CONFERÊNCIA
NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB)
Associação civil católica criada em 16 de outubro de 1952 no
Rio de Janeiro, então Distrito Federal, por iniciativa de dom Hélder Câmara,
bispo auxiliar do cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, dom Jaime de Barros
Câmara, com o objetivo de “coordenar e subsidiar as atividades de orientação
religiosa, de beneficência, de filantropia e assistência social” em todo o
território nacional.
Representando uma tentativa de centralizar o poder da Igreja,
que se encontrava fracionado em dezenas de dioceses espalhadas pelo país, a
CNBB se caracterizou no decorrer dos anos menos por uma atividade
assistencialista do que por uma presença ativa no campo social. A sede da CNBB
foi transferida para Brasília em outubro de 1977, sendo oficialmente inaugurada
na nova capital federal no mês de novembro seguinte.
Origens e implantação da CNBB
Nomeado cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro em 1930, dom
Sebastião Leme da Silveira Cintra empreendeu a tarefa de centralizar o
episcopado brasileiro e de organizar o movimento católico leigo na tentativa de
fortalecer a Igreja e sua relação com o Estado.
No ano de 1942 dom Leme faleceu, sendo nomeado para a
arquidiocese do Rio de Janeiro no ano seguinte o cardeal dom Jaime de Barros
Câmara. Devido à incapacidade de dom Jaime de exercer a mesma liderança de seu
antecessor sobre o episcopado, o poder eclesiástico tendeu a refluir para as
dioceses.
A
partir de 1949, entretanto, ao mesmo tempo em que as dioceses entravam em
rápida expansão, começou a se realizar, com o apoio do núncio apostólico no
Brasil, dom Carlo Chiari, uma série de encontros de prelados e bispos visando à
formação de um órgão centralizador de todo o episcopado brasileiro. Dom Hélder
Câmara, assistente nacional da Ação Católica Brasileira (ACB) — associação
criada em 1935 para organizar o laicato católico — e um dos mais importantes
articuladores desses encontros, acreditava que os laços entre o episcopado
deviam ser fortalecidos, visando a uma melhor administração da Igreja.
A idéia ganhou força durante o Congresso Mundial dos Leigos,
realizado em Roma em 1950, quando foram elaboradas várias teses — na verdade,
um esboço dos estatutos da futura organização — posteriormente entregues ao
papa Pio XII. Monsenhor Giovani Montini, secretário de Estado do Vaticano e
futuro papa Paulo VI, exerceu uma grande influência junto ao papa Pio XII para
que a organização fosse aprovada, demonstrando assim a preocupação do Vaticano
em promover a criação de uma instituição capaz de alargar o raio de influência
da Igreja no Brasil.
Em outubro de 1952, finalmente, com a permissão da Santa Sé,
foi criada a CNBB, na época a terceira conferência episcopal do mundo. Além de
dom Jaime, participaram da fundação da entidade bispos representantes de
diversas tendências no interior da Igreja, entre os quais dom Carlos Carmelo de
Vasconcelos Mota, dom Carlos Coelho, dom Eugênio Sales, dom Fernando Gomes, dom Hélder Câmara, dom José Maria Pires, dom José Távora e dom Luís Mousinho.
A
reunião de instalação da CNBB realizou-se no palácio São Joaquim, com a
presença, entre outros, dos cardeais dom Jaime Câmara e dom Carlos Mora, do
núncio apostólico dom Chiari, além de vários arcebispos como dom Vicente
Scherer, de Porto Alegre. Realizada a eleição para a comissão permanente
encarregada de dirigir a entidade, foram escolhidos dom Scherer, dom Mário de
Miranda Vilas Boas e dom Antônio Morais de Almeida Júnior, sendo dom Hélder
Câmara designado secretário-geral. Para a presidência, a comissão escolheu o
cardeal dom Carlos Carmelo Mota, arcebispo de São Paulo. Foram ainda
aprovadas as finalidades gerais do secretariado geral e seu desdobramento em
seis secretariados nacionais — de educação, de ação social, de ensino de
religião, dos seminários e vocações sacerdotais, do apostolado do leigo e da
Liga Eleitoral Católica.
Satisfazendo a uma necessidade de organização geralmente
reconhecida pelos bispos, a CNBB em pouco tempo conquistou uma posição
fundamental na Igreja brasileira, assumindo o papel de porta-voz da hierarquia
eclesiástica. Por outro lado, a entidade procurou manter um bom relacionamento
com o governo de Getúlio Vargas. Em visita ao presidente da República logo após
a fundação da CNBB, dom Carlos Carmelo Mota enalteceu as realizações que
considerava dignas do apoio da Igreja durante as duas fases da administração de
Vargas, predominantemente as de cunho social. Vargas agradeceu e manifestou sua
intenção de contribuir para o bom entendimento entre a Igreja e o Estado.
De certo modo, a CNBB brotou da ACB, pois, na qualidade de
assistente dessa organização, dom Hélder dela se utilizou para convocar os dois
primeiros encontros da hierarquia eclesiástica. Além disso, vários integrantes
da CNBB haviam trabalhado na ACB como assistentes, e ainda permaneciam em
contato com a entidade. Graças a essa ligação estreita com a CNBB, a ACB
alterou também sua relação com a Igreja: em lugar de depender das diretrizes de
cada bispo individualmente, passou a tratar com um órgão de representação
nacional, o que lhe propiciou maior autonomia de ação e lhe abriu a possibilidade
de se manifestar mais livremente sobre as questões temporais.
Da fundação a 1964
Dois
anos após a fundação da CNBB, a Santa Sé enviou ao Brasil um novo núncio papal,
dom Armando Lombardi, que até morrer, em maio de 1964, desempenharia um papel
fundamental na orientação e na sustentação da unidade da CNBB e de seu
secretariado. Convicto da necessidade de uma renovação da Igreja no país que se
poderia efetivar através da CNBB, dom Lombardi manteve encontros
semanais com dom Hélder e assistiu a vários encontros da CNBB onde apoiou as
declarações sociais mais avançadas. A partir de 1954, portanto, a CNBB se
tornou o porta-voz mais autorizado da Igreja Católica no Brasil. Segundo Della
Cava, a CNBB se teria tornado o verdadeiro sucessor do cardeal Leme — e não o
cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, dom Jaime Câmara —, e dom Hélder Câmara
emergiria assim como o “líder de fato” da Igreja brasileira.
Em
maio de 1956, sob os auspícios da CNBB e com a presença de vários ministros do
governo de Juscelino Kubitschek, os bispos do Nordeste se reuniram em Campina Grande (PB) para discutir os problemas socioeconômicos da região. Durante o período
de preparação da reunião, foram feitos contatos com técnicos — particularmente
economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico como Celso Furtado e
Rômulo de Almeida — com o objetivo de formular um modelo de desenvolvimento
econômico que permitisse maior intervenção do Estado. O encontro de Campina
Grande se distinguiu dos anteriores na medida em que preconizava a formulação
de um plano geral para o desenvolvimento do Nordeste, visando a um controle das
diversas instituições e organismos governamentais já existentes. Solidários com
as camadas mais pobres da população e criticando as injustiças geradas pela
estrutura socioeconômica do país, os bispos procuravam aumentar o raio de
influência da Igreja através da elaboração de uma nova estratégia de ação. Já
no mês seguinte, o presidente Juscelino Kubitschek lançaria a Operação Nordeste,
assinando 20 decretos em boa parte baseados nas recomendações episcopais.
A
questão da justiça social tornava-se assim cada vez mais relevante nas
declarações dos bispos, principalmente sob o papado de João XXIII, que teve
início em 1958. No mês de novembro desse ano, João XXIII dirigiu uma carta aos
bispos da América Latina enfatizando os problemas sociais da região, e
manifestando-se favorável a uma mudança daquela situação. Enquanto isso, em
maio de 1959, em novo encontro, os bispos do Nordeste pressionaram o Congresso
para que votasse a favor da criação da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene). Criada finalmente pela Lei nº 3.692, de 15 de dezembro do
mesmo ano, a Sudene veio concretizar os anseios daqueles bispos que
reivindicavam a implantação de um órgão de planejamento regional. Assim,
através da CNBB, a Igreja caminhava relativamente próxima do governo de
Juscelino Kubitschek. A reunião dos bispos da Amazônia, realizada em Belém nos
primeiros dias de novembro de 1959, contou com a presença do próprio
presidente, demonstrando seu estreito contato com dom Hélder Câmara.
Também
ao final da década de 1950 e início da década de 1960 estabeleceu-se uma
aproximação entre alguns setores da Igreja — basicamente o grupo progressista
do episcopado, juntamente com a ACB e seus setores jovens — e aqueles segmentos
sociais em luta pela transformação da sociedade. As inovações do pensamento
social da Igreja universal e a presença de uma crítica crescente aos
desequilíbrios estruturais contribuíram para esse engajamento, que se fez
dentro da Igreja através de dois grupos: o grupo renovador, influenciado pela
ideologia modernizante do desenvolvimento, e o grupo progressista, autor de uma
crítica mais radical à sociedade, que constituiria a própria origem da
“teologia da libertação”. Num quadro mais amplo, o caminho seguido pela CNBB
estabeleceria portanto uma divisão no interior da hierarquia eclesiástica na
medida em que passava a marginalizar seus setores mais conservadores. Em defesa
destes, em 1960 era fundada a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade (TFP), contrária ao catolicismo com engajamento social e
inimiga do socialismo e do comunismo. Em concordância com a ACB, a facção mais
engajada da CNBB era apoiada pelo núncio dom Lombardi.
Apesar das condições favoráveis para sua atuação, a CNBB, em
1961, foi bastante criticada por um grupo de bispos e leigos conservadores
contrários à política de reforma agrária defendida pela organização. Em 21 de
março do mesmo ano, o presidente Jânio Quadros assinou o Decreto nº 50.370
criando o Movimento de Educação de Base (MEB) como um departamento da CNBB
visando à organização de “escolas radiofônicas” nas áreas pouco desenvolvidas
do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país.
Ainda em 1961, foi grande o impacto da encíclica Mater et
magistra do papa João XXIII, de forte conteúdo social. No mês de outubro
desse mesmo ano, após uma reunião extraordinária da comissão central da CNBB,
foi publicado um documento avançado sobre as mudanças necessárias na sociedade
rural e na estrutura política do país, ficando a cargo do MEB, da ACB e dos
sindicatos rurais o trabalho de transformação social. Esse documento foi
considerado importante, pois diferia dos pronunciamentos anteriores da CNBB,
todos eles feitos unicamente em nível regional.
No mês seguinte, em carta à hierarquia eclesiástica da
América Latina, o papa enfatizou o papel da Igreja nas questões sociais,
pedindo que cada país estabelecesse um plano pastoral com o objetivo de
revigorar a vida sacramental, de demonstrar a urgência de uma reforma das
estruturas sociais e o necessário auxílio da Igreja no cumprimento dessa
tarefa. Em conseqüência desse apelo, na V Assembléia Geral da CNBB, de 5 de
abril de 1962, foi aprovado um Plano de Emergência para a Igreja no Brasil.
Adotado até o ano de 1965, quando foi substituído pelo Plano Pastoral de
Conjunto, o Plano de Emergência tratava da renovação das paróquias, do clero e
das escolas católicas, além de sugerir reformas sociais. O plano reestruturava
a CNBB, criando os secretariados nacionais e regionais e decidindo a fundação
do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS). No interior
dos novos órgãos deveria ser elaborada uma estratégia alternativa para a
Igreja, tendo em vista algumas das novas orientações para a ação social em
favor das camadas menos favorecidas da sociedade. Segundo Márcio Moreira Alves,
o plano teve importantes conseqüências políticas que marcariam “uma nova etapa
do papel da Igreja na vida brasileira”.
Em
outubro de 1962, no entanto, a comissão central da CNBB reuniu-se para discutir
o rumo que tomava a Juventude Universitária Católica (JUC), um dos setores
jovens da ACB, cada vez mais envolvido na luta pela transformação radical da
sociedade. As diretrizes então adotadas visavam pôr limites à ação dos
militantes, o que levou a crescentes tensões entre os jucistas mais engajados e
a hierarquia eclesiástica. Além disso, nesse mesmo ano, dom Hélder foi
substituído no cargo de assistente nacional da ACB por dom Cândido Padim, o que
significou à primeira vista uma tentativa de alijamento de uma linha renovadora
dentro da Igreja. Entretanto, o próprio dom Padim, influenciado pelo trabalho
da JUC, que acompanhou de perto, foi-se alinhando na mesma opção renovadora.
A encíclica
Pacem in terris publicada em abril de 1963 reforçou os postulados da Mater
et magistra, acentuando ainda mais a preocupação com o engajamento social.
Aproveitando a ocasião, a comissão central da CNBB publicou uma declaração
sobre a situação do país, considerada a declaração mais avançada e mais
decisiva até então proclamada pela Igreja no Brasil, obtendo ainda o apoio da
Santa Sé. O documento procurava refletir sobre a realidade brasileira,
afirmando que “se de um lado, rápidos progressos se operam em escalas cada vez
mais amplas, de outro lado, grandes entraves a condicionam nas características,
ainda mercantes, de um país subdesenvolvido, em que as massas populares não
participam do processo brasileiro, onde subsistem a miséria e a mortalidade prematura
em números clamorosos, no qual o impacto das realidades rural e urbana gera
conseqüências gravíssimas de despersonalização”. Ao mesmo tempo em que
criticava os grupos “fascinados pelo progresso material da ordem capitalista”,
o documento opunha-se às “soluções marxistas” que viriam atentar contra os
direitos do homem. Manifestava-se então favorável a uma transformação urgente
da estrutura social, clamando por reformas da estrutura rural, empresarial,
tributária, administrativa, eleitoral e educacional.
Apesar
de o documento incentivar a organização do laicato, a comissão central da CNBB,
em face da chamada radicalização do meio estudantil, distribuiu à imprensa, em
dezembro, uma carta pastoral dirigida a dom Cândido Padim, assistente geral da
ACB e assistente eclesiástico da JUC. Redigido durante a segunda fase do
Concílio Ecumênico, encerrado em inícios do mesmo mês, o documento afirmava,
entre outras coisas, que a Ação Popular (AP) — organização política criada em
1962 em boa parte por membros da JUC e da Juventude Estudantil Católica (JEC),
que atuavam independentemente da hierarquia em luta pela transformação radical
da sociedade brasileira — não representava o “autêntico pensamento cristão”,
além de pôr condicionamentos à participação de membros da JUC e da JEC na AP.
Era somente aceita a participação de jucistas na AP, desde que comprometidos em
enquadrá-la numa linha genuinamente cristã. O documento condenava ainda a
disposição das organizações católicas em fazer aliança com movimentos de
ideologia marxista.
Nos três primeiros meses do ano de 1964, o país viveu um
momento de intensa polarização política. No dia 19 de março, na cidade de São
Paulo, alguns setores do clero e entidades femininas organizaram uma marcha
conhecida como Marcha da Família com Deus pela Liberdade, na tentativa de
sensibilizar a opinião pública contra as medidas que vinham sendo adotadas pelo
governo Goulart. Os setores que se opunham ao governo de João Goulart
denunciavam constantemente todos aqueles que, em algum momento, privavam da
companhia do presidente. Nesse sentido, serviu-lhes a foto de dom Hélder e dom
Carmelo Mota em almoço com Goulart em meados do mês de março, para que
divulgassem amplamente os contatos entre os líderes da CNBB e o presidente. As
relações entre dom Hélder e a hierarquia eclesiástica mostravam-se cada vez
mais tensas, sendo dom Hélder atacado por “fazer o trabalho dos comunistas”. O
MEB e os setores jovens da ACB também vinham sendo severamente atacados por Carlos
Lacerda, governador da Guanabara.
A vitória do movimento político-militar que derrubou o
presidente Goulart em 31 de março de 1964 provocou uma alteração significativa
na orientação até então vigente na CNBB. Os partidários de dom Hélder foram
severamente atacados pela imprensa e, já no mês de abril, dom Hélder deixava a
CNBB e assumia o arcebispado de Olinda e Recife — para onde fora nomeado alguns
meses antes —, enquanto dom Carmelo Mota era transferido da arquidiocese de São
Paulo para a de Aparecida.
Durante
a posse de dom Hélder em Recife, foi divulgada uma declaração de
descontentamento com o movimento de março assinada por um grupo de bispos ali
reunidos, identificados com uma posição de crítica ao novo regime. Já a
declaração conjunta de maio, assinada por 26 dos bispos e arcebispos mais
importantes do país, constituiu a primeira declaração pública de apoio ao
movimento político-militar de março. Seus signatários saudavam a vitória dos
militares sob a alegação de que a nação estava agora salva daquele “abismo
iminente”. Mesmo reconhecendo que tivessem ocorrido “facilidades e abusos” em
alguns movimentos de orientação católica, os bispos confirmavam os inúmeros
esforços no sentido de advertir e corrigir os culpados em geral. Por essa razão, não concordavam “com a atitude de certos elementos, que têm promovido
mesquinhas hostilidades à Igreja, na pessoa de bispos, sacerdotes, militantes,
leigos e fiéis”, além de recusar as alegações de que o MEB e a ACB fossem
comunistas. Esperavam assim que os “responsáveis pelos destinos temporais do
Brasil” aceitassem e cumprissem o Evangelho e a doutrina social cristã
considerada “a base fora da qual não há nem poderá haver ordem social,
segurança, estabilidade e verdadeiro progresso”.
A
declaração de maio, endossada por uma grande parcela da hierarquia
eclesiástica, afinava-se com a orientação geral dada à sociedade. A CNBB passou
assim a enfocar prioritariamente questões de caráter organizacional. Apesar
disso, no mês de junho, 23 bispos e dois cardeais da CNBB favoráveis ao
movimento de 31 de março manifestaram-se em favor do direito de defesa dos
acusados e contra o uso da força que contra eles podia ser empregada.
Com
a realização da VI Assembléia Geral da CNBB, em meados de 1964, a estrutura da entidade foi radicalmente mudada. O núcleo institucional da comissão central foi
aumentado de sete para 37 membros, na tentativa de ampliar o órgão central para
uma melhor representação da hierarquia como um todo. O espírito desse plano
diferia no entanto do projeto de descentralização proposto em 1962 por um grupo
liderado por dom Hélder, cujo objetivo era alargar as bases da instituição.
Também nessa assembléia a CNBB passava a vincular-se mais diretamente à
hierarquia eclesiástica, já que se encontrava até então separada das estruturas
diocesanas tradicionais da Igreja e com certa autonomia de ação e iniciativa.
Ainda em meados de 1964, foram realizadas em Roma eleições
para todos os cargos na CNBB. Enquanto o grupo da situação esperava reeleger
dom Hélder para a Secretaria Geral, o bispo conservador de Pouso Alegre (MG),
dom José D’Ângelo Neto, organizou a oposição, congregando os bispos
conservadores e os moderados preocupados com o radicalismo. Dom Hélder foi
derrotado, juntamente com dom Fernando Gomes, candidato à presidência. Foram
eleitos finalmente, para secretário-geral, o bispo dom José Gonçalves, auxiliar
do cardeal dom Jaime Câmara, e, para presidente, o arcebispo de Ribeirão Preto,
dom Agnelo Rossi, adepto da linha conservadora mas sem nenhuma orientação
particular. Para primeiro e segundo-vice-presidentes os candidatos de dom Fernando Gomes foram igualmente derrotados, sendo eleitos dom Avelar Brandão e dom Penedo.
Alijados da cúpula do órgão, os bispos renovadores
preencheram cargos menos importantes dos secretariados nacionais. Enquanto dom
Hélder e dom Padim foram eleitos respectivamente para a direção da Ação Social
e do Departamento de Educação, dom Fernando Gomes passaria a dirigir a Pastoral Especializada. Apesar disso, como dom José Gonçalves encarregava-se sobretudo
dos problemas administrativos, esses bispos desenvolveram um trabalho, assessorados
por sacerdotes e leigos, que veio a ser consolidado em 1965 no Plano Pastoral
de Conjunto.
No regime militar
Em
meados de 1965, realizou-se a VII Assembléia Geral da CNBB, quando foi
convocada uma reunião para tratar especificamente da ACB. Ao final das
discussões, os grupos conservadores fizeram prevalecer suas posições e,
preocupados com o “radicalismo” da ACB, subordinaram a organização aos bispos
diocesanos, mantidos sob o controle da hierarquia.
Além disso, enquanto o projeto de expansão da jurisdição das
conferências episcopais nacionais era consagrado pelo Concílio Vaticano II —
cujos trabalhos, iniciados em 1962, chegaram ao fim em 1965 —, a CNBB passava a
enfatizar a direção do órgão por regiões, em detrimento de uma organização
central e de uma autonomia de ação. Na Igreja brasileira, na verdade,
procurava-se desarticular o trabalho desenvolvido até março de 1964 pelas
associações católicas, entre as quais a CNBB.
Paradoxalmente,
foi aprovado no mesmo ano em substituição ao Plano de Emergência o
Plano Pastoral de Conjunto, com o objetivo de coordenar a Igreja em todo o país
visando à criação dos meios e das condições “para que a Igreja no Brasil se
ajuste, o mais rápido e plenamente possível, à imagem da Igreja do Vaticano
II”. O Plano Pastoral prescrevia entre outras coisas a divisão do país em 13
regiões e estipulava um extenso programa de pesquisa através do CERIS, com o
objetivo de tomar conhecimento dos problemas sociais e religiosos. Segundo
Thomas Bruneau, “o PPC é basicamente uma resposta à solicitação do papa João
XXIII, uma continuação lógica do Plano de Emergência e uma declaração de
intenção otimista: não é de forma alguma um planejamento”.
Nos
meses de junho e julho de 1966, a comissão central da CNBB procurou defender-se
das várias acusações proferidas contra as associações católicas, afirmando que
o grupo católico reunido na TFP não representava o pensamento da comissão.
Nesse mesmo ano, houve alguns desentendimentos entre o governo e setores da Igreja
identificados com uma posição crítica ao novo regime. O general Itiberê Gouveia
do Amaral, comandante da 10ª Região Militar, sediada em Fortaleza, divulgou
nota culpando dom Hélder pela “desagregação do rebanho católico em conseqüência
de suas atitudes” e proibindo a divulgação de um documento assinado por 15
bispos do Nordeste. Esse incidente provocou a indignação de vários setores da
Igreja, além de um encontro entre dom Hélder e o presidente Castelo Branco.
No
início do ano de 1967, realizou-se um encontro regional de secretariados da
CNBB. Os participantes revelaram-se preocupados com o atual estágio “imutável”
da Igreja, além de exigirem profundas modificações nas estruturas paroquiais e
diocesanas. No mês de maio, na cidade de Aparecida, realizou-se a VIII
Assembléia Geral da CNBB, com a presença de mais de duzentos bispos. Já sob as
determinações da encíclica Populorum progressio, a reunião restringiu-se
a questões de doutrina e administração interna da Igreja. Dom Hélder chegou a
apresentar uma declaração sobre a “Populorum progressio e o Brasil”, que
no entanto foi pouco discutida, não obtendo repercussão pública. Era evidente
que a Igreja recuara naquele momento em relação às questões sociais, recusando
ainda qualquer atividade inovadora. Através de uma carta enviada aos bispos em
outubro, o clero brasileiro mostrou-se no entanto apreensivo frente à realidade
nacional, denunciando desde os índices de mortalidade infantil e as precárias
condições de vida dos trabalhadores até o paternalismo e assistencialismo da
Igreja expressos pelas inúmeras obras sociais e de caridade.
No início do mês de novembro, foram presas quatro pessoas
ligadas à JOC que, num automóvel da diocese de Volta Redonda, distribuíam
panfletos com denúncias ao governo. Dom Valdir Calheiros — bispo da citada
diocese que, na ocasião, hospedava duas das pessoas presas — declarou que não
abandonaria aqueles rapazes. Em entrevista à imprensa após ter sua residência
invadida por soldados armados, dom Valdir Calheiros criticou as condições de
vida dos trabalhadores. A comissão central da CNBB manifestou-se posteriormente
sobre o caso, solidarizando-se com os bispos, padres e leigos vitimados pela
injustiça cometida, e insistindo também na necessidade de uma “ordem
socialista”. Disposta a dialogar com o governo para minimizar as dificuldades e
resolver os problemas futuros, a comissão procurava demonstrar a autonomia da
CNBB em face do Estado, questão essa que veio a ser enfatizada nos anos
seguintes.
Os primeiros meses de 1968 foram marcados por uma intensa
repressão policial às greves operárias e às manifestações estudantis de repúdio
ao regime vigente, que contaram com a presença de padres e freiras. Em julho do
mesmo ano, realizou-se a IX Assembléia Geral da CNBB, onde foi apresentado um manifesto
de 350 padres dos estados da Guanabara, São Paulo, Paraná e do Rio de Janeiro,
apontando para uma série de problemas, entre os quais o afastamento dos leigos
mais conscientes da esfera da Igreja, as más condições de vida no interior dos
seminários e o comportamento dos leigos que clamavam “por uma Igreja que
assumisse seu papel no processo de liberação”. Além disso, propunham a formação
de comunidades de base, sob a inspiração de uma nova concepção pastoral,
posteriormente oficializada na Conferência de Medellín.
Durante a assembléia, foi ainda apresentado um texto de dom
Cândido Padim denominado “A doutrina da segurança nacional à luz da doutrina
social da Igreja”. O trabalho consistia num estudo sobre a ideologia do regime
instaurado a partir da Constituição de 1967, comparando os principais aspectos
da nova doutrina de segurança nacional com a doutrina católica expressa nas
últimas três encíclicas. Esse documento provocou a primeira ruptura pública
entre o conjunto do episcopado e os bispos ultraconservadores, além de
demonstrar o afastamento crescente entre alguns setores católicos e os
militares.
Também durante o encontro, dom Rossi foi reeleito para a
presidência da CNBB e, para a secretaria geral, foi escolhido dom Aluísio
Lorscheider, bispo de Santo Ângelo (RS). Este último, com o tempo, se tornaria
responsável tanto pela reabertura da CNBB para os problemas sociais como pelo
crescente distanciamento da Igreja do poder político.
Dois dias após o encerramento da assembléia, 12 arcebispos e
bispos publicaram uma carta dirigida ao presidente Artur da Costa e Silva, na
qual mostravam sua incompatibilidade com as críticas feitas ao regime por
alguns bispos, padres e leigos. O conselho nacional da TFP, por sua vez,
promoveu uma campanha nacional de denúncia da “comunização do clero no Brasil”.
Entre 26 de agosto e 6 de setembro de 1968 realizou-se a II
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Medellín (Colômbia). Em
defesa dos “direitos dos pobres e dos oprimidos”, o encontro orientou-se no sentido
de encorajar o povo a criar e desenvolver suas próprias organizações de base,
denunciando a “violência institucionalizada” e enfatizando a idéia de
“libertação”. Além disso, a conferência estabeleceu, entre suas reivindicações,
a de maior autonomia da Igreja perante o poder central.
A questão da autonomia veio a ser enfatizada pela comissão
central da CNBB, reunida no Rio de Janeiro no mês de outubro do mesmo ano, que
também recomendou aos membros da hierarquia que permanecessem mobilizados em
favor da mudança social. A comissão decidiu ainda criar um órgão encarregado de
manter contatos estreitos com o governo, com o objetivo de “reduzir, toda vez
que se tornar necessário, as tensões políticas”.
No início do mês de dezembro, a propósito da prisão dias
antes em Belo Horizonte de três padres franceses e um diácono brasileiro, a
CNBB publicou uma nota oficial assinada por dom Rossi e dom Lorscheider, na
qual afirmava que nenhuma autoridade não-eclesiástica era competente para
julgar sua forma de pregar o Evangelho.
A
promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) a 13 de dezembro de 1968 provocou
o fortalecimento do Executivo e o agravamento da situação política nacional. A
Igreja se deparava agora com uma conjuntura ainda mais problemática para
intervir.
Dada
a dificuldade em organizar uma reunião da comissão central para a discussão
dessas questões, dom Rossi empenhou-se pessoalmente na sua realização, o que
ocorreu finalmente em fevereiro de 1969. Após algumas dúvidas sobre a
oportunidade de ser lançada uma declaração sobre a situação política, foi
aprovado ao final do encontro um texto a ser enviado ao presidente Costa e
Silva. Acreditando até mesmo na possibilidade de que os poderes de emergência
ajudassem na realização de reformas básicas, a nota alertava o governo sobre o
perigo de violação dos direitos humanos, referindo-se à supressão do habeas-corpus,
à instalação da censura e da tortura, esta última analisada de forma
diferente entre os setores conservadores e progressistas. Levada pessoalmente a
Costa e Silva pelo cardeal dom Jaime Câmara, a nota acabou sendo divulgada pela
imprensa, revelando-se assim publicamente as preocupações e esperanças da
Igreja em face da situação política brasileira da época.
Os conflitos entre os setores conservadores e progressistas
da Igreja se agravaram, na medida em que ambos procuravam exercer uma maior
influência junto à hierarquia. E como o papel da Igreja naquele momento era
decisivo, o governo procurava também dela aproximar-se.
Durante a X Assembléia Geral de julho de 1969, o
secretário-geral do episcopado discursou sobre a função sociocrítica da Igreja,
além de protestar caso o Estado infringisse os princípios dos direitos humanos.
Foram ainda tratadas outras questões como a reforma agrária e os atentados
terroristas ocorridos, além das relações entre a Igreja e o Estado. Ao final do
encontro, foi rejeitado por 135 votos contra 60 um documento básico sobre “a
relação entre a Igreja e o Estado no Brasil”, que representou a vitória da ala
conservadora aliada à ala moderada do episcopado. Não foi emitido um documento
oficial sobre a assembléia, sendo somente distribuído à imprensa um comunicado
sobre os problemas debatidos no tocante à dinâmica interna da organização.
Em
declaração dada no mês de setembro daquele ano, a comissão central da CNBB
endossou a aceitação do regime temporário de emergência — atacavam as posições
radicais dos movimentos terroristas de esquerda e de direita — desde que o
Legislativo e o Judiciário voltassem a funcionar normalmente e que os direitos
humanos fossem respeitados. Esses aspectos adquiriram no entanto pesos
diferenciados segundo cada uma das orientações.
O fato de que alguns membros progressistas da Igreja
estivessem comprometidos com algumas organizações de esquerda veio a criar
problemas para a relação entre a Igreja e o Estado, sobretudo em novembro,
quando 11 frades dominicanos, dois padres seculares e um jesuíta foram presos
sob a acusação de pertencerem à organização de esquerda pró-luta armada
denominada Aliança Libertadora Nacional. Enquanto as autoridades eclesiásticas
pediam que os acusados fossem levados aos tribunais com direito de defesa
assegurado, a TFP pedia ao governo e ao Vaticano um expurgo nos meios
católicos.
A
partir de 1970, o setor da Igreja identificado com uma posição de crítica ao
regime passaria a exercer maior influência nas assembléias da CNBB. A CNBB foi
ainda reestruturada, estabelecendo-se a junção do Plano Pastoral de Conjunto
com a própria organização através de um corpo central de nove bispos, três dos
quais cuidariam da administração e seis do plano.
Durante
a assembléia geral ocorrida em maio de 1970 em Brasília, foi apresentado um
relatório — encomendado por dom Aluísio ao professor Cândido Mendes de Almeida,
membro da Comissão Episcopal para a Justiça e a Paz — sobre as torturas
cometidas contra presos políticos, sendo relatadas somente as denúncias
assinadas pelas próprias vítimas ou por pessoas que as testemunharam. Presente
à reunião, o ministro da Justiça Alfredo Buzaid procurou, em sua intervenção,
afastar a hipótese de um conflito entre a Igreja e o Estado, afirmando que as
torturas ocorreram ocasionalmente e que os padres não foram detidos por motivos
religiosos.
A reunião da comissão central da CNBB realizada em outubro do
mesmo ano reiterou a independência dos bispos em relação ao governo, não
permitindo que houvesse transferência das responsabilidades que lhes pertenciam
“por vontade divina”. Frente à repressão que se abateu sobre a Juventude
Operária Católica, a CNBB procurou diminuir as pressões, não podendo no entanto
evitá-las.
No
final do ano, dom Agnelo Rossi foi transferido para Roma, realizando-se
eleições na CNBB para presidente, secretário-geral e outros titulares. Para a
presidência, venceu dom Aluísio Lorscheider, com 105 votos, derrotando o
conservador dom Vicente Scherer, que obteve 65 votos. A secretaria geral coube
ao primo de dom Aluísio, o bispo-auxiliar da arquidiocese de Porto Alegre, dom
José Ivo Lorscheiter. A eleição dessa diretoria refletia assim o
descontentamento dos bispos com o regime vigente, além de revelar a tentativa
destes de defender a autonomia da organização em relação ao Estado.
No
ano de 1971, a CNBB prosseguiu em sua luta contra as arbitrariedades do regime
vigente, manifestando-se contra a pena de morte e contra as atividades do
Esquadrão da Morte — grupo parapolicial responsável por várias execuções
sumárias ocorridas principalmente na Baixada Fluminense. No mês de março do ano
seguinte, a presidência da CNBB, juntamente com os bispos da região
Centro-Oeste, repudiou a invasão de uma propriedade do bispado de São Félix do
Araguaia (MT) ocorrida em represália ao bispo dom Pedro Casaldáliga. O
religioso havia denunciado as grandes empresas de criação de gado que, com
ajuda policial, tentaram expulsar os habitantes de um vilarejo localizado em
terras que o governo concedera para a implantação de um projeto de
desenvolvimento pecuário. E no mês de junho, em assembléia dos bispos da Região
Sul II realizada na cidade de Brodósqui (SP), foi lançada a mais categórica
declaração da Igreja sobre o problema da tortura no Brasil.
No
ano de 1973, os bispos do Nordeste e da região Centro-Oeste apresentaram os
documentos Eu ouvi os clamores do meu povo e Marginalização de
um povo respectivamente, denunciando a realidade local marcada pela
“opressão, miséria e injustiça”, além de registrar o problema do alto nível de
desemprego e subemprego, as más condições de vida da população e as condições
históricas que determinaram essa situação. Demonstrando que a Igreja não podia
ficar indiferente à situação socioeconômica, política e cultural do povo
brasileiro, denunciavam a concentração de renda no país e o conseqüente
rebaixamento do poder aquisitivo das massas assalariadas durante o período do
chamado “milagre brasileiro”.
No
mês de outubro de 1976, após uma reunião dos bispos da comissão representativa
da CNBB, foi lançado o “Comunicado pastoral ao povo de Deus”, que, por seu
estilo direto, inovou diante das declarações mais solenes de textos anteriores.
Essa declaração denunciava o assassinato dos padres Rodolfo Lunkenbein —
ocorrido em meio a um conflito entre fazendeiros e índios no mês de julho em Mato Grosso — e João Bosco Penido Burnier — morto numa delegacia do povoado de Ribeirão
Bonito, no município de Barra do Garças (MT), ao reclamar contra a prisão e a
tortura sofrida por duas mulheres — e ainda o seqüestro do bispo de Nova
Iguaçu, dom Adriano Hipólito. O documento relatava ainda a coerção permanente
que vinha atingindo a Igreja, como a censura às declarações de dom Hélder e a
explosão de um carro estacionado em frente à sede da CNBB no Rio de Janeiro,
além de atentados a outras instituições, como a Ordem dos Advogados do Brasil,
a Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, e o Centro Brasileiro
de Análises e Pesquisas, em São Paulo. Mais uma vez, a nota repudiava as
prisões políticas arbitrárias, que seguidamente incluíam torturas,
desaparecimentos e mortes.
A
proposta dos bispos brasileiros à III Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano que se realizaria em outubro de 1978 na cidade de Puebla
(México) sofreu algumas emendas quando votada na assembléia geral extraordinária
da CNBB, em Itaici. O grupo de bispos progressistas mostrou-se no entanto
entusiasmado, na medida em que as modificações feitas não alteravam o conteúdo
básico do documento, que reafirmava Medellín. Os delegados eleitos para
representar o Brasil em Puebla resultavam no entanto de uma aliança entre
conservadores e moderados, pouco representativa dos setores mais progressistas
em ascensão.
Na
mesma assembléia, foi aprovado um texto de apelo às autoridades para que, “num
esforço sincero de volta ao estado de direito e reconciliação nacional”, fosse
concedida anistia àqueles envolvidos “em situações de desordem política e
social de tal amplitude que não possam ser considerados como responsáveis
únicos por elas”. A Igreja prosseguia assim sua luta contra o arbítrio e a
violação dos direitos humanos, exigindo uma ordem jurídica estável.
Considerando a aprovação do divórcio no país, foram reforçadas as orientações
pastorais sobre o matrimônio em oposição ao divórcio.
Realizadas novas eleições para a diretoria da CNBB em janeiro
de 1979, dom Ivo Lorscheiter foi escolhido para a presidência, e dom Luciano
Mendes de Almeida para o cargo de secretário-geral. No mês de setembro de 1979, a CNBB novamente requisitou ao governo uma urgente revisão da política econômica brasileira que
prosseguia sem atender às necessidades básicas do povo. Essas questões foram
também tratadas no documento Subsídios para uma política social entregue
naquela época ao governo, destacando a necessidade de uma “revisão da política
da terra e da estrutura fundiária” em prol daqueles que nela trabalhavam. No
mês seguinte, dom Luciano Mendes de Almeida frisou que, apesar de não caber à
Igreja a política partidária, todo cristão deveria atuar “em busca do bem
comum” através da prática política.
A
instabilidade das relações entre a Igreja e o Estado acentuou-se no ano de
1980, quando seguidamente a CNBB se defendeu das acusações de que fazia
política partidária. No mês de fevereiro, realizou-se a XVIII Assembléia Geral
da CNBB em Itaici, sendo mais uma vez condenado o modelo de desenvolvimento
econômico brasileiro. Foram condenados ainda a campanha pela legalização do
aborto, o controle da natalidade e a “escalada da permissividade” que se
baseava na “mentalidade consumista que, erigindo o bem-estar em valor supremo,
gerava a idolatria do dinheiro e do poder, causa da injustiça e infelicidade
social”. O documento Igreja e problemas da terra, aprovado por ampla
maioria por tratar da questão fundiária, foi no entanto o que mais despertou
discussões entre as alas conservadora e progressista.
Ainda na reunião, os cinco bispos da CNBB membros da regional
do Araguaia-Tocantins entregaram aos presentes um documento — que não iria a
plenário — sobre a atuação do Grupo Executivo das Terras do Araguaia-Tocantins
(GETAT). Segundo a nota, o GETAT, órgão recentemente criado pelo governo, não
estaria resolvendo os problemas da terra dos posseiros e indígenas, e sim a
segurança do governo e das empresas que deste recebiam incentivos fiscais. Além
disso, considerando a catequese como ação prioritária da Igreja brasileira, a
reunião da CNBB qualificou as comunidades eclesiais de base (CEBs) de “lugares
privilegiados para a educação da fé, sobretudo entre os pobres e
marginalizados”. Essa questão foi reforçada posteriormente pela Igreja
brasileira durante o VI Sínodo dos Bispos, realizado em Roma, como sendo uma
nova forma de socialização da sociedade. A propósito do documento final de
Itaici, Jarbas Passarinho, líder do governo no Senado, condenou a “linguagem
eminentemente marxista” que norteou o texto, além de demonstrar sua preocupação
com o fato de a ala progressista da Igreja estar utilizando a CNBB para pregar
o socialismo.
Por
ocasião da greve dos metalúrgicos das cidades do ABC paulista — Santo André,
São Bernardo e São Caetano —, deflagrada no dia 1º de abril de 1980, foram
intensas as acusações por parte do governo de que a Igreja e particularmente o
cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, estariam envolvidos
com o movimento. Defendendo a mesma posição de outros eclesiásticos, o
cardeal-arcebispo dom Aluísio Lorscheider declarou que dom Paulo Evaristo “não
participou de greve, ele não infringiu nenhuma lei do país, ele apenas pediu que
se ouvisse os operários e que se encontrasse uma fórmula para superar a crise”.
Ademais, dom Aluísio considerava oportuna a atuação da Igreja em prol da
justiça social.
Afirmando,
em nota à imprensa, que “a cada bispo em sua diocese cabia cumprir a tríplice e
grave tarefa de ensinar e interpretar a verdade, presidir e promover a
liturgia, discernir e coordenar as formas de presença e ação de sua Igreja
particular” em nome do próprio Cristo, a CNBB esclarecia que cabia às igrejas
locais de Santo André e São Paulo, em coerência com os princípios de Puebla,
“apoiar as justas aspirações dos trabalhadores e criar condições de concórdia
social contribuindo para a atitude de dignidade e comedimento”. Dom Ivo chegou
a ir a Brasília e encontrou-se com o chefe do Gabinete Civil da Presidência da
República, general Golberi do Couto e Silva, procurando levar a preocupação da
CNBB com os acontecimentos — a essa altura, já havia 13 líderes sindicais
presos — e com as críticas a ela endereçadas.
Em encontro com o ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel, dom
Ivo e dom Luciano criticaram a política social do governo e até mesmo sua ação
policial. O ministro no entanto reagiu contra a tentativa da Igreja de exercer
uma ação semelhante à de um partido de oposição.
A reação contra os elementos mais progressistas do clero se
manifestou através de pichações na sede da Ação Católica Operária em Pernambuco
— onde funcionava o comitê de ajuda para o fundo de greve dos metalúrgicos
paulistas — e na porta da casa de dom Hélder, no mesmo estado.
Através de uma recomendação ao clero gaúcho para que não
apoiasse a greve, dom Vicente Scherer condenou o movimento, no que foi
cumprimentado por Teobaldo de Nigris, presidente da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo.
No mês de maio, dom Ivo afirmou que a CNBB não era um
“tribunal de bispos”, sendo no entanto possível um posicionamento diferente
entre eles no que se referia à estratégia de ação pastoral, mas nunca em
relação aos pontos fundamentais.
No
mesmo mês, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)
desafiou a CNBB através da divulgação das propriedades rurais da Igreja. Diante
da acusação de que esta possuía milhares de hectares de terra ociosa em todo o
país, dom Ivo pediu que o Ministério da Agricultura relacionasse as
propriedades rurais da Igreja viáveis para a reforma agrária, reivindicando
que, ao mesmo tempo, se procedesse à relação das propriedades improdutivas dos
membros do governo e dos grandes empresários nacionais e estrangeiros,
quantitativamente muito mais expressivas. Dom Ivo afirmou ainda que as terras
da Igreja eram usadas para a sua sobrevivência, sendo essenciais para manter as
paróquias, os colégios, os orfanatos e os seminários.
Durante o mês de junho, foram intensos os depoimentos dos
bispos acerca da importância da missão que o papa João Paulo II desempenharia
no Brasil por ocasião de sua visita nos primeiros dias de julho. A imprensa
noticiou fartamente as declarações dos vários setores da Igreja, conscientes da
importância do acontecimento.
A visita do papa foi ocasião de uma enorme mobilização
popular em todo o país. Seus discursos e atitudes foram condicionados pelas
diferentes pastorais das Igrejas locais, mas foi muito notado seu apoio a dom
Paulo Evaristo Arns e a dom Hélder Câmara. Em discurso que proferiu à CNBB em
Fortaleza em 10 de julho de 1980, João Paulo II declarou que não poderia
“esquecer o caráter quase pioneiro desta Conferência”. E pouco antes indicava
que “o episcopado de que fazeis parte assume um prestígio mas também uma
responsabilidade que vão bem além das fronteiras de vossa diocese e da própria
nação... responsabilidade perante a Igreja inteira”. E referiu-se “à imagem que
vós, bispos brasileiros, projetais a toda a Igreja e no mundo inteiro: imagem
de pobreza e simplicidade, de devotamente pleno, de proximidade ao vosso povo e
plena inserção em sua vida e seus problemas”.
No
mês de agosto, dom Ivo protestou veementemente contra os atentados terroristas
em curso no país, que incluíam desde a explosão de bancas de jornais que
vendiam jornais da chamada imprensa alternativa, até o seqüestro do advogado
Dalmo Dallari, membro da Comissão de Justiça e Paz, no momento em que o papa se
encontrava no país. Ainda no mesmo mês, foi bastante criticado por vários
setores da sociedade e inclusive pela Igreja o recém-aprovado Estatuto dos
Estrangeiros. Entre outras disposições, o estatuto delegava poderes ao governo
para decidir sobre a entrada ou expulsão do país de missionários estrangeiros.
A
reação da Igreja contra o Estatuto dos Estrangeiros acentuou-se com o episódio
de expulsão do padre italiano Vito Miracapillo, provocada por sua recusa em
celebrar uma missa comemorativa do dia da independência do Brasil numa
localidade da Zona da Mata pernambucana. O padre Miracapillo justificou sua
atitude afirmando que não acreditava que o povo brasileiro fosse realmente
independente. A expulsão teria assim um significado muito mais amplo, sentido
por vários setores progressistas e moderados da Igreja como o de julgamento de
sua ação pastoral. Tal fato provocou o aprofundamento da crise nas relações
entre Igreja e Estado, dando lugar a uma série de conversações, nos últimos
meses do ano, entre as autoridades governamentais e a cúpula da CNBB.
Em abril de 1983, dom Ivo Lorscheiter e dom Luciano Mendes de
Almeida foram reeleitos, respectivamente, presidente e secretário-geral da CNBB
para mais um mandato de quatro anos, garantindo assim a manutenção da linha
pastoral seguida pela Igreja no Brasil nos últimos 12 anos.
Os limites da Igreja progressista
No
decorrer da década de 1980, a relativa autonomia do clero latino-americano para
apresentar sua proposta de ação pastoral identificada com os pobres e excluídos
e inspirada na teologia da libertação viu-se cada vez mais restringida por uma
orientação centralizadora emanada do Vaticano. A experiência libertadora da
Igreja Católica, envolvida com os problemas sociais e políticos do continente,
encontrou assim um limite dentro da própria instituição.
Da
mesma forma que condenou a presença de religiosos no governo sandinista da
Nicarágua, instalado naquele país após uma revolução armada liderada por
guerrilheiros esquerdistas que derrubou o governo da família Somoza em julho de
1979, o Vaticano investiu contra o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, um dos
iniciadores da teologia da libertação, condenando sua obra por considerá-la
resultado de um inadmissível recurso a pressupostos da teoria social de
inclinação marxista. Enquanto isso, a linhagem progressista do clero
brasileiro, que alcançara o predomínio na CNBB no momento em que a instituição
decidiu enfrentar o regime militar e denunciar a violação dos direitos humanos
praticada no país, começou a dividir espaços com representantes de outros segmentos
da Igreja Católica, mais identificados com o neoconservadorismo que se
projetava no pontificado de João Paulo II.
Mesmo
assim, houve um grande esforço por parte da CNBB para manter sua linha de ação
pastoral, apesar das pressões da hierarquia romana, que investia decididamente
contra as teses apregoadas pela Igreja latino-americana nos encontros de
Medellín (1968) e de Puebla (1979). Exemplo disso foi a resistência da CNBB ao
processo movido pelo Vaticano, a partir da condenação feita pela Comissão Episcopal
de Doutrina da Arquidiocese do Rio de Janeiro, contra o livro do teólogo
franciscano Leonardo Boff, Igreja: carisma e poder — ensaios de eclesiologia
militante. Esse processo, como observam os analistas da história recente da
Igreja Católica, não pode ser entendido como um fato isolado. Ao contrário,
faria parte da conjuntura em que se inseriu a “Instrução sobre alguns aspectos
da teologia da libertação”, de 6 de agosto de 1984. Apresentado à imprensa
internacional pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé e o principal articulador da política
disciplinadora que marcou a trajetória de João Paulo II nos anos 1880, esse
documento apresentava uma visão geral das práticas eclesiais na América Latina
e chamava a atenção para os desvios encontrados em “certas formas da teologia
da libertação”, que estariam sacralizando a política e abusando da
religiosidade popular em benefício de iniciativas revolucionárias.
A
defesa de Leonardo Boff, feita em primeiro lugar pelo presidente da Comissão
Episcopal de Doutrina da CNBB, dom Aluísio Lorscheider, partiu da argumentação
de que em nenhum momento o Vaticano havia dado direito de resposta ao réu, nem
respeitado o princípio da subsidiariedade, intervindo na questão antes que
fossem esgotados todos os esforços da Igreja brasileira. Essa insatisfação foi
apresentada ao papa João Paulo II, que autorizou um colóquio em Roma, no dia 7
de setembro de 1984, a fim de que o teólogo brasileiro pudesse ser ouvido
perante os representantes da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, sob a
presidência do cardeal Ratzinger.
Em
11 de março de 1985, uma notificação da Sagrada Congregação para a Doutrina da
Fé apresentou os resultados do colóquio e deixou claro que a questão ainda se
encontrava em aberto para o Vaticano. Em 25 de abril, Leonardo Boff sofreu
punições disciplinares, que consistiram em um período de “obsequioso silêncio”
para que tivesse tempo de refletir sobre seus escritos teológicos. A medida
causou protestos em todo o Brasil, em especial entre os católicos que militavam
nas comunidade eclesiais de base, que escreveram milhares de cartas em
solidariedade ao religioso. A Comissão de Justiça e Paz de Olinda e Recife
caminhou na mesma direção e apresentou um manifesto comparando o
desenvolvimento da ação movida contra Leonardo Boff aos métodos utilizados nos
inquéritos policiais militares durante o regime militar de 1964. Lamentou ainda
que a Igreja romana estivesse “punindo em frei Boff a Igreja pobre e solidária. A Igreja descalça que enterrou os pés na lama das favelas. A Igreja despojada
que entrou nas fábricas para defender os operários”.
Na
tentativa de reverter a decisão tomada pela Sagrada Congregação para a Doutrina
da Fé, o presidente da CNBB, dom Ivo Lorscheiter, viajou para Roma e em 11 de
junho de 1985 obteve um encontro reservado com o papa João Paulo II. O diálogo
não teve nenhum resultado no sentido da absolvição do teólogo franciscano,
tendo João Paulo II afirmado na ocasião não poder aceitar que bispos e
arcebispos brasileiros pudessem questionar a decisão anunciada pelo Vaticano,
numa referência ao manifesto encabeçado pelo arcebispo de Goiânia, dom Fernando Gomes, contra a condenação de Leonardo Boff.
No
entanto, por decisão da própria Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, três
representantes da presidência da CNBB, acompanhados de cinco membros da
Comissão Episcopal de Doutrina, estiveram em Roma no mês seguinte e foram
recebidos pelo papa, pelo cardeal Joseph Ratzinger e pelo cardeal Bernardin
Gantin, prefeito da Congregação dos Bispos. Nesse encontro, o Vaticano voltou
atrás e reconheceu o direito da Igreja brasileira de decidir soberanamente
acerca de seus problemas doutrinais, quebrando a política que excluía a CNBB
do controle sobre essas questões.
Mesmo assim, as relações entre a Igreja brasileira e a Santa
Sé ainda prosseguiriam tensas. Em janeiro de 1986, o cardeal Joseph Ratzinger
obrigou a Editora Vozes a suspender a publicação da série Teologia e
Libertação, composta de 54 volumes com os mais expressivos trabalhos de
teólogos latino-americanos e voltada especialmente para a formação e orientação
de agentes pastorais.
Somente em março de 1986, durante uma conferência de cúpula
extraordinária realizada em Roma, os bispos brasileiros tiveram a oportunidade
de apresentar a sua defesa da teologia da libertação de uma forma mais ampla.
Nesse encontro, que marcou a abertura de um diálogo acerca dos erros e acertos
da Igreja brasileira nos últimos 20 anos, estiveram presentes os representantes
de todas as tendências do clero nacional, evidenciando-se entretanto o
contraste entre uma maioria progressista e uma minoria conservadora, liderada
por dom Eugênio Sales, arcebispo do Rio de Janeiro, e dom Lucas Moreira Neves,
secretário-geral da Congregação dos Bispos. Essa correlação de forças favorável
aos progressistas contribuiu, em grande medida, para que após o encontro João
Paulo II tomasse uma atitude mais liberal e tornasse conhecido um documento
revisionista acerca da teologia da libertação, a Instrução sobre a
liberdade cristã e a libertação.
Nesse
documento, João Paulo II reconhecia a importância dos trabalhos realizados
pelos teólogos da libertação no contexto histórico da América Latina, mas
estabelecia, por outro lado, uma determinada leitura da teologia da libertação
que deveria ser seguida dali em diante como sua versão oficial. A instrução
rompia com a vocação política da teologia da libertação, que evocava os pobres
como o “povo de Deus”, e fazia da luta contra a exploração econômica e os
demais “pecados sociais” a essência de sua atividade pastoral. Sendo
assim, é de se notar que uma das expressões mais utilizadas pelos teólogos da
libertação — “a opção preferencial pelos pobres” — passava a ser entendida não
apenas como a opção por aqueles que possuem as piores condições materiais de
existência, mas também como a luta contra a falta de espiritualidade na vida
cotidiana.
O
desfecho da crise entre a CNBB e o Vaticano teve início durante a Páscoa de
1986. Nessa data, foi suspenso o “silêncio penitencial” imposto a Leonardo
Boff. Na semana seguinte, João Paulo II enviou uma mensagem à CNBB exaltando a
sua prática pastoral com as seguintes palavras: “Na medida em que se empenha
por encontrar aquelas respostas justas — penetradas de compreensão para com a
rica experiência da Igreja neste país, tão eficazes e construtivas quanto
possível e ao mesmo tempo consoantes e coerentes com os ensinamentos do
Evangelho, da tradição viva e do perene magistério da Igreja — estamos
convencidos, nós e os senhores, de que a Teologia da Libertação é não só
oportuna, mas útil e necessária.” Essa mensagem foi lida por dom Ivo
Lorscheiter durante a XXIV Assembléia Geral da CNBB, realizada entre 9 e 18 de
abril de 1986. Para a maioria dos presentes, o texto de João Paulo II foi um
sinal definitivo de que o Vaticano havia retirado toda a suspeita de heresia ou
de desvio da ortodoxia religiosa por parte da Igreja brasileira.
Mesmo superando em grande parte as objeções mantidas pelo
Vaticano, a presença da Igreja progressista na CNBB viu-se diminuída no
momento em que se encerrava o regime militar. Segundo Scott Mainwaring, “a
volta à democracia diminuía o incentivo que muitos bispos tinham em se envolver
com a política”. Na prática, isso significou a quebra da unidade existente na
CNBB em torno de sua participação como representante legítima dos anseios da
sociedade civil, até então sufocados pelo autoritarismo. Nesse momento, ainda
de acordo com Mainwaring, reduziu-se o apoio oferecido pelos bispos liberais às
teses defendidas pela direção progressista da CNBB, que passou a contar apenas
com o respaldo daqueles mais identificados com a chamada Igreja popular em sua
crítica aos problemas socioeconômicos da democracia representativa.
O líder conservador dom Eugênio Sales assim definiu a nova
situação em que a Igreja brasileira se encontrava no momento da transição para
a democracia: “A Igreja teve um papel muito ativo no momento em que o Brasil se
tornava uma sociedade fechada. Ela era ‘a voz daqueles que não tinham voz’.
Hoje, o parlamento, a imprensa e os partidos estão em total funcionamento. Eles
deveriam falar e a Igreja deveria se ocupar de seus próprios assuntos.”
A CNBB e a redemocratização
A
posse de dom Luciano Mendes de Almeida na presidência da CNBB, em abril de
1987, interrompeu um ciclo de 15 anos em que se sucederam no cargo
representantes dos setores mais progressistas da Igreja. Embora não estivesse
disposto a abrir mão do passado de reivindicações políticas e sociais que
marcara a história recente da CNBB e se mostrasse comprometido com a
prática da “evangelização libertadora”, dom Luciano não era o candidato
preferido de seu antecessor, dom Ivo Lorscheiter, que o considerava “místico
demais” para exercer o cargo. Mesmo assim, sua eleição — que contou com o apoio
das bases da Igreja e com o voto de figuras preeminentes do clero progressista,
como dom Pedro Casaldáliga — foi considerada uma vitória sobre os segmentos
conservadores da Igreja, que escolheram como candidato o arcebispo de Belo
Horizonte, dom Serafim Fernandes de Araújo.
Durante o mandato de dom Luciano Mendes a atuação política da
CNBB não foi restringida, tendo-se manifestado sobretudo no decorrer dos
trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte de 1987-1988. As principais
exigências políticas feitas pela CNBB durante a preparação da nova
Constituição já haviam sido definidas em seu encontro anual de 1986. Daí
resultara o documento Por uma nova ordem constitucional, que destacava a
posição assumida pela Igreja Católica a favor da criação de instrumentos que
permitissem a participação popular como forma de garantir a legitimidade do
ordenamento jurídico que seria entregue à nação.
Nessa conjuntura, a CNBB criou uma equipe executiva
coordenada por dom Cândido Padim, bispo de Bauru (SP), para acompanhar o
andamento dos trabalhos constituintes e manter informada a opinião pública. Com
esse objetivo foi produzido o programa de rádio Café da manhã
Constituinte, que consistia numa entrevista diária de cerca de 15 minutos
com um parlamentar para a Rádio Medianeira, da cidade de Santa Maria (RS).
Nesse programa cada entrevistado tratava da matéria que estava em debate
naquele momento e do que esperava da participação popular a respeito. A
entrevista era enviada através de um texto-telex para os demais pontos do país,
chegando a atingir a marca de trezentas transmissões por dia. Outro veículo de
divulgação utilizado pela CNBB foram os encartes de seu Boletim de Notícias,
com 5.500 assinantes.
A elaboração de emendas populares foi o principal instrumento
utilizado pela CNBB na tentativa de inserir as suas propostas no texto
constitucional. Essas emendas, que para serem colocadas em pauta necessitavam
da assinatura de no mínimo 30 mil eleitores e do apoio de três associações
representativas da sociedade civil, foram utilizadas pela CNBB para tratar de
temas como família, aborto, educação, liberdade religiosa, demarcação de terras
indígenas e reforma agrária.
Em agosto de 1987, foi publicada pelo jornal O Estado de
S. Paulo uma série de reportagens sobre a participação do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à CNBB, em um movimento
internacional a favor do reconhecimento da soberania dos povos indígenas, dando
margem à criação de um “Estado pluriétnico” no Brasil. A maneira pela qual a
notícia foi divulgada colocou a conferência episcopal como integrante de uma
ação contrária aos interesses brasileiros, do momento em que esta defendia a
proibição da exploração de riquezas minerais existentes nas terras das
comunidades indígenas. Em virtude desses acontecimentos, dom Luciano Mendes de
Almeida propôs a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para
investigar as razões que levaram à publicação da matéria. Refutando as
acusações de que a CNBB defendia a tese da “soberania restrita” sobre as
terras indígenas, dom Luciano afirmou ser favorável ao monopólio da União sobre
essas regiões, que em sua opinião só deveriam ser exploradas pelo Estado, no
momento exigido pelos interesses nacionais, sem a inteferência dos grupos
econômicos que pressionavam por sua liberação imediata.
Pouco
antes do encerramento dos trabalhos constituintes, o conselho permanente da
CNBB reuniu-se, entre 23 e 26 de agosto de 1988, para avaliar seus resultados.
Nesse encontro foi preparado o documento Texto constitucional: valores
e expectativas, em que a conferência episcopal exaltou como as maiores
virtudes da nova Carta a participação da sociedade em sua elaboração, a
afirmação dos ideais de cidadania e o repúdio à tortura e ao racismo. Por outro
lado, o documento destacou como pontos negativos a definição de “entidade
familiar” para os relacionamentos estáveis entre homens e mulheres, o
não-reconhecimento do direito à vida desde a concepção e a omissão acerca da
criação de mecanismos que acelerassem o processo de reforma agrária.
Após
a promulgação da nova Constituição, em 5 de outubro de 1988, o processo de
redemocratização da sociedade brasileira seria complementado, um ano mais
tarde, com a primeira eleição direta para presidente da República realizada no
país depois de um intervalo de 29 anos. Nesse momento, os representantes da
Igreja Católica se dividiram entre os principais candidatos. O clero
progressista, com o apoio das CEBs e das pastorais sociais, engajou-se na
campanha de Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT),
acreditando haver uma coincidência entre a utopia socialista e os ideais da
Igreja. Enquanto isso, conservadores e moderados apoiavam, com muito mais
discrição, Fernando Collor de Melo ou Mário Covas. A cúpula da CNBB, no
entanto, não se manifestou por nenhum dos postulantes ao governo da República,
buscando uma posição suprapartidária e a favor da liberdade eleitoral. Em seus
pronunciamentos, limitou-se a traçar o perfil do candidato ideal como aquele
que possuísse “uma vida séria e honesta, competência administrativa e
profissional” e, além disso, fosse “contra o aborto e a favor da reforma agrária”.
A
radicalização política do segundo turno das eleições presidenciais de 1989
dividiu os vários setores da Igreja em relação aos dois candidatos — Luís
Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Melo — que disputariam as eleições de
17 de dezembro. A possibilidade de uma vitória da esquerda, coligada em torno
de Lula na Frente Brasil Popular, levou o clero conservador a mover-se no
sentido de uma intervenção mais direta no processo eleitoral. Conforme observou
Zélia Seiblitz, o grupo liderado pelo arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugênio
Sales, apoiou Fernando Collor, “em uma verdadeira cruzada da civilização cristã
contra o comunismo”. Diante desse quadro, o presidente da CNBB, dom Luciano
Mendes de Almeida, procurou evitar que o conflito afastasse cada vez mais os
diferentes segmentos de sua instituição. Em declaração ao Jornal do Brasil
de 2 de dezembro de 1989, afirmou que “a unidade da Igreja não se expressa pela
coincidência partidária mas pela seriedade no esforço de escolher de modo livre
e consciente o próprio candidato, de respeitar a opção feita pelos outros e de
zelar pelo processo eleitoral”.
Após
a eleição de Fernando Collor, a CNBB clamou por uma pacificação nos ânimos
políticos, para que se evitasse qualquer atitude de ressentimento que levasse a
uma oposição sistemática ao novo presidente. Como decorrência dos efeitos
recessivos do plano de combate à inflação apresentado pela ministra da Economia
Zélia Cardoso de Melo logo após a posse de Collor, em março de 1990,
entretanto, a conferência episcopal criticou a política econômica do governo,
que em nome da estabilidade da moeda estaria provocando o achatamento dos
salários e aumentando o número de desempregados. No entendimento da CNBB,
a “existência de milhares de empobrecidos” seria “a negação radical da ordem
democrática”, o que significava que, de acordo com o seu ponto de vista, a
intervenção do governo Collor no terreno econômico entrava em conflito com os
princípios éticos cristãos.
Em
março de 1992, em virtude do acúmulo de denúncias sobre corrupção no governo
Collor apresentadas pela imprensa, a CNBB iniciou uma campanha contra a
impunidade para os chamados “crimes do colarinho branco”. Nos meses seguintes,
após a publicação pela revista Veja (23/5/1992) de entrevista com o
irmão do presidente, Pedro Collor, em que foi denunciado um esquema de
corrupção e tráfico de influência montado no interior do governo sob a
liderança do ex-tesoureiro da campanha presidencial Paulo César Farias, que
estaria contando com a conivência de Fernando Collor, a CNBB destacou-se como
uma das mais importantes entidades envolvidas na criação, em agosto de 1992, do
Movimento Cívico contra a Impunidade e pela Ética na Política. Esse movimento,
que contou também com a participação de outras associações civis, como a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a
União Nacional dos Estudantes (UNE), seria responsável por uma série de
manifestações a favor do impeachment que se espalharam pelas principais
capitais do país, e pelo pedido formal de afastamento do presidente
Collor, entregue pelo jornalista Barbosa Lima Sobrinho.
No
ano de 1992, a história da CNBB também seria marcada pelas
repercussões da IV Conferência do Episcopado Latino-Americano (Celam),
realizada em São Domingo entre 12 e 28 de outubro. Convocada por João Paulo II,
a conferência se propôs a discutir a presença da Igreja Católica no continente
americano quinhentos anos após a sua descoberta, bem como a linha de
evangelização a ser praticada em toda a América Latina na virada para o
terceiro milênio. O interesse político do Vaticano nesse evento manifestou-se
na tentativa de inserir a questão do relacionamento entre as culturas no centro
das reflexões teológicas, lugar até então ocupado pelas questões econômicas e
políticas que orientavam a teologia da libertação. Essa reordenação não se
completou por inteiro, em virtude da resistência do clero progressista, que fez
com que o texto final do encontro previsse a “promoção humana” ao lado da
chamada “inculturação” como meta da chamada “nova evangelização”. Por outro
lado, promoveu-se uma redução do poder desse grupo na orientação da atividade
pastoral, marcando uma descontinuidade em relação à linha traçada nos encontros
de Medellín e Puebla.
No primeiro ano do governo Itamar Franco a CNBB reuniu-se no
seu 31º encontro anual, realizado em maio de 1993. Na ocasião preparou o
documento Ética: pessoa e sociedade, no qual mais uma vez expôs suas
preocupações com os assuntos relativos à moralidade pública. No esforço para
oferecer uma resposta ao que os religiosos chamavam de “crise ética”, o texto
representou uma tentativa de superação do mal-estar que se havia instalado na
cena política brasileira após os escândalos de corrupção que marcaram o fim do
governo Collor. Além de discutir sobre a necessidade dos valores éticos no
fortalecimento da ordem democrática, o encontro criticou o “individualismo
exacerbado” presente nas idéias neoliberais, considerado inaceitável para a
Igreja, dado que estaria pronto para corroer todo e qualquer sentido de
fraternidade e solidariedade existentes nas relações humanas. O documento
condenou a revisão constitucional ampla, que segundo a CNBB traria “um
retrocesso em relação aos direitos previstos na Constituição de 1988”, considerando-a inoportuna em face da pouca representatividade do Congresso Nacional no último
ano da legislatura. O encontro nacional dos bispos propôs uma consulta ao
Supremo Tribunal Federal (STF) para definir a amplitude das alterações
constitucionais, no limite das necessidades colocadas pela vitória do
presidencialismo no plebiscito de 21 de abril de 1993.
Nesse
encontro, a CNBB também criticou a “deterioração da mídia em geral e dos
programas de televisão em particular”. Pediu a criação de um conselho de
comunicação social, conforme determinava a Constituição de 1988, para ampliar a
participação e o controle da sociedade sobre as atividades das empresas que
atuam no setor. Atacou ainda os projetos de lei que tratavam da liberalização
do aborto, classificando o ato como um “um gravíssimo pecado cometido contra a
pessoa humana”.
As eleições de 1994 e o governo Fernando Henrique
Cardoso
No decorrer da campanha presidencial de 1994, a CNBB se viu dividida entre o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, e o candidato
do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Fernando Henrique Cardoso.
Essa divisão refletia sua própria política interna, marcada pela disputa entre
progressistas e conservadores. Na cartilha Eleições 94: voto responsável,
preparada durante o seu 32º encontro anual, “neoliberalismo”, “capitalismo
organizado” e “democracia popular” foram apresentados como as principais
propostas à disposição do eleitorado naquele momento. O candidato ideal para
ocupar a presidência da República, segundo o documento, seria aquele
identificado com “a pessoa humana como valor central da sociedade” e favorável
a que “o povo se transforme em protagonista das mudanças que se fazem
necessárias ao país”.
Durante o 32º encontro anual da CNBB, o padre José Ernâni
Pinheiro, responsável pelo setor de leigos, apresentou um documento criticando
as políticas neoliberais e o que considerava a ambigüidade entre o discurso do
Estado mínimo e a realidade do país, que deveria servir de base ao
posicionamento oficial da conferência sobre as eleições. O texto desse
documento, que espelhava as posições da ala progressista da Igreja, foi
contundente ao dizer que: “As mesmas lideranças que sugaram o Estado estão hoje
em defesa das privatizações sem critérios, pressionadas pelas exigências da
nova ordem internacional e seus porta-vozes — o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional (FMI).” A declaração oficial da CNBB limitou-se,
entretanto, a orientar os católicos a darem seu voto àqueles candidatos que
tivessem uma postura ética considerável, não se deixando envolver pela
manipulação eleitoral dos meios de comunicação e pelo abuso do poder econômico.
Em
relação à aliança entre o PSDB e o Partido da Frente Liberal (PFL), para a
sustentação da candidatura de Fernando Henrique Cardoso à presidência da
República, o presidente da CNBB, dom Luciano Mendes de Almeida, declarou
publicamente que, como cidadão, a considerava estranha. Essa opinião,
manifestada a título pessoal durante o 32º encontro anual da CNBB, se
justificava segundo o religioso porque “até então as posições defendidas pelos
dois partidos não coincidem”.
Em abril de 1995, a confirmação do nome do arcebispo de
Salvador, dom Lucas Moreira Neves, para a presidência da CNBB — após ter
derrotado o candidato progressista dom Jaime Chemello — trouxe a influência
conservadora para o comando da conferência episcopal. Tendo sido assessor do
papa João Paulo II, dom Lucas estava plenamente de acordo com a política de
enquadramento promovida pelo Vaticano contra os excessos da teologia da
libertação. Mesmo assim, o peso do clero progressista não diminuiu
inteiramente, uma vez que seus representantes conseguiram eleger oito dos nove
nomes que passaram a compor a Comissão Episcopal Pastoral (CEP), considerada o
“ministério” da CNBB, cuja função é coordenar a execução das deliberações da
assembléia-geral.
No
primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, logo após a eleição de dom
Lucas para a presidência, a CNBB iria demonstrar que ainda carregava uma forte
influência dos setores progressistas do clero, abrindo a Campanha da
Fraternidade de 1995 com o tema dos excluídos. O texto-base da campanha procurou
identificar as “causas mais profundas da exclusão social que predomina na
sociedade brasileira”, apontando como seus fatores principais a cultura do
consumismo e o modelo de desenvolvimento voltado apenas para uma pequena
parcela da população. Neste documento a CNBB criticou as propostas neoliberais
esboçadas pelo presidente da República, afirmando que estas não demonstravam a
menor sensibilidade social e levariam ao aprofundamento da concentração de
renda, terra e poder.
No
ano seguinte, a Campanha da Fraternidade iria caminhar em um sentido igualmente
crítico, ao estabelecer como tema a importância da participação política entre
os cristãos. Na sua cartilha de divulgação afirmava-se que “o objeto da atual
disputa política” envolvia a concorrência entre dois modelos diferentes de
sociedade. Um que, beneficiando apenas os já integrados na sociedade de
consumo, estava decidido a acelerar a entrada do Brasil no mundo da
globalização — o que significaria a remoção de todos os entraves à livre
entrada e saída de capitais no país e o enfraquecimento das relações de
trabalho em benefício do capital —, e outro que, beneficiando a maioria da
população, buscava um projeto de desenvolvimento econômico nacionalmente
sustentado — o que significaria a execução de reformas destinadas a promover
uma maior distribuição de riqueza, fortalecer o mercado interno e gerar
empregos. Rebatendo as críticas de que esse posicionamento da CNBB representaria
uma visão de esquerda em relação à política econômica do governo, dom Lucas Moreira
Neves preferiu não atacar a ala progressista, envolvida na redação do
documento, defendendo a sua instituição ao afirmar que o texto da Campanha da
Fraternidade de 1996 estaria acima de qualquer dicotomia política, espelhando
apenas a doutrina social da Igreja.
No
35º Encontro Nacional da CNBB, ocorrido em abril de 1997, seria
apresentado um novo documento contendo críticas ao governo Fernando Henrique
Cardoso, em especial ao processo que levou à aprovação da emenda constitucional
que abriu a possibilidade da reeleição para os cargos executivos, por
considerá-lo “uma prática evidente de corrupção ativa por parte do governo, que
oferece bens em troca de votos”. Após a divulgação desse documento, a
assessoria de imprensa da Presidência da República divulgou nota oficial
criticando a postura da Igreja, que teria agido de “maneira desabonadora com o
Congresso e insultuosa em relação ao governo”. Os representantes da CNBB buscaram
amenizar a situação, afirmando que o texto em questão não era um pronunciamento
oficial da instituição, mas um documento de trabalho elaborado pelo Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades) para servir de subsídio às discussões a
serem travadas no seu encontro anual. Pouco depois, a conferência episcopal
lançou um documento contendo sua palavra oficial, no qual criticou a política
econômica do governo sem entrar em detalhes quanto aos seus aspectos éticos.
Em julho de 1998, dom Lucas Moreira Neves deixou a
presidência da CNBB para ocupar o cargo de prefeito da
Congregação dos Bispos no Vaticano. Seu substituto seria o bispo de Pelotas,
dom Jaime Chemello, candidato derrotado na eleição anterior, quando foi apoiado
pelos setores progressistas da Igreja.
Mônica
Kornis/Sérgio Montalvão
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