GRACIANO,
Paulo
*pres. IBC 1986-1987.
Paulo Sérgio Portugal Graciano nasceu na cidade de São Paulo no dia 25 de maio de 1937,
filho de Clóvis Graciano, um dos pioneiros da pintura moderna no Brasil, e de
Maria Aparecida Portugal Graciano.
Economista formado pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro e jornalista profissional desde 1962, começou a carreira como
pesquisador econômico da Editora Banas, assumindo logo depois o cargo de
redator econômico, função que exerceu também no jornal Correio da Manhã
entre 1964 e 1965 e na revista Visão em 1966. Neste mesmo ano, começou
sua vinculação com o meio político como assessor do secretário da Fazenda de
São Paulo, Antônio Delfim Neto, no governo Laudo Natel (1966-1967), cargo no
qual permaneceu até 1967. Nesse mesmo ano, acompanhou Delfim Neto, alçado a
titular do Ministério da Fazenda no governo do general Artur da Costa e Silva
(1967-1969), de cuja pasta tornou-se subchefe de gabinete até 1971.
Em
1974, Graciano voltou a atuar como redator econômico do Correio da Manhã.
De 1978 a 1979, foi diretor financeiro e comercial da Alumínio Brasileiro
(Albrás), subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce. Entre 1979 e 1980, chefiou
o gabinete da Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Ingressando, ainda em 1980, no grupo Matarazzo como diretor-superintendente da
Companhia de Café Solúvel e Derivado (Cocan), ocupou posteriormente a
vice-presidência do grupo. Entre 1983 e 1984, presidiu a Associação Brasileira
da Indústria de Café Solúvel.
Em fevereiro de 1986, no governo de José Sarney (1985-1990), foi
nomeado presidente do Instituto Brasileiro do Café (IBC), sucedendo a Carlos
Alberto Leite Barbosa. Graciano comprometeu-se a valorizar os preços do café no
mercado exportador, fortalecer as cotações ao produtor, renegociar os contratos
com torrefadores estrangeiros e evitar altas excessivas de preço para o
consumidor. Desde que assumiu, Graciano adotou previsões de safra pessimistas,
reeditando estratégia que fora realizada com sucesso por Delfim Neto. Em meados
de 1986, durante a reunião da Organização Internacional do Café (OIC) em
Londres, o próprio ministro da Indústria e Comércio, José Hugo Castelo Branco,
anunciou que o Brasil estava adquirindo 1,5 milhão de sacas no mercado
internacional para abastecimento interno, mas os preços continuaram em queda e
as exportações reduziram-se.
Em julho, em reunião com empresários envolvidos na produção e
comercialização de café, Graciano desmentiu a possibilidade de extinção do IBC,
admitindo, contudo, a possibilidade de o órgão ser substituído por outro organismo,
de forma a garantir maior participação do setor privado na formulação da
política cafeeira.
Em setembro, o mercado assustou-se com a notícia de que o IBC
negociara na Bolsa de Londres uma importação de café, numa manobra que teria
sido realizada para propiciar lucro a poucas empresas. Um mês depois, houve a
evidência da venda de cerca de seiscentas mil sacas de café com descontos para
a General Foods e a Taloca. A operação fora conduzida diretamente por Graciano,
que se encontrava na Europa. Diante do caso, os compradores do café brasileiro
reagiram aos privilégios dados a apenas dois importadores e exigiram descontos
ainda maiores, negados pelo IBC. Agravou a situação o fato de as cotações
internacionais terem despencado e os preços oferecidos pelo Brasil tornarem o
produto proibitivo, o que paralisou os embarques.
Graciano
também foi responsável pela chamada “Operação Patrícia”, transação efetuada em
novembro em conjunto com o ministro José Hugo Castelo Branco, mediante a qual
17 empresas privadas e mais a Interbrás, subsidiária da Petróleo Brasileiro
S.A. (Petrobras), adquiriram na Bolsa de Londres cerca de seiscentas mil sacas
de café no valor aproximado de 150 milhões de dólares. A operação revelou-se um
fiasco — o café ficou estocado e os preços acabaram despencando no mercado
internacional meses depois, contraindo o IBC uma dívida de aproximadamente 60
milhões de dólares.
As
sucessivas operações malsucedidas comprometeram a permanência de Graciano à
frente da presidência do IBC, levando-o a colocar o cargo à disposição, em novembro. Ademais, eram conturbadas suas relações com os produtores, que reivindicavam a
troca de comando no órgão em razão da queda dos preços do café no Brasil e no
exterior e da diminuição pela metade das exportações. Sua última iniciativa — a
importação de aproximadamente seiscentas mil sacas de café africano para tentar
reverter o quadro de queda de preços no exterior — foi insuficiente para
reverter o descrédito de cafeicultores e exportadores.
Em
janeiro de 1987, os exportadores de café de Santos solicitaram ao presidente
Sarney que nomeasse um presidente “mais competente” para o IBC,
responsabilizando Graciano pelas dificuldades que o setor atravessava.
Acreditavam que o IBC errara ao apostar na falta do produto no mercado
internacional, o que alijou o Brasil da competição internacional, alegando, por
fim, que as empresas estavam descapitalizadas e com dificuldades para obtenção
de crédito. No mesmo período, o diretor de exportação do IBC, Joaquim Libânio
Ferreira Leite, disse que a diretoria do órgão estaria disposta a entregar os
cargos. Graciano afirmou desconhecer a demissão coletiva e acrescentou que não
acompanharia a decisão. Dias depois, Graciano recuou e ressalvou que a colocação
dos cargos à disposição do ministro José Hugo Castelo Branco seria fundamental
para que o CNPC pudesse traçar linhas mais duradouras para o setor. No final de
janeiro, Graciano foi finalmente afastado da presidência do IBC e substituído
em seguida por Jório Dauster.
Após deixar o IBC, Graciano não voltou a ocupar cargos
públicos, dedicando-se a serviços de consultoria na área econômica.
Graciano também dirigiu a Companhia Cacique, empresa
produtora de café solúvel.
Casou-se com Maria de Lurdes Graciano, com quem teve três
filhos.
Daniela
Duarte/Rogério Barros
FONTES: Estado
de S. Paulo (9 e 13/1/87); Folha de S. Paulo (30/1/87); Globo
(15/2/86, 7 e 30/1/87); Jornal do Brasil (16 e 19/2, 11/7 e 21/11/86); Veja
(19/2/86).