TV EXCELSIOR
Emissora de televisão paulista inaugurada em 9 de julho de
1960, data que teria sido escolhida em homenagem à Revolução Constitucionalista
de 1932, e extinta em 1º de outubro de 1970.
Originariamente pertencente à Organização Vítor Costa (também
proprietária da TV Paulista, canal 5), a concessão do canal 9 foi vendida, em
1959, por 80 milhões de cruzeiros ao grupo empresarial formado por Mário
Wallace Simonsen (presidente de um conjunto de empresas que atuava basicamente
na exportação de café), Ortiz Monteiro (deputado federal), José Luís Moura
(sócio de uma firma exportadora de café) e João Scantimburgo (dono do jornal Correio
Paulistano). Além da concessão, o grupo recebeu também da Organização Vítor
Costa os equipamentos básicos para a operação da emissora, como câmeras, transmissores,
torres etc.
Para
a operação da emissora foram alugados os dois últimos andares de um edifício na
rua da Consolação, esquina da avenida Paulista. No topo do edifício foi
instalada a torre de transmissão. Uma outra parte do equipamento e toda a parte
administrativa da TV Excelsior foram instalados na rua Frei Caneca.
A primeira diretoria teve João de Scantimburgo como
presidente, Paulo Uchôa de Oliveira como vice-presidente, Saulo Ramos como
superintendente, Álvaro Moya como diretor-artístico e Carlos Paiva como
diretor-técnico.
Os
primeiros tempos de TV Excelsior foram difíceis. Seus equipamentos não eram de
boa qualidade e existiam em número insuficiente. Para a inauguração da emissora
foi alugado o Teatro Paulo Eiró, onde foi apresentada uma programação especial
preparada por Abelardo Figueiredo, com a presença de Dorival Caimmi, Ari
Barroso, João Gilberto, Silvinha Teles, Caubi Peixoto, Elisete Cardoso, Grande
Otelo, Lúcio Alves, Agildo Ribeiro, entre outros. Também foi transmitida uma
mensagem do presidente da República Juscelino Kubitschek elogiando o
empreendimento. A gravação da mensagem, em filme, havia sido feita em 1959, no
palácio do Planalto, em Brasília, quando se iniciaram as negociações para a
compra da emissora e Juscelino ainda ocupava a presidência da República. O show
de inauguração se chamou Bossa nove — um trocadilho que juntava a
bossa nova, estilo musical em voga na época, com o canal 9, o da emissora.
A
programação inicial da TV Excelsior era composta por filmes documentários e
seriados, programas jornalísticos e esportivos e de entrevistas. Ainda no fim
do mês de julho, a TV Excelsior alugou o Teatro de Cultura Artística (na rua
Nestor Pestana, na capital paulista) para a realização de seus programas. No
teatro teve lugar o primeiro programa da série Brasil 60, com a
participação de Bibi Ferreira, que apresentava entrevistas, números musicais,
reportagens especiais e quadros de humorismo. O programa ficou no ar até 1967,
como Brasil 61, Brasil 62, e assim por diante. Alguns dos
programas dos primeiros tempos da TV Excelsior foram Nhô Totico, Circo
do Piolim, Mazzaropiadas, Telenotícias e Cinema em casa.
A emissora procurou criar um novo padrão de programação e de
imagem que a tornasse diferente das concorrentes da época. Foi sempre
ressaltada a busca da qualidade de imagem e o rigor no cumprimento do horário
de sua programação. Uma outra característica era ter sempre intervalos
comerciais de apenas cinco minutos, enquanto as outras TVs mantinham intervalos
de até 20 minutos.
Outra das propostas da emissora era a valorização da cultura
nacional, utilizando prioritariamente músicas brasileiras em suas trilhas
sonoras, exibindo semanalmente um filme longa-metragem nacional e, ainda,
adaptando peças de autores brasileiros para serem representadas no Teatro
nove. Foram realizadas adaptações de peças como Eles não usam black-tie,
de Gianfrancesco Guarnieri; Fogo Frio, de Benedito Rui Barbosa; Chapetuba
Futebol Clube, de Oduvaldo Viana Filho, e Gente como a gente, de
Roberto Freire.
Ainda em 1960 houve as primeiras mudanças na direção da
emissora, quando Mário Wallace Simonsen comprou as ações de José Luís Moura. O
motivo do fim da sociedade teria sido político, pois a TV apoiou a campanha do
marechal Henrique Lott — que, apoiado pelo Partido Social Democrático (PSD) e
pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), era o candidato de Simonsen a
presidente — enquanto José Luís Moura apoiava Jânio Quadros, candidato pela
UDN. Algum tempo depois, Simonsen também comprou a parte de João Scantimburgo.
A TV Excelsior pretendia atrair um público diversificado e,
para tal, em 1961 apresentava desde programas humorísticos e de auditório a
debates mais intelectualizados e programas educativos. Faziam parte da
programação do período: Circo Chicharrão; Literatura na TV; Arquitetos
na TV, com Oscar Niemeyer, e aulas de piano, com Madalena Tagliaferro. No
mesmo ano a emissora apresentou, ainda, entrevistas com o filósofo Jean-Paul
Sartre e com o dramaturgo Eugene Ionesco.
Na
época, as emissoras não costumavam contratar artistas que trabalhassem nas
concorrentes. A Excelsior rompeu com essa prática e para montar seu quadro
técnico-artístico contratou profissionais de outras emissoras, dentre os quais
Edson Leite e Alberto Saad, da Rádio Bandeirantes, e Moacir Franco, J.
Silvestre e Chico Anísio da TV Rio.
Em julho de 1963, já sob a direção artística de Edson Leite,
que tinha como assistente José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a TV
Excelsior lançou a primeira telenovela com capítulos diários, modelo que foi
adotado, posteriormente, pelas outras emissoras de televisão (há tempos as
emissoras de rádio apresentavam novelas em capítulos, duas ou três vezes na
semana). A telenovela se chamava 2-5499 ocupado, do argentino Alberto
Migré e era apresentada no horário das 19:30h, de segunda a sexta-feira. A
direção era de Tito Miglio e os principais atores eram Tarcísio Meira e Glória
Meneses. Edson Leite, o diretor artístico da emissora, trouxe a idéia da
Argentina, de onde comprou os direitos da novela e contratou pessoal
especializado (quatro operadores de câmera, dois diretores, um cenógrafo e um
maquiador).
A iniciativa foi muito bem recebida pelo público, o que
resultou no crescimento da audiência da emissora e na consagração do gênero. No
ano seguinte, a TV Excelsior lançou A moça que veio de longe, um
original de Abel Santa Cruz com adaptação de Ivani Ribeiro, enquanto a TV Tupi
apresentou a versão televisiva de O direito de nascer, um
original de Felix Caignet adaptado por Teixeira Filho e Talma de Oliveira.
Ainda
em 1963 foi inaugurada a TV Excelsior do Rio de Janeiro, canal 2. Para montar
sua equipe, a Excelsior do Rio contratou nomes importante da TV que trabalhavam
em outras emissoras, pagando, muitas vezes, o dobro do salário que recebiam. Foram
para a nova emissora carioca, Válter e Ema D’Ávila, Ari Leite, Castrinho,
Daniel Filho, Dorinha Duval, entre outros. Na produção a emissora contava com
nomes como Haroldo Barbosa, Giuseppe Ghiaroni, Nestor de Holanda e Mário Neiva.
Em 1964, a TV Excelsior do Rio recebeu um prêmio no Festival
Internacional de Televisão de Barcelona pelo Jornal Cássio Muniz, ou Jornal
de vanguarda, como era mais conhecido, pois Cássio Muniz era o seu
patrocinador. O Jornal de vanguarda foi considerado o melhor programa de
informação do ano de 1963. Fernando Barbosa Lima era o responsável pelo
programa, que ainda contava com Nílton Carlos como apresentador, Sérgio Porto
como comentarista e Millôr Fernandes, Vilas-Boas Correia e Tarcísio de Holanda
como jornalistas que iniciavam suas carreiras na televisão. Cid Moreira fazia
as ligações entre as reportagens, pois as notícias eram dadas pelos próprios
jornalistas.
Com o movimento político-militar de 1964, a emissora começou a ter problemas com a censura. Programas como os de Moacir Franco, de Derci
Gonçalves e de Costinha ficaram muito visados, os textos das novelas eram
constantemente censurados e algumas tiveram que ser transferidas para depois
das 22 horas. Como uma forma de denúncia, os trechos cortados dos programas não
eram reeditados, em seu lugar apareciam bonequinhos animados com a boca e os
ouvidos tapados e a legenda “censurado”.
A TV Excelsior se mantinha com bons índices de audiência e,
em 1965, o programa Moacir Franco show chegou a alcançar o índice de 77%
da audiência na cidade de São Paulo e 97% na de Santos. Em contrapartida,
aquele foi um ano de sérios problemas para as demais empresas do grupo
Simonsen. Esse processo terminou com o seqüestro dos bens do grupo, inclusive a
Rede Excelsior, que na época era composta de emissoras em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte. O grupo negociou a dívida na
Justiça e a emissora voltou ao ar.
Logo em seguida, os funcionários de TV Excelsior tentaram
criar uma fundação para comprar a emissora e levaram a proposta ao então
presidente da República, Humberto Castelo Branco, que não a aceitou, alegando
que tal procedimento não era permitido por lei. Então, Carlos Lacerda tentou
ficar com a emissora carioca, enquanto, em São Paulo, Ademar de Barros queria a emissora paulista. Ambos eram governadores e utilizavam como argumento as dívidas
que as emissoras tinham com os estados, mas suas propostas não foram aceitas
pelo governo federal.
Ainda
em 1965 a Excelsior lançou o 1º Festival de Música Popular Brasileira, que teve
como canção vencedora Arrastão, música de Edu Lobo interpretada por Elis
Regina. No mesmo ano morreu em Paris Mário Simonsen. Seu filho Wallace Simonsen vendeu, então, a emissora para Edson Leite, Alberto Saad, Otávio Frias e Carlos
Caldeira (os dois últimos eram proprietários do grupo de jornais paulistas do
grupo Folha da Manhã). A direção da emissora ficou com Edson Leite e Alberto
Saad.
Continuando o investimento nas telenovelas, em 1966, em meio
a diversas crises internas, a Excelsior lançou a telenovela mais longa da
história da televisão brasileira: Redenção. A novela era um original de
Raimundo Lopes com 594 capítulos, tendo no elenco Márcia Real, Flora Geni,
Rodolfo Mayer, Vicente Leporace e Procópio Ferreira, entre outros. Redenção
esteve no ar de maio de 1966 a maio de 1968.
Em
1967, mesmo a emissora estando com muitas dívidas, foram inaugurados seus novos
estúdios no bairro paulista da Vila Guilherme. O complexo era composto de 12
estúdios, contava com 40 veículos e nele trabalhavam mais de quinhentos
funcionários. No local passaram a funcionar, posteriormente, os estúdios do
Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
Nos
seus novos estúdios a Excelsior produziu Morro dos ventos uivantes, com
cenários do século XIX e adaptação de Lauro César Muniz, e O tempo e o
vento, texto de Érico Veríssimo adaptado por Teixeira Filho e dirigido por
Dionísio Azevedo. Esta última foi a representante final de um conjunto de
novelas que a emissora apresentou no horário de 21:30h.
Em 1968, os problemas financeiros se avolumaram e muitos
artistas, em face aos constantes atrasos nos salários, foram se transferindo
para outras emissoras. A Excelsior passou, então, a transmitir uma grande
quantidade de filmes seriados norte-americanos, enquanto a censura continuava a
perseguir suas novelas. Com a decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de
dezembro de 1968, a emissora tirou do ar o Jornal de vanguarda, pois as
pressões da censura impediam a apresentação do tipo de reportagens que haviam,
até então, caracterizado o programa.
Em 1969, a emissora produziu a telenovela Sangue do meu
sangue, de Vicente Sesso, com direção de Sérgio Brito. Estavam no elenco
Francisco Cuoco, Fernanda Montenegro, Tônia Carreiro, Nicete Bruno, Henrique
Martins, Nívea Maria, Armando Bogus, Mauro Mendonça e Rodolfo Mayer, entre
outros.
A produção de telenovelas, que havia sido uma das maiores
marcas da TV Excelsior (em 1963 a emissora transmitiu três telenovelas; em 1964
apresentou dez; e em 1965 passou para 17), a partir de 1966 foi declinando. Em 1969 a emissora apresentou somente cinco produções do gênero.
Em
agosto de 1969, um vendaval destruiu a torre da emissora carioca, localizada no
Sumaré. Em meio a uma situação caótica de dívidas e demissões, as ações da
emissora foram recompradas por Wallace Simonsen. O imóvel da Vila Guilherme,
onde ficavam os estúdios, permaneceu com Otávio Frias e Carlos Caldeiras.
A situação da emissora seguiu se agravando e Simonsen acabou
vendendo novamente suas ações. O comprador foi Dorival Masci de Abreu, dono da
Rádio Marconi, mas os funcionários da Excelsior pressionaram para que o negócio
fosse desfeito e as ações voltaram às mãos de Simonsen.
Em 28 de setembro de 1970 os direitos da emissora foram
cassados e, em 1º de outubro do mesmo ano, o Departamento Nacional de
Telecomunicações (Dentel) encerrou definitivamente as atividades da TV
Excelsior. As razões apresentadas foram o desrespeito às normas do Código de
Telecomunicações, a insolvência financeira e o atraso no pagamento de
compromissos trabalhistas.
Lia
Calabre de Azevedo
FONTES: AMORIM,
E. História; AMORIM, E. & SILVA, F. História da telenovela;
COSTA, A. Excelsior; COSTA, A. & KEHL, M. País no ar; ESQUENAZI,
R. Túnel; FREDERICO, M. História; FUNTEVE. Cronologia;
MACEDO, C. TV ao vivo; ORTIZ, R. Telenovela; SAMPAIO,
M. História; SILVA, M. História da TV.