dos dois estados planejaram a realização da Marcha da Produção, que no dia
18 de junho deslocaria milhares de agricultores para as portas do palácio do
Catete a fim de reivindicar a abolição do confisco. Entretanto, a marcha não
chegou a se realizar devido a desentendimentos entre seus líderes e à retirada
do apoio de Jânio Quadros, que julgou prudente recuar.
Entre 1º e 16 de julho de 1958, Meneghetti acumulou a pasta
da Agricultura com a do Trabalho, Indústria e Comércio, devido à exoneração do
titular desta, José Parsifal Barroso, que se desincompatibilizou para
candidatar-se ao governo do Ceará. No dia 16 de julho, foi nomeado o novo
ministro do Trabalho, Fernando Nóbrega.
No segundo semestre de 1958, ressurgiu o protesto dos
cafeicultores ante a crescente deterioração dos preços do café no mercado internacional.
A idéia da Marcha da Produção voltou a ser aventada, e após tentar em vão
convencer os líderes do movimento — especialmente o governador paulista — da
inconveniência da manifestação, o presidente Juscelino solicitou a intervenção
do ministro da Guerra, o general Henrique Teixeira Lott, e conseguiu impedir a
realização da marcha com a ajuda das forças armadas.
Em
1959, Mário Meneghetti promoveu a criação dos parques nacionais de Ubajara
(CE), Aparados da Serra (RS) e Araguaia (GO), designou no mesmo ano um comissão
para estudar a reestruturação do ministério, e criou ainda a Escola de
Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves (RS), a primeira escola agrotécnica
dedicada à preparação de técnicos de grau médio em uma atividade agroindustrial
específica.
Entusiasta da idéia da transferência da capital do país para
o planalto Central, colaborou na fixação em Brasília de órgãos de seu
ministério. Por portaria de março de 1960, designou uma equipe de servidores
para seu gabinete na nova capital.
Em 5 de abril de 1960, pouco antes da inauguração de
Brasília, afastou-se da pasta da Agricultura, sendo substituído interinamente
por Fernando Nóbrega e definitivamente, em 5 de junho, por Antônio de Barros
Carvalho, ambos do PTB.
Em sua gestão, foram ultrapassados os planos para ampliar a
capacidade de armazenagem do país, superando seiscentas mil toneladas quando as
previsões para o governo de Juscelino eram de quatrocentas mil. Incentivou-se
ainda a mecanização da lavoura, nomeando-se a produção de tratores como
decorrência do desenvolvimento da indústria automobilística no país.
No dia 20 de abril de 1960, 15 dias depois de deixar o
ministério, foi nomeado embaixador em comissão em Honduras, lá permanecendo até
31 de dezembro do mesmo ano.
Em sua carreira política, Meneghetti foi presidente do
diretório regional gaúcho do PSD e membro do diretório nacional do partido.
Durante o governo do marechal Humberto Castelo Branco (1964-1967), foi diretor
do Instituto de Resseguros do Brasil.
Em sua formação, fez ainda cursos de pós-graduação no
Instituto Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e no Instituto Carlos Málban, de
Buenos Aires.
Faleceu no Rio de Janeiro em 29 de junho de 1969.
Era casado com Cila Marchiori Meneghetti.
Deixou publicados, além das obras já citadas, Estudo
experimental da vacina de Umeno e Doi, Ação dos venenos botrópicos nos
cancerosos, A vacina de Calmette e Guérin e O Ministério da Agricultura a
serviço do desenvolvimento: síntese das atividades em 1957-1958 (1959).
Sílvia Pantoja
FONTES: Correio
Brasiliense (1/7/69); Correio do Povo (1/7/69); CORRESP. MIN. TRAB.; CORTÉS, C.
Homens; COSTA, E. Grandes; Encic. Mirador; GUERRA FILHO, R. Ministério; INST.
NAC. LIVRO. Índice; KUBITSCHEK, J. Meu (3).