GUAZELLI,
Sinval
*dep. fed. RS
1971-1975; gov. RS 1975-1979; dep. fed. RS 1983-1985; gov. RS 1990-1991; min.
Agric. 1994-1995; dep. fed. RS 1999-2001.
Sinval Sebastião Duarte Guazzelli nasceu em Vacaria (RS) no dia 24 de janeiro de 1930, filho
de Samuel Guazzelli e de Virgínia Duarte Guazzelli. Seu pai foi líder rural,
tendo presidido a Associação Rural de Vacaria e a União Democrática Nacional
(UDN) local. Seu primo, Eloar Guazzelli, foi deputado federal pelo Rio Grande
do Sul de 1979 a 1983.
Sinval Guazzelli concluiu o ginásio em 1945, no Colégio São
Francisco, em sua cidade natal, e o colegial em 1948, no Colégio Rosário, em Porto Alegre. Formou-se em direito na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do
Sul, em 1953.
Iniciou
sua carreira política como vice-prefeito de Vacaria — eleito na legenda da UDN
— de 1956 a 1959. Ocupou interinamente a prefeitura em 1957. Em outubro de
1958, elegeu-se deputado estadual. Líder da bancada de seu partido nessa
legislatura, foi segundo-vice-presidente da mesa da Assembléia Legislativa.
Reeleito em outubro de 1962, no ano seguinte concorreu à prefeitura de Porto
Alegre, sendo derrotado por Sereno Chaise, candidato do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Permaneceu no exercício do mandato estadual, do qual
afastou-se em 1964 para ocupar o cargo de secretário de Obras Públicas, no
governo de Ildo Meneghetti. Nesse mesmo ano, após retornar à Assembléia gáucha,
defendeu na tribuna o respeito ao Poder Legislativo, ressaltando que o governo
do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) — o primeiro do
regime de exceção instaurado em abril de 1964 com a deposição do presidente
João Goulart — seria decisivo para a definição do processo político, pois daria
ao país as soluções reclamadas pelo povo ou eliminaria definitivamente as
liberdades públicas.
Em outubro de 1965, através do Ato Institucional nº 2 (AI-2),
editado pelo presidente da República, os partidos políticos foram extintos. No
início de 1966, com a implementação do bipartidarismo, Guazzelli filiou-se à
Aliança Renovadora Nacional (Arena), de apoio ao governo. Nas eleições de
novembro daquele ano, concorreu, em sublegenda, a uma cadeira no Senado, mas
foi derrotado por seu companheiro de partido Guido Mondim.
Em janeiro de 1967, ao concluir o seu segundo mandato como
deputado estadual, ocupou a presidência da Caixa Econômica Federal do Rio
Grande do Sul e representou a instituição no Congresso Interamericano de
Poupança e Empréstimo, realizado em Buenos Aires no mesmo ano.
Em novembro de 1970, após deixar a presidência da Caixa,
elegeu-se deputado federal com a maior votação do estado (aproximadamente 90
mil votos). Assumiu o mandato em fevereiro de 1971. Durante essa legislatura
foi membro efetivo da Comissão de Fiscalização Financeira e Tomada de Contas,
suplente das comissões de Orçamento e de Desenvolvimento da Região Sul e
vice-líder da Arena na Câmara, a partir de 1973.
Em 1974, teve seu nome indicado pelo governador Euclides
Triches (1971-1975) à sucessão estadual. Atribuiu-se a indicação à
interferência do secretário do Trabalho, Nélson Marchezan, cujo apoio foi
fundamental à homologação de sua candidatura pela convenção regional da Arena,
embora houvesse obtido do diretório do partido o menor número de votos. Pouco
depois, Guazzelli recebeu a adesão de Nestor Jost e de Válter Peracchi
Barcelos, que participaram dos comícios de sua campanha. Em outubro de 1974,
foi eleito pela Assembléia Legislativa governador indireto do Rio Grande do
Sul. Concluiu seu mandato de deputado federal em janeiro de 1975 e em 15 de
março seguinte assumiu a chefia do Executivo gaúcho, sendo obrigado a conviver
com uma oposição majoritária na Assembléia Legislativa. Tentou formar, junto
com os governadores de Minas Gerais, Aureliano Chaves, e de São Paulo, Paulo Egídio
Martins, um “tripé de suporte” à política de distensão do presidente da
República, general Ernesto Geisel. A iniciativa, porém, não foi adiante. Depois
dos pronunciamentos iniciais, os três governadores retomaram uma atitude de
discrição.
Em
fins de 1976, Guazzelli transferiu seu governo para as cidades-pólo.
Dispunha-se, assim, a conhecer as reivindicações de prefeitos e vereadores.
Durante sua gestão, procurou restabelecer a confiança na capacidade eleitoral
da Arena, seriamente abalada pelos resultados das eleições de 1974.
Paralelamente, tentou abrir o caminho do diálogo e da negociação com o partido
oposicionista, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), através de seu líder
na Assembléia gaúcha, o deputado Pedro Simon.
Por
ocasião do seqüestro dos asilados políticos uruguaios Universindo Diaz e Lilian
Celiberti, ocorrido em novembro de 1978, em Porto Alegre, empenhou-se na apuração do caso, no qual estavam implicados policiais do
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) gaúcho. Insatisfeito com o
andamento das investigações, interveio na Secretaria de Segurança, alterando a
composição do Conselho Superior de Polícia, e afastou o diretor-substituto da
Divisão de Relações Públicas do órgão.
Em fevereiro de 1979, manifestou-se a favor de uma anistia
abrangente e do retorno de todos os exilados políticos brasileiros. Confiante
no desenvolvimento do processo de abertura política a que o sucessor do general
Geisel, o general João Batista Figueiredo, deveria dar continuidade, ofereceu
sua colaboração às lideranças políticas “suficientemente amadurecidas,
esclarecidas e conscientes”, segundo suas palavras, para a evolução do quadro
institucional brasileiro.
Deixou o governo do Rio Grande do Sul em 15 de março de 1979
— data em que o general Figueiredo assumiu a presidência da República —, sendo
substituído por José Augusto Amaral de Sousa.
Com
a extinção do bipartidarismo, em 29 de novembro de 1979, foram criados novos
partidos políticos. Em outubro de 1980, Guazzelli filiou-se ao Partido Popular
(PP), tornando-se posteriormente seu presidente no Rio Grande do Sul. Em julho
de 1981, o PP lançou oficialmente sua candidatura e a de Mário Ramos para
governador e vice-governador, respectivamente, e a do ex-ministro da
Agricultura Luís Fernando Cirne Lima para o Senado.
Mas
a nova legislação eleitoral, aprovada para o pleito de novembro de 1982,
proibiu as coligações partidárias e obrigou a vinculação total dos votos, o que
levou o PP a fundir-se com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB), sucessor do MDB. Guazzelli abriu mão de sua candidatura ao governo
gaúcho para apoiar o nome do senador Pedro Simon, líder do partido no estado, e
disputou uma cadeira na Câmara. Em novembro de 1982 foi eleito deputado federal
na legenda do PMDB.
Empossado em fevereiro do ano seguinte, ocupou o posto de
vice-líder da bancada peemedebista e integrou as comissões do Interior e de
Ciência e Tecnologia. Defendeu a adoção do parlamentarismo como “receita para a
crise institucional e financeira” por que passava o país e sugeriu uma
articulação entre os governadores recém-eleitos do PMDB e as bancadas do
partido na Câmara e no Senado para definir prioridades e dar início ao diálogo
com os demais partidos.
Depois
de admitir que seu mandato de governador não tivera “legitimidade política e
popular”, em julho de 1983 manifestou-se a favor de eleições diretas em todos
os níveis, coerente com a posição de seu partido. Em 25 de abril de 1984 votou
favoravelmente à emenda Dante de Oliveira, que previa o restabelecimento de eleição
direta para a presidência da República em novembro seguinte. Mas a proposta não
obteve a votação necessária para ser encaminhada ao Senado e a sucessão de
Figueiredo foi decidida pela via indireta, através do Colégio Eleitoral, em 15
de janeiro de 1985. Guazzelli votou no ex-governador de Minas Gerais Tancredo
Neves, candidato da Aliança Democrática, coligação do PMDB com a dissidência do
Partido Democrático Social (PDS), sucessor da Arena, reunida na Frente Liberal.
Apesar da vitória sobre o candidato governista Paulo Maluf, Tancredo ficou
gravemente doente e foi substituído pelo vice José Sarney, empossado
interinamente em março de 1985 e efetivado no cargo em 21 de abril seguinte,
quando o ex-governador mineiro morreu.
Em
abril de 1985, Guazzelli disputou a secretaria geral do PMDB com o deputado
paulista Roberto Cardoso Alves, sendo derrotado. Em agosto deste mesmo ano, ao
ser indicado para ocupar a presidência do Banco Meridional no Rio Grande do
Sul, renunciou ao mandato de deputado federal e foi substituído pelo suplente
Irani Müller, do PMDB, irmão do também deputado Amauri Müller, do Partido
Democrático Trabalhista (PDT). Presidiu o Meridional até 1986, quando deixou o
cargo para integrar como vice a chapa peemedebista ao governo gaúcho encabeçada
por Pedro Simon, desistindo de concorrer ao Senado. Eleito em novembro de 1986,
juntamente com Simon, Guazzelli recebeu a incumbência de promover a articulação
política do Executivo estadual com os setores mais conservadores do PMDB. Em
abril de 1990, após o afastamento de Simon para candidatar-se ao Senado,
Guazzelli assumiu o governo gaúcho. Permaneceu no cargo até o final do mandato,
em março de 1991.
Em
janeiro de 1994, durante a gestão do presidente Itamar Franco (1992-1994),
tomou posse no Ministério da Agricultura, em substituição a Alberto Portugal, e
defendeu a elevação da alíquota de importação ou a suspensão da compra de
alimentos pelo governo devido à previsão de que a safra de grãos daquele ano
seria a maior de toda a história do país. Preocupado com a ocorrência de
conflitos entre proprietários rurais e trabalhadores rurais sem-terra, em abril
de 1994 Guazzelli recomendou ao presidente do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (INCRA), Marcos Lins, maior agilidade na execução do plano de
reforma agrária do governo. Em setembro, contrariando as previsões que fizera
no início de sua gestão, alertou que a longa estiagem e o aumento do consumo
provocado pelo Plano Real poderiam provocar a falta de alimentos em 1995,
forçando o governo a importar produtos para supri-la. Deixou a pasta da
Agricultura com a posse do novo presidente da República, Fernando Henrique
Cardoso, em janeiro de 1995, sendo substituído no cargo por José Eduardo de
Andrade Vieira.
Em
outubro de 1998, elegeu-se deputado federal pelo Rio Grande do Sul numa ampla
coligação partidária liderada pelo PMDB, e integrada ainda pelo Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB) e pelo Partido da Frente Liberal (PFL).
Tomou posse para o novo mandato em 1º de fevereiro de 1999.
Faleceu
em Brasília no dia 12 de abril de 2001.
Foi
casado com a ex-deputada estadual gaúcha e ex-presidente da Fundação Nacional
do Bem-Estar do Menor (Funabem) Ecléa Teresinha Fernandes Guazzelli, com quem
teve três filhas.
Verônica Veloso
atualização
FONTES: CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Deputados
brasileiros. Repertório (1971-1975, 1983-1987 e 1999-2003); CÂM.
DEP. Relação nominal
dos senhores; CORRESP. GOV. EST. RS; Estado de S. Paulo (15/1 e 19/7/83,
18/3 e 24/9/94); Folha de S. Paulo (12/4/85, 18/3 e
7/4/94); Globo (21 e 28/7/81,
11/2/83, 26/4/84, 16/1/85, 24/11/86 e 4/8/94); Jornal do Brasil (8/11/76, 20/1,
20/6, 11 e 24/12/77, 27/5 e 3/12/78, 14 e 15/2/79, 23, 24 e 30/10/80, 9/4/81,
28/8/85); NÉRI, S. 16; Perfil (1972); Veja (23/6/76).