SOARES,
José Eduardo de Macedo
*jornalista; dep. fed. RJ 1915-1923; const. 1934; sen.
RJ 1935-1937.
José Eduardo de Macedo Soares nasceu em São Gonçalo (RJ) no dia 4 de setembro de 1882,
filho de José Eduardo de Macedo Soares, empresário, professor e político, e de
Cândida Sodré de Macedo Soares. Sua família teve marcante influência na vida
política e cultural do país, a começar por seu avô, Joaquim Mariano de Azevedo
Soares, fazendeiro e expoente da aristocracia rural fluminense. Seguem-se seu
tio, o conselheiro Antônio Joaquim de Macedo Soares, ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) de 1892 a 1905; seus irmãos José Carlos de Macedo
Soares, deputado à Constituinte de 1934, ministro das Relações Exteriores de
1934 a 1937 e de 1955 a 1958, ministro da Justiça em 1937 e interventor federal
em São Paulo de 1945 a 1947, José Roberto de Macedo Soares, embaixador no
Uruguai entre 1945 e 1951, e José Cássio de Macedo Soares, deputado federal de
1935 a 1937; e seus primos Edmundo de Macedo Soares e Silva, ministro da Viação
e Obras Públicas em 1946, governador do estado do Rio de Janeiro entre 1947 e
1951 e ministro da Indústria e Comércio em 1967, José Armando de Macedo Soares
Afonseca, deputado federal à Constituinte de 1946, e Hélio de Macedo Soares e
Silva, deputado federal entre 1951 e 1955.
Matriculando-se na Escola Naval, no Rio de Janeiro, então
Distrito Federal, tornou-se aspirante a guarda-marinha em março de 1898.
Promovido a guarda-marinha em 1903 e a segundo-tenente em 1904, tornou-se
ajudante-de-ordens do almirante Duarte Huet Bacelar Pinto Guedes. Foi promovido
a primeiro-tenente em 1908, mas em 1912 deixou a Marinha e passou a dedicar-se
ao jornalismo, fundando no mesmo ano o jornal O Imparcial, de oposição ao
presidente Hermes da Fonseca. Feito em moldes modernos, O Imparcial foi o
primeiro jornal carioca a publicar ilustrações.
Em
1914, eclodiu no Ceará uma revolta provocada pelos problemas sucessórios
locais, surgidos com a eleição, em 1912, do “coronel” Franco Rabelo para a
presidência do estado, derrotando o “coronel” Antônio Nogueira Acióli, que
dominava a política cearense desde 1896. Inconformado, o chefe político de
Juazeiro (CE) Floro Bartolomeu uniu-se ao líder religioso Cícero Romão Batista
e iniciou em sua cidade um movimento armado contra Franco Rabelo. A intervenção
federal no Ceará, decretada em 1914 e exercida pelo general Fernando Setembrino
de Carvalho, provocou um sério desgaste no governo da República e abriu uma
crise nos meios militares. O Clube Militar do Rio condenou a intervenção. A
imprensa noticiou os fatos e, no Senado, Rui Barbosa, Irineu Machado e outros
políticos denunciaram a atuação parcial do governo em relação aos
acontecimentos. A situação evoluiu até que o presidente Hermes da Fonseca
decretou, em 4 de março de 1914, estado de sítio no Distrito Federal, em
Niterói e em Petrópolis (RJ). No dia seguinte, vários generais foram presos. Os
jornais cariocas Correio da Manhã, O Imparcial, Época, A Noite e O Malho foram
fechados. Rui Barbosa e Irineu Machado fugiram para São Paulo, enquanto Edmundo
Bittencourt, José Eduardo de Macedo Soares, Caio Monteiro de Barros e outros
proprietários de jornais foram presos. No entanto, Macedo Soares conseguiu
escapar do quartel da Brigada Policial, situado na rua Frei Caneca, e fugir
para São Paulo. Com o estado de sítio, a situação foi considerada sob controle
e a sucessão de Hermes da Fonseca pôde se processar normalmente voltando os
Acióli ao poder no Ceará.
Em janeiro de 1915, José Eduardo de Macedo Soares foi eleito
deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, na legenda do Partido
Republicano Fluminense, chefiado por Nilo Peçanha, que governara o país de
junho de 1909 a novembro de 1910. Exerceu seu mandato até o final da
legislatura, em dezembro de 1917. Em maio de 1918, foi novamente eleito para um
período que se estendeu até dezembro de 1920. Reeleito em 1921, cumpriu mandato
até 1923.
Macedo
Soares participou em 1922 da campanha de Nilo Peçanha à presidência da
República, movimento que ficou conhecido com o nome de Reação Republicana. Nilo
Peçanha concorria com Artur Bernardes, candidato apoiado pelo presidente da
República Epitácio Pessoa e afinal eleito em março do mesmo ano.
A reação a essa eleição e às punições impostas pelo governo
de Epitácio Pessoa a alguns militares — como o fechamento do Clube Militar e a
prisão do marechal Hermes da Fonseca — provocaria a primeira revolta tenentista
da década de 1920. No dia 4 de julho, junto com Vivaldi Leite Ribeiro, Sílvio
Rangel, Laurindo Lemgruber Filho, Carlos Eiras e Paulo Ornelas Couto, e com o
apoio de César Sampaio, então comandante da polícia estadual fluminense, José
Eduardo de Macedo Soares ocupou a Companhia Telefônica de Niterói, impedindo as
comunicações com o Rio, no intuito de facilitar o levante. A revolta eclodiu no
dia seguinte no Rio — envolvendo o forte de Copacabana, a Escola Militar do
Realengo e efetivos da Vila Militar — e em Mato Grosso, abrangendo o contingente
do Exército local. Os rebeldes foram derrotados no mesmo dia, e Macedo Soares
refugiou-se na legação da Argentina. Ainda antes do final do ano, foi preso em
Maricá, mas conseguiu fugir.
O Diário Carioca, fundado por José Eduardo de Macedo Soares,
começou a circular em 17 de julho de 1928, fazendo oposição ao presidente da
República Washington Luís, que fora eleito em março de 1926. A partir de 1929,
o jornal passou a apoiar a Aliança Liberal, coligação de oposições formada para
disputar as eleições presidenciais marcadas para março do ano seguinte. Em
setembro de 1929, Macedo Soares participou, como representante do estado do Rio
de Janeiro, da convenção nacional da Aliança Liberal, que lançou como
candidatos à presidência e vice-presidência da República respectivamente
Getúlio Vargas e João Pessoa. No final do ano, sua atuação na imprensa ao lado
da de Lindolfo Collor e de Assis Chateaubriand tornou-se marcante, e alguns de
seus artigos ficaram célebres.
Em junho de 1930, Macedo Soares foi preso em Recife quando
voltava da Europa, em função de um processo de imprensa, sendo transferido para
o Rio.
Tendo apoiado a Revolução de 1930, que derrubou Washington
Luís em outubro e em novembro instalou o Governo Provisório de Getúlio Vargas,
Macedo Soares rompeu entretanto com os revolucionários em dezembro, acusando-os
de desenvolver “uma administração incompetente e uma política mesquinha”. Pouco
depois, o número do Diário Carioca que trazia o editorial “Balaio de
caranguejos” foi impedido de sair. Mesmo assim, esse texto foi divulgado
através de milhares de cópias impressas nas oficinas do próprio jornal.
Macedo Soares participou também da fundação do Clube 24 de
Fevereiro, criado em 16 de fevereiro de 1932 para defender a
reconstitucionalização do país e se opor ao Clube 3 de Outubro, a mais
importante associação tenentista. Chegou a afirmar no Diário Carioca que o
Clube 3 de Outubro tinha por finalidade “sustentar pela violência um regime de
poderes discricionários que Getúlio Vargas planejava prolongar no país”. No dia
25 de fevereiro, em conseqüência dessas declarações, o Diário Carioca foi
empastelado, espalhando-se desde logo a versão de que os responsáveis pelo
atentado eram ligados aos “tenentes”. A crise que se seguiu foi grande. Em
protesto contra a falta de empenho de Vargas em apontar e punir os autores do
empastelamento, um grupo de políticos — João Neves da Fontoura, Maurício
Cardoso, João Batista Luzardo e Lindolfo Collor — se demitiu de seus cargos no
Governo Provisório.
O
Diário Carioca voltou a circular em abril, com Macedo Soares responsabilizando
o governo da República pelo atentado e desenvolvendo uma oposição cada vez mais
intransigente
Ao lado de João Guimarães, Veríssimo de Melo, Raul Fernandes
e José Monteiro Soares Filho, José Eduardo de Macedo Soares foi um dos
fundadores do Partido Popular Radical (PPR) do Rio de Janeiro em março de 1933.
Em maio desse ano, foi eleito deputado pelo estado do Rio à Assembléia Nacional
Constituinte na legenda do PPR, participando da elaboração da Carta Constitucional
de 1934 e exercendo o mandato até abril de 1935.
Em outubro de 1934, realizaram-se em todo o país eleições
para a Câmara Federal e para as assembléias constituintes estaduais, as quais
deveriam eleger governadores e senadores. Para eleger o governador fluminense,
os dois partidos de maior força eleitoral no estado do Rio — a União
Progressista Fluminense (UPF) e o PPR — precisavam da adesão dos deputados
estaduais do Partido Socialista Fluminense (PSF). O PSF elegera cinco deputados
à Assembléia, sendo que três eram oriundos do Partido Proletário do Estado do
Rio e apoiavam a UPF. Esses três deputados foram substituídos por suplentes que
apoiavam o PPR.
Ao lado de Raul Fernandes, João Guimarães, Levi Carneiro e
Oscar Weinschenck, José Eduardo de Macedo Soares foi um dos nomes inicialmente
apresentados pelo PPR ao PSF como opções entre as quais deveria ser escolhido o
candidato a governador. O PSF não aceitou nenhum dos nomes, alegando já ter
escolhido o deputado Correia e Castro, apoiado sobretudo por Alípio Costallat.
Essa indicação não foi, contudo, aceita pelo PPR. Macedo Soares e Raul
Fernandes foram finalmente os dois nomes em torno dos quais se polarizou a
discussão, sendo por fim Raul Fernandes escolhido pela maioria do PPR.
Entretanto, o PSF continuou a não aceitar a indicação, o que levou os dois
partidos a tentarem a candidatura do almirante Protógenes Guimarães, ministro
da Marinha.
Diante
da importância que o governo do estado do Rio teria para a política nacional no
momento da sucessão presidencial prevista para 1938, o problema da sucessão
fluminense dividiu as posições nos estados. Os governos de Minas Gerais e do
Rio Grande do Sul apoiaram Cristóvão Barcelos, candidato da UPF, enquanto o
governo federal e o governo do estado de São Paulo apoiaram Protógenes
Guimarães.
Realizada em 25 de setembro de 1935, a eleição para o governo
fluminense foi marcada por atos de violência, que chegaram a provocar
ferimentos a bala em um deputado do PSF e no general Cristóvão Barcelos. O
almirante Protógenes saiu vitorioso, mas a UPF conseguiu, através de recurso em
que denunciava as precárias condições de segurança do pleito, que a Justiça
Eleitoral anulasse o resultado, convocando novas eleições. Uma segunda votação
realizada em novembro de 1935 confirmou a vitória de Protógenes por um voto. Na
mesma ocasião, José Eduardo de Macedo Soares foi eleito senador, exercendo o
mandato até que o golpe do Estado Novo suprimisse os órgãos legislativos do
país.
O
Estado Novo, decretado em 10 de novembro de 1937, encontrou o governo do estado
do Rio mergulhado numa séria crise, com as divergências entre os políticos
locais agravadas pela doença que atacou Protógenes Guimarães. Indicado pelo
grupo político liderado por José Eduardo de Macedo Soares, Ernâni Amaral Peixoto
foi então nomeado interventor. Macedo Soares pretendia na verdade que Amaral
Peixoto exercesse apenas um mandato-tampão, para que ele próprio pudesse
assumir o poder no estado. Vargas, no entanto, pretendendo barrar sua ascensão,
orientou Amaral Peixoto para que este assumisse de forma plena a interventoria.
Mesmo assim, os principais postos no governo foram entregues a elementos
favoráveis a Macedo Soares, os quais, mais tarde, com a deterioração das
relações com o interventor, perderam seus cargos.
No dia 21 de abril de 1945, José Eduardo de Macedo Soares
participou da primeira reunião do diretório nacional da União Democrática
Nacional (UDN), quando foram nomeadas as comissões para a elaboração do
primeiro projeto de estatutos do partido. Macedo Soares integrou a comissão de
orientação política. Deu seu apoio à candidatura de Eduardo Gomes à presidência
da República nas eleições de 1945 e 1950, e à de Juscelino Kubitschek em 1953,
tendo também liderado a campanha do Diário Carioca em favor do governo
Kubitschek.
Embora não tenha sempre dirigido o Diário Carioca, Macedo
Soares desempenhou durante todo o tempo o papel de eminência parda do jornal,
dando seu tom político e definindo suas diretrizes.
José Eduardo de Macedo Soares faleceu no Rio de Janeiro em 11
de maio de 1967.
Robert Pechman
FONTES: Boletim
Min. Trab. (5/36); CÂM. DEP. Deputados; CONSULT. MAGALHÃES, B.; Diário do
Congresso Nacional; Efemérides Paulistas; Encic. Barsa; Encic. Mirador; ENTREV.
PEIXOTO, A.; FONTOURA, J. Memórias; GODINHO, V. Constituintes; Grande encic.
Delta; Ilustração Brasileira (10/22); Jornal do Comércio, Rio (1/6/67); LEITE,
A. Páginas; MORAIS, A. Minas; NABUCO, C. Vida; NOGUEIRA FILHO, P. Ideais; Novo
dic. de história; SENADO. Anais (13/11/35); SILVA, H. 1935.