SERPA,
Antônio Carlos de Andrada
*militar, comte. III Ex. 1977-1978; ch. Depto. Ger.
Pess. Ex. 1978-1980.
Antônio Carlos de Andrada Serpa nasceu em Barbacena (MG) no dia 2 de dezembro de 1916, filho
do coronel José Maria Serpa e de Maria Antônia Duarte de Andrada Serpa. Seu pai
foi professor do Colégio Militar de Barbacena, sua mãe era irmã de Antônio
Carlos e José Bonifácio e seu primo, José Bonifácio de Andrada e Silva, foi
deputado federal e líder do governo de Ernesto Geisel (1974-1979) na Câmara dos
Deputados.
Antônio Carlos de Andrada Serpa ingressou na Escola Militar
de Realengo em fevereiro de 1933. Foi declarado aspirante em janeiro de 1936,
recebendo a promoção de segundo-tenente em setembro desse mesmo ano e a de
primeiro-tenente um ano depois. Neste posto, serviu no Rio de Janeiro, Campo
Grande e Uruguaiana. Como capitão, promovido em abril de 1943, participou da
Segunda Guerra Mundial, servindo na Força Expedicionária Brasileira (FEB), e
como instrutor da Companhia de Obuses do Regimento Sampaio.
Em dezembro de 1950 recebeu a promoção de major e assumiu a
chefia da da 3ª Seção do estado-maior da 4ª RM, onde permaneceu até 1953.
Promovido a tenente-coronel em julho do ano seguinte, declarou-se contra a
permanência de Getúlio Vargas no poder nas sessões do Clube Militar e Naval nos
dias 13 e 14 de agosto. Ainda em setembro de 1954, por ordem do ministro da
Guerra, Henrique Teixeira Lott, foi designado para proceder em Góias no
Inquérito Policial-Militar (IPM) sobre o assassinato, ocorrido ali em julho, do
major Alberto Carneiro da Cunha.
Em
1955, através de uma carta, pronunciou-se contra os acontecimentos ocorridos no
dia 11 de novembro, que culminaram com a saída de Café Filho da presidência da
República. Na carta enviada ao ministro da Guerra, Antônio Carlos de Andrada
Serpa tratava principalmente de dois temas: as atividades comunistas e a
preservação dos laços de caserna, acrescentando a estas duas preocupações
básicas: uma atenção maior para os problemas relativos à divisão de renda do
país, as possibilidades de desenvolvimento de uma tecnologia estritamente
nacional e uma crítica cada vez mais áspera à participação das empresas
multinacionais na economia brasileira. Devido a esse fato o tenente-coronel foi
preso no Batalhão de Guardas por ordem do ministro da Guerra.
De
1956 a 1958, foi depoente na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara
dos Deputados sobre energia atômica. Em agosto de 1963 foi promovido a coronel.
No ano seguinte foi adido militar na França. Em março de 1969 foi elevado ao
generalato, assumindo o comando da Artilharia Divisionária da 2ª DI, em Jundiaí
(SP). No ano seguinte o general Serpa advertiu, ao transmitir o comando da 2ª
DI, “que a classe política se acautelasse com os dois grandes inimigos da
liberdade e da democracia: os demagogos, pais da corrupção, e os subversivos,
contestadores do regime”. Em maio de 1974 recebeu a promoção de
general-de-divisão.
Em
1976 estava no comando da 3ª Região quando, em pronunciamento feito na presença
do então comandante do III Exército, general Fernando Bethlem, garantiu que
“desde o dia 31 de março de 1964 o Brasil passou a ter a paz e a tranqüilidade
para trabalhar e prosperar em benefício do bem-estar das famílias que o
constituem, acabando o reino da anarquia, da subversão e da desordem sustentado
pelo governo de então”. No mesmo ano, fez outro pronunciamento, que causou
grande polêmica: ao inaugurar um busto do ex-presidente Costa e Silva
(1967-1969), numa cidade do interior gaúcho, defendeu a manutenção do Ato
Institucional nº 5 e do Decreto-Lei nº 477.
Em outubro de 1977 assumiu interinamente o comando do III
Exército, com sede no Rio Grande do Sul, em substituição ao general Fernando
Belford Bethlem. Com a indicação do general Bethlem para substituir o ministro
Sílvio Frota, demitido pelo presidente da República Ernesto Geisel, Antônio
Andrada Serpa continuou no comando do III Exército até janeiro de 1978, quando
foi substituído pelo general Samuel Alves Correia.
Em
março de 1978 recebeu a patente de general-de-exército, sendo dois meses depois
indicado para a chefia do Departamento Geral de Pessoal do Exército (DGP),
tendo como vice-chefe o general Hugo Abreu. Em outubro do ano seguinte, durante
a comemoração de 119º aniversário do DGP, o general Serpa proferiu um discurso
inesperado denunciando interesses imperialistas no Brasil e defendendo a
criação de uma tecnologia própria para o país. Na ocasião, fez uma análise da
conjuntura econômico-social do país, reconhecendo que havia dificuldades
graves, tensões sociais geradas pela inflação, desordem do mercado financeiro,
desequilíbrio do balanço de pagamentos, dívida externa causada pelo número
excessivo de empresas multinacionais e, para ele, esse quadro era conseqüência
de um desenvolvimento acelerado e dos reflexos da crise mundial. Apesar de
reafirmar seus compromissos com os ideais do movimento político-militar de
1964, defendeu um desenvolvimento econômico nacionalista para o Brasil. O
general Antônio Serpa criticou claramente a política do ministro do
Planejamento Delfim Neto para o programa do álcool, que pretendia colocar o
Proálcool nas mãos dos grandes investidores. Essa não foi a primeira vez que
Andrada Serpa surpreendeu a todos com seus discursos inflamados. Em setembro
desse mesmo ano, em um simpósio realizado em Itaqui (RS), Serpa fez um
contundente discurso político, onde abordou até mesmo questões como as eleições
diretas de 1982.
Em
abril de 1980 pronunciou um discurso em Brasília, alertando para o perigo da
transformação do Brasil em mero fornecedor de matérias-primas para as grandes
potências, caso se efetivasse o programa, para a próxima década, de instalação
de setecentas clínicas para esterilização de 15 milhões de brasileiras, através
de uma multinacional financiada pelas fundações Ford e Rockefeller. Alertou também
que a Petrobras deveria canalizar para o Proálcool seus investimentos de
prospecção que fazia a fundo perdido, enumerou uma série de correções nos rumos
da política econômica — que deveriam ocorrer antes do agravamento da situação
internacional —, atacou o capitalismo selvagem das multinacionais na indústrias
farmacêutica e defendeu a participação do país no programa de biomassa. Citou
ainda Mao Tsé-Tung e seu êxito na melhoria do padrão de vida e alimentação e na
concessão de empregos, referindo-se ainda a existência de “oito Brasis no
interior da China”.
Alguns
dias depois de seu discurso, foi exonerado de suas funções pelo presidente da
República, general João Batista Figueiredo (1979-1985), sendo substituído
interinamente pelo general-de-divisão Hermann Bergqvist. Segundo o líder do
governo no Senado, Jarbas Passarinho, e o líder do PDS na Câmara, deputado
Nélson Marchezan, não houve qualquer relação entre a exoneração e as críticas
às multinacionais, pois “Andrada Serpa não foi demitido pelo que falou, mas por
que falou”.
Após entregar a chefia do DGP, o general Andrada Serpa passou
a exercer a função de adido da Secretaria Geral do Exército. Em dezembro de
1980 o general assinou um documento, juntamente com outros políticos e vários
intelectuais, criticando o modelo econômico adotado no país. Passou para a
reserva remunerada no início de 1981. Em 1983, ficou dez dias em prisão
domiciliar por fazer ataques à atuação do governo federal. No ano seguinte,
disputou e perdeu a eleição para a presidência do Clube Militar. Em outubro de
1985, criticou o presidente José Sarney — o primeiro chefe de Estado civil,
após 21 anos de regime militar — chamando-o de “politicamente fraco”, e
defendeu a realização de eleições diretas para presidente em 1986. Em maio de
1987, voltou a defender a realização de eleições diretas 120 dias após a
promulgação da nova Constituição e acusou o governo Sarney de ter traído seus
compromissos para com o povo.
Em 1988, seu nome chegou a ser cogitado pelo Partido da
Mobilização Nacional (PMN) para concorrer no pleito presidencial de 1989, mas a
agremiação acabou se decidindo por Celso Brandt. Como eleitor, Andrada Serpa
votou em Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), no primeiro
turno, realizado em novembro, e em Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, no segundo turno, realizado em dezembro. As eleições, contudo, foram ganhas por Fernando Collor de Melo, do Partido da
Reconstrução Nacional (PRN).
Radicalmente contrário à privatização das empresas estatais e
à implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), nos últimos anos de
sua vida participou ativamente da defesa da Petrobras e da Companhia Vale do
Rio Doce.
Fez os cursos de formação de oficiais de artilharia, de
aperfeiçoamento de oficiais, de estado-maior, comando e estado-maior das forças
armadas e da Escola Superior de Guerra. Foi também diretor de Remonta no Rio de
Janeiro e chefe da Diretoria de Comunicações do Exército.
Faleceu em Antônio Carlos (MG) no dia 17 de outubro de 1996.
Era casado com Maria José Lamartine de Andrada Serpa, com
quem teve quatro filhos.
Miriam
Aragão
FONTES: CURRIC.
BIOG.; Estado de S. Paulo (6/4/80, 8 e 9/1, 31/3, 12 e 16/5/81,
19/10/96); Globo (30/3, 7 e 13/5, 25/8 e 26/11/80, 9 e 30/1/81,
18/10/96); Jornal do Brasil (3/1 e 25/2/78, 18 e 19/12/80, 31/3 e
16/5/81, 18/10/96); MIN. EXÉRC. Almanaque (1976).