SOMBRA,
Severino
*militar; rev. 1932; dep. fed. CE 1955-1956.
Severino Sombra de Albuquerque nasceu em Maranguape (CE) no dia 8 de junho de 1907, filho
de Vicente Liberalino de Albuquerque e Francisca Sombra de Albuquerque. Seu
avô, o coronel José de Sousa Sombra, foi chefe político cearense no Império e
na República. Seu tio Luís Sombra seguiu a carreira militar, tendo atingido o
generalato.
Em
1915 iniciou seus estudos primários no Colégio Irmãos Maristas, em Fortaleza. Aos 15 anos transferiu-se para o Rio de Janeiro, com o objetivo de preparar-se
para a carreira militar.
Sentou praça em março de 1923 na Escola Militar do Realengo.
Durante sua permanência nesta escola, Severino Sombra presidiu a Conferência
Vicentina de São Maurício, que reunia os cadetes católicos e que já fora
presidida por Juarez Távora e Eduardo Gomes. De formação católica e
antiliberal, tornou-se na época grande admirador de Jackson de Figueiredo,
fundador do Centro Dom Vital, principal núcleo intelectual do catolicismo
brasileiro nas décadas de 1920 e 1930.
Sendo declarado aspirante-a-oficial em janeiro de 1929,
Severino Sombra retornou ao Ceará, onde passou a servir. Neste mesmo ano,
fundou, em Fortaleza, a Folha dos Novos, mensário na linha de renovação
católica de Jackson de Figueiredo. Promovido a segundo-tenente em julho
daquele ano, foi transferido em 1930 para o 8º Regimento de Infantaria (8º RI),
sediado em Passo Fundo (RS).
Desencadeada a Revolução de 1930 no princípio de outubro,
recusou-se a participar do movimento devido às suas idéias antiliberais, sendo
preso num navio no estuário do rio Guaíba, em Porto Alegre. Libertado logo após a vitória da revolução, foi promovido a primeiro-tenente em
fevereiro de 1931. De volta ao Ceará, estabeleceu contatos com líderes
operários, levando as idéias da organização de um movimento corporativista, de
inspiração fascista. Recebeu então o apoio da Juventude Operária Católica
(JOC), organizada pelo padre Hélder Câmara.
Em
agosto de 1931 fundou a Legião Cearense do Trabalho, destacando na ocasião,
como um de seus principais objetivos, a organização do operariado “para que,
protegido, educado e coeso, ele se torne um colaborador honesto e consciente
das outras classes”. A Legião expandiu-se rapidamente na capital e no interior
do estado, arregimentando cerca de 15 mil filiados e contando ainda com a
adesão de 40 organizações operárias e associações similares. Em outubro do
mesmo ano, a Legião tornou-se conhecida no Sul do país através de um artigo
publicado no jornal A Razão por Alceu Amoroso Lima, secretário do
Centro Dom Vital. O artigo elogiava “a grande obra do tenente Sombra no Ceará,
realização prática dos princípios sociais que animam a revolução integral que
almejamos”.
Sombra
tornou-se membro do Clube 3 de Outubro, organização tenentista favorável à
manutenção e ao aprofundamento das reformas instituídas pela Revolução de 1930.
No início de 1932 fundou a Legião Brasileira do Trabalho e viajou a São Paulo a
fim de estabelecer contato político com Plínio Salgado, intelectual e
jornalista de renome, redator de A Razão, conhecido por sua
identificação com as idéias fascistas. Na tentativa de unificar suas atividades
políticas, Sombra, Joaquim Pedro Salgado Filho e Olbiano de Melo marcaram para
o início do mês de julho um encontro no Rio de Janeiro, então Distrito Federal.
A reunião não pôde ser realizada devido à eclosão da Revolução
Constitucionalista em São Paulo no dia 9 de julho de 1932, à qual Sombra
aderiu. De volta ao Ceará, com o objetivo de sublevar a Legião Cearense do
Trabalho, foi preso ao desembarcar em Fortaleza e exilado para Portugal após a
derrota dos paulistas em outubro de 1932.
Ainda
em 1932, Sombra criou, no Ceará, a Juventude Operária Católica (JOC), confiando
sua direção ao padre Hélder Câmara, fundou a Liga dos Professores Católicos do
Ceará, da qual tornou-se presidente, e foi escolhido para integrar o
recém-criado Conselho Estadual de Educação do Ceará. Depois de ter criticado
duramente a legislação sindical estatizante, editada pelo primeiro ministro do
Trabalho, Lindolfo Collor, Sombra foi convidado pelo novo ministro
do Trabalho, Joaquim Salgado Filho (1932-1934), para trabalhar em seu gabinete.
No exílio em Lisboa, Sombra escreveu o livro História
monetária do Brasil colonial, que seria publicado, em edição limitada, em
1938. Durante a sua permanência em Portugal, visitou a Universidade de Coimbra,
passando a acalentar o sonho de instalar no Brasil a uma universidade nos
moldes da histórica instituição de ensino portuguesa. Durante o exílio de
Sombra, vários dirigentes da Legião Cearense do Trabalho, como Jeová Mota e o
padre Hélder Câmara, aderiram à Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada por
Plínio Salgado.
De
volta ao país em 1933, foi beneficiado pela anistia decretada pelo presidente
Getúlio Vargas em janeiro de 1934, reintegrando-se então ao Exército. Em
fevereiro desse ano compareceu ao primeiro congresso nacional integralista,
realizado em Vitória, entrando em conflito aberto com Plínio Salgado. Contrário
à eleição deste para a chefia nacional da AIB, propôs que a direção do
movimento fosse entregue a um triunvirato, composto por Plínio Salgado, Gustavo
Barroso e Olbiano de Melo, reivindicando sua indicação para o cargo de
secretário-geral da AIB. Diante do fracasso de sua proposta e de discordâncias
ideológicas com Plínio Salgado, rompeu com o integralismo.
Promovido
a capitão em outubro de 1934, conseguiu junto ao então chefe do Estado-Maior do
Exército, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, a criação do ensino de
sociologia na Escola Militar tornando-se, em seguida, primeiro professor desta
disciplina na própria Escola Militar e no curso de candidatos à Escola de
Estado-Maior do Exército. Em 1936, apesar de ainda não possuir o curso de estado-maior,
foi posto à disposição do Estado-Maior do Exército para servir na 5ª
Seção (Geografia e História). Nesta ocasião, promoveu o relançamento da Revista
Militar Brasileira, tornando-se seu redator-chefe. Ainda neste ano, fundou
o Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, do qual tornou-se
secretário. Em 1937, após aprovação do ministro da Guerra, general Eurico
Gaspar Dutra, sua proposta de criação da Biblioteca do Exército foi levada à
prática, sendo Sombra escolhido para ocupar o cargo de primeiro-secretário da
entidade. Nesse mesmo ano, participou da fundação da Defesa Social Brasileira,
organização cívica da qual tornou-se secretário.
Durante
o Estado Novo (1937-1945) publicou uma série de obras históricas e
sociológicas, assumindo plenamente a defesa do regime no livro As duas
linhas de nossa evolução política, publicado em 1940. No ano seguinte,
organizou e chefiou o Serviço Secreto do Exército na 3ª Região Militar (Rio
Grande do Sul), tendo em vista o perigo da penetração do nazismo. Chegou a
major em dezembro de 1943. No ano seguinte, quando estava à disposição da
Comissão Militar Mista Brasil-EUA, Sombra, atendendo a pedido do presidente
Getúlio Vargas, elabora projeto de lei criando a Comissão de Planejamento
Econômico, o qual embora tenha sido aprovado na íntegra e publicado no Diário
Oficial, só foi parcialmente executado. Ainda em 1944, foi designado pelo
Ministério da Guerra para organizar e dirigir a edição brasileira da Military
Review, publicação do Estado-Maior do Exército norte-americano, editada em Fort Leavenworth, no Kansas.
Em 1948 fundou a Associação Brasileira de Planejamento
(Abeplan). Dois anos depois, foi convidado para organizar e dirigir o
Departamento de Estudos e Planejamento da Coordenação Federal da Abastecimento
e Preços (Cofap). Ainda em 1950, criou e presidiu o Conselho Técnico Consultivo
desta entidade, tendo sido ainda designado diretor executivo da Comissão de
Abastecimento do Nordeste (CAN), destinada a socorrer a região flagelada pela
seca. No ano seguinte fundou, no Rio de Janeiro, a Faculdade de Ciências
Sociais.
Em
1952 demite-se do cargo de diretor executivo da CAN, publicando carta em que
acusava o governo federal de negar os recursos constitucionalmente devidos ao
Nordeste. Neste mesmo ano, promoveu uma campanha em defesa do Nordeste
percorrendo os estados desta região. A repercussão desta campanha contribuiu
para a criação da Operação Nordeste (Openo), origem do Banco do Nordeste e da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Ainda em 1952, no
mês de junho, alcançou o posto de tenente-coronel.
No pleito de outubro de 1954 obteve uma suplência na Câmara
dos Deputados pelo Ceará na legenda do Partido Social Democrático (PSD).
Promovido a coronel em outubro de 1955, ocupou no mês seguinte uma cadeira na
Câmara dos Deputados, tendo exercido o mandato até janeiro de 1956. Nesse mesmo
ano, cria a Associação Cearense de Educação e Saúde. No ano seguinte passou à
reserva no posto de general-de-brigada, tendo integrado o diretório regional do
PSD cearense até 1958, quando assumiu a presidência do diretório estadual do
Partido Trabalhista Nacional (PTN). Concorreu à reeleição no pleito de outubro
de 1958 pela legenda da Coligação Democrática, constituída pelo PSD, o PTN, a
União Democrática Nacional (UDN), o Partido de Representação Popular (PRP) e o
Partido Republicano (PR), obtendo novamente apenas uma suplência, mas não
chegou a exercer o mandato nessa legislatura. Ainda em 1956, ocupou por alguns
meses a Secretaria de Segurança Pública do Ceará, no governo de Paulo Sarasate
(1955-1958).
Em
1962 deixou o Ceará e radicou-se na Guanabara, sendo eleito presidente do PTN
do estado e primeiro vice-presidente da comissão executiva nacional do partido.
No exercício destas suas funções, assumiu a defesa do parlamentarismo na crise
instaurada com a renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, como
forma de garantir a posse do vice-presidente João Goulart. Durante o movimento
político-militar de 31 de março de 1964, que depôs o presidente João Goulart
(1962-1964), Sombra participou ativamente dos entendimentos partidários para o
apoio à candidatura do general Humberto de Alencar Castelo Branco à presidência
da República, afinal escolhido pelo Congresso em 10 de abril seguinte.
Em 1965, afastou-se da vida político-partidária. Fundou a
Sociedade Brasileira Teilhard de Chardin e ministrou sete cursos sobre a obra
do intelectual francês. Passando a dedicar-se às atividades educacionais,
Severino Sombra tornou-se o grande impulsionador da Fundação Universitária
Sul-Fluminense (FUSF), instituída em 1967 em Vassouras (RJ). Nesse mesmo ano,
foi eleito presidente ad vitam desta fundação. Aprovado, em 1971, pelo
Conselho Federal de Educação como professor titular de introdução às ciências
sociais e de antropologia cultural, dois anos depois criou a Associação
Sul-Fluminense de Seleção de Recursos Humanos, para realizar o planejamento e a
execução dos concursos vestibulares da fundação. Em 1975, obteve nova aprovação
do Conselho Federal de Educação, desta vez para professor titular de estudo de
problemas brasileiros. Nesse mesmo ano criou, no Rio de Janeiro, o Instituto de
Pesquisa, Planejamento, Ensino e Cultura (Ipec), com a finalidade de ministrar
cursos, promover o intercâmbio científico e cultural, desenvolver a pesquisa,
promover a seleção de recursos humanos e elaborar projetos de planejamento
educacional. Em 1976 criou o Centro Sul-Fluminense de Estudos Supletivos.
Durante
o restante da década de 1970 e praticamente toda a década seguinte, dedicou-se
a expandir e consolidar a Fundação Universitária Sul-Fluminense. Em 1992, foi
aprovada pelo Conselho Federal de Educação a criação das Faculdades Integradas
Severino Sombra (FISS), primeiro passo rumo ao reconhecimento desta instituição
de ensino como universidade, o que finalmente aconteceu em julho de 1997. Por
conseguinte, nessa mesma ocasião, Sombra deixou de ser diretor-geral das
Faculdades Integradas Severino Sombra para tornar-se reitor da Universidade
Severino Sombra (USS). Foi também designado pró-reitor administrativo e
presidente do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da USS.
Desempenhou estes cargos até a sua morte em Vassouras, no dia
12 de março de 2000.
Ao
longo de sua carreira exerceu ainda os cargos de diretor executivo do
escritório técnico das bancadas do Norte e do Nordeste no Congresso, membro
da Associação Brasileira de Estudo e Pesquisa Arqueológica; do Instituto do
Ceará; do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul; do Instituto
de Genealogia; do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB); da
Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes; da Academia de História Militar
Terrestre do Brasil; da Real Academia de la Historia (Madri, Espanha); do
Instituto Historico y Geografico del Uruguay, da presidência colegiada da
Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abm), além de
presidente da Associação Profissional das Entidades Mantenedoras das
Instituições de Ensino do Estado do Rio de Janeiro (Ames).
Era
casado com Maria José Pires Sombra de Albuquerque, sua quarta esposa. Teve seis
filhos.
Além
das obras citadas, publicou O ideal legionário (1931), A
fundação da sociologia (1940), Formação da sociologia (1941), Diretrizes
da nova política do Brasil (1942), Técnica de planejamento (1948), Evolução
e métodos do serviço social (1949) e Forças armadas e direção
política. Escreveu ainda memórias, teses, ensaios e trabalhos publicados em
opúsculos, revistas e seções especializadas de jornais.
FONTES: ALMEIDA, G.
Homens; ARQ. CLUBE 3 DE OUTUBRO; CÂM. DEP. Deputados; CÂM.
DEP. Deputados brasileiros. Repertório (1946-1967); CURRIC. BIOG.;
ENTREV. BIOG.; FUND. EDUC. SEVERINO SOMBRA. Nos Passos; GIRÃO,
R. Ceará; MELO, O. Marcha; NASSER, D. Revolução;
TAVARES J. Radicalização; TRINDADE, H. Integralismo;
Who’s who in Brazil.