BARBOSA, Joaquim
* magistrado; min. STF 2003-2014
Joaquim Benedito Barbosa Gomes nasceu
em Paracatu (MG), no dia 7 de outubro de 1954.Primogênito de uma família de
oito irmãos, concluiu o ensino fundamental em sua cidade natal, numa das
regiões mais pobres do Brasil. Transferiu-se sozinho para Brasília e
matriculou-se no curso noturno de uma escola secundária. Ao mesmo tempo
trabalhou como artífice de impressão na gráfica do jornal Correio
Braziliense. Posteriormente, foi contratado pela gráfica do Senado, na qual
exerceu a função de compositor gráfico.Em 1974 ingressou no Curso de Direito da
Universidade de Brasília (UnB), graduando-se em 1979. Depois de formado,
exerceu vários cargos na administração pública federal. Serviu na embaixada do
Brasil em Helsinki como oficial de chancelaria do Ministério das Relações
Exteriores e foi advogado do Serviço Federal de Processamento de Dados
(Serpro), de 1979 até 1984, quando foi aprovado no concurso para procurador da
República. No Ministério Público Federal atuou em Brasília de 1984 a 1993,
embora tenha se licenciado de 1990 a 1993, quando obteve grau de mestre e
doutor em Direito Público, pela Universidade de Paris-II (Pantheón-Assas), na
França. De volta ao Brasil, reassumiu suas funções no Ministério Público, agora
no Rio de Janeiro. Aprovado em concurso, dedicou-se também à docência na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro –UERJ -, na qual lecionou disciplinas
de Direito Constitucional e Direito Administrativo. Entre 1999 e 2000, foi visiting sholar no Human Rights Institute, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque
e, entre 2002 e 2003, na Los Angeles
School of Law, da Universidade da Califórnia, ambas nos Estados Unidos. No
início de 2003, teve seu nome foi incluído entre os mais cotados para a vaga
aberta no Supremo Tribunal Federal (STF), em função da vaga aberta pela
aposentadoria compulsória do ministro José Carlos Moreira Alves. O presidente
Luís Inácio Lula da Silva anunciou que, em sua primeira nomeação para a corte,
indicaria um jurista negro, e Joaquim Barbosa foi o escolhido, com o apoio
de entidades que lutavam em defesa dos direitos humanos, em especial contra o
preconceito racial. Em maio, foi empossado no STF, tornando-se o primeiro
ministro negro na história do tribunal.
Primeiro ministro nomeado pelo presidente Lula, foi
inicialmente identificado com o projeto político do presidente porque proferiu
votos favoráveis ao governo, como a ação que suspendeu a primeira grande
desapropriação para fins de reforma agrária do novo governo; na ação que
estabeleceu limites para o poder de investigação do Ministério Público; e na
ação referente ao desconto previdenciário dos servidores inativos, fundamental
para o projeto de reforma da previdência do governo Lula. Já ao final de 2004,
porém, passou a ser considerado um dos ministros mais independentes da corte. Tendo
criticado incisivamente a prerrogativa de arquivamento de inquéritos pelo
Ministério Público, bem como a concessão de foro privilegiado para autoridades.
Destacou-se por ser parcimonioso na concessão
de habeas corpus, tendo indeferido diversas liminares e optado por
deixar presos inúmeros suspeitos, inclusive magistrados acusados de montar
esquemas de venda de sentenças e de participar de fraudes em licitações. Em
razão dessa posição excessivamente favorável ao encarceramento, entrou em
atrito com membros da corte, destacando-se como os mais rumorosos os que teve
com Marco Aurélio de Melo (a quem acusou de lhe roubar atribuições), Gilmar
Mendes e Eros Grau.
Em agosto de 2005, relatou o processo de denúncia
dos envolvidos no escândalo do “mensalão”, esquema de corrupção e compra de
votos dos parlamentares da base aliada de Lula, para que votassem a favor nas
matérias do interesse do governo federal.
Em novembro de 2006, acusou o ex-ministro Maurício
Correia por suposto lobby a fim de que determinado processo,
do qual era relator, fosse levado a julgamento. Em consequência recebeu uma
interpelação do ex-ministro. Em abril de 2007, levou ao plenário o processo de
denúncia dos envolvidos no episódio do “mensalão”, considerado o julgamento
mais importante da história do STF. Após sessão que durou cinco dias, a
corte aceitou a abertura da ação penal contra 37 dos 40 denunciados. Ainda em
2007 foi escolhido o “Brasileiro do Ano” pela revista Isto É.
No final desse ano foi relator da ação penal contra
o ex-governador da Paraíba, o então senador Ronaldo Cunha Lima, que respondia
por tentativa de homicídio. Em 5 de novembro de 1993, Cunha Lima dera
três tiros em Tarcísio Buriti, seu antecessor no governo paraibano, num restaurante
de João Pessoa. Nesse processo, o ministro tentou firmar entendimento contrário
à jurisprudência da corte, para que o julgamento prosseguisse no STF mesmo após
a renúncia de Cunha Lima ao Senado, vista como uma manobra que constituía
fraude e abuso de direito, já que a ação penal deveria, com a renúncia, ser
encaminhada ao Tribunal do Júri de João Pessoa, onde começaria da estaca zero.
Sua tese foi derrotada no plenário da corte.
Em maio de 2008, votou a favor da
constitucionalidade do artigo da Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005) que
autorizava as pesquisas com células-tronco embrionárias. Em agosto desse mesmo
ano, concedeu habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas, dono
do banco Oportunity, permitindo-lhe permanecer calado na Comissão Parlamentar
de Inquérito que investigava a atuação de companhias estrangeiras; votou ainda
favoravelmente à demarcação em área contínua da reserva indígena Raposa/Serra
do Sol, em Roraima.
Ministro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) desde 2006, veio a tomar posso enquanto vice-presidente daquele foro em
Maio de 2008, embora tenha se ausentado diversas dessa função por licença
médica, devido a um problema crônico de saúde, que inclusive o levou a
renunciar ao posto em 2009. Enquanto atuava naquele foro, defendeu a anulação
da candidatura de políticos condenados em primeira instância, mas foi voto
vencido naquela ocasião.
No mês de Abril de 2009, em entrevero com o então
presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, durante o julgamento de duas ações -
referentes ao pagamento de previdência a servidores do Paraná e à prerrogativa
de foro privilegiado -, o acusou de estar “destruindo a credibilidade da
Justiça brasileira”.
Posicionou-se contrariamente à extradição do
italiano Cesare Battisti, acusado por quatro mortes na Itália 40 anos antes,
quando integrava o grupo de Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). E
participou ainda de diversas decisões importantes daquele Tribunal, como a que,
em Maio de 2011, reconheceu a união estável de casais homossexuais, garantindo
direitos como pensão e herança, e defendida por Barbosa. Também votou
favoravelmente, junto a outros seis ministros, da constitucionalidade do
projeto conhecido pela alcunha de ‘Lei da Ficha Limpa’, que tornaria
inelegíveis por oito anos os políticos condenados pela justiça em decisões
colegiadas, cassados pela Justiça Eleitoral ou que tivessem renunciado a cargo
eletivo para evitar processo de cassação. Ainda em 2012, no mês de abril, votou
a favor da legalidade do aborto de fetos anencéfalos, como a maioria do
plenário, e do STF.
Em Outubro, foi eleito presidente do STF,
tendo como vice o ministro Ricardo Lewandowski. Também naquele período, chegou
ao plenário o julgamento do caso que ficou conhecido como ‘mensalão’, e para o
qual havia sido indicado como relator. Barbosa recomendou a condenação dos
ex-deputados petistas Paulo Rocha e João Magno por lavagem de dinheiro.
Defendeu o mesmo também para o ex-Ministro dos Transportes Anderson Adauto. Em
sessões que tiveram grande repercussão e cobertura midiática, votou pela
condenação de José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares dos pelos crimes de
formação de quadrilha e corrupção ativa, considerando em seu voto que o
ex-ministro da Casa Civil teria assumido “posição central da organização e da
prática, como mandante das promessas de pagamento das vantagens indevidas a
parlamentares para apoiar o governo”.
Muitas de suas posições sobre
as condenações e andamento do processo de julgamento foram contrárias às do
ministro Ricardo Lewandowisk, revisor do processo, o que causou divergências e
intensos debates entre ambos. No entanto, ao final do caso, prevaleceu o
posicionamento da relatoria, condenando a maioria dos acusados.
Em 2014, com o julgamento dos
embargos infringentes do caso do “Mensalão”, recurso por novo julgamento das
acusações em que o plenário do STF decidira e condenara os réus de modo muito
dividido – entre eles a do crime de formação de quadrilha, por parte de José
Dirceu, José Genoíno e outros condenados – Barbosa acabou sendo derrotado,
tendo novamente votado pela condenação. Assim, naquela ocasião, os embargos foram
aceitos, tendo, no caso de Dirceu, o voto favorável de seis ministros: Ricardo
Lewandowski, Rosa Weber,
Carmen Lúcia, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, estes dois
últimos nomeados para o STF após o julgamento de 2012. Sobre esse caso, Barbosa
afirmou que fora ali
criada “uma maioria formada sob medida para lançar por terra o trabalho
primoroso levado a cabo por esta Corte no segundo semestre de 2012”.
Reclamando então de ameaças e de uma suposta atuação política
de advogados, comunicou a decisão de abandonar a relatoria do processo do
mensalão, incluindo o cumprimento das penas dos condenados e o andamento de
ações correlatas. Anunciou também, para Junho, sua aposentadoria. Por sua
atuação no processo do “mensalão”, cogitou-se, à época, que o ministro candidatar-se-ia
à presidência da república em 2014, algo sempre negado por ele.
Aposentado da função de Ministro, requereu sua reinscrição
como advogado nos quadros da seccional do Distrito Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). A solicitação, porém, foi negada pelo presidente da
seccional, sob o fundamento de que Barbosa não atenderia ao requisito da
idoneidade moral exigido pelo Estatuto da Advocacia e da OAB para a inscrição,
devido a atitudes do então presidente do STF consideradas ofensivas à
advocacia. Referia-se a algumas declarações de Barbosa, como a de que novos
Tribunais Regionais Federais serviriam para "dar emprego para
advogados". Não enquadrando as declarações na tipificação de idoneidade
requerida, a Comissão da OAB decidiu pela concessão do registro.
Casou-se com Marileuza Francisco de Andrade. Teve um
filho.
Eduardo Junqueira/ Raimundo Hélio/Alan
Carneiro
FONTES:
BRASILEIRO; Folha de S. Paulo (online). Disponível em: <Este
fato http://www.folha.uol.com.br>.
Acesso em: 17/2, 11, 25/4; 2, 8, 25, 28/5; 5/6; 15/8/03. 4/4, 27/5, 3, 4/6, 1,
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19/4, 28/8, 02/9, 21/10, 1, 5, 26, 30/11, 6/12/07; 28/2, 8/4, 13, 28/5, 6, 7,
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