SENHOR
Revista mensal publicada no Rio de Janeiro a partir de março
de 1959 pela Editora Senhor S.A. A direção da revista, em seus primeiros
números, era composta da seguinte forma: editor e redator-chefe: Nahun
Sirotsky; editores-assistentes: Paulo Francis e Luís Lobo; redatores: Adirson
Barros, substituído após o terceiro número por Ivan Lessa; assistentes: Glauco
Rodrigues e Jaguar; diretor do departamento de arte: Carlos Scliar, depois
Glauco Rodrigues e, mais adiante, Michel Burton e Renato Viana.
Desde o seu lançamento, Senhor apresentou
características gráficas bastante ousadas, com formato e paginação muito
originais. Ganhava particular destaque em suas páginas o espaço dedicado aos
ensaios fotográficos, normalmente a cargo do fotógrafo Sasso. O conteúdo da
revista privilegiava temas relacionados à cultura de uma forma geral e às artes
em particular. Os movimentos artísticos e estéticos que vinham à luz naquele
período, como a nouvelle vague francesa, o cinema novo e a bossa nova
brasileiros, eram focalizados com destaque. Desde seu primeiro número, porém,
os responsáveis pela publicação explicitavam sua destinação prioritária ao
público masculino.
O corpo de colaboradores não era fixo, podendo ser
encontrados em suas páginas artigos, contos ou poemas de alguns dos nomes mais
expressivos da cultura brasileira, tais como Anísio Teixeira, Reinaldo Jardim,
Flávio Rangel, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Ênio
Silveira, Vinícius de Morais, Rubem Braga, Oto Maria Carpeaux, Paulo Emílio
Sales Gomes, Orígenes Lessa, Newton Carlos, Alex Vianny, Carlos Lacerda, Celso
Furtado, Armando Nogueira, Antônio Houaiss, José Guilherme Merquior, entre
muitos outros. Eram também publicados, a cada número, contos e novelas de
consagrados nomes da literatura mundial, como Leon Tolstói, William Faulkner,
Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e Albert Camus, para citarmos apenas
alguns.
A política, mesmo não sendo um assunto prioritário, também
estava presente na revista. Ainda que não seja possível apontar uma orientação
ideológica claramente definida em sua linha editorial, percebe-se certa
simpatia por uma postura de centro-esquerda. No plano internacional, por
exemplo, então dominado pelo contexto da guerra fria, Nahun Sirotsky condenava,
em maio de 1960, a corrida armamentista promovida pelos países
latino-americanos, argumentando ser ela inteiramente desnecessária, enquanto
Rubem Braga, no mês seguinte, publicava uma reportagem com elogios contidos à
Revolução Cubana e seu líder Fidel Castro. A ditadura salazarista em Portugal
era por vezes hostilizada. Artigos de pensadores alinhados a uma perspectiva
mais à direita do espectro político, como Raymond Aron, eram igualmente
publicados. No plano nacional, a diversidade na abordagem também predominava.
Em julho de 1960, em seu número 17, a revista trazia, ao mesmo tempo, artigos
do economista Roberto Campos e do líder das ligas camponesas, Francisco Julião.
O tratamento de temas políticos ganhou algum incremento a
partir do final do ano de 1960, quando Newton Rodrigues passou a se
responsabilizar pela editoria política e econômica da revista. A sua presença
se estendeu de meados de 1960 até setembro de 1962, coincidindo, portanto, com
o período que vai da eleição de Jânio Quadros à presidência da República, no
mês de outubro, até o conturbado governo de João Goulart. Nesse período marcado
pela crise, a revista passou a se ocupar de forma um pouco mais detalhada das
disputas políticas então travadas no país, como se pode perceber nos editoriais
e nos artigos de seus colaboradores. Senhor, contudo, não chegou a se
engajar plenamente ao lado de qualquer corrente política, limitando-se à defesa
do regime democrático. Já antes da eleição de Jânio, Rodrigues criticava o
excessivo papel desempenhado pelo Poder Executivo, e sua análise dos candidatos
ao pleito presidencial de 1960 — Jânio, Lott e Ademar de Barros — manifestava
uma postura crítica diante de todas as três candidaturas.
Em agosto de 1961, a direção da revista passou às mãos de
Odilo Costa Filho, que assumiu prometendo dar continuidade à linha editorial
seguida até então. De fato, não se nota nenhuma grande mudança e Newton
Rodrigues continua conferindo à publicação uma atenção razoável aos temas
políticos. Em outubro desse ano, pouco tempo depois da crise provocada pela
renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto, Rodrigues critica o papel
desempenhado pelos militares na ocasião: “O episódio demonstrou que no seio das
forças armadas um grupo permanece enquistado e disposto a agir arbitrariamente,
arrogando-se função de tutela.” E acrescenta, pessimista: “É visível o
aceleramento da crise institucional que tende a amiudar os colapsos do regime.
Nenhum grupo bem definido tem conseguido deter com mãos firmes a direção do
Estado.” Nesse momento, percebe-se uma clara disposição da revista, ou pelo
menos de seu editor político, de apoiar a preservação do regime democrático
através da solução parlamentarista, adotada pelo Congresso para contornar a
crise deflagrada com a renúncia de Jânio Quadros e permitir a posse de João
Goulart na Presidência da República. “No momento, em vista dos erros
desastrosos da extrema-direita, esta se encontra isolada no panorama político.
Recuperar-se ou não vai depender sobretudo da sabedoria política com que os setores
que se encontram à esquerda do centro consigam firmar sua aliança com este. Um
erro grave e a polarização poderá inverter-se de novo.”
A
permanência de Odilo Costa Filho na direção da revista não durou muito tempo.
Em março de 1962 ele foi substituído por Reinaldo Jardim. Em artigo publicado
no jornal carioca Diário de Notícias, Odilo Costa Filho afirmaria que só
deixou a direção de Senhor em função de discordâncias com os
proprietários da revista. A partir de julho seguinte, a direção passava a ser
dividida entre Jardim e Édeson Coelho. Pouco tempo depois, Paulo Francis e
Newton Rodrigues deixavam a revista, que encerrou sua publicação em março de
1964.
Com feições e conteúdo bastante modificados, Senhor
reapareceu em janeiro de 1971, publicada pela Inter Editores S.A., sob a
direção de J. E. Coelho Neto e Laerte Padilha. Em seu primeiro número, Édeson
Coelho apresentou a nova fase da publicação e afirmou que o seu
desaparecimento, sete anos antes, não teve qualquer relação com as mudanças
políticas então ocorridas no país, devendo-se exclusivamente a dificuldades
financeiras: “Senhor deixou de circular em março de 1964. Mera
coincidência. (...) Senhor morreu por absoluta falta de espírito
empresarial de seus diretores. E eu era um deles.” Apesar de tal declaração,
Édeson Coelho retornou à direção da revista a partir de seu quinto número (maio
de 1971), dividindo-a com os dois outros diretores já citados.
Em sua segunda fase, o direcionamento da revista ao público
masculino foi enfatizado. Senhor assumiu então a característica
de uma revista de variedades sem maiores pretensões intelectuais, ainda que seu
público-alvo continuasse a ser sofisticado. Entre seus colaboradores nessa nova
fase estavam Alberto Dines, Sábato Magaldi, Fernando Sabino e Clarice Lispector,
entre outros.
André
Couto
FONTES: Diário
de Notícias (18/3/62); Senhor (3/59 a 2/64 e 1/71 a 2/72).