SALGADO,
Plínio
*jornalista; mov. integralista; rev. 1938;
cand. pres. Rep. 1955; dep. fed. PR 1959-1963; dep.
fed. SP
1963-1974.
Plínio Salgado nasceu em
São Bento do Sapucaí (SP) no dia 22 de janeiro de 1895, filho de Francisco das
Chagas Esteves Salgado e de Ana Francisca Rennó Cortez, oriundo de uma família
católica de raízes políticas conservadoras.
Seu
pai, farmacêutico de profissão, foi coronel da Guarda Nacional, chefe político
de São Bento desde o início da República e, profundo admirador de Floriano
Peixoto, cultivou o sentimento nacionalista em seus filhos. Sua mãe foi
professora da Escola Normal de sua cidade. Seu avô paterno, Manuel Esteves da
Costa, de origem portuguesa e formação antiliberal, emigrou para o Brasil por
razões políticas após estudar humanidades em Coimbra. Seu avô materno, Antônio
Leite Cortez, nascido na Espanha, foi professor de letras clássicas e político
do Partido Conservador do Império. No Brasil, os dois ligaram-se por casamento
a tradicionais famílias paulistas. Mariana Salgado César, sua avó paterna,
pertencia ao tronco quatrocentão dos Cerqueira César. Sua avó materna, Matilde
Sofia Rennó, era descendente de Pero Dias, um dos fundadores da cidade de São
Paulo.
Após aprender as primeiras letras com sua mãe, Plínio Salgado
iniciou o secundário no Externato São José, em sua cidade natal. Primogênito da
família, foi obrigado a interromper os estudos em 1911, com a morte de seu pai,
quando cursava humanidades no Ginásio Diocesano de Pouso Alegre (MG). Ainda em
1911 retornou ao seu estado, estabelecendo-se na cidade de São Paulo, onde
permaneceu por dois anos, vivendo com escassos recursos e prosseguindo sua
formação intelectual como autodidata. Datam dessa época suas primeiras leituras
de filosofia, pedagogia e psicologia. Aos 17 anos, segundo suas próprias
palavras, sentiu-se “fascinado pelo materialismo histórico ao ler as obras de
Gustave Le Bon, Ludwig Büchner, Ernst Haeckel e Lamarck”.
Em 1913 regressou a São Bento, tornando-se mestre-escola e
trabalhando ocasionalmente como agrimensor. Em 1916, juntamente com Joaquim
Cortez Rennó Pereira, seu futuro cunhado, fundou o semanário Correio de São
Bento. Além de suas funções como professor e jornalista, dedicou-se às
atividades culturais da cidade, tendo sido diretor de um grupo de teatro e de
um clube de futebol, supervisor do Tiro de Guerra e membro do Gabinete
Português de Leitura.
Em um de seus primeiros discursos, pronunciado em 1916 por
ocasião das comemorações do aniversário da Independência, exaltou as virtudes
do nacionalismo e dos povos guerreiros, afirmando: “Brasileiros! Precisamos
amar nossa pátria até o delírio, e entre as duas palavras de dom Pedro
(Independência ou morte!) optar sempre pela independência.” Em seguida, após
elogiar a Alemanha de Bismarck, declarou: “Benditos os povos que desaparecem
lutando porque a guerra é forte e digna e os seus nomes não morrerão jamais.”
Suas crônicas no Correio de São Bento revelaram um escritor
de talento, logo reconhecido por intelectuais como José Bento Monteiro Lobato,
que tratou de publicá-las em sua Revista do Brasil. Algumas foram também
transcritas no Correio Paulistano. Nesse período, Salgado dedicou-se ao
aprofundamento de seus estudos de filosofia, interessando-se sobretudo pela
obra de Herbert Spencer.
Em 1918 iniciou suas atividades políticas participando da
fundação do Partido Municipalista — organizado por líderes de 16 cidades do
vale do Paraíba em oposição ao Partido Republicano Paulista (PRP) — e
pronunciando diversas conferências em defesa das comunidades locais e da
autonomia dos municípios. Nesse mesmo ano, todavia, quase morreu vítima da
epidemia de gripe espanhola que assolou o Brasil.
Ainda em 1918, já restabelecido, casou-se com Maria Amália
Pereira, enviuvando menos de um ano depois, quando sua primeira e única filha
contava com apenas 16 dias de nascida. Transtornado com a morte de sua mulher,
voltou-se para a religião, adotando uma concepção espiritualista do mundo
através da leitura das obras do filósofo anti-spenceriano Raimundo de Farias
Brito e do pensador católico Jackson de Figueiredo. Em 1919 publicou seus dois
primeiros livros, Thabor, uma coletânea de poemas líricos, sociais e
religiosos, e A boa nova, uma conferência sobre a vida de Jesus.
Em 1920, durante a campanha do Partido Municipalista para as
eleições locais, Salgado foi preso após um tiroteio com a polícia. Obtendo sua
liberdade, mudou-se em seguida para São Paulo, onde, através de seu amigo, o
jornalista Nuto Santana, conseguiu o emprego de suplente de revisor no Correio
Paulistano, órgão oficial do PRP.
Na literatura: o movimento modernista e a campanha
nacionalista
Durante a década de 1920, Plínio Salgado dedicou-se
essencialmente às atividades literárias, tornando-se um escritor de renome. Sua
atuação política foi praticamente inexpressiva ao longo de todo esse período,
desenvolvendo-se sempre à margem de grupos oligárquicos paulistas.
Um ano depois de sua chegada a São Paulo, Salgado passou a
trabalhar na redação do Correio Paulistano, por solicitação de Paulo Menotti
del Picchia, então redator-chefe do jornal e um dos principais divulgadores das
novas tendências estéticas, por quem foi influenciado a dedicar-se à prosa e a
abandonar a poesia parnasiana.
Em fevereiro de 1922, participou discretamente da Semana de
Arte Moderna, tendo alguns poemas lidos no Teatro Municipal de São Paulo por
Ronald de Carvalho. Não aderiu de imediato, entretanto, ao movimento
modernista, parecendo mesmo temer essa tendência ao escrever, no final de 1922,
que “as revoluções de arte moderna serão um perigo para os povos sem cultura,
agirão como elemento dissolúvel, em vez de construtor, desorientarão
completamente os ‘novos’ e corresponderão para o senso estético das turbas a um
movimento de anarquia e regresso”.
Os dois anos seguintes foram, segundo seu próprio depoimento,
um período de “experiência do estilo moderno”. Assinou então dezenas de
crônicas e ensaios, que em 1927 seriam reunidos e publicados no volume Discurso
às estrelas. No final de 1924, ao lado de intelectuais como Cândido Mota Filho,
ligou-se a uma facção dissidente do PRP que rompera com o presidente de São
Paulo, Washington Luís. Demitiu-se então do Correio Paulistano e passou a
trabalhar no escritório do advogado e empresário Alfredo Egídio de Sousa
Aranha, onde permaneceu por dois anos. Durante esse período, escreveu artigos
sob o pseudônimo de Pinus no jornal O Estado de S. Paulo.
Em
janeiro de 1926, publicou seu primeiro romance, O estrangeiro, no qual descreveu
a saga de um imigrante e sua luta para enraizar-se em uma nova sociedade, a
hipocrisia das elites paulistanas e a vitalidade e o nacionalismo latente de
homens simples, como o caboclo Zé Candinho e o mestre-escola Juvêncio. O
romance foi muito bem acolhido — sua primeira edição esgotou-se em 20 dias —,
sendo considerado por alguns críticos a primeira obra de ficção moderna escrita
no Brasil.
Ao
lado de Cassiano Ricardo, Cândido Mota Filho e Menotti del Picchia, foi um dos
ideólogos da tendência nacionalista do modernismo — denominada Movimento
Verde-Amarelo — lançada ainda nesse ano em oposição à corrente primitivista,
que se afirmara a partir do Manifesto pau-brasil, de Oswald de Andrade. Com
esse movimento, segundo Salgado, “iniciei a campanha nacionalista que já
manifestava uma tendência construtiva, depois da fase irreverente de destruição
no campo literário e da anarquia intelectual em que nos lançáramos”. O grupo
tornou-se conhecido principalmente pelos artigos publicados no Correio
Paulistano e na Revista Novíssima, do Rio de Janeiro.
Em 1927, apresentou sua primeira interpretação política da
sociedade brasileira em Literatura e política, uma coletânea de artigos
publicados no Correio Paulistano. Seguindo muito de perto Alberto Torres e
Francisco Oliveira Viana, Plínio Salgado denunciou nesse livro o caráter
artificial do regime republicano, o “desequilíbrio entre a ideologia liberal e
a realidade do país” e os principais mecanismos do sistema democrático. O
sufrágio universal, por exemplo, foi considerado como principal entrave à
“organização das elites dirigentes, por processos seletivos”. Apontou também o
que chamou os equívocos da oposição liberal, afirmando que “as oposições
brasileiras inserem em seus programas questões puramente formais... detêm-se no
considerar as piores ou melhores formas de democracia quando devemos cogitar da
própria salvação da democracia com o imprimir-lhe um sentido novo e consentâneo
com as realidades históricas e sociais”. Revelou-se também anticosmopolita e
apologista de um Brasil agrário, defendendo a concepção de que o processo de
formação histórica do país foi determinado, em última instância, pelo conflito
entre o litoral (reduto da influência européia) e o hinterland (núcleo da
verdadeira cultura brasileira). A luta de classes seria apanágio das sociedades
economicamente adiantadas, urbanas e industriais da Europa e, conforme frisou,
provocada “exclusivamente pelo mal urbano, a centralização industrial e a fascinação
das cidades”. Considerou, entretanto, que o Brasil não poderia permanecer à
margem da situação mundial. O conflito entre o fascismo e o comunismo — sobre
os quais se absteve de firmar um julgamento definitivo — já aparecia, em sua
opinião, como o centro das disputas na Europa. “Ambos, profundamente
materialistas, decretam a falência da democracia — ou triunfa o imperialismo
econômico baseado no ‘nacionalismo’ no ‘fascismo’, na ‘ditadura militar’, ou
vence o imperialismo político da III Internacional.” Julgando prematura a
organização de novos partidos no Brasil, preconizou, em termos práticos
imediatos, uma ação de soerguimento espiritual e moral dentro das tradições do
povo brasileiro, referindo-se ao verde-amarelismo como “a Grande Véspera de um
definido pensamento nacional”.
Também em 1927, em co-autoria com Cassiano Ricardo e Menotti
del Picchia, Salgado compôs O Curupira e o carão, livro-programa da “revolução
da Anta”, denominação que sugerira em homenagem ao mamífero-totem dos tupis.
Esse movimento, que o próprio Salgado definia como sendo a “ala esquerda do
verdeamarelismo”, seria revidado com sarcasmo pela Revista de Antropofagia,
lançada em 1928 por Oswald de Andrade. Com o grupo da Anta, Salgado dedicou-se
ao estudo da cultura indígena numa tentativa de estabelecer as autênticas
origens da nacionalidade, tendo inclusive aprendido a língua tupi com seu amigo
Raul Bopp, para estudar com maior profundidade os temas nativos. Nessa fase,
produziu um conjunto de artigos de exaltação ao índio, voltados para os mitos
da terra, da raça e do sangue, com a perspectiva de que “a nossa formação
espiritual brasileira tem por base a completa destruição dos ídolos europeus e
o despertar das energias adormecidas no recesso do sangue e da alma do Brasil”.
A identificação com o fascismo e as origens da AIB
Em fevereiro de 1928, Plínio Salgado foi eleito deputado
estadual na legenda do PRP, tendo contado, assim como Menotti del Picchia, com
o apoio do presidente de São Paulo, Júlio Prestes. Participou de um movimento
de intelectuais ligados ao PRP, conhecido como Ação Renovadora Nacional, que,
entretanto, dissolveu-se sem alcançar o objetivo desejado, porque, segundo
Salgado, o próprio partido “desinteressava-se completamente pelas questões
doutrinárias”.
Permanecendo vinculado ao PRP, na campanha para as eleições
presidenciais de março de 1930 apoiou a candidatura de Júlio Prestes,
patrocinada oficialmente pelo presidente Washington Luís contra a candidatura
oposicionista de Getúlio Vargas, lançada pela Aliança Liberal. Logo após a
vitória de Júlio Prestes, Salgado aceitou o convite de Sousa Aranha para viajar
ao exterior como preceptor de seu filho, Joaquim Carlos. Assim, em 26 de abril
de 1930, antes de concluir seu mandato de deputado estadual, deixou o país rumo
ao Oriente Médio e à Europa.
Iniciou a viagem visitando o Egito, a Palestina e a Turquia,
e percorreu em seguida cerca de oito países da Europa. A passagem pela Itália
representou, sem dúvida, um momento decisivo para sua futura carreira política.
Durante um mês, observou de perto a experiência fascista, que o influenciou
profundamente, e, após um encontro com o ditador italiano Benito Mussolini,
escreveu a um amigo no Brasil dizendo que um “fogo sagrado” entrara em sua
vida. “Volto para o Brasil, disposto a organizar as forças intelectuais
esparsas, coordenaras dando-lhes uma direção, iniciando um apostolado.” Sobre a
aplicação do modelo fascista ressalvou que “não é exatamente esse regime que
precisamos aí, mas é coisa semelhante”. Em Paris, concluiu o romance O esperado
— que seria publicado no Brasil em 1931 — e redigiu o esboço de um manifesto
político com a intenção de lançá-lo imediatamente após sua chegada ao Brasil.
Alguns anos mais tarde, resumiria dessa forma suas impressões
da viagem: “Vira a renovação política da Turquia, o fascismo na Itália, lera
uma vasta literatura comunista que circulava em Paris, estudara a
socialdemocracia alemã, examinara a pequenina Bélgica, meditara no Egito sobre
o imperialismo inglês, observara a anarquia dos espíritos na Espanha e a nova
ordem em Portugal, e tudo me mostrava a morte de uma civilização, o advento de
uma nova etapa humana.”
Após
quase seis meses de viagem, em 4 de outubro de 1930 Salgado retornou ao Brasil,
exatamente no dia seguinte à deflagração do movimento revolucionário contra o
presidente Washington Luís. A rebelião fora articulada pelos dirigentes da
Aliança Liberal e pelos “tenentes” — designação dada aos jovens oficiais do
Exército que haviam liderado os movimentos revolucionários da década de 1920 —,
nos meses que se seguiram às eleições presidenciais. Durante a insurreição,
publicou dois artigos no Correio Paulistano em defesa do governo federal,
criticando o que identificava como a orientação liberal-democrática do
movimento. Após a deposição de Washington Luís em 24 de outubro, o Correio
Paulistano foi depredado e vários de seus companheiros foram presos. Salgado
não foi, todavia, visado pelo interventor federal em São Paulo, o tenente João
Alberto Lins de Barros, permanecendo em liberdade.
No período que se seguiu, adotou rapidamente uma atitude
favorável ao Governo Provisório, chefiado por Vargas, ligando-se à Legião
Revolucionária de São Paulo, fundada em meados de novembro por João Alberto,
Miguel Costa e outros “tenentes”, com o objetivo de imprimir um sentido próprio
à revolução e combater o liberalismo ortodoxo da Constituição de 1891.
Em fevereiro de 1931, em carta a Augusto Frederico Schmidt,
Salgado comunicou sua intenção de criar um jornal com o apoio financeiro de
Sousa Aranha. “É o que nesse momento se pode fazer. Nesse instante, eu me sinto
imensamente desamparado de elementos materiais para qualquer ação política.” No
dia 3 de março seguinte, o Manifesto da Legião Revolucionária, redigido por
Plínio Salgado com base no documento elaborado em Paris, foi divulgado pelo O
Jornal, do Rio de Janeiro. Defendia, entre outras teses, o Estado centralizado
e forte, ao lado de um Poder Judiciário autônomo e unificado e de um
Legislativo de técnicos e não de políticos; a nacionalização de alguns setores
da economia, a eleição indireta do presidente da República e a organização das
classes pelo Estado. O manifesto teve extraordinária repercussão entre os
intelectuais, sendo considerado por Oliveira Viana um “documento de uma
importância vital para a nação”.
Viajando
em seguida para o Rio de Janeiro com o objetivo de “formar uma corrente de
opinião em defesa dos ideais do manifesto”, Plínio Salgado conseguiu atrair um
grupo de estudantes e intelectuais integrado, entre outros, por Augusto
Frederico Schmidt, José Madeira de Freitas, Raimundo Padilha, Francisco de San
Tiago Dantas e Lourival Fontes, muitos dos quais se tornariam futuros
dirigentes da Ação Integralista Brasileira (AIB). Paralelamente, tentou também
estreitar suas relações com os círculos tenentistas do Rio, reunindo-se, no dia
31 de março, com o ministro da Justiça Osvaldo Aranha, em encontro marcado por
Sousa Aranha, primo do ministro. Em abril, compareceu ao Congresso das Legiões,
no qual foi discutido o plano de Aranha para a criação de uma organização de
âmbito nacional de suporte ao Governo Provisório. A essa altura, a Legião
Revolucionária de São Paulo desenvolvia intensa oposição aos grupos
tradicionais na política paulista, defrontando-se, porém, com sérias
dificuldades para se firmar como movimento organizado, a exemplo das demais
legiões fundadas nos estados. Durante o congresso, alguns delegados contestaram
a participação de Salgado em virtude da oposição que fizera ao movimento armado
de 1930, levando-o a se retirar sob protesto.
Em
junho de 1931, o jornal A Razão foi fundado em São Paulo por Sousa Aranha,
tendo como principais redatores Salgado e San Tiago Dantas. O jornal
destacou-se por uma intensa campanha contra a convocação de uma assembléia
constituinte, reivindicada pelas forças políticas tradicionais de São Paulo —
principal centro de oposição ao novo regime — e também por grupos dirigentes
dos estados de Minas e Rio Grande do Sul. No auge da campanha contra a
constituinte, Salgado escreveu diversos artigos exaltando a liderança de Vargas
e conclamando-o a se tornar “o bom tutor desse povo infantil”. Entretanto,
subjacente ao apoio que prestava ao Governo Provisório, havia fundamentalmente
o interesse em evitar um retorno ao regime político da Primeira República.
Em suas “Notas políticas”, redigidas diariamente a partir de
julho, Plínio Salgado fixou os princípios doutrinários de sua futura ação
política. Segundo Hélgio Trindade “alguns temas, tais como o antiliberalisrno e
o nacionalismo foram bem definidos, enquanto outros permaneceram num nível
intuitivo e vago, como por exemplo a organização do Estado”. Assim, ao se
referir ao “Estado integral” num de seus artigos, Salgado definiu-o de forma
abstrata como “o conjunto de forças materiais morais e intelectuais... impondo uma
finalidade humana aos povos”. Adiantou porém que esse Estado seria corporativo,
unipartidário e basicamente semelhante ao “Estado fascista”, defendendo que “o
que há de essencial na doutrina fascista é perfeitamente aceitável como
concepção do Estado”.
As
idéias fascistas influenciaram, já nessa época, um número crescente de
intelectuais e homens de ação dispersos pelo país. No final de 1931, a Legião
Cearense do Trabalho — movimento de inspiração fascista fundado pelo tenente
Severino Sombra — havia conseguido em poucos meses de existência uma
extraordinária penetração, congregando cerca de 15 mil adeptos. Outra
organização identificada como antiliberalismo, o movimento monarquista Ação
Imperial Patrionovista, desenvolvia intenso trabalho de arregimentação
política. Em Minas, o jornalista Olbiano de Melo lançara as bases do Partido
Nacional Sindicalista. Esses movimentos, todavia, não possuíam qualquer vínculo
com o Governo Provisório, diferenciando-se, portanto, das legiões
revolucionárias.
No
início de 1932, decepcionado com a indefinição ideológica do regime, Salgado
idealizou a criação de um centro de estudos, visando congregar os intelectuais
e líderes políticos identificados com as idéias fascistas. A primeira reunião
para a organização da Sociedade de Estudos Políticos (SEP) foi realizada em
fevereiro de 1932, na sede do A Razão. Na ocasião foi discutida e aprovada a
carta de princípios da SEP, sob a forma de nove postulados, redigidos por
Salgado. O documento coincidia em linhas gerais com o manifesto legionário e
propunha uma reorganização da sociedade brasileira a partir do seguinte
princípio: “Somos por um ideal de justiça humana, que realiza o máximo de
aproveitamento dos meios de produção em benefício de todos, sem atentar contra
o princípio da propriedade, ferido tanto pelo socialismo como pelo
democratismo, nas expansões que aquele dá à coletividade e este ao indivíduo.”
A SEP chegou a contar com 148 membros, a maioria deles
antigos companheiros de Plínio Salgado da jovem guarda lítero-perrepista,
intelectuais do Rio com quem estabelecera contato após a Revolução de 1930,
estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo e elementos da Ação Imperial
Patrionovista, como por exemplo Sebastião Pagano. O ideário da organização foi
também difundido em Minas e no Ceará por intermédio de Olbiano de Melo e do
tenente Severino Sombra. Nessa mesma época, Salgado organizou uma tômbola em
benefício da Cruz Vermelha, sendo processado por jogo fraudulento e apelidado
pela imprensa de “Plínio Tômbola”.
Em 23 de maio de 1932, a sede do jornal A Razão foi
incendiada por estudantes adeptos do movimento constitucionalista, durante as
violentas manifestações que marcaram a visita de Osvaldo Aranha, já ministro da
Fazenda, a São Paulo. No dia seguinte, Salgado propôs em assembléia da SEP a
criação de uma “nova comissão técnica, denominada Ação lntegralista
Brasileira”, destinada a “transmitir ao povo em uma linguagem simples os
resultados dos estudos e as bases doutrinárias” da organização. Apesar da
oposição de Cândido Mota Filho, que insistiu na manutenção do caráter cultural
da entidade, a proposta foi aprovada pela maioria. Em junho, o manifesto
redigido por Salgado para divulgar publicamente a Ação Integralista Brasileira
(AIB) foi aprovado em assembléia geral da SEP, mas a publicação do documento
foi adiada em virtude do iminente confronto armado entre São Paulo e o Governo
Provisório.
A eclosão da Revolução Constitucionalista, em 9 de julho de
1932, impediu também a realização de um encontro entre Salgado, Olbiano de Melo
e Severino Sombra, marcado para o dia seguinte, no Rio. Segundo Olbiano de
Melo, os três líderes estavam dispostos, na época, a unificar suas atividades
em torno de “um mesmo e único partido”. Diferentemente de Plínio Salgado,
Severino Sombra aderiu à Revolução Constitucionalista, sendo preso e exilado em
Portugal. Mais tarde as divergências entre ambos se aprofundariam, levando-os
ao rompimento político.
O Manifesto de outubro e sua doutrina
Em 7 de outubro de 1932, logo após a capitulação das forças
constitucionalistas, foi divulgado em São Paulo o documento que ficou conhecido
como Manifesto de outubro, que marcou a fundação oficial da AIB como movimento
político independente.
O
integralismo de Plínio Salgado fundamentava-se em valores morais e religiosos e
num ideal nacionalista sintetizado no próprio lema da AIB: “Deus, Pátria e
Família.” A frase inicial do manifesto, “Deus dirige os destinos dos povos”,
assinalou a adoção de um princípio de fé, que definia o progresso moral como a
finalidade superior do ser humano: “O homem deve praticar sobre a terra as
virtudes que o elevam e o aperfeiçoam... o trabalho e o sacrifício em favor da
Família, da Pátria e da Sociedade.” Hélgio Trindade considerou fundamental na
doutrina integralista o ideal de uma sociedade harmoniosa. “Os homens e as
classes”, dizia o documento, “podem e devem viver em harmonia. É possível ao
mais modesto operário galgar uma elevada posição financeira ou intelectual.”
Sob
esses aspectos doutrinários, observou ainda Hélgio Trindade, “o integralismo
aproxima-se muito mais dos fascismos conservadores — o português (salazarismo),
o espanhol (Falange Espanhola) e o belga (rexismo), do que do espiritualismo
vago do fascismo italiano ou do agnosticismo nacional-socialista alemão”. A
começar pelo próprio nome, identificava-se com o integralismo português —
movimento político nacionalista, católico e antiliberal, fundado em 1914 por
Antônio Sardinha —, que propôs instaurar em Portugal uma nova monarquia, até se
declarar dissolvido em 1933.
O nacionalismo que defendia possuía um sentido mais cultural
e político do que econômico e, em termos culturais, Salgado opunha-se acima de
tudo ao cosmopolitismo. Tal como se encontrava definido no Manifesto de
outubro, sua proposta nacionalista “visava afirmar o valor do Brasil e de tudo
o que é útil e belo no caráter e nos costumes brasileiros”. Em termos
políticos, considerou a organização jurídico-política do “Estado liberal” como
o entrave fundamental à unidade nacional. Segundo enfatizou no manifesto, “o
Brasil não pode realizar a união íntima e perfeita de seus filhos, enquanto
existirem estados dentro do Estado, partidos políticos fracionando a nação,
classes lutando contra classes, indivíduos isolados exercendo ação pessoal nas
decisões do governo, enfim, todo e qualquer processo de divisão do povo
brasileiro”.
Assim
como no conjunto de suas obras doutrinárias, Salgado desferiu no documento
violentas críticas ao capitalismo e ao comunismo, embora não colocasse em
questão os fundamentos econômicos do sistema capitalista, mas seus aspectos
liberais, seu “individualismo desenfreado” e sua “indiferença criminosa pelos
operários e a pequena burguesia”. Opunha-se também ao comunismo como solução
para a questão social, combatendo sua concepção materialista de vida, que
apresentava, segundo suas palavras, o “agravante de reduzir todos os patrões a
um só e escravizar o operariado a uma minoria de funcionários cruéis,
recrutados todos na burguesia”.
No final do manifesto, definiu como objetivo básico do
movimento a implantação do “Estado integral”. Diferentemente do “Estado
liberal” e de seu “falso” sistema de representação, baseado nos partidos
políticos e no princípio do sufrágio universal, o “Estado integral” permitiria
a representação efetiva dos interesses reais e particulares, a partir da
organização dos brasileiros em “classes profissionais”. Por esse sistema,
assinalava o documento, “cada brasileiro se inscreverá na sua classe”, e “cada
uma de per si” elegerá “seus representantes nas câmaras municipais, nos
congressos provinciais e nos congressos gerais”, os quais, por sua vez,
elegerão os poderes executivos correspondentes a cada instância. Dessa forma,
tal como nos regimes fascistas, a organização do “Estado integral” teria como
base o princípio corporativista, embora não se constituísse, pelo menos
teoricamente, como instituição moderadora da sociedade e seu sistema de
valores. Nesse ponto, como observou Hélgio Trindade, a concepção de Estado de
Salgado era diferente da de Miguel Reale, o segundo teórico de importância do
integralismo, para quem o “Estado é fim enquanto representa o ideal comum”.
A
teoria integralista sintetizada no Manifesto de outubro foi posteriormente
desenvolvida por Plínio Salgado em diversos livros doutrinários, dos quais os
mais importantes foram A psicologia da revolução, O que é o integralismo, ambos
publicados em maio de 1933, e A quarta humanidade, publicado em 1934. Nessas
obras, Salgado apresentou sua visão de universo e de homem e uma interpretação
global da história da humanidade, a fim de situar a missão histórica do
integralismo.
Sua filosofia da história apoiava-se numa concepção
evolucionista baseada no confronto entre o conceito materialista e o
espiritualista, e dividida em quatro idades, positivas ou negativas,
espiritualistas ou materialistas. Na primeira idade — denominada humanidade
politeísta — espiritualismo e materialismo apareceram de forma combinada, sem
que um prevalecesse sobre o outro. A vitória da concepção espiritualista teria
dado origem à segunda humanidade — monoteísta — que se desenvolveu
historicamente na Idade Média. A partir do Renascimento, os princípios liberais
teriam legitimado a liberdade de competição, o individualismo desenfreado e a
busca da riqueza como finalidade única do ser humano. O materialismo
configurava-se, portanto, como o princípio fundamental da terceira humanidade,
dando sentido à civilização burguesa-capitalista. O triunfo da concepção
materialista no século XIX teria subvertido inteiramente as tradições e os
valores morais, levando o homem a uma situação de miséria, sofrimento e caos.
Dissociado da religião, o trabalho deixara de ser um “atributo de homem”, para
se transformar numa mercadoria. O trabalhador teria se tornado um apêndice da
máquina, perdendo inclusive o controle da propriedade de seus instrumentos de
trabalho para os grandes empresários, os “argentários”, preocupados apenas em
obter riquezas.
De acordo com seu esquema de interpretação da história, o
Brasil foi situado no contexto da terceira humanidade — a humanidade ateísta.
Apenas no período colonial “o Brasil fora realmente brasileiro, realmente
nacionalista... pois Portugal estava tão longe de nós que tratávamos de viver
uma vida em separado. Uma vida espontânea, bárbara e selvagem”. A independência
teria permitido a supremacia do Brasil “formal” sobre o Brasil “real”, ou seja,
o domínio e a opressão de uma elite cosmopolita do litoral sobre as populações
sertanejas do interior, divisão que se constituía no problema básico da nação.
Salgado considerava o integralismo como uma “revolução
espiritual” que abrangeria não só o Brasil, mas “todo o complexo panorama
universal”, inaugurando um novo período na história do homem: a quarta
humanidade, denominada humanidade integralista.
A primeira fase da AIB (1932-1934)
A Ação Integralista Brasileira progrediu lentamente nos
primeiros meses que se seguiram à sua fundação. Em São Paulo, no final de 1932,
após três meses de ativa propaganda, o núcleo integralista contava com apenas
50 membros, alguns deles pertencentes à Ação Imperial Patrionovista, que,
entretanto, logo em seguida abandonariam a AIB.
Em
Minas, na Bahia e no Ceará, a organização foi lançada oficialmente ainda em
1932, graças aos contatos de Plínio Salgado com intelectuais e líderes
políticos desses estados. Em Pernambuco, a AIB contou com o apoio inesperado de
estudantes da Faculdade de Direito de Recife, através de um manifesto assinado
entre outros acadêmicos por Álvaro Lins, embora as adesões mais significativas tenham
sido as do padre Hélder Câmara e do “tenente” Jeová Mota, sucessor de Severino
Sombra no comando da Legião Cearense do trabalho. Em dezembro de 1932, Salgado
enviou Pedro Carneiro Leães Sobrinho e Antônio Giudice a diversas capitais do
país, com o objetivo de acelerar a formação de núcleos integralistas. Apesar
disso, o núcleo do Distrito Federal seria fundado apenas em abril de 1933.
Por outro lado, já nos primeiros meses de 1933, um pequeno
grupo de católicos, estimulados pela tomada de posição de Alceu Amoroso Lima,
secretário-geral da Liga Eleitoral Católica (LEC), aderiu à AIB. Em seguida,
visando às eleições de maio de 1933 para a Assembléia Nacional Constituinte,
Salgado propôs aos dirigentes da liga que reconhecessem a AIB como partido
oficial da Igreja Católica. A LEC, entretanto, recusou a proposta, limitando-se
a apoiar os nomes de alguns candidatos integralistas como Jeová Mota. Segundo
Laurita Raja Gabaglia, Salgado advertiu então Alceu Amoroso Lima e o padre
Leonel Franca que “desta vez triunfará a LEC, em outra eleição triunfarão os
comunistas, e, finalmente, triunfaremos nós”.
Em 23 de abril de 1933, a AIB realizou o primeiro desfile
público integralista, com a participação de cerca de 40 membros que percorreram
as ruas de São Paulo com o uniforme de camisas verdes e a braçadeira com a
letra grega maiúscula sigma, símbolo matemático escolhido como emblema da
organização por significar “soma” ou “integral”. Após o desfile, Salgado
presidiu uma convenção dos integralistas de São Paulo, na qual foi lançada a
candidatura de Miguel Reale à Assembléia Nacional Constituinte. Realizado o
pleito, a AIB recebeu cerca de dois mil votos, não elegendo nenhum candidato,
mas conseguiu se fazer representar na Constituinte, com a eleição de Jeová Mota
na legenda da LEC, que disputou apenas no Ceará.
A formação das “bandeiras integralistas”, em julho de 1933,
deu novo impulso ao movimento. A “bandeira” que se dirigiu para o Norte foi
liderada por Plínio Salgado e por Gustavo Barroso, escritor e membro da Academia
Brasileira de Letras (ABL), recém-convertido ao integralismo. Durante dois
meses a caravana percorreu o litoral do Nordeste, promovendo debates e
conferências em quase todas as capitais da região. Por sua vez, Miguel Reale
chefiou uma “bandeira” em direção ao Sul, fundando novos núcleos no Paraná, em
Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. No trajeto de volta, Salgado visitou
ainda Vitória e Campos (RJ), e, em 27 de agosto, liderou a primeira marcha
integralista no Distrito Federal, à frente de cem militantes. No dia 8 de
outubro, a pretexto da chegada de Gustavo Barroso à capital paulista, liderou
uma nova marcha, reunindo dessa vez mais de oitocentos integralistas.
Em
novembro, por ocasião da abertura dos trabalhos na Constituinte, Salgado
decidiu instalar a sede nacional da AIB no Rio de Janeiro, transferindo-se de
São Paulo. Nos meses seguintes, dedicou-se basicamente aos preparativos do I
Congresso Nacional da AIB, marcado para fevereiro de 1934, em Vitória. Nesse
meio tempo, ampliou sua liderança sobre o movimento e sobre as direções dos
grupos integralistas locais e regionais, confiadas a triunviratos, abrindo
caminho para sua designação como dirigente do integralismo. Durante o
congresso, realizado entre 28 de fevereiro e 4 de março de 1934, Salgado foi
eleito chefe nacional da AIB, derrotando as pretensões de Severino Sombra e sua
proposta de uma direção colegiada, composta por Salgado, o próprio Sombra e
Olbiano de Melo. Além disso foi instituída uma estrutura organizativa
burocrática e hierarquizada, em substituição ao arremedo de organização
improvisado em 1933.
O chefe nacional
Plínio Salgado seria o único chefe nacional da AIB até sua
extinção, em 2 de dezembro de 1937. Tal como os chefes dos partidos fascistas
europeus, dispunha legalmente pelos estatutos da entidade do poder total e
indivisível do movimento integralista.
Os
estatutos, aprovados em 1934 no congresso de Vitória, afirmavam explicitamente
que o “chefe nacional dirigirá e comandará todo o movimento em todas as
províncias através dos departamentos nacionais” e que em cada departamento “o
chefe nomeará para auxiliá-lo um secretário nacional sob sua imediata
fiscalização”. Salgado possuía também o direito exclusivo de nomear os membros
do Conselho Nacional, um órgão de funções meramente consultivas, e os
dirigentes da AIB em cada estado, denominados chefes provinciais. Ainda em
1934, Salgado criou uma nova “província” — a Província do Mar para os
marinheiros e brasileiros residentes no exterior.
Seu
primeiro ato como chefe nacional foi a designação, em 4 de março de 1934, dos
chefes provinciais e dos secretários dos departamentos nacionais: Everaldo
Leite (Organização Política), Miguel Reale (Doutrina), José Madeira de Freitas
(Propaganda), J. Rodolfo Josetti (Cultura Artística), Gustavo Barroso (Milícia)
e Belmiro Valverde (Finanças). Dispunha também de um Gabinete Civil e Militar,
subdividido em vários serviços: a Casa Militar e o Comando de Tropas de Serviços
Especiais — responsável por sua proteção —, o secretariado, o jornal oficial
Monitor Integralista — para divulgação de suas resoluções —, os serviços de
imprensa e os serviços de relações exteriores.
Os estatutos de 1934 consideravam sua pessoa “intangível” e
sua função “perpétua”. Nenhum integralista poderia comentar qualquer “ato do
chefe no exercício de suas funções”, sob pena de expulsão. Salgado criou
rituais minuciosamente prescritos com o objetivo de infundir entre os
militantes um sentimento de obediência e submissão à sua autoridade, e, ao
mesmo tempo, de refrear as pretensões de liderança de certos dirigentes
integralistas. Pelo menos um deles, Gustavo Barroso, chegou a rivalizar em
prestígio com Salgado, mas seria contido com habilidade até a extinção da AIB,
em dezembro de 1937.
De acordo com os Protocolos e Rituais da AIB de 1936, todo
novo militante integralista deveria prestar solenemente e diante do retrato do
chefe nacional um juramento que incluía as seguintes palavras: “Juro por Deus e
pela minha honra trabalhar para a Ação Integralista Brasileira, executando sem
discutir as ordens do chefe nacional e dos meus superiores.” Em todas as sedes
integralistas era obrigatória a presença de um retrato de Salgado e, em todas
as reuniões e solenidades, os militantes deveriam homenageá-lo exclamando três
vezes a palavra Anauê, que na língua tupi significava um grito de guerra e um
gesto de saudação. Os militantes deveriam saudar-se uns aos outros com um
simples Anauê, enquanto os dirigentes tinham direito a dois Anauê e Deus
poderia ser saudado com quatro Anauê, mas apenas pelo chefe nacional. O culto a
Salgado também era intenso entre as crianças e os adolescentes inscritos na
organização da juventude integralista, conhecidos como os plinianos. Os militantes,
de um modo geral, compraziam-se no extenso cerimonial da AIB. Como o próprio
Salgado explicaria em 1938 numa carta a Vargas, “todos os sacrifícios são
compensados por coisas simples facilmente compreensíveis — o uniforme, o gesto
simbólico... (os integralistas) adoram essas coisas ao ponto do delírio”.
Além dos rituais, Salgado valeu-se de suas inegáveis
qualidades de orador para ser reconhecido como o chefe onipotente do movimento.
Entretanto, segundo Hélgio Trindade, uma distância enorme se estabeleceu entre
a imagem difundida por seus adeptos e sua atuação concreta como homem de ação,
a julgar pelos depoimentos de seus colaboradores mais próximos. Rui Arruda,
membro do Gabinete do Chefe Nacional, criticaria particularmente sua inércia,
em entrevista dada em 1969, ao afirmar que a maior qualidade que possuía era “o
seu maior defeito como chefe: o excesso de inteligência... Ele vai ponderar o
ônus que uma atitude pode dar e acaba por tomar a pior solução: não fazer
nada”.
A atuação de Salgado como chefe da AIB revelaria, portanto,
uma contradição básica entre sua grande capacidade de influenciar as massas
através de discursos eloqüentes e sua timidez em traçar os rumos concretos do
movimento que liderava.
A ascensão da AIB e o confronto ideológico com as
esquerdas (1934-1935)
Após o congresso de Vitória, os organismos então instituídos
foram rapidamente articulados e dezenas de jornais foram fundados, entre os
quais A Ofensiva, o mais importante, publicado no Rio de Janeiro a partir de 17
de maio de 1934.
Nesse
ano, Salgado dedicou-se a uma intensa campanha de doutrinação, realizando
diversas viagens e conferências e atraindo estudantes e intelectuais para as
fileiras integralistas. Por outro lado, foram criadas escolas de alfabetização
para jovens, escolas noturnas para adultos, creches em favelas, garantindo para
as uniformizadas fileiras da AIB milhares de novos quadros. Em maio e junho de
1934, Salgado liderou desfiles integralistas no Rio e em São Paulo, que
reuniram aproximadamente quatro mil e três mil militantes, respectivamente. A
AIB começava então a se projetar como a primeira organização de massas no
Brasil, alcançando grande penetração tanto entre as classes médias urbanas como
também entre certos segmentos da classe trabalhadora, num momento em que o
ciclo revolucionário, inaugurado em outubro de 1930, parecia ter chegado ao seu
termo com a promulgação da nova Constituição e a eleição de Vargas, pelo
Congresso, à presidência da República, em julho de 1934. Na ocasião, em artigo
publicado em A Ofensiva, Salgado criticou a nova Constituição como “a firme
evidência de incapacidade de organizar-se para o bem nacional, inerente à
liberal democracia”.
O crescimento da AIB em 1934 gerou, em contrapartida, uma
reação mais organizada de partidos de esquerda contra o espectro do fascismo,
representado pelo integralismo. Ao longo desse ano, o Partido Comunista
Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), criou inúmeros grupos
antifascistas, seguindo as recomendações da III Internacional Comunista, ou
Komintern, para a formação de uma grande frente nacional, democrática e
antiintegralista. No início de setembro, Salgado viajou ao Sul do país para uma
série de conferências em cidades do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
visando as eleições legislativas de outubro de 1934. A campanha eleitoral nesse
segundo semestre foi bastante tumultuada pelos confrontos de rua que ocorreram
entre os integralistas e seus adversários de esquerda, registrando-se alguns
incidentes sangrentos, o mais grave no dia 7 de outubro, na praça da Sé, em São
Paulo. Visando comemorar o segundo aniversário da fundação da AIB, Salgado
decidira promover uma manifestação espetacular na capital paulista, convocando
inclusive integralistas de outros estados. O PCB, por sua vez, conclamou
diversas organizações de esquerda e sindicatos operários a comparecerem ao
mesmo local da concentração a fim de manifestarem repúdio à AIB e ao fascismo.
Segundo A Ofensiva, o tiroteio, que resultou na morte de cinco pessoas, só
terminou quando Salgado ordenou aos integralistas que se retirassem do local.
Realizado o pleito, os candidatos da AIB, todos escolhidos
por Salgado, receberam cerca de 40 mil votos, mas apenas um, João Carlos
Fairbantes, candidato à Assembléia Legislativa de São Paulo, conseguiu
eleger-se. Jeová Mota, chefe provincial do Ceará, conquistou uma cadeira da
Câmara dos Deputados, mas ainda na legenda da LEC.
No início de 1935, em meio ao clima de radicalização política
e de agravamento das tensões sociais, o governo Vargas enviou à Câmara um
projeto de lei de segurança nacional. A orientação conservadora do governo não
deixava margens de dúvida quanto ao verdadeiro alvo de Vargas: a anunciada
frente de oposição — a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que estava sendo
articulada pelos comunistas, pelos “tenentes” de esquerda e por elementos
apartidários. Compreendendo que, se aprovada, a nova legislação poderia ser
igualmente utilizada contra a AIB, em 23 de janeiro de 1935 Salgado divulgou em
São Paulo um manifesto de repúdio a essa possibilidade, recebendo nas semanas
subseqüentes a solidariedade de magistrados, parlamentares e escritores. Seus
esforços para resguardar a AIB foram parcialmente bem-sucedidos. Assim, quando
em 4 de abril a Lei de Segurança Nacional foi promulgada, proibindo, em um de
seus dispositivos, a existência de grupos armados, as milícias integralistas já
haviam sido abolidas formalmente por Salgado, que substituíra o Departamento
Nacional de Milícia pelo Departamento Nacional de Educação Moral e Cívica. Além
disso, o artigo que propunha a interdição do uso de uniformes, tambores e
clarins foi suprimido do texto final.
Nos meses que se seguiram, Salgado radicalizou ao extremo seu
discurso anticomunista, visando, em particular, a ANL, lançada em 30 de março,
tendo como presidente de honra Luís Carlos Prestes. Em seu livro Carta aos
camisas-verdes, publicado em 1935, afirmou ser o integralismo “o único inimigo
do comunismo”, e dirigiu-se aos liberais e comunistas em tom ameaçador: “Ireis
pagar-me em breve... É preciso que a liberal-democracia saiba que somos a única
força nacional, que somos audazes e que estamos dispostos a morrer.” Após o
fechamento da ANL, por decreto de Vargas, em 13 de julho de 1935, vários grupos
integralistas seguiram à risca as palavras de advertência de seu líder,
colaborando com a polícia na perseguição aos comunistas e adeptos da
organização.
Em
agosto de 1935, Salgado fez um balanço do movimento em mensagem dirigida aos
chefes provinciais, informando que a AIB contava na época com um deputado
federal, quatro deputados estaduais, 1.123 grupos organizados em 548 municípios
e quatrocentos mil adeptos. Seu fortalecimento se dera principalmente nos
estados do Sul — sobretudo entre as populações semi-rurais de ascendência
italiana ou alemã —, em São Paulo, no Distrito Federal, no estado do Rio, em
Minas Gerais, Espírito Santo, Alagoas e Ceará. Os integralistas contavam também
com o apoio de personalidades de prestígio nacional, como o ex-presidente
Epitácio Pessoa, e oficiais das forças armadas, sobretudo da Marinha. Embora
não filiados formalmente, o general Pantaleão Pessoa, chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas, e o coronel Newton Cavalcanti eram abertamente simpáticos à
AIB, o que conferia à organização certa influência sobre o governo. Vargas, por
sua vez, mantivera até então uma atitude de neutralidade em relação ao
integralismo, limitando-se a aprovar discretamente as restrições impostas à AIB
pelos governadores do Paraná e de Santa Catarina.
Em 7 de outubro de 1935, cerca de 40 mil integralistas,
liderados por Salgado, realizaram pela primeira vez em Blumenau (SC) a
cerimônia da “Noite dos tambores silenciosos”, em comemoração ao aniversário de
fundação da AIB e em protesto contra a extinção da milícia. A cerimônia,
incorporada às comemorações oficiais da AIB, seria realizada nos anos seguintes
de acordo com um ritual rigorosamente padronizado. Segundo a orientação contida
nos Protocolos e Rituais, sua celebração se daria simultaneamente em todas as
sedes integralistas do país, sob a presidência do “integralista mais pobre,
mais humilde, que representará o chefe nacional”.
A
manifestação de Blumenau reavivou a oposição dos integralistas a Vargas,
colocando-o de sobreaviso. Em princípios de novembro, a AIB envolveu-se na
crise entre o estado do Rio Grande do Sul e o governo federal a propósito da
sucessão fluminense. Nesse contexto, segundo Robert Levine, “o governo provocou
a estratégia” que levou à aprovação pela Câmara dos Deputados, em 20 de
novembro, da moção apresentada pela minoria parlamentar de oposição,
solicitando o fechamento da AIB.
A crise entre a AIB e o governo foi, porém, sustada pela
eclosão, nos dias seguintes, do Levante Comunista em Natal, em Recife e no Rio
de Janeiro. No dia 24 de novembro, Salgado encontrava-se em Pesqueira (PE) em
trânsito para Recife, quando foi informado do levante ocorrido em Natal no dia
anterior. Realizava então uma viagem pelo Nordeste, iniciada em Salvador, onde
participara do Congresso Integralista da Bahia. Diante do acontecimento inesperado,
antecipou seu regresso ao Rio e telegrafou a Vargas, colocando à sua disposição
cem mil “camisas-verdes” para o combate aos revoltosos. O fracasso da
insurreição, dominada rapidamente pelas tropas legalistas, deu novo alento à
repressão contra os comunistas, fortaleceu as tendências autoritárias do
governo e beneficiou imediatamente os integralistas. Não foi por acaso que o
coronel Newton Cavalcanti, conhecido simpatizante da AIB, foi promovido a
general no dia 30 de novembro seguinte.
Salgado,
por sua vez, colocou de lado a animosidade com o governo e reorientou os rumos
da AIB para uma linha de colaboração com o poder estabelecido. Em sua Carta de
Natal, de 1935, dirigida a todos os integralistas, declarou-se apreensivo com
os militantes exaltados, cuja ação escapava de seu controle.
O “ano verde” (1936)
Em 1936, o “ano verde” do integralismo, Salgado imprimiu uma
reorientação estratégica à AIB, transformando-a de fato em partido político e
conduzindo-a a seu ponto máximo de influência.
Redigiu em janeiro o manifesto-programa da organização, tendo
em vista as eleições municipais de março, e, principalmente, as eleições
presidenciais, marcadas para janeiro de 1938. O documento ratificou formalmente
o abandono da via revolucionária de tomada do poder, claramente enunciada no
Manifesto de outubro, contrariando as declarações de 1932, quando afirmara que
os integralistas estariam “proscritos espontaneamente da falsa vida política da
nação até o dia em que formos um número tão grande que restauraremos pela força
nossos direitos de cidadania e pela força conquistaremos o poder da República”.
Em março de 1936, teve lugar em Petrópolis o II Congresso
Nacional da AIB, considerado por Hélgio Trindade como um marco na transformação
do movimento integralista em partido político.
Nas eleições municipais realizadas em alguns estados nesse
mesmo mês, a AIB conseguiu uma importante vitória, capitalizando o clima de
anticomunismo existente no país: elegeu 24 prefeitos e mais de quinhentos
vereadores em Santa Catarina, São Paulo, Ceará, Alagoas, totalizando cerca de
250 mil votos. No dia 4 de abril, Salgado publicou um artigo em A Ofensiva
enfatizando a natureza democrática da organização integralista e seu apoio a
Vargas, que “nesse momento crítico defende nossos lares, nossa propriedade,
nossas tradições cristãs e nossa liberdade”.
Em 11 de abril, casou-se em segundas núpcias com Cannela
Patti, filha de um fazendeiro paulista e presidente do departamento feminino do
núcleo integralista de Taquaritinga (SP). Dez dias mais tarde, diante de três
mil integralistas reunidos no bairro carioca do Méier, reafirmou sua condição
de líder absoluto da AIB ao anunciar a expulsão de vários integralistas,
alegando a violação de seus votos de obediência ao chefe nacional.
Nos meses subseqüentes, reiterou a legalidade e o caráter
legítimo do integralismo, a fim de obstar o pedido de cancelamento de registro
da AIB, impetrado pelo Partido Trabalhista em fevereiro de 1936. Em 19 de
junho, o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral negou a solicitação mas exigiu
que a AIB realizasse modificações em sua estrutura organizativa, para que
pudesse ser plenamente reconhecida como partido democrático.
Em 16 de junho, Salgado reuniu no Rio de Janeiro os líderes
nacionais integralistas para anunciar as alterações no sistema burocrático
interno de organização e um amplo remanejamento de cargos. Os secretários
nacionais foram destituídos de suas funções, com exceção de Belmiro Valverde e
de Rodolfo Josetti, e nomeados para um novo órgão, o Conselho Supremo, criado
em lugar do Conselho Nacional e com as mesmas atribuições meramente
consultivas. Os seis departamentos que já existiam receberam a designação de
secretarias nacionais, e foram criadas ainda as secretarias de Arregimentação
Feminina e dos Plinianos, de Imprensa, de Relações com o Exterior e de
Assistência Social. O Departamento de Organização Política transformou-se em
Secretaria Nacional das Corporações e dos Serviços Eleitorais, com as
atribuições de desenvolver a atividade sindical e tratar do alistamento
eleitoral dos militantes e simpatizantes da AIB, tendo em vista a campanha à
sucessão presidencial de 1938. Dois novos órgãos foram criados para cumprir as
determinações da Justiça Eleitoral: Câmara dos 40, formada por “personalidades
de alto valor moral e intelectual”, e as Cortes do Sigma, o mais importante
organismo de representação da AIB, integrado pelos dirigentes da cúpula da
organização. Com a recomposição de junho de 1936, Salgado fortaleceu sua
autoridade sobre o conjunto do movimento, cortando com habilidade a ascensão de
Gustavo Barroso.
Em setembro de 1936, a maré montante do integralismo sofreu
um pequeno e inesperado refluxo. No início do mês, o então governador da Bahia,
Juraci Magalhães, ordenou a invasão da sede da AIB em Salvador e a prisão dos
principais dirigentes integralistas no estado. Em seguida, os governadores de
Santa Catarina, Espírito Santo, Alagoas e Paraná também determinaram o
fechamento dos centros integralistas em seus estados, enquanto o governador
Carlos de Lima Cavalcanti proibiu o porte de camisas verdes em Pernambuco.
Salgado replicou imediatamente, criando o Conselho Jurídico Nacional para
orientar e defender a AIB junto à Justiça, e convocando a primeira reunião das
Cortes do Sigma para o dia 17 de outubro. Determinou ainda a realização
simultânea, no Rio de Janeiro, do Congresso Parlamentar das Províncias
Meridionais e do Congresso Nacional Feminino.
Em 18 de outubro, dia do encerramento da reunião das Cortes
do Sigma, Salgado pronunciou um discurso destinado a ter grande repercussão.
Diante de aproximadamente dez mil pessoas reunidas no bairro carioca do Méier,
lançou uma declaração de guerra aos governadores de estados “que pretendem
aviltar o governo central da nação” e finalizou com as seguintes palavras: “No
momento em que a dignidade da nação está atingida, os camisas-verdes sabem a
quem apelar; às forças armadas da nação.”
Em 10 de dezembro, compareceu à sessão de encerramento da
Convenção Sindical dá AIB, realizada no Rio de Janeiro, na qual foi discutido e
aprovado um programa de reivindicações econômicas e uma campanha de
sindicalização em todo o país. Entretanto, ao contrário de Jeová Mota, chefe do
Serviço Sindical Corporativo, Salgado não deu maior ênfase às atividades
sindicais.
A campanha presidencial e o golpe de estado de novembro
de 1937
Em
janeiro de 1937, logo após o lançamento, em 30 de dezembro de 1936, da
candidatura oposicionista de Armando Sales, governador de São Paulo, à
presidência da República pelo Partido Constitucionalista, Plínio Salgado
iniciou os preparativos para a disputa do cargo, subordinando, a partir de
então, todas as atividades da AIB a esse objetivo estratégico. No dia 14 desse
mês, ordenou o alistamento eleitoral obrigatório dos integralistas, ameaçando
de expulsão os militantes recalcitrantes. No dia 26 seguinte, criou o cargo de
chefe arquiprovincial para as sete circunscrições em que dividia o país,
reunindo cada uma de duas a quatro “províncias” integralistas.
Em 9 de abril, lançou formalmente a campanha eleitoral da
AIB, anunciando a realização de um plebiscito para a escolha do candidato
integralista à presidência da República. Ainda nesse mês, instituiu uma nova
cerimônia oficial, as “Matinas de abril”, em comemoração ao aniversário da
primeira marcha pública realizada quatro anos antes em São Paulo. Seu ritual
estabelecia que os militantes de cada centro integralista deveriam se perfilar
numa praça pública no dia 23 de abril de cada ano, a fim de prestarem uma
homenagem silenciosa ao sol nascente.
Na
noite de 22 de maio, após um mês de intensos preparativos e propaganda pelos
jornais e rádios, o plebiscito integralista foi iniciado. Na manhã do dia
seguinte, pouco antes do encerramento da consulta, Salgado pronunciou o
discurso intitulado “Salvemos a democracia”, ressaltando o método “democrático”
de escolha do candidato da AIB e condenando o “caciquismo político” dos
governadores de estados, bem como o “exercício de fraude através das máquinas
administrativas”. Tratava-se no caso de uma crítica indireta às candidaturas de
Armando Sales e de José Américo de Almeida, esta última lançada oficialmente no
dia 25 de maio numa convenção de governadores realizada no Rio de Janeiro.
Alguns dias mais tarde, entretanto, o capitão Jeová Mota rompeu publicamente
com a AIB, denunciando o caráter fascista e antidemocrático de certos aspectos
de sua doutrina e organização, bem como a indiferença por uma “intensa ação
proletária sindical”.
Em 5 de junho, Plínio Salgado formou a Câmara dos
Quatrocentos, embrião da futura Câmara Corporativa, escolhendo os componentes
do novo órgão entre militantes das mais diversas profissões e “províncias”
integralistas. Em 11 de junho, Everaldo Leite, chefe da Junta Executiva
Nacional para a Campanha Eleitoral, comunicou às Cortes do Sigma, solenemente
instaladas no Instituto de Música, no Rio de Janeiro, a vitória de Salgado no
plebiscito de maio, por 846.554 votos contra 1.397 dados a Gustavo Barroso e
164 atribuídos a Miguel Reale. Em 12 de junho, Salgado aceitou formalmente sua
candidatura à presidência da República com um discurso conhecido pelo título
“Cristo e o Estado integral”, que concluiu com as seguintes palavras: “Por
Cristo me levantei; por Cristo quero um grande Brasil; por Cristo ensino a
doutrina da solidariedade humana e da harmonia social; por Cristo luto; por
Cristo vos conclamo; por Cristo vos conduzo; por Cristo batalharei.” No dia
seguinte, liderou um desfile de 25 mil integralistas pela avenida Rio Branco,
no Rio de Janeiro, na maior demonstração de força até então realizada pela AIB
na capital federal.
Em
14 de junho, Gustavo Barroso, Miguel Reale, Everaldo Leite e outros
integralistas reuniram-se com o presidente Vargas e seu ministro da Justiça,
José Carlos de Macedo Soares, para comunicar o lançamento da candidatura de
Salgado. O presidente agradeceu a visita com uma mensagem simpática à AIB,
declarando que o movimento integralista o “impressionava satisfatoriamente”,
pois jamais havia criado “nenhuma dificuldade para com o meu governo”. Até aquele
momento Vargas conseguira manter uma atitude de aparente neutralidade em
relação à sucessão presidencial, embora houvesse fortalecido ainda mais seu
poder discricionário através de uma série de intervenções em diversos estados.
Nos meses seguintes, José Américo de Almeida, o candidato que apoiava
“oficiosamente”, radicalizou sua campanha eleitoral, conferindo-lhe um tom
considerado esquerdizante por alguns e sendo por isso gradativamente abandonado
pelo governo.
Em junho de 1937, a campanha à sucessão presidencial ganhou
novo impulso devido à suspensão do estado de guerra, que substituíra o estado
de sítio em vigor desde o Levante Comunista de novembro de 1935. A campanha
integralista estendeu-se por todo o país, sendo constituídos em menos de dois
meses, segundo a revista Anauê, cerca de quatro mil comitês pró-Plínio Salgado.
Esses comitês desenvolveram maciça propaganda de caráter acentuadamente
anticomunista e ressaltaram também o trabalho de assistência social realizado
pela AIB. Trataram ainda de obter recursos para a campanha financeira da
organização, denominada Empréstimo do Sigma, arrecadando um total de 96 contos,
segundo A Ofensiva. Essa quantia era, sem dúvida, irrisória se comparada com a
ajuda mensal de 50 contos que a AIB recebia mensalmente do governo italiano
através de sua embaixada no Rio, segundo revelação do conde Ciano, que mais
tarde veio a público.
A AIB utilizou largamente os novos meios de comunicação de
massa — rádio e cinema para sua propaganda eleitoral, transmitindo semanalmente
um programa de rádio no Rio e em Niterói, e organizando dezenas de sessões de
cinema em núcleos integralistas para a projeção de documentários produzidos
pela Sigma-Film, companhia fundada e dirigida por Fritz Kummert Júnior.
A
principal tônica da campanha de Plínio Salgado foi, sem dúvida, o
anticomunismo, sobretudo após o malogrado atentado a bala que sofreu no dia 18
de julho, em São Paulo, quando assistia a um desfile integralista. Salgado
escapou ileso, mas várias pessoas ficaram feridas no tumulto que se seguiu ao
tiroteio. No dia seguinte, de volta ao Rio, onde permaneceria o resto da
campanha, denunciou um complô comunista para matá-lo, responsabilizando um
grupo de judeus russos pelo frustrado atentado.
Nas
semanas subseqüentes, foram registrados novos conflitos de rua entre
integralistas e comunistas e ataques a sedes da IAB no Espírito Santo e em
Santa Catarina. A partir do início de agosto, Salgado passou a denunciar
sistematicamente o perigo de um golpe de Estado comunista e a infiltração de
“agentes de Moscou” entre os que apoiavam as candidaturas de José Américo e de
Armando Sales.
Em 15 de agosto um comício integralista em Campos (RJ) foi
interrompido por um tiroteio que resultou em 13 mortos e em dezenas de feridos.
Três dias depois, Salgado interditou temporariamente o porte de camisas verdes
e dos distintivos integralistas, a fim de evitar as “provocações comunistas”.
Em 28 de agosto o capitão Olímpio Mourão Filho, chefe do
Serviço Secreto da AIB, apresentou-lhe um documento para “estudo interno” sobre
a ação dos comunistas e a reação dos integralistas numa insurreição simulada.
Salgado rejeitou sua formulação e vetou a distribuição do documento às milícias
integralistas. Paralelamente, Vargas também agitava os meios políticos com o
espectro do comunismo e, em comum acordo com o ministro da Guerra, Eurico
Gaspar Dutra, e o chefe do Estado-Maior do Exército, Pedro Aurélio de Góis
Monteiro, intensificou em setembro as articulações para a implantação de um
Estado autoritário através de um golpe de força.
A participação de Plínio Salgado nos preparativos do golpe
seria descrita por ele próprio numa carta enviada a Vargas em 28 de janeiro de
1938, relatando que em setembro de 1937 fora procurado por Francisco Campos, o
qual, dizendo-se autorizado pelo presidente, “me entregou o original de um
projeto de uma constituição que deveria ser outorgada, num golpe de Estado ao
país”. No dia seguinte, segundo a mesma carta, Salgado voltou a encontrar-se
com Francisco Campos na casa de Amaro Lanari, declarando-se em princípio
favorável ao projeto de constituição corporativista que lhe fora apresentado,
embora julgasse suficiente “apenas algumas reformas na Carta de 34”,
notadamente a substituição do sufrágio universal pelo voto corporativo e a
ampliação dos poderes de intervenção do Estado na vida econômico-financeira do
país. Após essas observações preliminares, manifestou-se favorável ao golpe de
Estado como solução para a crise nacional.
Em 30 de setembro de 1937, o general Dutra anunciou a
descoberta de uma trama comunista para a derrubada do governo, esboçada no
documento intitulado Plano Cohen. Tratava-se, na verdade, do documento
elaborado pelo capitão Mourão Filho apresentado a Salgado — que, apropriado
pelo general Góis Monteiro, fora utilizado como pretexto para acelerar os
preparativos do golpe. Por motivos óbvios, Salgado não denunciou a farsa
montada pelo governo, apressando-se em manifestar seu apoio irrestrito a Vargas
e à reinstauração do estado de guerra, concedida pelo Congresso em 19 de
outubro.
No
dia 5 de outubro, segundo depoimento de Olbiano de Melo, Plínio Salgado reuniu
os membros da Câmara dos 40, no Rio de Janeiro, e revelou os planos de Vargas.
De acordo com a mesma fonte, conseguiu na ocasião demover a posição da ala
sindicalista — representada por Miguel Reale, o próprio Olbiano de Melo e
outros —, que teria se manifestado inicialmente favorável à denúncia do Plano
Cohen e a uma aliança com Armando Sales e José Antônio Flores da Cunha,
governador do Rio Grande do Sul, para deter a conspiração. Prevaleceu afinal a
posição de “neutralidade” em relação ao golpe, sustentada por Salgado, que no
dia seguinte revogou a resolução contra o porte das camisas verdes e dos distintivos
integralistas, baixada em agosto.
Em meados de outubro, Plínio Salgado teve um encontro secreto
com o presidente na casa de Renato da Rocha Miranda, membro da Câmara dos 40,
e, segundo Robert Levine, agente do governo infiltrado na AIB a pedido de Vargas.
Segundo a versão do próprio Salgado, Vargas deixara tacitamente subentendido na
ocasião que o integralismo seria a base do novo regime, e prometera inclusive a
nomeação de um dirigente integralista para o cargo de ministro da Educação.
Em
28 de outubro, acompanhado do chefe de polícia do Rio de Janeiro, Filinto
Müller, Salgado teve um encontro com o general Dutra no Ministério da Guerra.
Em 1º de novembro, liderou um desfile de milhares de “camisas-verdes” e dezenas
de oficiais do Exército fardados, visando dar uma demonstração de força do
movimento. Vargas prestigiou o desfile passando em revista as colunas
integralistas de uma sacada do palácio do Catete e tendo a seu lado os generais
Newton Cavalcanti, comandante da Vila Militar, e Francisco José Pinto, chefe do
Gabinete Militar da Presidência da República. Assistindo ao desfile de uma
amurada do Hotel Glória, Salgado calculou em 50 mil o número de manifestantes,
embora o governo tenha divulgado extra-oficialmente uma estimativa de 17 mil
manifestantes.
Na
noite de 19 de novembro, Plínio Salgado anunciou a retirada de sua candidatura
à presidência da República e o apoio dos integralistas a Vargas e à forças
armadas “na luta contra o comunismo e a democracia anárquica, e para proclamar
os princípios de um novo regime”. Na manhã de 10 de novembro, cinco dias antes
da data marcada para a ofensiva golpista e sem aviso prévio a Salgado, Vargas
ordenou o cerco do Congresso, consumando rapidamente o golpe de Estado. À
noite, anunciou em transmissão radiofônica a decretação do Estado Novo e a
promulgação da Constituição elaborada por Francisco Campos, mas não fez
qualquer referência ao integralismo, contrariando assim as expectativas de
Salgado.
A extinção da AIB e o Levante Integralista
Em 11 de novembro de 1937, Plínio Salgado reconheceu a nova
Constituição e, cumprindo provavelmente um acerto efetuado com os articuladores
do golpe, extinguiu formalmente o caráter político da AIB, mantendo-a apenas
como sociedade cultural, esportiva e beneficente. No dia seguinte publicou uma
pequena nota em A Ofensiva, assegurando que a organização integralista não
seria afetada pela nova ordem jurídico-política do país.
Em 20 de novembro, segundo sua carta a Vargas, já mencionada,
o ministro da Justiça Francisco Campos comunicou-lhe pessoalmente a intenção do
governo de fechar a AIB, mesmo com o caráter de sociedade civil. Salgado tentou
em vão impedir a consumação da medida lançando apelos a Góis Monteiro e a
Vargas, com quem avistou-se novamente em Petrópolis (RJ). Em 25 de novembro,
liderou no Rio de Janeiro o último desfile integralista que, conforme o
anterior, foi também passado em revista pelo chefe do governo.
Em
2 de dezembro Vargas baixou o decreto de dissolução dos partidos políticos,
atingindo diretamente a AIB através do artigo que proibia o funcionamento de
sociedades civis com a mesma denominação com que se haviam registrado como
partidos políticos. Em protesto contra a medida, o general Newton Cavalcante
pediu demissão do comando da Vila Militar.
Em 4 de janeiro de 1938, Salgado registrou a AIB com uma nova
denominação — Associação Brasileira de Cultura — e designou a si próprio seu
presidente. O impasse entre o governo e os integralistas permaneceu, no
entanto, inalterado. O governo reclamava a efetiva e completa dissolução da
AIB, exigindo que Salgado renunciasse à condição de chefe nacional dos
integralistas.
Ainda em janeiro, Plínio Salgado decidiu assumir os riscos de
um levante armado contra Vargas, cuja idéia, segundo o relato de Olbiano de
Melo, partira de Belmiro Valverde, Gustavo Barroso e do próprio Olbiano de
Melo. O movimento recebeu a adesão de oposicionistas liberais como Otávio
Mangabeira, o ex-governador do Rio Grande do Sul, José Antônio Flores da Cunha,
exilado na Argentina, e o coronel Euclides Figueiredo, chefe militar da
Revolução Constitucionalista de 1932. O historiador Hélio Silva revelou que na
fase inicial da conspiração Salgado encontrou-se mais de uma vez com Otávio
Mangabeira no Hotel Glória do Rio de Janeiro. O almirante Nuno Barbosa de Oliveira
e Silva, um dos implicados na conspiração, afirmaria mais tarde que o próprio
Salgado apresentara o coronel Euclides Figueiredo a um grupo de oficiais
integralistas como o responsável pela direção militar do movimento no Rio de
Janeiro.
Em
28 de janeiro de 1938, Salgado tentou ainda uma composição com Vargas,
enviando-lhe a carta já mencionada, na qual condicionou a aceitação da pasta da
Educação ao reconhecimento por parte do governo dos direitos mínimos da AIB à
vida legal. Em fevereiro, tentou em vão reaproximar-se de Vargas por intermédio
de Rosalina Coelho Lisboa, num momento em que uma série de medidas repressivas
contra os integralistas já havia sido determinada pelo governo. Ele próprio foi
intimado a depor em Niterói, em 16 de fevereiro, sobre as atividades da AIB
desenvolvidas em Petrópolis.
A
primeira tentativa de revolta ocorreu no dia 11 de março, mas foi imediatamente
frustrada pela ação da polícia contra o grupo encarregado de ocupar a Rádio
Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, e de transmitir a ordem do início do levante.
Mesmo assim, houve um começo de ação na Marinha, que resultou na prisão de
vários integralistas e na posterior instauração de um inquérito. Salgado
permaneceu alguns dias escondido no Rio de Janeiro, refugiando-se depois em São
Paulo. No dia 17 de março, a notícia do levante foi afinal divulgada pelo
governo, juntamente com a informação de que três mil punhais com a cruz gamada,
procedentes da residência de Salgado, haviam sido apreendidos pela polícia.
Após a frustrada tentativa de 11 de março, a chefia do
movimento armado foi entregue ao general José Maria Castro Júnior em
conseqüência da prisão do coronel Euclides Figueiredo e de Otávio Mangabeira. A
coordenação do levante no Rio prosseguiu sob a direção de Belmiro Valverde, e a
principal operação — o assalto ao palácio Guanabara e o aprisionamento do chefe
do governo — foi confiada ao tenente Severo Fournier, ex-ajudante-de-ordens do
coronel Figueiredo.
Em meados de abril, o chefe de polícia do Distrito Federal,
Filinto Müller, negou publicamente a existência de uma ordem de prisão contra
Salgado, eximindo-o de qualquer responsabilidade no frustrado levante de 11 de
março. Este permaneceu escondido em São Paulo, mantendo-se em contato com o
grupo de conspiradores do Rio através de um genro, José Loureiro Júnior.
O
movimento armado irrompeu na madrugada de 11 de maio, resultando em completo
fracasso devido às falhas de organização e à deserção, na última hora, da
maioria dos integralistas comprometidos com a ação. O tenente Severo Fournier e
seus homens chegaram a penetrar no palácio Guanabara, mas não conseguiram
vencer a precária resistência de Vargas, de seus familiares e de um pequeno
grupo de defensores, sendo derrotados duas horas depois, quando o general Dutra
chegou com reforços. Os planos de ocupação de duas estações de rádio, do
Ministério da Marinha e de ataques às residências de várias autoridades também
fracassaram, devido à inoperância e à indecisão dos grupos de assalto
integralistas. Os revoltosos conseguiram apenas aprisionar o coronel Canrobert
Pereira da Costa, chefe do gabinete do ministro da Guerra, general Dutra, e
transmitir uma mensagem pela Rádio Mayrink Veiga que, segundo consta, teria
sido ouvida por Salgado em São Paulo e comemorada com o maior entusiasmo.
A revolta fracassada de 11 de maio selou o destino da AIB. A
maioria dos implicados foi presa, embora a vaga repressiva não tenha sido tão
violenta como a desfechada contra os comunistas após o levante de novembro de
1935. Ao contrário do que se poderia esperar, Plínio Salgado não foi detido nem
incluído na denúncia feita em 19 de agosto de 1938 pelo procurador do Tribunal
de Segurança Nacional, Himalaia Virgulino, contra os líderes da revolta.
Salgado absteve-se de qualquer aparição pública, permanecendo em São Paulo sob
a proteção do interventor federal no estado, Ademar de Barros.
Em
janeiro de 1939, foi detido na capital paulista e solto três dias depois. Em
fevereiro seguinte, prestou depoimento à polícia, eximindo-se de qualquer
responsabilidade no levante. Quinze anos mais tarde, em entrevista publicada no
jornal O Globo, daria sua versão definitiva sobre os acontecimentos de maio de
1938, cometendo uma série de equívocos como, por exemplo, o de incluir Eduardo
Gomes na conspiração — e tecendo acusações infundadas a Severo Fournier.
Segundo sua versão, Belmiro Valverde fora instigado por Fournier a precipitar a
deflagração do levante, sem o assentimento do general Castro Júnior, chefe do
movimento. Afirmaria ainda que o seu “setor” seria em São Paulo, e que só teve
conhecimento da antecipação na própria noite da revolta. Ainda segundo sua
versão, “Severo Fournier, o instigador, fugiu a pretexto de buscar reforços,
deixando no chão oito cadáveres de companheiros”. Como se sabe, Fournier só
abandonara o palácio Guanabara quando sua missão já estava inteiramente
perdida.
Em
maio de 1939, um ano após o Levante Integralista, Salgado reuniu em São Paulo
um pequeno grupo de correligionários para lançar uma proclamação, conhecida
como o Manifesto de maio, no qual recomendou aos integralistas que se
abstivessem de “quaisquer agitações subversivas e de manifestações de caráter
político, perturbadoras da ordem pública”. Justificou sua posição referindo-se
à “gravidade sem precedentes” do movimento internacional e aos perigos externos
que ameaçavam o Brasil, concluindo o documento com um apelo à unidade nacional
e ao respeito às autoridades constituídas. O manifesto foi distribuído à
imprensa pela Agência Nacional e publicado no dia seguinte pelos grandes jornais.
No final de maio, foi novamente detido por imposição do
general Dutra e recolhido à fortaleza de Santa Cruz, onde permaneceu preso até
o dia 22 de junho, quando embarcou para Portugal como exilado político.
O exílio em Portugal
Durante o exílio em Portugal, Plínio Salgado ditou aos
integralistas, através de cartas e manifestos enviados ao Brasil, uma
orientação indefectível de apoio ao governo Vargas.
Desde
sua chegada a Lisboa, em julho de 1939, procurou recompor suas relações com o
governo brasileiro por intermédio de Rosalina Coelho Lisboa e outros
emissários. Subordinou a partir de então sua atuação e influência políticas ao
objetivo de reabilitar-se perante o governo. Assim, ao lançar sua primeira
diretiva aos integralistas, em setembro de 1939, preveniu-os contra qualquer
tomada de posição em relação à Segunda Guerra Mundial, diante do
desconhecimento, por parte da opinião pública, dos desdobramentos da política
externa brasileira.
Em agosto de 1940, recebeu em Lisboa a visita do general Francisco
José Pinto, que teria manifestado, em nome de Vargas, sua intenção de contar
com a colaboração dos integralistas no governo. Na ocasião ficou acertado que
Gustavo Barroso, que também se encontrava em Lisboa, representaria Salgado nos
entendimentos com Vargas. No decorrer de 1941, Barroso teve alguns encontros
com o chefe do governo brasileiro, que resultaram apenas em pequenos favores a
integralistas que se encontravam em situação difícil em virtude dos
acontecimentos de 1938.
Em
7 de setembro de 1941, Salgado lançou outro manifesto aos integralistas,
assinalando a “confusão caótica” da situação mundial e o “fantasma do
bolchevismo” e suas máscaras mais diversas”, numa alusão indireta à aliança da
União Soviética com as democracias ocidentais contra a Alemanha e a Itália.
Reiterou mais uma vez seu apoio incondicional a Vargas, procurando demonstrar a
afinidade existente entre o integralismo e a doutrina política do Estado Novo
ao afirmar que “os fundamentos ideológicos da doutrina integralista são, em
parte, os mesmos que inspiraram a Constituição de 10 de novembro de 1937... Uma
a uma das aspirações integralistas estão sendo realizadas pelo Estado Novo”. E
citou, como exemplo, o fortalecimento do poder central, a extinção dos partidos
regionais, a supressão do sufrágio universal, a restrição das autonomias
estaduais, as leis de amparo aos trabalhadores e outros pontos do programa
integralista. Segundo Rosalina Coelho Lisboa, muitos integralistas não se
conformaram com os termos do manifesto, enquanto outros duvidaram de sua
autenticidade. Vargas elogiou o documento na presença de Gustavo Barroso, mas
proibiu sua divulgação pela imprensa.
Por ocasião da declaração de guerra do Brasil à Alemanha e à
Itália, em agosto de 1942, Salgado enviou telegramas de solidariedade a Vargas
e ao general Dutra, ministro da Guerra. No Brasil, várias personalidades
integralistas também enviaram um telegrama de apoio à decisão do governo, que,
no entanto, foi proibido de ser publicado pelos jornais. A descoberta posterior
do envolvimento de integralistas em atividades de espionagem alemã provocou um
recrudescimento das medidas repressivas do governo contra os membros da extinta
AIB.
Em
15 de novembro de 1943, Salgado redigiu novo manifesto de apoio à política
panamericana do Brasil e de protesto contra as acusações de que mantinha
vínculos com a Alemanha e a Itália fascista. Em dezembro de 1944, já às
vésperas da vitória dos países aliados, pronunciou uma conferência em Coimbra,
Portugal, na qual, segundo Jarbas Medeiros, teria empregado pela primeira vez o
conceito de democracia cristã como a síntese de seu pensamento. Na conferência,
denominada “O conceito cristão de democracia”, considerou o totalitarismo
nazi-fascista como um “desvio”, equiparando-o ao totalitarismo dos Estados
comunistas.
Os contatos de Salgado com Vargas prosseguiram até o final do
Estado Novo, por intermédio de Rosalina Coelho Lisboa, mas não se traduziram em
nenhuma concessão política significativa ao movimento que defendia e liderava.
A redemocratização de 1945 e seu regresso ao Brasil
A participação do Brasil no esforço de guerra das nações
aliadas desde 1942 e a ampliação dessa ajuda em junho de 1944 com o envio da
Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Itália criaram de antemão condições
favoráveis para uma mudança do regime autoritário instituído em 1937.
Em fevereiro de 1945, diante do iminente final da Segunda
Guerra Mundial e das pressões desencadeadas internamente por setores do
Exército e pelas forças de oposição, Vargas anunciou a breve realização de
eleições presidenciais, dando início ao processo de redemocratização do país.
Em
março seguinte, em entrevista à agência de notícias United Press, Plínio
Salgado declarou seu propósito de mobilizar os integralistas para uma
participação efetiva na nova etapa da vida política brasileira. Em abril Vargas
anistiou os adversários do Estado Novo, inclusive os integralistas e os
comunistas. Decidindo não voltar de imediato ao Brasil, Salgado escreveu uma
carta a Raimundo Padilha, com instruções para a reorganização do movimento
integralista sob a forma de partido político, de acordo com a nova legislação
eleitoral.
No
mês de julho, lançou um documento sobre a reorganização partidária denominado
Manifesto-diretiva, enumerando os princípios genéricos que norteariam o
ingresso dos integralistas num partido político. Reafirmou a validade da
doutrina integralista e, recapitulou seus postulados fundamentais, sem
mencionar todavia o corporativismo, a defesa do partido único, a rejeição do
sufrágio universal e outros pontos assinalados até então nos principais
documentos da AIB. Fez também um breve relato da atuação da AIB na década de
1930, pretendendo justificar a adoção do uniforme de camisas verdes e dos
demais símbolos e rituais como um antídoto contra os nazistas do Sul do país,
que também tinham seus uniformes e rituais. Tratava-se, segundo afirmou, de
“nacionalizar brasileiramente tais elementos e impedi-los de formar quistos
raciais que poderiam ser utilizados pelo imperialismo nazista”.
Em 18 de agosto de 1945, desembarcou afinal no Brasil, após
seis anos de exílio em Portugal.
Da fundação do PRP à campanha presidencial de 1955
Em 26 de setembro de 1945, ao lado de Raimundo Padilha e de
outros antigos dirigentes integralistas, Plínio Salgado fundou o Partido de
Representação Popular (PRP), adotando, assim, as mesmas iniciais do extinto
Partido Republicano Paulista. Embora fosse a personalidade de maior destaque da
nova agremiação, não assumiu de imediato a presidência do PRP, que foi ocupada
provisoriamente por Adauto de Alencar Fernandes. Em 3 de novembro, o primeiro
diretório nacional elegeu Fernando Cochrane — ex-membro da Câmara dos
Quatrocentos — presidente nacional do PRP.
Salgado tentou mobilizar seus antigos correligionários em
torno do novo partido, mas, como ele próprio reconheceria, “nem todos os
integralistas se inscreveram..., embora muitos continuassem fiéis a nossa
doutrina em outros partidos”.
Nas eleições de 2 de dezembro de 1945, o PRP apoiou a
candidatura do general Dutra à presidência da República e concorreu à
Assembléia Nacional Constituinte em 11 estados, sofrendo entretanto uma
fragorosa derrota em seu primeiro teste eleitoral ao obter apenas 95 mil votos
em todo o país. O fracasso dos integralistas foi minimizado parcialmente pela eleição
de Godofredo da Silva Teles, que concorreu na legenda do Partido Social
Democrático (PSD) e do general Dutra, eleito presidente da República com uma
ampla margem de votos sobre o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da oposição
liberal reunida em torno da União Democrática Nacional (UDN).
Em 27 de outubro de 1946, na II Convenção Nacional do PRP,
realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Plínio Salgado foi eleito
presidente do partido, cargo em que se manteria até a extinção dos partidos
políticos pelo Ato Institucional nº 2 (AI-2) em 27 de outubro de 1965. No
discurso que então pronunciou ao aceitar sua indicação, evocou o passado da
AIB, seu ideário nacionalista e espiritualista e o patriotismo dos
integralistas, que “não transigiram com o golpe de Estado de 1937, a ponto de
terem sido os únicos brasileiros que derramaram seu sangue para restaurar a
liberdade”. Negou qualquer colaboração com o golpe, declarando ainda que
recusara o convite para chefiar o Ministério da Educação por não concordar com
o caráter totalitário da Constituição do Estado Novo. Ao contrário do que
certamente ocorreria na década de 1930, dispensou a solenidade de juramento de
fidelidade ao chefe nacional, explicando que a “fase crítica da nacionalidade
que exigiu, num grave instante histórico, a assinatura de um compromisso solene
é uma fase ultrapassada”. Apesar de ressaltar a identidade dos princípios do
PRP com a doutrina integralista, frisou que o partido não era um ressurgimento
da AIB sob uma nova sigla, lembrando a diretiva que enviara aos integralistas
em 1945, ainda no exílio, no sentido de não se reabrir a AIB, e seu desejo de
que apenas “vivesse e perdurasse a própria essência da doutrina inspiradora
daquele grande movimento”.
Apesar
do carisma de Salgado, o PRP conseguiria firmar-se apenas como um pequeno
partido, com votações que raramente ultrapassariam o índice de 5% do eleitorado
nos pleitos realizados no período compreendido entre 1945 e 1965. Em 1948,
Salgado participou da Conferência Internacional das Conversações Católicas,
realizada em San Sebastián, Espanha. Em 1950, durante a campanha para a
sucessão do presidente Dutra, aliou-se à UDN, apoiando dessa vez a candidatura
do brigadeiro Eduardo Gomes, após entendimentos firmados com José Eduardo do
Prado Kelly. Todavia, com a vitória de Vargas, conseguiu firmar um acordo com o
novo presidente, garantindo um apoio discreto do PRP à sua gestão.
Em outubro de 1952, fundou a Confederação dos Centros
Culturais da Juventude, com objetivo de preparar, por meio de conferências e
cursos, “uma nova geração, iluminada pela consciência dos deveres e das
responsabilidades, esclarecida sobre o problema comunista”. Segundo afirmaria
mais tarde, a criação de mais de quinhentos centros culturais nos três anos que
se seguiram representou de sua parte um “esforço sobrenatural pela salvação de
minha pátria das garras da Rússia soviética”. Em fevereiro de 1953, fundou o
jornal A Marcha, um semanário voltado basicamente para o combate ao comunismo.
Em 21 de março de 1955, o PRP lançou oficialmente a
candidatura de Plínio Salgado à sucessão de João Café Filho, que assumira o
governo em agosto de 1954, com o suicídio de Vargas. Foi o segundo partido a
apresentar um candidato próprio à sucessão presidencial, rejeitando, assim, a
fórmula de uma candidatura suprapartidária de “união nacional” proposta pela
UDN em contraposição à candidatura de Juscelino Kubitschek, oficializada pelo
PSD em fevereiro. A indicação de Salgado foi denunciada pela UDN como uma
manobra de Kubitschek para dividir os votos de seu candidato, Juarez Távora.
Salgado refutou a acusação, mas posteriormente, em entrevista à socióloga Maria
Vitória Benevides, o próprio Juscelino confirmaria ter solicitado pessoalmente
sua participação no pleito.
Durante
a campanha eleitoral, Salgado criticou veementemente o apoio dado pelo Partido
Socialista Brasileiro (PSB) a Juarez Távora e sua posição ambivalente em
relação aos comunistas, atraindo, sem dúvida, um número considerável de votos
que, de outra forma, iria naturalmente para o candidato udenista. Concorrendo
sem companheiro de chapa, nas eleições de 3 de outubro de 1955 Plínio Salgado
obteve 714 mil votos, ou seja, 8% da votação total. Embora situando-se muito
aquém do terceiro colocado, Ademar de Barros (26%), sua pequena votação foi
decisiva para a vitória de Juscelino Kubitschek (36%) sobre Juarez Távora
(30%).
A vitória de Kubitschek e de João Goulart, candidato à
vice-presidência, foi imediatamente contestada pela UDN. Os líderes udenistas
mais radicais, como Carlos Lacerda, desencadearam intensa campanha contra a
posse dos eleitos, enquanto a direção do partido resolveu levar o caso à
Justiça Eleitoral, argumentando que os candidatos vitoriosos não haviam
alcançado a maioria absoluta. Nas forças armadas, chefes militares, como o
almirante Carlos Pena Boto, também tornaram patente seu inconformismo com o
resultado do pleito.
Em
5 de outubro, ante os primeiros sinais da crise político-militar, Salgado
divulgou um manifesto declarando seu propósito em reconhecer como “legítimo o
governo que a Justiça Eleitoral der como eleito”. Em 22 de outubro, subscreveu
o manifesto assinado pelos presidentes do PSD, Ernâni Amaral Peixoto, do
Partido Social Progressista (PSP), Ademar de Barros, e de outros partidos
menores, contestando a tese da maioria absoluta levantada pela UDN.
Posteriormente, apoiou o movimento militar desfechado em 11
de novembro pelo ministro da Guerra demissionário, general Henrique Teixeira Lott,
contra o presidente em exercício Carlos Luz, empossado três dias antes em
substituição a Café Filho, que se afastara do governo por motivo de doença.
Lott classificou sua intervenção como um movimento de retomo à ordem
constitucional, ameaçada pelo próprio Carlos Luz em virtude de suas ligações
com os adversários de Kubitschek e de seu suposto envolvimento na conspiração
contra sua posse. A Câmara dos Deputados legitimou no mesmo dia a ação de Lott,
com os votos dos três deputados da bancada do PRP, declarando o impedimento de
Carlos Luz e a posse no governo do vice-presidente do Senado Nereu Ramos. Dez
dias mais tarde, Lott voltou a mobilizar o Exército para impedir o retorno do
presidente Café Filho, em intervenção que foi novamente legitimada pela Câmara.
Após a crise de novembro, Salgado manteve conversações
sigilosas com o líder do PSD, José Maria Alkmin, assegurando, segundo o
historiador John Foster Dulles, seu apoio ao governo Kubitschek em troca do
não-reconhecimento do governo soviético por parte do Brasil e da manutenção da
ilegalidade imposta ao PCB. O acordo resultou ainda em sua nomeação para a
direção do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), logo após a
posse de Kubitschek em 31 de janeiro de 1956. O INIC permaneceria sob controle
dos integralistas até 1962, quando foi incorporado à Superintendência da
Política de Reforma Agrária (Supra), criada naquele ano pelo então presidente
João Goulart.
Na Câmara Federal: de 1959 a 1974
Em
outubro de 1958, Plínio Salgado foi eleito deputado federal pelo Paraná na
legenda do PRP com mais de 50 mil votos, assumindo o mandato em fevereiro de
1959. Em agosto de 1961, por ocasião da crise provocada pela renúncia do
presidente Jânio Quadros e o veto dos ministros militares à posse do
vice-presidente João Goulart, tomou posição em defesa da sucessão
constitucional, expressa em uma carta enviada ao ministro da Guerra, marechal
Odílio Denis, e lida no plenário da Câmara em 28 de agosto pelo senador do PRP
Guido Mondim. Nesse mesmo dia, foi designado líder do PRP e membro da comissão
mista encarregada de emitir parecer sobre o impedimento de Goulart, solicitado
pelos ministros militares. No dia seguinte, a comissão manifestou-se favorável
à posse de Goulart, sugerindo entretanto a instituição do regime
parlamentarista como solução de compromisso para a grave crise político-militar
que se instalara no país. Diante da posição do Congresso e da resistência
oferecida pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, e o comandante
do III Exército, sediado em Porto Alegre, general José Machado Lopes, os
ministros militares aceitaram a fórmula conciliatória do parlamentarismo e
abriram caminho para a posse de Goulart, ocorrida afinal em 7 de setembro de
1961.
Durante o governo de Goulart, Salgado aliou-se à UDN e ao PSD
na luta contra as chamadas reformas de base nos termos pretendidos pelo
governo. Foi o autor de um projeto de reforma agrária e de um projeto de
criação de um ministério de turismo, sem conseguir entretanto a aprovação da
Câmara.
Em outubro de 1962, por ocasião do 30º aniversário de
fundação da AIB, proferiu um discurso na Câmara afirmando a identidade de
princípios entre o PRP e a doutrina integralista. Nas eleições legislativas
realizadas ainda nesse mês, foi reeleito deputado federal com 37 mil votos,
agora por São Paulo, sempre na legenda do PRP.
Nos primeiros meses de 1964, em meio ao agravamento das
tensões sociais e políticas no país, intensificou sua oposição ao governo
Goulart. Em 19 de março, foi um dos oradores da Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, realizada em São Paulo com a participação de cerca de trezentas mil
pessoas, em protesto contra o governo.
Apoiou
o movimento político-militar de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart, e
a eleição, pelo Congresso, do general Humberto Castelo Branco como chefe do
governo, em 11 de abril seguinte. Com a extinção do PRP e dos demais partidos
políticos, decretada pelo AI-2 em outubro de 1965, e a posterior reorganização
partidária, filiou-se ao partido governista, a Aliança Renovadora Nacional
(Arena). Nessa legenda candidatou-se à reeleição em novembro de 1966 e saiu-se
vitorioso com cerca de 19 mil votos, sendo conduzido na legislatura iniciada em
fevereiro do ano seguinte ao cargo de vice-líder de seu partido na Câmara.
Após
a decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) em dezembro de 1968, Plínio
Salgado ressurgiu inesperadamente no cenário político nacional. Em maio de
1970, já durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, manifestou-se a
favor da censura prévia aos jornais diários e do controle ideológico do ensino
das ciências sociais e biológicas, tendo sido o relator do projeto encaminhado
pelo ministro da Justiça, Alfredo Buzaid — antigo dirigente integralista —,
estabelecendo a censura prévia a periódicos e livros considerados
pornográficos. Segundo Carlos Castelo Branco, sua sugestão para estender a
censura aos jornais diários não foi, entretanto, aceita por Buzaid. A censura à
imprensa, instituída de fato pelo AI-5, em 1968, continuou a ser rigidamente
aplicada durante o governo Médici, tanto através de ordens precisas a redações
dos jornais, como da censura prévia a algumas publicações como O Estado de S.
Paulo, Opinião e Veja.
Em outubro de 1970 Salgado foi reeleito para o seu último mandato
na Câmara. Em 1971 ocupou os cargos de membro da Comissão de Educação e Cultura
e suplente da Comissão de Finanças, participando ainda da comissão especial
para integração dos povos da comunidade de língua portuguesa.
Em outubro de 1972, por ocasião do 40º aniversário de
fundação da AIB, anunciou o lançamento do Movimento de Renovação Nacional
(Morena), visando arregimentar a mocidade brasileira em nova cruzada de
redenção nacional. Já no final de seu mandato, em resposta a um jornalista que
lhe indagara sobre o sucesso do integralismo no Brasil, afirmou: “Veremos. Veja
quem são os homens que estão no poder. A maioria pertence ao nosso partido e
ainda hoje obedece aos princípios pelos quais lutamos e defendemos”, citando
como exemplo o ministro Alfredo Buzaid, “um de nossos fiéis companheiros de
luta”.
Em 3 de dezembro de 1974, em discurso de despedida na Câmara,
anunciou que abandonaria suas atividades públicas, colocando um ponto final à
sua controvertida carreira política.
Plínio
Salgado foi membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico de São Paulo. Faleceu em São Paulo no dia 7 de dezembro de 1975.
José Loureiro Júnior, seu genro, foi dirigente da AIB na década de 1930 e
deputado federal por São Paulo na legenda do PRP de 1955 a 1959.
Além
dos livros mencionados publicou, ao longo de sua vida, mais de 70 obras. Entre
seus trabalhos literários destacaram-se ainda O cavaleiro de Itararé (1933), A
voz do Oeste (1934), Geografia sentimental (1937), Nosso Brasil (1937), Sete noites
de Joãozinho (1940), Vida de Jesus (1942), O rei dos reis (1946), Primeiro
Cristo! (1946), A tua cruz, senhor (1946), A imagem daquela noite (teatro
religioso, 1947), Direitos e deveres do homem (1948), O poema da fortaleza de
Santa Cruz (1948) e São Judas Tadeu e São Simão Cananita (1950). Publicou ainda
os seguintes trabalhos em suas Obras Completas (20v., 1956): Oriente, Pio IX e
o seu tempo, Roteiro e crônica de mil viagens, Críticas e prefácios, Contos e
fantasias, Sentimentais, Como nasceram as cidades do Brasil, Viagens pelo
Brasil. Mais tarde publicou Poemas do século tenebroso (1961), e, sob o
pseudônimo de Ezequiel, Trepandé (romance, 1972). Publicou também as obras
político-filosóficas O sofrimento universal (1934), Despertemos a nação (1935),
A doutrina do Sigma (1935), Palavra nova dos tempos novos (1936), Páginas
de combate (1937), A aliança do sim e do não (1943), A mulher no século XX
(1946), Conceito cristão de democracia (1946), Madrugada do espírito (1946), O
integralismo brasileiro perante a nação (1946), Mensagem às pedras do deserto
(1947), Extremismo e democracia (1948), O ritmo da história (1949),
Discursos (1949), Espírito da burguesia (1951), Livro verde da minha campanha
(1956), Reconstrução do homem (1957), O integralismo na vida brasileira (1958),
Discursos na Câmara dos Deputados (1961), Como se prepara uma China (1962),
Instrução moral e cívica (1964), História do Brasil (1969), 13 anos em Brasília
(1973) e A crise parlamentar.
A
seu respeito e sobre o integralismo destacam-se as obras Plínio Salgado (1936),
editada por Miguel Reale e Rui Arruda, Plínio Salgado and Brazilian integralism
1932-1938, de Elmer R. Broxson (tese de doutorado), Integralismo, o fascismo
brasileiro da década de 30 (1974), de Hélgio Trindade, “As classificações de
Plínio — uma análise do pensamento de Plínio Salgado”, de Ricardo Benzaquem de
Araújo na Revista de Ciência Política (Rio, 21(3), set. 1978) e Ideologia
autoritária no Brasil 1930-1945 (1978), de Jarbas Medeiros, O integralismo de
Plínio Salgado — forma de regressividade no capitalismo hipertardio (1978), de
José Chasin, e 1938: terrorismo em campo verde (1971), de Hélio Silva.
Paulo Brandi
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Cinco.