MENEGHETTI,
Ildo
*gov. RS 1955-1959 e 1963-1967.
Ildo Meneghetti nasceu
em Porto Alegre no dia 20 de junho de 1895, filho de João Meneghetti e de Ana
Rosso Meneghetti, imigrantes italianos. Seu irmão, Mário Meneghetti, foi
ministro da Agricultura entre 1956 e 1960, no governo de Juscelino Kubitschek.
Cursou o primário no Ginásio Anchieta e o secundário na
Escola Brasileira, ambos na capital gaúcha. Em 1913 ingressou na Faculdade de
Engenharia de Porto Alegre, pela qual se graduou em 1917. Iniciou suas
atividades profissionais trabalhando na construção de ferrovias no estado. Em
1927 associou-se a dois outros engenheiros, com os quais instalou uma empresa de
construção civil.
Durante muitos anos dedicou-se apenas às atividades
empresariais e só em 1947 ingressou na vida pública. Atendendo ao convite do
presidente do Partido Social Democrático (PSD) do Rio Grande do Sul, Cilon
Rosa, candidatou-se nessa legenda a uma cadeira na Câmara Municipal de Porto
Alegre e, surpreendendo às próprias expectativas, conseguiu eleger-se com cerca
de 1.100 votos, tendo sido o candidato mais votado no pleito.
Exerceu o mandato durante poucos meses, pois em junho de 1948
foi nomeado pelo governador pessedista Válter Jobim prefeito da capital, em
substituição a Gabriel Pedro Moacir. Permaneceu no cargo até janeiro de 1951,
quando o candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Ernesto Dornelles,
assumiu o governo estadual. Ainda em 1951, ocorreram eleições para a prefeitura
da capital e Meneghetti, concorrendo contra o candidato do PTB, Leonel Brizola,
obteve uma vitória surpreendente, já que o trabalhismo representava uma das
grandes forças políticas no Rio Grande do Sul.
Governador do Rio Grande do Sul
Nas
eleições de outubro de 1954 — pouco depois do suicídio do presidente Getúlio
Vargas (24/8/1954) e a posse do vice-presidente João Goulart — Meneghetti
conseguiu eleger-se governador , apoiado pela Frente Democrática do Rio Grande
do Sul — coligação formada pelo PSD, a União Democrática Nacional (UDN) e o
Partido Libertador (PL), com o objetivo de barrar o avanço do trabalhismo no
estado —, tendo obtido cerca de 20 mil votos a mais que Alberto Pasqualini,
candidato do PTB. Tomou posse no governo gaúcho em 31 de janeiro de 1955,
substituindo Ernesto Dornelles.
Em fevereiro de 1955, iniciadas as articulações para a
apresentação de candidatos às eleições presidenciais marcadas para o mês de
outubro, Juscelino Kubitschek teve sua candidatura homologada pela convenção
nacional do PSD. A escolha de Juscelino encontrou, contudo, sérias restrições
por parte do PSD de Pernambuco e do Rio Grande do Sul, onde se formaram grupos
dissidentes que passaram a buscar junto a outras agremiações uma candidatura
alternativa. Após sucessivas negociações, essas dissidências aliaram-se à UDN
em apoio ao nome de Juarez Távora, aprovado na convenção do partido realizada
no dia 10 de julho e na qual tomaram parte líderes do PSD gaúcho e
pernambucano. Em represália, a direção nacional do PSD decretou em 15 de julho
a intervenção no diretório regional de Pernambuco, o mesmo ocorrendo no dia
seguinte com o diretório gaúcho, cuja presidência foi assumida por Ildo
Meneghetti. As eleições de outubro de 1955 tiveram como resultado a vitória de
Kubitschek.
Entre as realizações do primeiro período governamental de
Meneghetti destacaram-se a construção da nova penitenciária do estado, a
criação da Polícia Rural Montada e a instalação de 20 colégios e 269 unidades escolares,
localizadas em sua maioria no interior do estado. Meneghetti concluiu sua
gestão em janeiro de 1959, sendo substituído no governo do Rio Grande do Sul
por Leonel Brizola.
Em outubro de 1960 realizaram-se novas eleições para a
presidência da República e Jânio Quadros, lançado pela UDN, foi eleito o
sucessor de Kubitschek. Empossado em janeiro de 1961, Jânio permaneceu no cargo
durante apenas sete meses, tendo sua renúncia desencadeado uma grande crise
política no país em decorrência da oposição apresentada por setores civis e
militares à posse constitucional do vice-presidente João Goulart. O impasse foi
solucionado através da aprovação, no dia 2 de setembro, da Emenda
Constitucional nº 4, que instituiu o parlamentarismo, limitando os poderes do
Executivo e ampliando os do Congresso.
Em
outubro de 1962, Meneghetti foi novamente eleito para o governo do Rio Grande
do Sul, derrotando o petebista Egídio Michaelsen. Sua candidatura, que fora
lançada pela Ação Democrática Popular — composição entre o PSD, a UDN, o PL, o
Partido de Representação Popular (PRP) e o Partido Democrata Cristão (PDC) —,
contou com o apoio de militares e empresários descontentes com as diretrizes do
governo anterior, liderado por Brizola.
Em seu segundo mandato, destacou-se na oposição a Goulart,
tendo sido um dos signatários de um manifesto lançado em 1963 por governadores
contrários ao governo central, entre os quais Ademar de Barros, de São Paulo,
José de Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Carlos Lacerda, da Guanabara. Na
mesma época aliou-se a setores civis e militares que, com a justificativa de
assegurar a legalidade, que consideravam ameaçada pelo próprio presidente,
iniciaram a conspiração para a tomada do poder por vias extralegais.
Em março de 1964, em protesto contra o comício realizado por
João Goulart no dia 13 daquele mês, no Rio de Janeiro, no qual o presidente
afirmara a sua decisão de efetivar reformas de base, tais como a nacionalização
das refinarias de petróleo e a reforma agrária, Meneghetti enviou um telegrama aos
presidentes do Senado, Auro de Moura Andrade, e da Câmara dos Deputados,
Pascoal Ranieri Mazzilli, expressando “a indignação e o protesto do povo
rio-grandense frente aos ataques ao Congresso Nacional” e alertando “para a
inquietação e insegurança que vinham tomando conta de todos os setores da vida
nacional, pondo em risco as instituições democráticas”. Sua atitude recebeu
pronto apoio e solidariedade de governadores e de líderes políticos engajados
no movimento contra Goulart.
Na
noite de 31 de março de 1964 foi deflagrado o movimento político-militar que
resultou na deposição de João Goulart e colocou à frente do governo o
autodenominado Comando Supremo da Revolução, formado pelos ministros militares
Artur da Costa e Silva, da Guerra, Francisco de Assis Correia de Melo, da
Aeronáutica, e Augusto Rademaker, da Marinha.
Na
ocasião, em decorrência da possibilidade de uma rebelião em Porto Alegre,
conforme as ameaças feitas pelo líder do PTB Leonel Brizola, e dado que para o
Rio Grande do Sul se haviam deslocado o presidente deposto e seus principais
assessores, Meneghetti transferiu a sede do governo para Passo Fundo (RS),
visando evitar um possível derramamento de sangue. Ao partir para aquela
cidade, lançou um manifesto a seus conterrâneos declarando-se “participante da
luta que a pátria travara pela sobrevivência da democracia e da liberdade”, e
conclamando ao final a participação de todos no movimento “ao lado dos
companheiros de Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e todo o Norte”, que
naquele momento marchavam “para libertar o país da demagogia, da inflação e da
miséria política”.
Poucos
dias depois, já com a situação sob o controle dos adversários de Goulart,
Meneghetti restabeleceu o governo em Porto Alegre. No dia 4 de abril,
participou da reunião realizada no Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro, na
qual os chefes militares e governadores alinhados ao movimento discutiram os
critérios para a eleição do novo presidente e os prováveis nomes para ocupar o
cargo. Nessa reunião esboçou-se o consenso em torno da candidatura do chefe do
Estado-Maior do Exército, general Humberto Castelo Branco, decisão efetivada em
reunião realizada no dia seguinte.
Em dezembro de 1964, no uso de suas prerrogativas enquanto
governador do estado, Meneghetti demitiu o presidente do Banco do Estado do Rio
Grande do Sul, João Mansur, acusado de contrabando pelo chefe do Serviço
Federal de Prevenção e Repressão às Infrações contra a Fazenda, general Rui
Sampaio. A demissão do acusado custou ao governador a perda de três de seus
assessores de governo: Paulo Brossard, secretário do Interior, Rui Cirne Lima,
da Fazenda, e Edilberto Grazzia, chefe da Casa Civil, os quais,
solidarizando-se com João Mansur, apresentaram em seguida seus pedidos de
exoneração.
Em
outubro de 1965, como conseqüência da crise política desencadeada pela eleição
de candidatos oposicionistas aos governos da Guanabara e de Minas Gerais,
respectivamente Francisco Negrão de Lima e Israel Pinheiro, foi editado o Ato
Institucional nº 2 (AI-2) que, além de fortalecer as atribuições do Poder
Executivo, facilitou a intervenção federal nos estados, instaurou eleições
indiretas para os executivos estaduais e extinguiu os partidos políticos
existentes, abrindo caminho à instauração do bipartidarismo. Iniciaram-se então
as negociações para a formação dos novos partidos e, em março de 1966, foi
concedido registro ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição ao
regime militar, o mesmo ocorrendo em abril com a Aliança Renovadora Nacional
(Arena), que congregou as forças de apoio ao governo. Ildo Meneghetti se filiou
à Arena.
No dia 7 de junho de 1966 foi lançada a candidatura
oposicionista de Rui Cirne Lima ao governo do Rio Grande do Sul. Contando com o
apoio de uma facção dissidente da Arena, Cirne Lima tinha amplas possibilidades
de obter a vitória nas eleições a serem realizadas pela Assembléia Legislativa
gaúcha em setembro daquele ano. No dia 2 de julho a convenção regional da Arena
homologou o nome de Válter Peracchi Barcelos, então ministro do Trabalho, para
disputar o pleito.
Diante
da possibilidade de se efetivar, também no Rio Grande do Sul, uma vitória
oposicionista, o governo federal passou a articular junto às lideranças locais
formas de impedi-la. A solução encontrada foi a cassação do mandato de quatro
deputados do MDB gaúcho, majoritário na Assembléia, e a promulgação, no dia 18
de julho, do Ato Complementar nº 16, que impôs a disciplina de fidelidade
partidária, impedindo assim a possível ocorrência de votos dissidentes no
âmbito federal e estadual. Com efeito, no dia 17 de agosto Cirne Lima retirou
sua candidatura, já sem qualquer possibilidade de êxito, e, em 3 de setembro,
realizaram-se as eleições indiretas que consagraram a vitória do candidato da
situação, Peracchi Barcelos.
No dia 31 de janeiro de 1967 Ildo Meneghetti deixou o governo
do Rio Grande do Sul, passando a se dedicar exclusivamente às atividades
empresariais.
Foi membro da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul.
Faleceu em Porto Alegre no dia 29 de março de 1980.
Era casado com Judite de Melo Meneghetti, com quem teve cinco
filhos.
FONTES: CACHAPUZ,
P. Cronologia; CAFÉ FILHO, J. Sindicato; CORRESP. GOV. EST. RS; COSTA, M.
Cronologia; COUTINHO, A. Brasil; Encic. Mirador; FERREIRA FILHO, A. História;
Globo (30/3/80); Grande encic. Delta; KUBISTCHEK, J. Meu (3); SILVA, H. 1964;
SILVA, R. Notas; VIANA FILHO, L. Governo; VÍTOR, M. Cinco.