GALVÃO,
Ney
*militar; rev. 1922; pres. Bco. Bras. 1961-1963; min.
Faz. 1963-1964.
Ney Neves Galvão nasceu em Rio Pardo (RS) no dia 22 de março de 1902, filho do major Mário Galvão e de Afonsina Neves
Galvão, descendente da tradicional família de militares Andrade Neves. Foram
seus parentes José Joaquim de Andrade Neves, barão do Triunfo, que se destacou
na Guerra do Paraguai, e o general Francisco Ramos de Andrade Neves, chefe do
Estado-Maior do Governo Provisório (1930-1931), chefe do Estado-Maior do
Exército (1932-1934) e ministro do Supremo — hoje Superior — Tribunal Militar (1934-1941).
Depois
de realizar seus estudos secundários no Colégio Militar de Porto Alegre,
transferiu-se para a Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, então
Distrito Federal, cujo curso não chegou a concluir. Participante da revolta de
5 de julho de 1922, que envolveu também o forte de Copacabana e efetivos da
Vila Militar iniciando o ciclo de levantes tenentistas da década de 1920, Ney
Galvão foi desligado do Exército junto com quase todos os seus colegas da
Escola Militar que haviam aderido ao levante.
De volta a seu estado natal, iniciou em 1923 sua longa
carreira como funcionário do Banco da Província do Rio Grande do Sul. Anistiado
depois da Revolução de 1930, foi classificado como primeiro-tenente da reserva,
prosseguindo normalmente sua carreira funcional. Em 1934, ingressou no quadro
de inspetores de filiais e em 1941 foi nomeado gerente da importante agência do
município de Bajé (RS). Nesse mesmo ano, pouco antes de o Brasil declarar
guerra às potências do Eixo, foi convocado para o serviço ativo do Exército,
incorporando-se ao 12º Regimento de Cavalaria, sediado em Bajé, sem prejuízo do
exercício de suas funções civis.
Nomeado em 1944 inspetor-geral do banco em que trabalhava,
atingiu nove anos depois o posto mais elevado na carreira funcional desse
estabelecimento, tornando-se seu superintendente. Eleito para a diretoria do
banco em 1955 e reeleito em 1960, exerceu durante o ano de 1959 a presidência do Sindicato dos Bancos do Rio Grande do Sul.
Amigo íntimo do recém-empossado presidente João Goulart, Ney
Galvão foi nomeado para a presidência do Banco do Brasil em 12 de setembro de
1961, quando a economia brasileira já manifestava fortes indícios da profunda
crise que se prolongou durante toda a primeira metade dessa década. Nesse
cargo, participou ativamente da aplicação da política econômica definida pelo
governo federal, orientando no primeiro momento as atividades do Banco do
Brasil para o financiamento às exportações de bens de capital e de consumo
durável, e o atendimento da crescente demanda creditícia oriunda da Instrução
nº 204 da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc). Em 1962, a queda do ritmo de crescimento da economia foi acompanhada pela intensificação do surto inflacionário
e o aumento dos déficits orçamentários e nas relações com o exterior, o que
forçou a adoção de medidas pelo Banco do Brasil voltadas para a contenção do
crédito no nível fixado pelo Plano Trienal, formulado por Celso Furtado,
ministro do Planejamento.
Em 1963, o agravamento da crise econômica e política levou o
governo federal a abandonar, na prática, as metas definidas no Plano Trienal,
modificando mais uma vez a composição do ministério. No dia 21 de julho desse
ano, Francisco de San Tiago Dantas foi substituído por Carlos Alberto de
Carvalho Pinto na pasta da Fazenda, numa tentativa de conquistar para o governo
a confiança dos setores conservadores. No mesmo dia, Ney Galvão foi substituído
na presidência do Banco do Brasil por Nilo Medina Coeli.
O
plano de combate à inflação formulado por Carvalho Pinto encontrou fortes
resistências por parte dos banqueiros, ao mesmo tempo em que o governo dos
Estados Unidos — contrariado com o adiamento da compra da American and Foreign
Power Company (Amforp) pelo Brasil e a iminente regulamentação da Lei de
Remessa de Lucros — dificultava o reescalonamento da dívida externa brasileira
e se negava a conceder os créditos necessários para a superação do déficit do
balanço de pagamentos. Em 19 de dezembro de 1963, Carvalho Pinto renunciou.
Para o seu lugar, ao invés de atender aos setores que reivindicavam a indicação
do deputado Leonel Brizola, Goulart nomeou Ney Galvão, que tomou posse no dia
seguinte à renúncia do seu antecessor e apresentou imediatamente um programa
para a sua gestão. Entre os objetivos definidos como prioritários estavam o
incremento das exportações, o aproveitamento da capacidade ociosa de setores da
indústria de base, o reaparelhamento do sistema tributário, a reavaliação da
colaboração federal no equilíbrio orçamentário dos estados, o fortalecimento do
mercado de títulos e o financiamento à agricultura de subsistência. Uma de suas
primeiras medidas à frente do ministério foi a revogação da Instrução nº 255 da
Sumoc, baixada por Carvalho Pinto, que havia desagradado sobremaneira aos
banqueiros.
Para enfrentar a inflação crescente, o governo tentou, sem
êxito, estabelecer o tabelamento de preços dos produtos de primeira
necessidade, tornando-se cada vez mais clara sua incapacidade de fazer frente a
esse problema. Por outro lado, o déficit do balanço de pagamentos forçou, em
fevereiro de 1964, a adoção de uma reforma no sistema cambial, concedendo ao
Banco do Brasil monopólio sobre as divisas obtidas pelas exportações de café e
açúcar e estendendo assim o confisco cambial a esse segundo produto. Ao mesmo
tempo, foi mantido o subsídio às importações de trigo, petróleo e equipamentos
para a indústria petrolífera brasileira.
Apesar
da elevação dos preços do café no mercado mundial e do anúncio da concessão de
empréstimos ao Brasil por parte do governo alemão e de grupos japoneses, a
crise nas relações com o exterior — especialmente manifesta na deterioração do
balanço de pagamentos — continuou a se aprofundar. Com o objetivo de renegociar
o pagamento da dívida externa, o governo reabriu as negociações com o Fundo
Monetário Internacional (FMI), suspensas desde a gestão de Carvalho Pinto.
Entretanto, a posição do governo norte-americano dificultava as tentativas
brasileiras. Pouco confiantes no governo de Goulart, os Estados Unidos
aceitavam fazer apenas pequenas concessões, sem satisfazer as pretensões do
Brasil, que buscava um financiamento de grande escala. Nesse momento, as
divergências principais entre os dois governos diziam respeito ao decreto
assinado por Goulart em dezembro de 1963 determinando uma profunda revisão na
política de concessões às empresas de mineração, e à regulamentação, em 20 de
janeiro de 1964, da Lei de Remessa de Lucros.
No
contexto da crise econômica, a situação política se deteriorava
progressivamente. Diante da crescente mobilização social a favor das chamadas
reformas de base defendidas pelo governo, a oposição endurecia suas posições e,
afirmando a proximidade do caos e o aumento da influência dos comunistas no
país, ampliou sua base de apoio junto às classes médias, empresários e
militares. Esse processo resultou no movimento político-militar que em 31 de
março de 1964 derrubou João Goulart do poder. No novo governo que se instalou,
a pasta da Fazenda foi ocupada por Otávio Gouveia de Bulhões, e Ney Galvão
retirou-se da vida pública.
Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 6 de setembro de 1990.
Foi casado com Judite Moreira Galvão em primeiras núpcias,
com quem teve dois filhos, tendo contraído novo matrimônio em 1979.
Jorge
Miguel Mayer
FONTES: BANCO DO
BRASIL. Relatório (1961, 1962 e 1963); BANDEIRA, L. Governo; Encic.
Mirador; FED. ESC. ISOLADAS DO EST. RJ. Ministros; FONTENLA, V.
História; Grande encic. Delta; Jornal do Brasil (20/7/79 e 8/9/90);
MIN. FAZ. Ministros; MONTEIRO, F. Banco; MONTEIRO, F. Discurso;
Movimento de 5; MUSEU DO BANCO DO BRASIL; SKIDMORE, T. Brasil; VÍTOR,
M. Cinco.