MORENA,
Roberto
*dep. fed. DF 1951-1955.
Roberto Morena nasceu
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 7 de junho de 1902, filho de
Giovanni Morena e de Clementina Donadio, imigrantes italianos.
Tendo
realizado os cursos primário e profissional, exerceu desde a juventude a
atividade de marceneiro-entalhador. Iniciou sua militância política em 1917,
destacando-se na organização dos trabalhadores marceneiros e entalhadores,
inspirado, segundo o jornal Voz Operária de setembro de 1978, “pelas idéias do
anarco-sindicalismo”. Tornando-se um importante líder classista, ingressou, em
1924, no clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB), então Partido
Comunista do Brasil.
Como
militante dessa agremiação, em 1929 participou da articulação, no Rio de
Janeiro, do movimento de solidariedade à greve dos gráficos de São Paulo e dos
primeiros congressos de unificação do movimento operário latino-americano, que
resultaram na criação da Confederação Sindical Latino-Americana, em Montevidéu.
Preso em 1932 na ilha Grande (RJ) em função de sua participação na organização
da greve da São Paulo Railway, foi posto em liberdade em 1934, ano em que se
exilou no Uruguai, onde foi detido mais duas vezes.
De
volta ao Brasil, assumiu em fins de 1935 um posto na direção do PCB no estado
do Rio Grande do Sul, onde se encontrava por ocasião do levante da Aliança Nacional
Libertadora (ANL), que, contando com a participação dos comunistas, eclodiu em
novembro desse ano no Nordeste e no Rio de Janeiro, sendo rapidamente dominado
pelas forças governistas. Novamente preso em 1936, permaneceu detido no Rio de
Janeiro até junho do ano seguinte, quando foi libertado, juntamente com cerca
de três mil presos, por ordem do ministro da Justiça José Carlos de Macedo
Soares, e contra a vontade do chefe de polícia do Distrito Federal, Filinto
Müller, no episódio que ficou conhecido como “macedada”.
Atendendo em seguida às instruções do partido, organizou o
envio de voluntários para o combate, ao lado das forças republicanas, na Guerra
Civil Espanhola. Seguiu para a Espanha em outubro de 1937 e lá chegando no mês
seguinte, recebeu a missão de, segundo depoimento seu a Leandro Konder e Pedro
Scuro Neto contido na revista Temas de Ciências Humanas nº 9, “ser o
responsável pelos quadros brasileiros e [se] incorporar a uma unidade militar
com o cargo de comissário político”. Tendo pouca participação militar na luta
das brigadas internacionais devido à necessidade de quadros no setor
administrativo enfrentada pelo Partido Comunista Espanhol, foi instrutor do
comitê central dessa organização na região de Alicante.
Com
o final da Guerra Civil Espanhola em março de 1939 e a vitória das forças
franquistas sobre as republicanas, foi um dos últimos combatentes a abandonar a
cidade de Alicante antes desta ser tomada pelas tropas vitoriosas, embarcando
então em um navio que atracou na Argélia. Preso nesse país em um campo de
concentração do qual tentaria escapar por duas vezes, refugiou-se ainda em 1939
na União Soviética, onde passou a trabalhar em uma fábrica de tratores.
Iniciando
em 1941 uma longa viagem pelo Pacífico, voltou ao Brasil, assumindo em 1943 o
trabalho de reorganização do PCB, duramente atingido pela repressão do Estado
Novo (1937-1945), quando foi novamente preso. Eleito em 1945 para a direção da
agremiação no Rio de Janeiro, tornou-se secretário-geral da Confederação dos
Trabalhadores do Brasil (CTB), fundada na ocasião. Com a repressão proveniente
da política anticomunista do governo do presidente Eurico Gaspar Dutra
(1946-1951) e o fechamento da CTB, exilou-se a partir de 1947 no México,
assumindo no ano seguinte o cargo de secretário da Confederação de
Trabalhadores da América Latina (CTAL), que exerceu até 1949.
Retornando
ao Brasil em 1950, estendeu sua atuação política para o plano parlamentar,
elegendo-se no pleito de outubro desse ano deputado federal pelo Distrito
Federal, na legenda do Partido Republicano Trabalhista (PRT). Iniciando o
mandato em fevereiro de 1951, assumiu em março do ano seguinte a liderança de
sua bancada na Câmara dos Deputados. Como deputado manifestou-se contra o
Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, efetivado em 1952. Encerrou seu mandato
em janeiro de 1955, não retornando à Câmara. Ainda nesse ano, participou da
Liga de Emancipação Nacional (LEN), fundada no então Distrito Federal no ano
anterior com o objetivo de defender as liberdades democráticas e lutar pelo
desenvolvimento econômico independente do Brasil. Em junho de 1955 a entidade
foi fechada pelo presidente Juscelino Kubitschek, acusada de infiltração
comunista.
Atuando
no início da década de 1960 na vanguarda do movimento sindical brasileiro, como
membro do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e dirigente do Pacto de Unidade
e Ação (PUA), participou, durante o governo do presidente João Goulart
(1961-1964), da organização das duas greves gerais. Foi também conselheiro do
Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI).
Com
a vitória do movimento político-militar de 31 de março de 1964, que depôs João
Goulart e empossou na presidência da República o general Humberto Castelo
Branco, teve em abril desse ano seus direitos políticos suspensos através do
Ato Institucional nº 1 (AI-1), sendo ainda processado por questões relacionadas
à sua condição de importante dirigente sindical comunista. Deixando o Brasil
nesse mesmo ano, antes de ser condenado pela Justiça Militar, dirigiu-se para o
Uruguai, onde permaneceu por três anos.
Eleito
no VI Congresso do PCB, realizado em 1967 em plena clandestinidade, para o
comitê central da organização, permaneceu exilado, vivendo durante um ano no
Chile, onde exerceu o cargo de secretário do Congresso Permanente de Unidade
Sindical dos Trabalhadores da América Latina. Transferindo-se a seguir para a
Tchecoslováquia, passou a integrar como representante do Brasil a Federação
Sindical Mundial (FSM), sediada em Praga. Preocupando-se com a situação política
do Brasil, assinou no exílio, em 1978, o documento de fundação de um Comitê
pelas Liberdades Sindicais no Brasil. Acometido de câncer ósseo, tentou voltar
nesse ano ao país onde tinha prisão preventiva decretada —, no que foi
desaconselhado por seus médicos.
Faleceu em Praga no dia 5 de setembro de 1978 e seu corpo foi
cremado. As cinzas só foram sepultadas em solo brasileiro, como era seu desejo,
em junho de 1980, depois da anistia política decretada em 28 de agosto de 1979.
Era casado com Maria Eugênia Morena, com quem teve um filho.
FONTES: ARQ. DEP.
PESQ. JORNAL DO BRASIL; CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Relação dos dep.; CÂM.
DEP. Relação nominal dos senhores; CISNEIROS, A. Parlamentares; Jornal do
Brasil (7/4/74, 6/5, 2 e 3/8, 6 e 10/9/78 e 20/6/80); LIGA DE EMANCIPAÇÃO NAC.;
Temas de Ciências Humanas (9); TRIB. SUP. ELEIT. Dados; Veja (13/9/78).